Filosofia e cultura em Platão segundo Henrique Cláudio Lima Vaz: a separação entre saber e poder

Filosofia e cultura em Platão,

segundo Henrique Cláudio Lima Vaz:

a separação entre saber e poder

MATEUS MORAIS ARAÚJO

___________

Philosophy and culture in Plato according to Henrique Cláudio de Lima Vaz: the separation between knoledge and power

Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a estrutura do mito platônico da antinomia entre saber e poder através da visão de Hen-rique Cláudio de Lima Vaz sobre o modelo platônico de interação entre )LORVRÀDHFXOWXUD

Abstract: This article claims to analyze the structure of Plato’s myth of the antinomy between knowledge and power in the vision of Henrique Cláudio de Lima Vaz about the Plato’s model of the interactions between philosophy and culture.

Palavras-chave:

)LORVRÀDHFXOWXUDSRGHUHFRQKHFLPHQWRSRGHUMXGL-FLiULRÀGHOLGDGHLQWHUSUHWDomR

Keywords: Philosophy and culture; power and knowledge; judicial pow-HUÀGHOLW\LQWHUSUHWDWLRQ

Sumário:,²,QWURGXomR,,²$XQLYHUVDOLGDGHGDLQWHQomRÀORVyÀFD

III – O modelo Platônico; IV – Considerações sobre o mito da antino-mia entre saber e poder na cultura jurídica ocidental; V – Referências ELEOLRJUiÀFDV

I - Introdução

2SUHVHQWHWUDEDOKRYLVDDQDOLVDUDYLVmRTXH+HQULTXH&OiX-GLRGH/LPD9D]WHPVREUHDVUHODo}HVHQWUHSRGHUHVDEHUQR PRGHORSODW{QLFRGH)LORVRÀDHFXOWXUD3UHWHQGRID]HULVVR por meio da leitura, principalmente, do capítulo primeiro de seus (VFULWRVGH)LORVRÀD III, de forma a desvelar a idéia de que /LPD 9D] HVWi DQDOLVDQGR UHDOPHQWH D SRVLomR GR ÀOyVRIR como possuidor de saber, em relação ao político, possuidor de poder. (VVDUHOHLWXUDGRPRGHORSODW{QLFRGH/LPD9D]SUHWHQGHGH- PRQVWUDUTXH/LPD9D]HVWiHPYHUGDGHIDODQGRVREUHDUHOD-omRHQWUHSRGHUHVDEHU(VVDDÀUPDomRMXVWLÀFDDLPSRUWkQFLD GHVVHWUDEDOKRDRLQYHVWLJDUDIRUPDSHODTXDORPLWRLGHQWLÀ-FDGRSRU)RXFDXOWGHTXHH[LVWHDUUDLJDGRQDFXOWXUDÀORVyÀFD ocidental, uma antinomia entre saber e poder, iniciado por Pla-tão, se arraigou na cultura ocidental (FOUCAULT, 2003:51), e HVSHFLÀFDPHQWHQDFXOWXUDMXUtGLFDRFLGHQWDO

Pelas palavras de Foucault:

Com Platão, se inicia um grande mito ociden-tal: o de que há antinomia entre saber e po-der. Se há o saber, é preciso que ele renuncie ao poder. Onde se encontra saber e ciência em sua verdade pura, não pode mais haver poder político(FOUCAULT, 2003:51).

0LQKDSUHWHQVmRQmRpQRHQWDQWRID]HUXPDDQiOLVHKLVWyUL-ca, desse mito no ocidente, Minha pretensão é apenas analisar o conteúdo do mito platônico, a partir de sua análise por Lima 9D]HDSRQWDUDOJXPDVSURSRVLo}HVGHVHQVRFRPXPVREUHR Direito, que derivam desse mesmo mito, encontradas na atu-alidade.

Nesse sentido, o trabalho será dividido em três partes. Primei-ramente, analisarei o conceito de universalidade da intenção ÀORVyÀFDTXHFRUUHVSRQGHjSULPHLUDVHomRGRFDStWXOR,GRV (VFULWRVGH)LORVRÀD,,,GH/LPD9D]SRVWHULRUPHQWHLUHPRV DQDOLVDUHLRPRGHORSODW{QLFRGRSRQWRGHYLVWDGH/LPD9D] GDVUHODo}HVHQWUHFXOWXUDH)LORVRÀDHHQWUHSRGHUHVDEHUSDUD SRUÀPID]HUDOJXPDVFRQVLGHUDo}HVDUHVSHLWRGDVSUDWLFDV MXGLFLiULDVFRQWHPSRUkQHDVQRTXHGL]UHVSHLWRjVIXQo}HVGRV MXt]HVHOHJLVODGRUHVHPUHODomRDRPLWR

,,²$XQLYHUVDOLGDGHGDLQWHQomRÀORVyÀFD

Os objetivos do primeiro capítulo dos (VFULWRVGH)LORVRÀD,,, de /LPD9D]VmRPRVWUDUDXQLYHUVDOLGDGHGDLQWHQomRÀORVyÀFD HGHPRQVWUDUDVLQJXODULGDGHGRPRGRGHSHQVDUÀORVyÀFRMi DGLDQWDQGRTXHHVVHPRGRGHSHQVDUVHFDUDFWHUL]DSHODQHFHV-VLGDGHGHGDUUD]mR(PRXWUDVSDODYUDVXPDFXOWXUDQDTXDO D)LORVRÀDVHID]SUHVHQWHpREULJDGDDMXVWLÀFDUVHDVLPHV-PDÀORVRÀFDPHQWHDWRGRWHPSR$)LORVRÀDpFDUDFWHUL]DGD como o tribunal do logos, pelo qual a cultura, com suas certe-]DVGHYHVHUMXOJDGD9$=

