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Mudanças climáticas e energia : um estudo sobre contribuições brasileiras diante de um novo regime climático

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências

MARIA CRISTINA OLIVEIRA SOUZA

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ENERGIA

UM ESTUDO SOBRE CONTRIBUIÇÕES BRASILEIRAS DIANTE DE UM NOVO REGIME CLIMÁTICO

CAMPINAS 2017

(2)

MARIA CRISTINA OLIVEIRA SOUZA

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ENERGIA

UM ESTUDO SOBRE CONTRIBUIÇÕES BRASILEIRAS DIANTE DE UM NOVO REGIME CLIMÁTICO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ORIENTADORA: PROFA. DRA. ROSANA ICASSATTI CORAZZA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA CRISTINA OLIVEIRA SOUZA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ROSANA ICASSATTI CORAZZA

CAMPINAS 2017

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Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Souza, Maria Cristina Oliveira,

So89m SouMudanças climáticas e energia : um estudo sobre contribuições brasileiras diante de um novo regime climático / Maria Cristina Oliveira Souza. –

Campinas, SP : [s.n.], 2017.

SouOrientador: Rosana Icassatti Corazza.

SouDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Sou1. Energia. 2. Gases de efeito estufa. 3. Mudanças climáticas. 4. Energia -Planejamento. 5. Mudanças climáticas - Política governamental. I. Corazza, Rosana Icassatti,1968-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Climate change and energy : a study on brazilian contributions

regarding a new climate change regime

Palavras-chave em inglês:

Energy

Green houses gases Climate change Energy - Planning

Climate change - Governmental policies

Área de concentração: Política Científica e Tecnológica Titulação: Mestra em Política Científica e Tecnológica Banca examinadora:

Rosana Icassatti Corazza [Orientador] André Tosi Furtado

Kelli Angela Cábia Lima de Miranda

Data de defesa: 30-03-2017

Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AUTORA: Maria Cristina Oliveira Souza

Mudanças climáticas e energia:

um estudo sobre contribuições brasileiras diante de um novo regime climático

ORIENTADORA: Profa. Dra. Rosana Icassatti Corazza

Aprovada em: 30 / 03 / 2017

EXAMINADORES:

Profa. Dra. Rosana Icassatti Corazza

Prof. Dr. André Tosi Furtado

Profa. Dra. Kelli Angela Cábia Lima de Miranda

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente aos meus pais, por todo o apoio que sempre me deram e pelo incentivo para eu nunca desistir.

Agradeço também a minha orientadora, Rosana Icassatti Corazza, por todos o suporte e empenho que foram fundamentais para as pesquisas que resultaram nesta dissertação. Além de orientadora, foi minha amiga e me mostrou como ser uma pesquisadora e uma professora que nunca perde o encanto em lecionar.

Agradeço também a professora Carla Kazue Nakao Cavaliero e o professor André Tosi Furtado, por aceitarem o pedido para participarem da minha banca de qualificação, seus apontamentos foram essenciais para o desenvolvimento final desta dissertação.

Novamente agradeço o professor André Tosi Furtado e também a professora Kelli Angela Cábia Lima Miranda por aceitarem o pedido para participarem da minha banca de defesa do mestrado, com toda a paciência para lerem a minha dissertação completa e que durante a arguição fizeram comentários que enriqueceram a minha dissertação.

Agradeço a todos os funcionários o Instituto de Geociências da Unicamp, especialmente as funcionárias da secretaria da pós-graduação, Val e Gorete que sempre estiveram solícitas para as minhas dúvidas, durante o mestrado.

Agradeço as minhas amigas do DPCT, Daniela Pinheiro, Luciana de Farias e Jennifer Martínez, que estiveram dispostas a me ouvir em todos os momentos, vou levar vocês para toda a minha vida!

Aos meus amigos e amigas que mesmo não entendo muito bem as minhas pesquisas, sempre me apoiaram e não desistiram de mim, apesar de ouvirem sempre “hoje eu não posso, preciso estudar! ”.

Agradeço a minha companheira felina, Ágata, que sempre esteve em cima da minha mesa, quietinha, em todos os momentos em que eu fiquei trabalhando.

Agradeço aos docentes do DPCT, que atuaram de forma direta ou indireta na minha formação.

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RESUMO

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ENERGIA

UM ESTUDO SOBRE CONTRIBUIÇÕES BRASILEIRAS DIANTE DE UM NOVO REGIME CLIMÁTICO

O tema geral desta dissertação diz respeito à interface entre mudanças climáticas e energia. A dissertação consiste de um estudo das contribuições brasileiras, representadas pelas iNDCs – ou seja, as metas de redução de Gases de Efeito Estufa (GEE) apresentadas pelo governo brasileiro por ocasião da 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris em 2015, e dos desafios que a partir daí seriam colocados para o setor de energia no país. O estudo é contextualizado de duas maneiras: de um lado, pelo panorama global, caracterizado pela sistematização e construção de um consenso do conhecimento científico sobre as mudanças climáticas e pela emergência de um novo regime climático global; de outro, por um panorama nacional definido a partir da caracterização das contribuições do Brasil para o problema das emissões, com a identificação e análise do perfil geral e setorial de emissões de GEE do país. O estudo é refinado para o caso das emissões do setor de energia, que permite identificar, a partir da análise de instrumentos selecionados de planejamento energético, que as metas apresentadas pelo país em Paris para o setor de energia já estavam pelo menos em parte presentes nas metas de planejamento desde 2007 e que as medidas associadas ao alcance de algumas dessas metas – especificamente para o caso da eficiência energética – configuram muito mais medidas fragmentadas do que efetivamente uma estratégia que aponta para os rumos para um futuro de baixo carbono no setor de energia. Além disso, até onde se pode constatar dentro dos limites dessa dissertação, essas medidas não podem ser identificadas como uma abordagem integrada e sistemática da inovação tecnológica e não tecnológica.