3URVVHJXLQGRFRPDVGHVFULo}HVpDÀUPDGRTXHD)LORVRÀDHP uma cultura apresenta uma dupla face. Ela resulta ao mesmo tempo, na necessidade na qual está inscrita a inquietação pelo 6HUHSHORVHQWLGREHPFRPRQRSDUDGR[RGHFRORFDUHP[H-que os fundamentos dessa cultura da qual se 6HUHSHORVHQWLGREHPFRPRQRSDUDGR[RGHFRORFDUHP[H-questiona pelo VHQWLGR9$=

/LPD9D]FRQVLGHUDTXHD)LORVRÀDVXUJHFRP7DOHVGH0LOHWR na Grécia arcaica. Esse surgimento, segundo ele, teria causado XPHVSDQWRQDVRFLHGDGHDR´ID]HUGDUD]mRDLQVWkQFLD~OWLPD GDFULVHRXMXOJDPHQWRGHWRGDVDVPDQLIHVWDo}HVGDFXOWXUD KXPDQD9$=µ(VVHHVSDQWRRULJLQDOpHVWHQGLGRDR

SUySULRDWRGHÀORVRIDUFDUDFWHUL]DQGRXPGHVORFDPHQWRGR ÀOyVRIRQRPXQGRXPQmROXJDUTXHVHULDSDUDGLJPDWLFDPHQ-WHH[HPSOLÀFDGRSHODatopia de Sócrates.

$)LORVRÀDDVVLPUHSUHVHQWDXPDUXSWXUDQDXQLGDGHHQDKDU-monia do universo cultural. Pois a cultura ao contrário da Fi- ORVRÀDQDVFHHPXPDPELHQWHGHQHFHVVLGDGHVHQTXDQWRD)L-ORVRÀDVHULDFDUDFWHUL]DGDSHOD5D]mRSXUDGHVLQWHUHVVDGDSHOD

theoría,VVRUHVXOWRXQDQHFHVVLGDGHGDWUDGLomRÀORVyÀFDGH

MXVWLÀFDUVHDVLPHVPD9$=

'XDVFDWHJRUL]Do}HVVHWRUQDUDPFOiVVLFDVQHVVDVDXWRMXVWLÀ-FDo}HVÀORVyÀFDVRtópos das três vidas - teorética, política e crematística. Sendo primeiramente formulada por Platão e re-tomada por Aristóteles na Ética de Nicômaco. Por analogia, seriam os teóricos os homens que contemplam a vida, os po-líticos, ou de vida ativa os que participam diretamente, e os de vida crematística, os negociantes, cuja atividade também seria

LQGLUHWDSRUpPQmRGHFRQWHPSODomR9$=(Rtó-posGDQHFHVVLGDGHGHÀORVRIDUFDUDFWHUL]DGRQRVGLVFXUVRVGH

exortação, ou discursos protréticos (lógoi protreptikói), que eram lançados como um apelo aos jovens para mostrar-lhes as exce-OrQFLDVGDYLGDÀORVyÀFD9$=

$VVLPRDSDUHFLPHQWRGD)LORVRÀDVHFDUDFWHUL]DQRLQtFLRGD cultura ocidental como uma relação dialética ao criticar e ques-tionar as evidências da dóxa contra o sentido da realidade natu-UDOHGDYLGDKXPDQDjOX]GDYHUGDGH

&RPLVVR/LPD9D]FDUDFWHUL]DDUHODomRGLDOpWLFDHQWUH)LOR-VRÀDHFXOWXUDQDSUySULDFRQFHSomRJUHJDGH)LORVRÀDFRPR

(...) uma intenção de conhecimento racional ou demonstrativo (lógos apodeiktikós)

volta-da para a totalivolta-dade do ser, seja no seu

princípio (arqué), seja na sua grandeza

e ordem (kósmos); é um saber desinteressa-do (theoría) mas que se declara expressão de um anelo enraizado no âmago da

nature-za humana; é uma indagação que avança até as últimas fronteiras do campo oferecido à inquisição da razão: indagação em torno do

ser (perí tes ousías) e, portanto, em torno da verdade (perí tes alethéias); como teoria do ser e da verdadeD)LORVRÀDVHSURS}HHQÀP

como fonte da mais elevada felici-dade (eudaimonía) para o homem(VAZ, 1997: 9)” [Grifos meus]. (VVDFDUDFWHUL]DomRGD)LORVRÀDFRPRLQGDJDomRHPWRUQRGR VHUpFRHUHQWHFRPDFUtWLFDTXH/LPD9D]ID]VREUHD)LORVRÀD FRQWHPSRUkQHDTXHDRWUDQVFHQGHQWDOL]DUDOLQJXDJHPDFDED FRQVDJUDQGRGHÀQLWLYDPHQWHDSULPD]LDGDUHSUHVHQWDomRVR-EUHRVHURTXHVHULDHOHFRQVLGHUDXPDOWRSUHoRÀORVyÀFR 9$=(VVDFUtWLFDD)LORVRÀDFRQWHPSRUkQHDGD OLQJXDJHPSDUHFHQmRVHUFDSD]GHUHVSRQGHU$VWHQWDWLYDVGH VXVWHQWDUDFUHQoDQDYHUGDGHSDUHFHPDPDUUDo}HVLPSURYLVD-das, e as respostas mais pragmáticas, que questionam a própria EXVFDSHODYHUGDGHVHULDPFRQVLGHUDGDVQmRÀORVyÀFDV

$ HVWUXWXUD GLDOpWLFD GD UHODomR HQWUH FXOWXUD H )LORVRÀD SD-UHFHH[SOLFDUDFRQWLQXLGDGHTXHD)LORVRÀDYHPPRVWUDQGR ao longo da história, como “fundamental instância crítica da FXOWXUDRFLGHQWDO9$=µ(VVDFRQWLQXLGDGHHPERUD TXHVWLRQDGDSRUXPÀOyVRIRFRPR5LFKDUG5RUW\SDUDTXHP D)LORVRÀDWHPVHXOXJDUQDFRPSUHHQVmRHQWUHDWUDQVLomRGH épocas, e para quem devemos abandonar a idéia própria da )LORVRÀDFRPRWULEXQDOGDFXOWXUDHGDVFLrQFLDVSRUH[HPSOR

5257<pGHIHQGLGDSRU/LPD9D]FRPYHHPrQFLD $R FRQWUiULR GDV &LrQFLDV D LGHQWLGDGH GD )LORVRÀD HVWi QD GLIHUHQoDHQUDL]DGDQDSOXUDOLGDGHGHVLVWHPDVTXHFRQIHUHj KLVWyULDGD)LORVRÀDHVVDIHLomRVLQJXODUGHXPDconcordia discors assinalada pela diferença entre o tempo lógico dos discursos TXHDFRPS}HPHDFRQWLQXLGDGHGRVHXWHPSRKLVWyULFR

Essa forma dialética com que se dá a arquitetura do pensamen-WRÀORVyÀFRMiHVWDYDSUHVHQWHQDVREUDVGH3ODWmRH$ULVWyWHOHV TXHFDUDFWHUL]DYDPDUHODomRTXHRVSUHQGLDj)LORVRÀDDQWHULRU em termos de negação e conservação. Nesse sentido, a própria relação entre as obras dos dois é citada como exemplo dessa UHODomR1RHQWDQWRIRL+HJHOTXHPGHIRUPDPDLVULJRURVD WHPDWL]RXRSUREOHPDGDGLDOpWLFDQDKLVWyULDGD)LORVRÀDjOX] GRSUREOHPDGDYHUGDGHeFRPLVVRTXH/LPD9D]MXVWLÀFDVXD HVFROKDSHORVPRGHORVGH3ODWmRH+HJHOSDUDH[SOLFDUDUHODomR HQWUH)LORVRÀDHWHPSRKLVWyULFRRXFXOWXUD9$= )HLWDDMXVWLÀFDWLYDKLVWyULFDSDUDDUHODomRGLDOpWLFDHQWUH)LOR-VRÀDHFXOWXUD/LPD9D]SDUWHSDUDXPVHJXQGRDUJXPHQWR GHFXQKRWHRUpWLFR(VVDMXVWLÀFDWLYDVHEDVHDUiSULQFLSDOPHQWH na aporiaPHWDItVLFDTXHRS}HRXQRHRP~OWLSORQDGLDOpWLFD GRXQRHGRP~OWLSOR'HVVDIRUPDRSHQVDPHQWRÀORVyÀFR VH FDUDFWHUL]D SHOD LQWHUURJDomR VREUH R SULQFtSLR H VREUH R uno. Ou seja, sobre a gênese do múltiplo a partir do uno, jus-WLÀFDQGRVHFRPRSHQVDPHQWRGRXQRQDPXOWLSOLFLGDGHGRV discursos e dos seus objetos.

6HJXQGR/LPD9D]D)LORVRÀDVHQGRSHQVDPHQWRGR8QRH interrogação sobre o Ser, a sua relação com a realidade e, so-bretudo com a realidade humana, é necessariamente dialética. A partir da multiplicidade do ser simplesmente dado, a Filoso-ÀDWHPXPDUHODomRGHQHJDomRFRQWUDRPXQGRGDdóxa, para a partir disso, no momento da negação da negação

suprassu-mir o mundo da dóxa articulando o uno e o múltiplo na unida-de assegurada pelos laços da epistéme1HVVHVHQWLGRD)LORVRÀD se apresenta na cena da história, como metafísica da cultura 9$=