Palavras-chave: energia; gases de efeito estufa; mudanças climáticas; energia - planejamento;

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ABSTRACT

CLIMATE CHANGE AND ENERGY A STUDY ON BRAZILIAN CONTRIBUTIONS

REGARDING A NEW CLIMATE REGIME

The overall theme of this dissertation is the interface between climate change and energy. This research is a study of the Brazilian contributions to the iNDC – or greenhouse gas reduction goals – presented by the Brazilian government at the 21st Conference of Parties (COP 21) in Paris in 2015, and the new challenges posed for the country’s energy sector. This research is divided in three parts. On the first one, the global picture is characterized through the systematization and construction of the ongoing consensus of scientific knowledge on climate change and the emergence of a new global climate regime. On se second one, a national panorama is described through the characterization of Brazil's contributions to the emissions’ problem from an identification and analysis of the country's general and sectoral greenhouse gas emissions profile. On the third part, this research concentrates on the energy sector emissions’ case, which allows us to identify, from the analysis of selected energy planning instruments, that the country's energy sector goals presented at Paris were already partially present at the government’s planning goals since 2007 and that the policy measures associated with reaching some of these goals - specifically the ones on energy efficiency - were much more fragmented than an actual strategy that points to the direction of a low carbon future in the energy sector. Moreover, as far as can be seen within the limits of this dissertation, these policy measures can’t be identified as an integrated and systematic approach to technological and non-technological innovation.

Keywords: energy; green houses gases; climate change; energy-planning; climate change – governmental policies

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Médias Globais de concentrações de gases de efeito estufa ... 30

Figura 1.2 - Emissões antropogênicas globais de gás carbônico... 31

Figura 1.3 - Emissões antropogênicas globais por grupo de GEE entre 1970 e 2010 ... 32

Figura 1.4 - Emissões antropogênicas acumuladas totais de CO2 a partir de 1870 (GtCO2) .. 35

Figura 1.5 - Emissões Globais de Gases de Efeito Estufa, diretas e indiretas, por Setores Econômicos ... 37

Figura 2.1 - Emissões Acumuladas Totais de CO2 (MtCO2e), excluindo AFOLU (1850 - 1990) ... 67

Figura 2.2 - Emissões Acumuladas de CO2 excluindo AFOLU (% global) (1850-1990) ... 68

Figura 2.3 - Emissões Acumuladas de GEE (%) incluindo AFOLU (1990 - 2012) ... 69

Figura 2.4 - Emissões anuais de GEE, incluindo AFOLU* (2012) ... 73

Figura 2.5 - Ranking dos dez maiores emissores de GEE em 2012 (em Kt CO2e)... 74

Figura 2.6 - Intensidade de emissões totais / PIB PPC¹e de emissões provenientes do consumo de combustíveis fósseis para os 10 maiores emissores (2012) ... 82

Figura 2.7 - BRICS: Emissões totais de GEEs (MtCO2e) excluindo AFOLU (2012) ... 83

Figura 2.8 - Emissões totais per capita de GEE, incluindo AFOLU (tCO2e per capita), em 2012 ... 84

Figura 3.1 - Emissões totais de CO2e (Mt) GWP/AR5* no Brasil ... 92

Figura 3.2 - Emissões totais de CO2e (Mt) GWP/AR5 excluindo MUT ... 96

Figura 3.3 - Emissões de CO2e (Mt GWP/AR5) para os setores selecionados* (1970 – 2014) ... 97

Figura 3.4 - Emissões de CO2e (Mt GWP/AR5) para MUT (1970-2014) ... 98

Figura 3.5 - Remoções de CO2e (t) GWP/AR5 (1990 - 2015) ... 99

Figura 3.6 - Perfis das emissões de CO2e no Brasil: 1990 e 2014 ... 100

Figura 3.7 - Oferta interna de energia no Brasil por fonte primária ... 103

Figura 3.8 - Oferta interna bruta de energia no Brasil por fonte primária (1990 - 2014) .... 104

Figura 3.9 - Emissões de GEE do Setor de Energia por fonte primária ... 105

Figura 3.10 - Emissões de GEE no Brasil e no mundo entre 1990 e 2014 (Mt CO2e), incluindo AFOLU ... 106

Figura 3.11 - Emissões de GEE no setor de energia no Brasil em relação às emissões globais de GEE (Mt CO2e) em 1990 e 2012 ... 108

Figura 4.1 - Crescimento da produção primária de energia no Brasil (1970-2014), em 103 tep ... 126

Figura 4.2 - Fontes renováveis na produção de energia primária no Brasil (1970 a 2014) (em tep e em %) ... 127

Figura 4.3 - Consumo total de etanol no Brasil, consumo de álcool anidro e hidratado (1970 – 2014) em 103 m3 ... 132

Figura 4.4 - Produção total de etanol no Brasil, produção de álcool anidro e hidratado (1970 – 2014) em 103 m3 ... 133

Figura 4.5 - Produção de Energia Hidráulica no Brasil, (1970 – 2014) em 103m3 e % da produção na Matriz Primária de Energia ... 134

(9)

Figura 4.6 - Capacidade Instalada versus Geração de Energia (1980 – 2000) (em número

índice) ... 136

Figura 4.7 - Crescimento da produção de energia elétrica a partir de fontes primárias e secundárias não renováveis no Brasil (1970 - 2014), em GWh ... 138

Figura 4.8 - Matriz Primária de Energia, Brasil: fontes renováveis e não renováveis (1970 e 2014) (%) ... 139

Figura 4.9 - Oferta interna de energia primária: 1970-2015 (%) ... 141

Figura 4.10 - Importação de energéticos fósseis pelo Brasil: 1970-2015 (103 tep) ... 143

Figura 4.11 - Participação relativa do carvão vapor, carvão metalúrgico, gás natural e petróleo na pauta de importação de energéticos fósseis pelo Brasil: 1970 e 2015 (% da importação de energia) ... 144

Figura 4.12 - Emissões de GEE do Setor de Energia por fonte primária ... 146

Figura 4.13 - Emissões de GEE do Setor de Energia pelo uso nos diferentes segmentos de atividade (1990-2014)... 148

Figura 4.14 - Evolução da participação das fontes primárias na geração de energia elétrica (1990-2014) ... 149

Figura 4.15 - Emissões brasileira de GEE por setor (1990 – 2014) ... 151

Figura 4.16 - Perfil de emissões de CO2 pela queima de combustíveis no Brasil e no mundo em 2013, por fonte primária de energia ... 152

Figura 4.17 - Perfil de emissões de CO2e pela queima de combustíveis no Brasil e no mundo em 2013 ... 153

Figura 4.18 - Emissões de GEE do Setor de Energia por segmento de atividade (uso de energia) ... 153

Figura 5.1 - Evolução Esperada da Estrutura da Oferta Interna de Energia... 162

Figura 5.2 - Fontes Renováveis na Matriz Energética Brasileira ... 163

Figura 5.3 - Potenciais de Eficiência Energética até 2030 ... 163

Figura 5.4 - Participação relativa das fontes no consumo final de energia em 2024 ... 168

Figura 5.5 - Evolução da oferta interna de energia no horizonte decenal ... 170

Figura 5.6 - Composição relativa da oferta interna de energia por fonte (2015 – 2014) .... 170

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 - Caminhos Representativos de Concentração no horizonte 2100

(Representative Concentration Pathways - RCPs) ... 34

Quadro 2.1 - Emissões de CO2

, correntes e acumuladas, população e Produto

Interno Bruto, por grupo de países, reunidos segundo a configuração inicial de

Kyoto (de 1990) ... 65

Quadro 2.2 - Emissões de CO2

, correntes e acumuladas, população e Produto

Interno Bruto, por grupo de países, numa configuração “pós-Kyoto” ... 77

Quadro 3.1 - Síntese das medidas complementares apresentadas pelo Brasil

no âmbito da iNDC, por setor ... 117

Quadro 4.1 – Produção automobilística por combustível (2003 - 2014) em %

... 132

Quadro 5.1 - Objetivos dos Planos Decenais de Energia ... 164

Quadro 5.2 - Matriz Energética Primária 2024 ... 169

Quadro 5.3 - Evolução da oferta de energia primária ... 171

Quadro 5.4 - Aumento da Eficiência de Equipamentos Eletrodomésticos .... 175

Quadro 5.5 - Setor residencial: consumo de eletricidade e eficiência energética

... 179

Quadro 5.6 - Setor industrial: consumo de energia e eficiência energética ¹ .. 180

Quadro 5.7 - Setor industrial : Intensidade Energética ... 182

Quadro 5.8 - Setor industrial: consumo de eletricidade e conservação de

energia elétrica no setor industrial ... 182

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFOLU

Agriculture, Forestry and Other Land Uses (Setores da agricultura, florestal e outros uso da terra )

AR5 5th Assessment Report

BAU Business As Usual

BECCS

Bio-Energy with Carbon Capture and Storage (Bioenergia com Captura e Sequestro de Carbono )

BEM Balanço Energético Nacional

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul C&T Ciência e Tecnologia

CAIT Climate Analysis Indicators Tool

CCS Carbon Capture and Storage

CH4 Metano

CO2 Dióxido de carbono (gás carbônico)

CO2e Dióxido de carbono equivalente

COP Conferência das Partes

EPE Empresa de Pesquisa Energética GEE Gases de Efeito Estufa

Gt Giga tonelada ( um bilhão de toneladas) GTP Global Temperature Change Potential

GWP Global Warming Potential

HFC Hidrofluorcarboneto

IAA Instituto do Açúcar e do Álcool

iLPF Sistemas de Integração lavoura-pecuária-florestas IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia iNDC

Intended Nationally Determined Contributions (Contribuição Pretendida Determinada Nacionalmente)

IPCC

Intergovernmental Panel on Climate Change ( Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)

MME Ministerio de Minas e Energia

Mt Mega tonelada ( um milhão de toneladas)

MUT Mudança de Uso da Terra

N2 Óxido Nitroso

OMM Organização Meteorológica Mundial

ONU Organização das Nações Unidas

PBMC Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas

PDE Plano Decenal de Energia

PFC Perfluorcarbono

PNA Plano Nacional de Adaptação

PNE 2030 Plano Nacional de Energia 2030

PNMC Plano Nacional de Mudanças Climáticas

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PRCD Princípio da Responsabilidade Comumporém Diferenciada

(12)

Climáticas

RCP

Representative Concentration Pathways (Caminhos Representativos de Concentração de GEE)

REDD+

Reduce emissions from deforestation and forest degradation, and foster conservation, sustainable management of forests, and enhancement of forest carbon stocks ( Redução de emissões decorrentes do desmatamento e da degradação de florestas e conservação, do manejo sustentável e do aumento de estoques de carbono nas florestas.

SEEG Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa

SF6 Hexafluoreto de enxofre

TSU Technical Support Unit (Unidade de Apoio Técnico ) UNFCCC

United Nations Framework Convention on Climate Change (Convenção do Clima da ONU )

W/m2 Watts por metro quadrado

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

WG1 Working Group I - AR5

WG2 Working Group II -AR5

WG3 Working Group III- AR5

(13)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

Capítulo 1 – Sistematização do conhecimento científico sobre mudanças climáticas e sugestões para a descarbonização: contribuições do IPCC/AR5 ... 25

1.1. Sobre o IPCC, sua estrutura e funcionamento ... 26

1.2. Causas e efeitos das mudanças climáticas, segundo o AR5 ... 29

1.3. Transformações necessárias e urgentes: intersetoriais e setoriais ... 39

1.3.1. Vias de mitigação intersetoriais e suas medições... 41

1.3.2. Transformações setoriais para mitigação de GEE ... 46

1.4. Síntese e considerações finais ao capítulo ... 56

Capítulo 2 – A partilha das responsabilidades sobre o enfrentamento das mudanças climáticas: mudanças na governança global do clima à luz de uma análise de emissões históricas e correntes ... 59