$VVLPÀFDSDWHQWHRFDUiWHUatópico e paradoxal, de forma que RÀOyVRIRLQWHQWDUHSHQVDURPXQGRKXPDQRjOX]GR8QRH GR6HU(PRXWUDVSDODYUDVRÀOyVRIRVHGLVWDQFLDGRPXQ-do, para contemplá-lo. É assim que ele pode extrair do mundo múltiplo os modelos ideais através daquilo que Platão designou por conversão, entendida como conversão à Idéia. O desen- YROYLPHQWRGDGRSRU+HJHODHVVHSHQVDPHQWRLUiGHPRQV-WUDUTXHH[LVWHXPÀRFRQWtQXRDGHVSHLWRGDVYLFLVVLWXGHVGD FXOWXUD2FLGHQWDOQDKLVWyULDGD)LORVRÀDGH3ODWmRD+HJHO apresentando-se sempre como metafísica da cultura.

eQHVVHVHQWLGRTXHD)LORVRÀDHQTXDQWRPHWDItVLFDGDFXO-tura, é também ética da culeQHVVHVHQWLGRTXHD)LORVRÀDHQTXDQWRPHWDItVLFDGDFXO-tura, pois enuncia as normas ra-FLRQDLVGRDJLUKXPDQR$VVLPVHQGR+HJHOLUiHQWHQGHUD HVWUXWXUDGLDOpWLFDGD)LORVRÀDGDFXOWXUDHPtrês níveis. Um nível crítico de negação da dimensão empírica da cultura, um nível metafísico, onde ocorre a suprassunção à idéia e um nível ético, em que a ocorre sua suprassunção em termos de norma 9$=

/LPD9D]WHUPLQDVXDLQWURGXomRSURIHULQGRGXUDVFUtWLFDVDR pensamento pós-hegeliano. Segundo ele, os tempos pós-hege-lianos assistiram a uma ruptura da tradição, com a injunção GDQHFHVVLGDGHGR´WRUQDUVHPXQGRµGD)LORVRÀDDQXQFLDGD LQFOXVLYH SRU DOJXQV VHJXLGRUHV GR SUySULR +HJHO ,VVR WHULD UHVXOWDGRQXPDLQYHUVmRGDGLUHomRFUtWLFDGDLQWHQomRÀORVy-ÀFDWUD]HQGRFRQVLJRDWDUHIDGH´GHVFRQVWUXomRµGDWUDGLomR PHWDItVLFDHpWLFDTXHVHJXQGR/LPD9D]WHULDPDVVHJXUDGRD identidade espiritual da cultura do Ocidente por mais de dois

PLOrQLRV(ID]XPDSUHGLomRDSDUHQWHPHQWHFDWDVWUyÀFDGR ÀOyVRIRYHQGRVHSHUGLGRSHORV´FDPLQKRVVHPÀPGRQLLOLV-PRQXPPXQGRRQGHRVVHQWLGRVVHGHVID]HPDRFKRTXHGDV VXFHVVLYDV´GHVFRQVWUXo}HVµ9$=

2ÀOyVRIRFRQWHPSRUkQHRSyVKHJHOLDQRpHQWmRYLVWRFRPR um homem que se desdobra sobre os escombros da antiga

the-oría, num trabalho de inventário e análise desses escombros. Nesse sentido,

A intenção de uma critica da cultura contem-porânea como prolegômeno a uma metafísica e a uma ética do mundo humano nessa hora de nossa história parece representar, aos olhos da PRGDÀORVyÀFDDSHQDVDtentativa vã de

ressuscitar vestígios arqueológicos GDVFRQVWUXo}HVRXWURUDHGLÀFDGDV SHODHQWmRFKDPDGD)LORVRÀD(VAZ,

1997: 15-16) [Grifos meus].

1RHQWDQWRUHVVDOWD/LPD9D]DVXDLQWHQomRQmRpRGHGHV-crever ou de inventariar ruínas. Sua intenção é levar a cabo uma anámnesis, uma ErinnerungTXHVHULDFDSD]VHJXQGRHOH de nos situar na perspectiva de uma hermenêutica genuina-PHQWHÀORVyÀFDGDFXOWXUDGRQRVVRWHPSR9$= 3RUWDQWR/LPD9D]LUiUHWRPDURVPRGHORVGH3ODWmRH+HJHO considerados por ele como os dois modelos verdadeiramente HPEOHPiWLFRVGDUHODomRHQWUH)LORVRÀDHFXOWXUD

III - O modelo platônico:

1RVSULPHLURVSDUiJUDIRVGDVHJXQGDVHomR/LPD9D]LUiSURV-seguir com sua introdução, efetuando uma breve descrição pré-via dos modelos hegeliano e platônico, pois eles se situam “no FRPHoRHQRÀPGDDYHQWXUDGD)LORVRÀDRFLGHQWDOµHQWHQGLGD

como recriação do mundo das coisas e do mundo dos homens ´jOX]GHXPlógosTXHMXOJDGHPRQVWUDRUGHQDHXQLÀFDµ

6HJXQGR/LPD9D]

A estrutura fundamental do modo de pensar ÀORVyÀFRIRLSHODSULPHLUDYH]WUD]LGRSOHQD-mente à luz por Platão ao descrever a chama-da ‘segunchama-da navegação’. Seguindo-a, Sócrates pOHYDGRGDVSUDLDVGRÀVLFLVPRSUpVRFUiWLFR ao país das Idéias. Ora, a possibilidade da presença do inteligível (noetón) no discurso hu-mano, como fundamento do ‘dar razão’ (lógon dounai), é que permite desfazer as aporias do sensível (aisthetón) e do opinável (doxastón) (VAZ, 1997: 18).

'HVVHPRGRRSHQVDPHQWRGH3ODWmRDVVLPFRPRRGH+H-gel, obedece a uma possibilidade de ordenação discursiva, para RUJDQL]DURPXQGRGRVHQVtYHOHGRRSLQiYHOOKHGDQGRVHQ-WLGRRXUD]mR(VVHSURFHVVRGHUHRUGHQDomRGRPXQGRGRV KRPHQVDSDUWLUGHXPHVWDGRGHGHVRUGHPHLQVHQVDWH]TXH é representado por Platão pela desmesura, ou destempero da hýbris consiste na reordenação do múltiplo no Uno. Ou seja, para Platão, a dialética da cultura é a instauração da justa me-dida (métron) ou da unidade de proporção (analogía) na desor-GHPGRPXQGRGRVKRPHQV(QTXDQWRTXHSDUD+HJHOHODpD ´UHFRQFLOLDomRGDVRSRVLo}HVTXHURPSHPDXQLGDGHpWLFDGD FRPXQLGDGHKXPDQDµ9$=

&RPLVVRFRQFOXL/LPD9D]TXHDKHUPHQrXWLFDÀORVyÀFDGD Cultura deve cumprir duas tarefas. “Mostrar a necessidade da )LORVRÀDHDFRPSHWrQFLDGRÀOyVRIRSDUDUHDOL]DUDFXUDGHVVD patologia do múltiplo desordenado e dividido no qual os

ho-PHQVVHSHUGHPµ(´HGLÀFDURPRGHORLGHDOLVWRpRPRGHOR de inteligibilidade do mundo humano, segundo a ordem do múltiplo que procede a unidade verdadeira”. Assim, para Pla-tão esse modelo é constituído pela dialética do bem, e a pólis real GHYHVHURUHÁH[RGHVXDSHUIHLomR(QTXDQWRSDUD+HJHOHOHp constituído segundo a articulação dialética do Espírito. Porém, ambos defendem “uma interpelação crítica da cultura e uma UHVWLWXLomR RQWROyJLFD GD VXD LQWHOLJLELOLGDGH HVVHQFLDO9$= 1997: 18-19)”.

´$VVLPVHQGRD)LORVRÀDDSDUHFHSDUD3OD-tão e para Hegel, como a iniciativa insensata aos olhos da opinião mundana, de instaurar a sensatez da razão no medium histórico da desrazão (VAZ, 1997: 19)”.

&RPLVVR/LPD9D]SURFHGHjGHVFULomRGRPRGHORSODW{QLFR 1R PRGHOR SODW{QLFR D UHODomR HQWUH )LORVRÀD H FXOWXUD p RULHQWDGDSHODQHFHVVLGDGHGHÀORVRIDUTXHVHJXQGRHOHVHGi em dois níveis. No primeiro nível, está a necessidade histórica, GHULYDGDGDUHVSRVWDSDUDDFULVHYLYLGDSRU$WHQDVQRVÀQVGR VpFXOR9D&HFRQWUiULDDDQiOLVHHDSURSRVWDGHVROXomRIXQ-GDGDQDUHWyULFDHQDRSLQLmRGRVVRÀVWDV-iQRVHJXQGRQtYHO está a necessidade teórica, derivada da conaturalidade da Alma com as idéias. Assim sendo, seria natural ao homem, o impulso GHVHODQoDUQDGLUHomRGRLQWHOLJtYHOGDUD]mRSRUPHLRGRTXH ele irá atingir a eudaimonía.

Segundo Platão, essas duas necessidades se relacionam e se complementam, pois é a face da crise e do desconcerto da ci-dade e da cultura designada como “ignorância” que é desve-ODGDjOX]GD)LORVRÀD6HJXQGR3ODWmRROXJDUGD)LORVRÀD portanto, não é uma presença atópica, como pensa o homem

comum, mas é justamente onde mais intensamente se exercem DVDWLYLGDGHVKXPDQDV9$=

$SDUWLUGLVVR/LPD9D]SURS}HXPH[DPHGHDOJXPDVSDV-sagens da obra Platônica que tratam da presença e da neces-VLGDGHGD)LORVRÀDEHPFRPRGDFDUDFWHUL]DomRGRÀOyVRIR em relação aos grandes temas da cultura ateniense da época: a educação, o estado, a retórica e a ciência.

No Górgias3ODWmRWUDWDGDGLVWLQomRHQWUHGXDVFRQFHSo}HV DQWURSROyJLFDVRSRVWDV'HXPODGRRÀOyVRIRFXMDYLGDp guiada pelo saber verdadeiro e pela medida, de outro, o Políti-FRTXHWHPVXDYLGDVXEPHWLGDDRGHVHMRHjGHVPHGLGD9$= 1997: 22).