2.1. Regime climático de 1990 a 2009: emissões e os princípios do Protocolo de Kyoto ... 63

2.2. Emergência de um novo regime climático a partir de 2009 ... 72

2.3. Velhos e novos conflitos no regime climático pós-Kyoto ... 81

2.4. Síntese e considerações finais ao capítulo ... 86

Capítulo 3 – Brasil: perfil das emissões e intenções apresentadas à COP21 ... 89

3.1. Uma breve caracterização das emissões de GEEs do Brasil ... 91

3.1.1. Evolução das emissões totais de GEEs no Brasil no período de 1970 a 2014.. 92

3.1.2. Observações sobre as emissões do setor de energia ... 101

3.1.3. Importância relativa das emissões do Brasil no panorama global ... 105

3.2. Contribuição Pretendida Determinada Nacionalmente: a “iNDC” do Brasil .... ... 110

3.2.1. A contribuição em termos de mitigação, adaptação e meio de implementação . ... 112

3.2.2. Observações específicas sobre medidas setoriais... 115

3.2.3. Observações sobre o estágio atual de implementação das metas ... 118

3.3. Síntese e considerações finais do capítulo ... 119

Capítulo 4 – Mudanças recentes no setor de energia e emissões associadas ... 124

4.1. Mudanças na energia primária no Brasil no período 1970-2014 ... 125

4.2. Oferta interna: a intensificação da importação de combustíveis fósseis ... 141

4.3. O perfil das emissões de GEE associadas à oferta e à demanda energética . 145 4.4. Observações finais ao capítulo ... 154

(14)

Capítulo 5 - Ações para reduções de emissão de GEE no setor de energia: mais

fragmentos do que estratégias integradas para uma descarbonização ... 157

5.1. Instrumentos de Planejamento Energético: PNE 2030 e PDEs ... 159

5.2. O futuro das fontes renováveis segundo os PDE´s ... 166

5.3. A eficiência energética nos setores residencial e industrial ... 172

5.4. Observações finais ao capítulo ... 185

Conclusões Finais ... 188

(15)

INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas compõem uma parte das questões que colocam a humanidade diante das chamadas fronteiras planetárias (planetary boundaries), termo proposto por Rockström et al (2009) para compreender a problemática ambiental contemporânea numa perspectiva sistêmica, no sentido das interações entre os sistemas naturais e antrópicos.1

“Fronteiras planetárias” representam um construto que denota os esforços de cientistas (naturais e também sociais) de sintetizar o conhecimento contemporâneo com respeito às interações entre o sistema terrestre e os sistemas socioeconômicos, numa tentativa de comunicar e alertar um público mais amplo do que os convencionais circuitos acadêmicos – e mesmo de policy making – de que as ações antropogênicas resultam em efeitos que atingem toda a humanidade. É uma expressão que tem atravessado, em nossos dias, não apenas as fronteiras disciplinares, aparecendo em palavras-chave, títulos e conteúdo de artigos científicos publicados em periódicos e em apresentações de eventos acadêmicos, como também os mais diversos fóruns de políticas públicas, em especial aqueles atinentes a questões ambientais. É também uma expressão que reforça a ideia de que as ações de mitigação devem ser globais e de que as responsabilidades pelas ações perante as mudanças climáticas devem ser mais amplamente partilhadas.

As mudanças climáticas dividem com as demais fronteiras planetárias certas características que tipificam a problemática ambiental contemporânea: são problemas sistêmicos e complexos, com causalidades que não podem ser admitidas como unidirecionais, apresentando ciclos de retroalimentação; suas fontes múltiplas, difusas, tornam difícil a atribuição de responsabilidades (o que é fundamental à aplicação do princípio do poluidor-pagador, que orienta grande parte das políticas ambientais); suas consequências são cumulativas e se desdobram para além das fronteiras nacionais; há um sensível interregno temporal entre a instalação das causas e a observações dos efeitos, o que coloca a dimensão intertemporal como central na apreensão dos nexos causa-efeito, os quais são estabelecidos

1 Os autores definiram nove fronteiras planetárias ou limites planetários como sendo "o espaço operacional seguro para a humanidade em relação ao sistema terrestre": 1) Mudanças climáticas; 2) Taxa de perda da integridade da biosfera (que causa extinção de espécies); 3) Ciclos biogeoquímicos do fósforo e do nitrogênio; 4) Esgotamento do ozônio atmosférico, 5) Acidificação dos oceanos; 6) Utilização da água doce; 7) Mudança no uso da terra; 8) Carga atmosférica de aerossóis; e 9) Poluição química (como nuclear, poluentes orgânicos e metais pesados). De acordo com os autores, a humanidade já ultrapassou quatro dessas fronteiras: as mudanças climáticas; a taxa da perda de integridade da biosfera; as mudanças no uso da terra e a interferência do ciclo do nitrogênio. Romper esses limites colocam em risco a própria existência humana (Rockström et al, 2009, p.472).

(16)

com base em um conhecimento científico de fenômenos que estão nas fronteiras entre os sistemas antrópicos e naturais, sujeitos a controvérsias científicas e a incertezas nem sempre redutíveis a riscos probabilísticos; seus desdobramentos podem incorrer em irreversibilidade de danos tanto para os sistemas socioeconômicos quanto para os sistemas terrestres (CORAZZA, 1996; CORAZZA e BONACELLI, 2014).

Essas características justificam muitas das dificuldades enfrentadas quando o objetivo é o de propor soluções para os problemas. No caso das mudanças climáticas, é possível dizer que a origem dos gases de efeito estufa estão espalhadas por um número praticamente incomensurável de fontes, estáticas e móveis, de difícil reconhecimento pontual. São fontes difusas. Isso faz com que a aplicação do tradicional princípio do poluidor-pagador, por exemplo, encontre muitas dificuldades.

Outra dificuldade é que, em face daquelas características, o que ocorre é a necessidade – e urgência – para que sejam adotadas medidas de política antes da estabilização do conhecimento científico e da possibilidade de mensuração econômica de custos e benefícios, ou seja, para a adoção do princípio da precaução (O´RIORDAN & CAMERON, 2013).