-iQDRepúblicaRÀOyVRIRDSDUHFHVREDDPHDoDGHVHUVXE-mergido no ridículo contra a opinião comum, segundo a qual RJRYHUQRGRÀOyVRIRSDUHFHXPDVROXomRLQWROHUiYHOSDUDD salvação do Estado. Aqui é feita uma nova distinção, entre o

ÀOyVRIR e o ÀORGR[R, este amante da opinião, o homem comum,

aquele amante da sabedoria, abraçando o Ser e a ciência ao LQYpVGDRSLQLmR9$=eWDPEpPQDRepública que 3ODWmRSURS}HRJRYHUQRGRÀOyVRIRDWUDYpVGDHGLÀFDomRGH um Estado ideal, que pudesse proporcionar uma paidéia apta a SUHSDUDURÀOyVRIRSDUDPLVVmRGHJRYHUQDUVHJXQGRRPRGHOR TXHVyDHOHpGDGRFRQWHPSODU9$=1RHQWDQWR o próprio Platão reconhece a impossibilidade de implantar seu LGHDOÀORVyÀFRQRFRUDomRGD$WHQDVUHDOHFRQFOXLTXHROXJDU GRÀOyVRIRpRGHPHGLDGRUHQWUHDRUGHPWUDQVFHQGHQWHTXH a ele é revelada e o mundo do vir-a-ser, no qual deverá ser edi-ÀFDGRR(VWDGRGHMXVWLoD9$=

No FedroSRUVXDYH]RÀOyVRIRpYLVWRFRPRR~QLFRFDSD] de escrever discursos de acordo com a verdade, e a corrigir a

IUDTXH]DGRHVFULWRDWUDYpVGDGLDOpWLFDGRGLVFXUVRRUDO9$= 1997: 25).

3RUÀPQR6RÀVWDHQR3ROtWLFR3ODWmRDQXQFLDTXHLUiUH-WUDWDU VHX LGHDO GH ÀOyVRIR DWUDYpV GH WUrV H[HPSORV GD FXO-tura ateniense de sua época. No entanto essa promessa não VHFXPSULXDRTXHWXGRLQGLFD,VVRVLJQLÀFDGL]HUGHDFRUGR FRP/LPD9D]TXHGHYHPRVH[WUDLUGDVGLYHUVDVSDVVDJHQVGD REUDGH3ODWmRVREUHROXJDUHDFDUDFWHUL]DomRGRÀOyVRIRR TXHVHULDRLGHDOSODW{QLFRGHÀOyVRIR(HVVDFRPSUHHQVmRGR TXHVHULDRÀOyVRIRLGHDOpDFKDYHKHUPHQrXWLFDSULQFLSDOSDUD compreendermos o ideal de humanidade com o qual Platão UHVSRQGHULDDSHUJXQWD´RTXHpRKRPHP"9$=µ &RPHVVDH[SRVLomRGRLGHDOGHYLGDÀORVyÀFD3ODWmRFRQVL-GHUDFRPSURYDGDDWHVHGDQHFHVVLGDGHKLVWyULFDGD)LORVRÀD Assim, passa-se à pergunta seguinte, “como formular esse con-FHLWRGHQHFHVVLGDGHKLVWyULFDHFRPRGHGX]LUGDQHFHVVLGDGH KLVWyULFDGD)LORVRÀDDVXDQHFHVVLGDGHWHyULFD"µ(VVDUHVSRVWD VHJXQGR/LPD9D]VHUiHQFRQWUDGDQRSUySULRFRQFHLWRSODW{-nico de “ciência”. Contra a crise da cultura grega, Platão defen-de o saber racional ou o lógos defen-demonstrativo, que se encontrava ameaçado, na época de Platão, pela separação da ciência em dois ramos, um empírico e outro discursivo, sendo esse último GHULYDQGRSDUDRUHODWLYLVPRVRÀVWD6HJXQGR/LPD9D]

(...) é justamente quando a vertente epistê-mica da cultura tende a tornar-se uma das estruturas mestras do universo simbólico, que as questões chamadas últimas sobre o ser, a verdade, o bem levantam-se imperiosamente, e é no confronto com essas questões que a ne-FHVVLGDGHWHyULFDGD)LORVRÀDVHLPS}H9$= 1997: 29).

$SDUWLUGLVVRSRGHVHWUDoDUDUHODomRHQWUHFXOWXUDH)LORVRÀD segundo o modelo platônico, como a relação dialética que se estabelece no domínio da metafísica. E, “somente elevando-se ao pensamento do ser verdadeiro e do princípio absoluto, a dialética poderá responder às aporias daquela cultura que avan-oDUiLQWUHSLGDPHQWHQRFDPLQKRGHXPDFLYLOL]DomRGD5D]mR 9$=µ

Dessa sorte, os grandes diálogos platônicos po-dem ser considerados po-demonstrações da neces-VLGDGH WHyULFD GD )LORVRÀD HQTXDQWR QHOHV D Dialética indica o caminho de saída das apo-rias nas quais viera enredar-se o desenvolvi-mento histórico da cultura (VAZ, 1997: 32).