A solução para o problema da distribuição de custos e benefícios, dentro dos regimes climáticos, passa pela incorporação de princípios como o Princípio de Responsabilidades Comuns, porém Diferenciadas (o PRCD) e o princípio das responsabilidades históricas. São princípios que estão em jogo dentro da reconfiguração de forças na transição para o novo regime climático pós-Kyoto.

A natureza global das mudanças climáticas faz com que sua solução passe necessariamente por medidas que devem ser tomadas conjuntamente pelos países. Com essa compreensão é que a Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês para United Nations Framework Convention for Climate Change) foi proposta, em 1992, por ocasião da Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, conhecida como Rio 92.

Na UNFCCC, o objetivo geral de combater as mudanças climáticas deu origem a sucessivas rodadas de negociações internacionais, nas quais os Estados nacionais, chamados de “partes”, deveriam se comprometer com ações voltadas às finalidades de mitigação e de adaptação, além de negociar os meios tecnológicos e financeiros para o alcance dessas finalidades. Delegados dos Estados nacionais se reúnem periodicamente nas Conferências das Partes (COPs), que ocorrem desde 1995 – a COP de Berlim. As questões que animam os debates têm a ver com responder a questões tais como: o que fazer, como fazer, quem deve

(17)

fazer, quando e com o recurso a quais meios (BUENO RUBIAL, 2016). As negociações se intensificaram em especial a partir de 20072, quando a consolidação do conhecimento científico sobre causas, efeitos e recomendações sobre o problema das mudanças climáticas pelo IPCC foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz.

O grande vilão, de acordo com a sistematização dos conhecimentos pelo IPCC, seria, historicamente, a queima de combustíveis fósseis. Desde a Revolução Industrial, a quantidade de CO2 se acumula de forma a levar a concentrações na atmosfera que tenderiam a

alterar o funcionamento do sistema climático. O problema se acelerou depois da Segunda Guerra Mundial, com o avanço da industrialização em outras partes do planeta, aprofundando e consolidando seu caráter intensivo na queima de combustíveis fósseis. Mais recentemente, outros fatores, como o avanço do desmatamento em países como o Brasil e a Indonésia e outras causas associadas a mudanças no uso da terra (MUT) passam a constituir elementos explicativos para o problema.

O estudo desenvolvido no âmbito desta dissertação se coloca na interface entre mudanças climáticas e energia.

A dissertação consiste de um estudo das contribuições brasileiras, representadas pela iNDC – ou seja, as metas de redução de Gases de Efeito Estufa (GEE) apresentadas pelo governo brasileiro por ocasião da 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris em 2015, e dos desafios que a partir daí seriam colocados para o setor de energia no país. O estudo é contextualizado de duas maneiras: de um lado, pelo panorama global, caracterizado

2 O Relatório AR4, que antecedeu o AR5, foi publicado em 2007 e foi um dos principais documentos que confirmaram que as ações antrópicas afetam os aumentos das emissões de GEE e as suas concentrações na atmosfera, como também influencia nas mudanças climáticas do planeta: “As concentrações atmosféricas globais de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram bastante em consequência das atividades humanas desde 1750 e agora ultrapassam em muito os valores pré-industriais determinados com base em testemunhos de gelo de milhares de anos. Os aumentos globais da concentração de dióxido de carbono se devem principalmente ao uso de combustíveis fósseis e à mudança no uso da terra. Já os aumentos da concentração de metano e óxido nitroso são devidos principalmente à agricultura.” (IPCC, 2007a, p. 26, disponível em: https://www.ipcc.ch/pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg1-spm.pdf). O Relatório AR4 serviu de base para evidenciar cientificamente que os aumentos das emissões de GEE e as suas concentrações na atmosfera possuem natureza antrópica, resultando em alterações climáticas: “Uma avaliação global dos dados desde 1970 mostrou ser provável que o aquecimento antrópico tenha tido uma influência discernível em muitos sistemas físicos e biológicos” (IPCC, 2007b, p.4). Além disso, o Relatório afirma que se os aumentos da temperatura global ultrapassarem de 1,5°C a 2,5°C, o risco de extinção de espécies vegetais e animais aumentará aproximadamente de 20% a 30%. O AR4 trouxe como novidade estimativas sistemáticas das magnitudes dos impactos provenientes dos aumentos da temperatura média global e enfatizou que “O desenvolvimento sustentável pode reduzir a vulnerabilidade à mudança do clima, aumentando a capacidade de adaptação e aumentando a resiliência. Na atualidade [ano de 2007], contudo, poucos planos de promoção da sustentabilidade preveem explicitamente a adaptação aos impactos da mudança do clima ou a promoção de capacidade de adaptação” (IPCC, 2007b, p.26, disponível em: https://www.ipcc.ch/pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg2-spm.pdf.)

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pela sistematização e construção de um consenso do conhecimento científico sobre as mudanças climáticas e pela emergência de um novo regime climático global; de outro, por um panorama nacional definido a partir da caracterização das contribuições do Brasil para o problema das emissões, com a identificação e análise do perfil geral e setorial de emissões de GEE do país. O estudo é refinado para o caso das emissões do setor de energia, que permite identificar, a partir da análise de instrumentos selecionados de planejamento energético, que as metas apresentadas pelo país em Paris para o setor de energia já estavam pelo menos em parte presentes nas metas de planejamento desde 2007 e que as medidas associadas ao alcance de algumas dessas metas – especificamente para o (pouco significativo) avanço da presença das fontes renováveis na matriz energética e para o caso da eficiência energética – configuram muito mais medidas fragmentadas e pouco ambiciosas do que efetivamente uma estratégia que aponta rumos para um futuro de baixo carbono no setor de energia. Além disso, até onde se pode constatar dentro dos limites dessa dissertação, essas medidas não podem ser identificadas com uma abordagem integrada e sistemática da inovação tecnológica e não tecnológica.

A dissertação está estruturada em três partes, totalizando cinco capítulos, além desta introdução e das conclusões.