$VVLPREVHUYD/LPD9D]TXHSDUDSRGHUUHRUGHQDUHVVDVUH-ODo}HVGHIRUPDDWRUQiODV´H[SUHVVmRGRlogos verdadeiro” é necessário negar a desordem da pólis empírica. Em suma, é ne-FHVViULRUHGHÀQLUDXQLGDGHGDpólis, em conformidade com o PRGHORLGHDOTXHRÀOyVRIR´UHDOL]DSULPHLUDPHQWHHPVLµSDUD HQWmRSRGHUGHGLFDUVHjWDUHIDGHUHDOL]DURLGHDOQDFRQFUHWX-de da comunidaHQWmRSRGHUGHGLFDUVHjWDUHIDGHUHDOL]DURLGHDOQDFRQFUHWX-de. Porém, para que seja possível contemplar o modelo ideal, é preciso percorrer o “mais longo circuito”. Esse caminho é o caminho da dialética, onde “a Idéia do Bem EULOKDUiFRPRREMHWRGDFLrQFLDPDLVDOWDµ9$= 3RUWDQWRFRQFOXL/LPD9D]TXH

Com efeito, essa condição só pode ser satisfeita se RÀOyVRIRFKHJDUDRWHUPRGRVHX´ORQJRFDPLQKRµ Somente desde esse alto cimo que é a contemplação do Bem poderá ele voltar à cidade para reordená-la de acordo como a “visão sinótica” própria do dialético, e que se desdobra a partir da Idéia su-prema do Bem-Uno (VAZ, 1997: 41).

3RUÀPUHVWDPWUrVWySLFRVDVHUHPDVVLQDODGRVQDREUDGH 3ODWmRGHDFRUGRFRP/LPD9D]2SULPHLURVHULDDGLDOpWLFD GR8QRHGRP~OWLSORTXHID]FRPTXHVHMDSRVVtYHODDUWLFX-lação dialética entre a unidade e a pluralidade. O segundo seria a metafísica da história que “recupera no logos a dispersão do WHPSRGDFXOWXUDµ9$=(SRUÀPRWHUFHLURTXH seria a cosmologia segundo a qual a fabulação mítica da orde-nação do Kósmos pelo Demiurgo possibilita a interpretação em analogia com a ordenação da pólisSHORÀOyVRIR

Essa analogia estabelece um fundamento ideal para a correspondência entre os dois concei-tos de nómos e de physis, cuja oposição, como vimos, está na origem dos problemas ético-políticos da cidade grega nos tempos socráticos platônicos (VAZ, 1997: 44).

(LVDFRQVWLWXLomRGDUHODomRHQWUH)LORVRÀDH&XOWXUDVHJXQGR o modelo platônico.

IV – Considerações sobre o mito da antinomia entre

saber e poder na cultura jurídica ocidental

5HWRPDQGRDDQiOLVHTXHÀ]HPRVDWpDTXLSRGHPRVFRQFOXLU TXHROXJDUGRÀOyVRIRQRPXQGRpSDUD3ODWmRXPOXJDUIRUD GRPXQGReUHVHUYDGRDRÀOyVRIRRSDSHOGHREVHUYDGRUSUL-vilegiado de uma cultura, e, portanto uma função crítica. No HQWDQWRÀFDFODURTXHRGLVWDQFLDPHQWRGRPXQGRHVVDatopia, pXPDQHFHVVLGDGHGDFRQWHPSODomRÀORVyÀFDRTXHID]FRP TXHDRÀOyVRIRVHMDSURLELGRWRUQDUVHSROtWLFR

(P RXWUDV SDODYUDV R ÀOyVRIR TXH VH WRUQD SROtWLFR SHUGH VXD TXDOLGDGH GH ÀOyVRIR GH REVHUYDGRU LPSDUFLDO H DVVLP ao abraçar o poder, inevitavelmente abandona o saber. Essa é a conclusão platônica, e é assim que o mito da antinomia

HQWUH SRGHU H VDEHU VH FRQÀJXUD 0XLWR HPERUD 3ODWmR VHMD RÀOyVRIRGR´UHLÀOyVRIRµÀFDFODURTXHROXJDUGRÀOyVRIR SDUD3ODWmRQmRpQDSROtWLFD,QWHUSUHWDUR´UHLÀOyVRIRµFRPR FHUQHGD)LORVRÀDSROtWLFDGH3ODWmRpXPHUURVHOHYDUPRVHP consideração a coerência com o restante de sua obra. O que HVWDPRVGL]HQGRpTXHPHVPRDR´UHLÀOyVRIRµFDEHVHJXQGR Platão, uma função de crítico imparcial, distante da sociedade. Em suma, ele poderia até ser um rei, mas não um rei político. 9ROWDQGRDRPXQGRFRQWHPSRUkQHRWHPRVFRPRSULQFLSDOGHVGR-bramento do mito Platônico a crença na neutralidade, ou na impar- FLDOLGDGHGR-XL]$VSHVVRDVDFUHGLWDPQRRFLGHQWHTXHDGHPR-FUDFLDGHSHQGHGDHIHWLYLGDGHGDVGHFLV}HVSROtWLFRGHPRFUiWLFDVR que é verdade, mas pensam que disso resulta a necessidade da mera aplicação da norma elaborada pelo legislador de forma eminente-PHQWHPHFkQLFDQDDWLYLGDGHGRMXL]SHORPpWRGRGDVXEVXQomR Essa forma de pensar teve seu auge com a Escola da Exegese, no séc. XIX, e, embora tenha caído em desuso entre os juris-tas acadêmicos após o trabalho de Gadamer, principalmente, DLQGDJR]DGHJUDQGHDFHLWDomRQRVHQVRFRPXPGDVRFLHGDGH (MEGALE: 2005, 145-169). Gadamer tenta desconstruir essa crença a partir da indissociabilidade entre interpretação e apli-FDomR)(51$1'(=/$5*2

Tanto para a hermenêutica jurídica quanto para a teológica, é constitutiva a tensão que existe entre o texto proposto – da lei ou da re-velação – por um lado, e o sentido que alcança sua aplicação ao instante concreto da interpre-tação, no juízo ou na prédica, por outro. Uma lei não quer ser entendida historicamente. A interpretação deve concretizá-la em sua vali-dez jurídica (GADAMER: 1999, 461).