Na primeira parte são apresentadas as contribuições do IPCC/AR5 para a discussão sobre as mudanças climáticas. Esta parte é composta pelo primeiro capítulo, intitulado “Sistematização do conhecimento científico sobre mudanças climáticas e sugestões para a descarbonização : contribuições do IPCC/ AR5”, que apresenta uma contextualização sobre os avanços da compreensão científica sobre causas e efeitos das mudanças climáticas a partir dos documentos do 5º Relatório de Avaliação do IPCC, o chamado AR5 (sigla em inglês para o 5th Assessment Report) e de suas propostas mais gerais de transformações necessárias nas dimensões setoriais e intersetoriais a fim de superar as formas de produção e consumo de alta intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Deste modo o capítulo busca compreender o panorama científico, como tem sido típico nas relações entre Ciências Ambientais e diversas arenas de policies no ambientalismo contemporâneo, no qual se dão as negociações multilaterais sobre os rumos da descarbonização da economia global.

A discussão final deste primeiro capítulo é relevante para a compreensão dos desafios às transformações futuras no que tange à necessidade de redução dessas emissões no país. Entende-se que esses desafios estão relacionados tanto às possibilidades de transição para uma economia de baixas emissões de gás carbônico em particular, quanto de gases de efeito estufa em geral, e também do ponto de vista de se repensar as possibilidades de

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desenvolvimento socioeconômico de modo a não comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer suas necessidades, ou seja, num sentido de um desenvolvimento socioeconômico mais sustentável.

A segunda parte apresenta a discussão sobre as responsabilidades de cada país para as mudanças climáticas e também o papel do Brasil neste cenário. Esta parte é composta pelos capítulos 2 e 3 da dissertação.

A partir do momento no qual são sistematizados os conhecimentos científicos que evidenciam que as ações antropogênicas, ou seja, aquelas causadas pela ação do homem, influenciam e interferem na dinâmica do clima do planeta – objeto do primeiro capítulo desta dissertação -, a comunidade internacional, especialmente sob os auspícios das Nações Unidas, passa a formatar espaços para que se discutam formas de enfrentamento do problema.

O capítulo 2 é intitulado “A partilha das responsabilidades sobre o enfrentamento das mudanças climáticas: mudanças na governança global do clima à luz de uma análise de emissões históricas e correntes” e nele são apresentados e discutidos aspectos críticos dessas negociações climáticas, que representam um avanço sobre a discussão científica sobre as mudanças climáticas.

Neste sentido, é oferecida uma reflexão sobre dois “momentos” das negociações sobre a problemática do clima nos fóruns mundiais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC) – as chamadas Conferências das Partes (COPs): o primeiro deles que vai de 1990 a 2009, que caracteriza o que Bueno Rubial (2016) chama de Regime do Protocolo de Kyoto, e o período que se abre a partir de 2009, associado ao que a autora denomina de um novo regime climático. Para esses períodos, a reflexão aportada pelo segundo capítulo procura identificar uma reconfiguração dos arranjos entre os países, apoiada no reconhecimento de uma mudança de perfil de emissões de países e de grupos de países, a fim de compreender como o Brasil se posiciona nas negociações internacionais sobre as mudanças climáticas. Observa-se, então, um rearranjo e novas coalizões de países, com a perda do papel de muitos dos que compunham originalmente o Anexo I do Protocolo de Kyoto e a emergência de um conjunto de países agrupados, para fins de negociação na ocasião da COP 15, em Copenhague, em 2009, como BASIC: Brasil, África do Sul, Índia e China.

É neste contexto que emergem as contribuições, em termos de metas dos países signatários da UNFCCC para o novo regime climático que deve substituir o Protocolo de Kyoto e que tem como maior desafio, evitar o aquecimento global de mais de 2oC, conforme advogam os cientistas reunidos no IPCC e que assinam o AR5. Para isto, tanto o Brasil como

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os demais países participantes da UNFCCC tiveram a responsabilidade de publicar suas metas para a descarbonização de suas economias. O documento que contem as metas de descarbonização do Brasil é a Contribuição Pretendida Determinada Nacionalmente (iNDC), publicada pelo Ministério das Relações Exteriores.

Esse terceiro capítulo, intitulado “Brasil: perfil das emissões e intenções apresentadas na COP 21”, está organizado em duas seções. Na primeira seção é apresentada e discutida uma breve caracterização das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, de modo a permitir que se possa avaliar o problema, do ponto de vista de suas dimensões quantitativas absolutas (o quanto se emite de gases de efeito estufa no país), da contribuição dos diferentes setores para essas emissões e ainda da importância relativa do Brasil para as emissões de GEE em escala global. Para tanto, recorreu-se à base de dados do Sistema de Estimativa de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, que apresenta o registro das emissões de GEE desde 1970. A segunda seção, por sua vez, apresenta as contribuições apresentadas pelo Brasil para o alcance das metas globais de redução das emissões dos GEE, ou seja, a iNDC brasileira apresentada por ocasião da 21ª Conferência das Partes, a COP 21, realizada em Paris no final do ano de 2015. Para compor esta seção, foram levantados e analisados documentos oficiais do Ministério das Relações Exteriores do Brasil para efeito de compreensão do processo de consultas públicas para a elaboração das metas. Adicionalmente, foram compiladas e sistematizadas as metas apresentadas pelo Brasil no âmbito de sua iNDC. Também será visto quais metas de redução de GEE estão associadas a esses setores. Como se analisa neste capítulo, essas metas são apresentadas de uma forma bastante genérica, sendo que o documento iNDC não detalha as medidas para que essas metas sejam implementadas.

A terceira parte da dissertação apresenta um estudo sobre o setor de energia do Brasil diante do panorama de reflexões sobre mudanças climáticas e as necessidades de redução de gases de efeito estufa, apresentado nos três capítulos iniciais. Esta parte é composta pelos capítulos 4 e 5 da dissertação.

O capítulo 4, intitulado “Mudanças recentes no setor de energia e emissões associadas”, apresenta as mudanças da matriz primária de energia do Brasil, a fim que se possa compreender o processo do aumento das emissões de GEE neste setor entre os anos de 1970 e 2014.

O capítulo está organizado em três seções. A seção 4.1 apresenta as mudanças na composição da energia primária no Brasil no período de 1970 a 2014. Os dados para a elaboração dos gráficos foram extraídos da base de dados do Balanço Energético Nacional

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(BEN). Foram recuperados e analisados, à luz de estudos de especialistas na área de energia, dados sobre a produção primária de energia no país, agrupados por fontes renováveis e não-renováveis, de forma agregada. A seguir, os dados foram desagregados segundo as fontes primárias e secundárias renováveis em questão: energia hidráulica, biocombustíveis, lenha e outras fontes primárias renováveis. Convém notar que as “outras fontes primárias renováveis” incluem, por exemplo, a solar e a eólica, não havendo, portanto, dados desagregados para essas fontes no BEN. Os casos do etanol e do potencial hidráulico foram examinados, tendo sido caracterizado que, embora tenha havido um aumento da produção dessas fontes primárias em termos absolutos, houve uma perda na participação relativa das fontes renováveis na matriz primária, pois em 1970 o percentual correspondia a 78,66% e em 2014 passou a representar somente 43,54%. Um exame um pouco mais detalhado evidencia que uma parte relevante da necessidade de energia primária para suprir o fornecimento de energia elétrica terminou por favorecer o uso de energias não renováveis, em especial o gás natural. Estes resultados são mais bem compreendidos com a apresentação e análise da evolução da estrutura da oferta interna de energia, em especial a partir de 2000.

A necessidade de suprir o fornecimento de energia elétrica a partir de fontes fósseis se deu com o recurso, conforme se observa na seção 4.2, a um aumento nas importações desse combustível, o que se traduziu numa mudança na estrutura da oferta interna de energia.

A seção 4.3 recupera e apresenta o perfil das emissões de CO2 associadas à oferta

e à demanda energética, destacando o perfil setorial dessas emissões e qualificando-as tanto em termos absolutos quanto relativos.

Por fim, o capítulo 5, intitulado “Ações para reduções de emissão de GEE no setor de energia: mais fragmentos do que estratégias integradas para uma descarbonização”, apresenta, a partir de uma análise de instrumentos selecionados de planejamento do setor de energia, uma reflexão sobre dois temas relevantes para o futuro deste setor no sentido da busca pela redução das emissões de GEE. São eles: o tema das perspectivas para as fontes renováveis e o da busca pela eficiência no domínio da energia.

O capítulo está organizado em três seções. A primeira delas apresenta o PNE e os PDEs selecionados para a análise proposta no capítulo, contextualizando esses documentos dentro da proposta de planejamento energético e identificando seus objetivos. A segunda seção busca identificar o papel atribuído às fontes renováveis dentro desses documentos de planejamento, em seus respectivos horizontes temporais. Finalmente, a terceira seção

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apresenta as medidas levantadas, a partir dessa documentação, específicas para a busca da eficiência energética – que corresponde a uma das metas da iNDC para o horizonte de 2030.

Há que se mencionar uma dificuldade em se recuperar informações específicas sobre medidas que estariam na origem do aumento de eficiência esperado para vários dos casos tratados pelos PDEs, mencionados ao longo da exposição do quinto capítulo. Esta dificuldade impôs uma limitação ao exercício de análise, em particular restrito aos casos do setor residencial e industrial, cada um deles com dificuldades específicas. Por esta razão, as considerações finais apresentadas devem ser compreendidas levando-se em conta estas dificuldades metodológicas e de análise.

Para a consecução dessa dissertação, recorreu-se a uma multiplicidade de estratégias metodológicas. Uma revisão semi-sistemática da literatura foi realizada por meio de artigos pesquisados no Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), Periódicos Capes, base de periódicos científicos brasileiros Scientific Electronic Library Online (SciELO) e também por meio do Google Scholar. Um levantamento e a correspondente análise documental relativos ao AR5/IPCC deu origem à exposição e às reflexões apresentadas no primeiro capítulo sobre o problema climático. Uma revisão documental sobre as emissões brasileiras de gases do efeito estufa contou com estudo dos relatórios do Observatório do Clima. Já os estudos sobre o setor de energia no Brasil foram realizados com base nos documentos de planejamento energético: o Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) e os Planos Decenais de Energia (PDE). A exposição sobre as metas brasileiras para a redução de gases de efeito estufa no âmbito das negociações climáticas que deram origem ao Acordo de Paris – a iNDC do Brasil – contou com informações levantadas em documentos do Ministério das Relações Exteriores.

Nesta dissertação, também foram utilizadas seis diferentes bases de dados para a busca e recuperação de informações quantitativas, com a elaboração e manipulação de planilhas, quadros, tabelas e gráficos que proporcionaram as análises apresentadas nos diversos capítulos.

A composição dos perfis de emissões no panorama global, apresentados no segundo capítulo, foi realizada com base em dados coletados a partir da CAIT-WRI (Climate Analysis Indicator Tool, disponibilizada pelo World Resources Institute), enquanto que o detalhamento do perfil geral das emissões brasileiras e para o setor de energia, apresentados, respectivamente, no terceiro e quarto capítulos, contou com a recuperação, tabulação e análise de dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do

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Observatório do Clima. Os dados referentes ao setor de energia no Brasil foram obtidos a partir do Balanço Energético Nacional (BEN), disponibilizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Já os dados sobre PIB e população (e alguns também sobre emissões) foram obtidos a partir da base de dados do Banco Mundial (World Bank Data) e também do Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (United Nations Department of Economic and Social Affairs - DESA).

Finalmente, foi utilizado e elaborado um clipping de notícias com base nas seguintes fontes: Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Valor Econômico, Agência Brasil, O Eco, Revista Pesquisa FAPESP, Deutsche Welle e Fundação Heinrich Böll para os temas de mudanças climáticas, energia, negociações globais sobre o clima e sobre as iNDCs. A utilização de textos jornalísticos se justifica pelo fato de que esses são temas contemporâneos, com atualizações correntes.