A contrariedade entre a constatação Gadameriana e o anseio SRSXODU SRU ÀGHOLGDGH ':25.,1   WUD-]HPXPFRPSOLFDGRSUREOHPDSDUDR'LUHLWR(VVHSUREOHPD UHVXOWDQDFUHQoDGHTXHRVMXt]HVQmRGHYHULDPSRVVXLUSRGHU algum, pois deveriam apenas ser a boca da Lei, mas por outro ODGRDPHUDDSOLFDomRGDOHLSRUSDUWHGRVMXt]HVDFDUUHWDULDP em terríveis conseqüências:

a) a quebra da divisão dos poderes, que pode-ria acarretar em uma ditadura do legislativo, ou mesmo em uma ditadura da maioria;

b) na impossibilidade de se levarem a sério as peculiaridades do caso concreto, o que poderia DFDUUHWDUHPÁDJUDQWHVLQMXVWLoDVS~EOLFDVH c) no problema da discricionariedade do juiz, que representa uma legislação ad hoc, pois ele te-ria que decidir por sua própte-ria vontade, uma vez que a não decisão não seria permitida no direito.

3RGHVHFRPSUHHQGHUPHOKRUDTXHVWmRVREUHDQDWXUH]DGR mito platônico ao se observar as defesas freqüentemente apre- VHQWDGDVSDUDDWUDGLomRSODW{QLFD/LPD9D]FRPRMiYLVWRDQ- WHULRUPHQWHFULWLFDD)LORVRÀDFRQWHPSRUkQHDSRUVXDQHFHVVL-dade de “tornar-se mundo”. O que traria consigo uma inversão GDGLUHomRFUtWLFDGDLQWHQomRÀORVyÀFD

3RURXWURODGRDH[LVWrQFLDGHXPÀOyVRIRQHXWURLPSDUFLDO QmRpXPDSRVVLELOLGDGH1mRKiFRPRRÀOyVRIRREVHUYDUR mundo pelo lado de fora, simplesmente por que não há como VDLUIRUDGHOH2ÀOyVRIRID]SDUWHGRPXQGRHVXDIXQomR SUHFLVDVHUUHGHÀQLGDQDFRQWHPSRUDQHLGDGH

A proposta para solucionar esses problemas no mundo jurídi-FRSDVVDpFODURSRUXPDGHVPLWLÀFDomRGDDQWLQRPLDHQWUH

VDEHUHSRGHUFRPRSURS}H0LFKHO)RXFDXOW3RGHUHVDEHU são indissociáveis. Na verdade, poder e saber são faces de uma mesma moeda, perspectivas pelas quais se observa uma mes-PDFRLVD$VVLPDVROXomRSHGHTXHRMXL]DVVXPDRSDSHOGH intérprete do Direito, e não de boca da Lei.

Em outras palavras, apenas um modelo de pensamento que entenda o sistema jurídico como um sistema aberto de princí- SLRVHUHJUDVSRGHVHUFDSD]GHUHVWDEHOHFHUDUHODomRHQWUHVD-EHUHSRGHUQRPXQGRMXUtGLFRGHIRUPDDGHTXDGD52&+$ 8PMXL]GHYHDRWRPDUXPDGHFLVmRDVVXPLURVHX papel como agente do poder, tanto quanto seu papel como agente do saber.

Deve, portanto, decidir, e não apenas subsumir uma lei a um FDVRFRQFUHWR'HYHDSOLFDURGLUHLWRFULWLFDPHQWHLGHQWLÀFDQ-do os fundamentos, os princípios pelos quais as normas se MXVWLÀFDUDPGHIRUPDDHYLWDUWDQWRDLQMXVWLoDFRPRDDUELWUD-riedade. O jurista deve, portanto, ao mesmo tempo, possuir o saber jurídico e uma atitude política, de quem tem o poder de interpretar o direito.

eFODURTXHHVVDPXGDQoDGHDWLWXGHGRVMXt]HVQmRQHFHVVDULD-mente iria mudar a crença geral no mito platônico. Não se pre-tende, com isso, reformar nossa sociedade, embora com esse trabalho possa-se estar contribuir para denunciar esse mito em TXHVWmR3UHWHQGHPRVVLPSURSRUDRVMXt]HVTXHDWXHPQRVHQ-WLGRGHPHOKRUDGHTXDUVXDVGHFLV}HVDRVSULQFtSLRVGHMXVWLoD subjacentes à nossa tradição jurídica. E não aos mitos forma-listas que vêm prejudicando nossa visão durante tanto tempo, desde Platão, para ser mais preciso.

5HIHUHQFLDV%LEOLRJUiÀFDV

':25.,15RQDOG¶7KHDUGXRXVYLUWXHRI ÀGHOLW\RULJLQDO-ism, scalia, tribe and nerve” Fordham Law Review9ROXPH March 1997, pp.1249-1268.

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