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PARTE I

CONTRIBUIÇÕES DO IPCC/AR5

Capítulo 1 – Sistematização do conhecimento científico sobre mudanças climáticas e sugestões para a descarbonização: contribuições do IPCC/AR5

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Capítulo 1 – Sistematização do conhecimento científico sobre mudanças climáticas e sugestões para a descarbonização: contribuições do IPCC/AR5

Este capítulo representa uma contextualização sobre os avanços da compreensão científica sobre causas e efeitos das mudanças climáticas a partir dos documentos do 5º Relatório de Avaliação do IPCC, o chamado AR5 (sigla em inglês para o 5th Assessment Report) e de suas propostas mais gerais de transformações necessárias nas dimensões setoriais e intersetoriais a fim de superar as formas de produção e consumo de alta intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Trata-se não apenas do reconhecimento de um panorama sobre a sistematização atualizada do conhecimento científico aportado pelo IPCC sobre o problema das mudanças climáticas, mas também sobre suas contribuições para entender os desafios que se colocam à redução das emissões de GEE em termos de transformações futuras, tanto em uma abordagem setorial quanto intersetorial. Como será visto, o documento apresenta muitos desses desafios como relacionados às possibilidades de transição para uma economia de baixas emissões de gás carbônico em particular, quanto de gases de efeito estufa em geral. Também se observam recomendações de mudanças comportamentais e de estilos de vida, o que implica repensar as possibilidades de desenvolvimento socioeconômico de modo a não comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer suas necessidades, ou seja, num sentido de um desenvolvimento socioeconômico mais sustentável.

O capítulo está organizado em três seções. Na primeira seção será apresentado um breve histórico dos estudos ambientais para revelar o panorama que se deu a criação do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), com é seu funcionamento e como se dá a sua estrutura, elementos fundamentais para se entender os estudos das mudanças climáticas de forma científica que possibilitaram que os países fizessem seus estudos de acordo com as suas especificidades. Na segunda seção são apresentados as causas e efeitos das mudanças climáticas de acordo com o AR5 que aponta quais as consequências antrópicas para o clima, sobretudo para a emissão dos gases de efeito estufa. A terceira seção expõe em grandes linhas, as principais medidas propostas no âmbito do AR5 a fim de promover a redução das emissões, de acordo com o IPCC a fim de buscar uma consistência com a meta de aquecer "apenas" 2ºC. O AR5 aponta para trajetórias intersetoriais e setoriais, que foram feitas através dos cenários de referência (baseline), indicando como cada país pode mitigar as emissões de GEE em medidas gerais, no âmbito do fornecimento de energia, como também para o setor de transportes, edificações, indústria, agricultura, floresta e outros usos da terra (AFOLU) e

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assentamentos humanos, infraestrutura e planejamento do território. Por fim, as observações finais do capítulo representam uma síntese do que foi discutido ao longo deste primeiro capítulo, apresentando as suas principais conclusões.

1.1. Sobre o IPCC, sua estrutura e funcionamento

Os primeiros estudos ambientais modernos iniciaram-se após a Segunda Guerra Mundial, como resposta aos temores que a radiação poderia produzir. A publicação do livro "A Primavera Silenciosa" em 19633 de Rachel Carson, trouxe o debate do uso de pesticidas sintéticos na agricultura. Em seu livro a autora explica os danos para a saúde humana do uso desenfreado de produtos químicos.

Em 1972 ocorreu em Estocolmo, na Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, para que houvesse um acordo internacional para redução da emissão dos gases responsáveis pelas chuvas ácidas e também mitigar problemas como ilhas de calor e inversão térmica e o secamento de rios e lagos. Este evento foi importante, pois estabeleceu a base a agenda ambiental visando defender e melhorar o meio ambiente presente para as gerações atuais e futuras.

Um dos resultados da Conferência de Estocolmo foi a criação, neste mesmo ano, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), para a coordenação de todos os trabalhos da ONU relacionados ao meio ambiente.

Neste contexto, em 1988 foi criado pelo PNUMA e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o Painel Internacional de Mudanças Climáticas, o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), cujo objetivo é estudar as causas e impactos das mudanças climáticas no mundo, avaliando os resultados científicos realizados pela sua equipe apresentando estratégias para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O IPCC é vinculado à Convenção do Clima da ONU (UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change) e sua sede fica em Genebra, na Suíça (FÓRUM BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2008).

Entre 2013 e 2014, o IPCC divulgou os relatórios de avaliação mais recentes sobre as mudanças do clima (AR5 na sigla em inglês para 5th Assessment Report). São quatro documentos principais, correspondentes aos documentos finais de cada um dos três grupos de

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trabalho (Working Groups) que compõem esse relatório de avaliação e o relatório completo final:

Climate Change 2013: the physical science basis, produzido pelo Working Group I – WG1 4

Climate Change 2014: impacts, adaptation and vulnerability, produzido pelo Working Group II – WG25

Climate Change 2014: mitigation of climate change, produzido pelo Working Group III – WG36

Climate Change 2014: synthesis report7

Os temas e tópicos avaliados no âmbito dos três WGs são apresentados nos três parágrafos abaixo.8

O WG1, que conta com aportes sobretudo das ciências naturais, avalia os aspectos físicos do sistema climático e suas alterações. Os principais tópicos avaliados incluem: mudanças nos GEE e aerossóis na atmosfera; as mudanças observadas nas temperaturas do ar, da terra e dos oceanos; níveis de chuva, mudanças em glaciares e mantos de gelo, níveis dos oceanos e mares; perspectivas históricas e paleoclimáticas sobre mudanças climáticas; bioquímica, ciclo do carbono, gases e aerossóis; dados de satélites e outros; modelos climáticos; projeções climáticas; causas e atribuições de alterações do clima.

Por sua vez, o WG2 avalia a vulnerabilidade dos sistemas socioeconômicos e naturais às mudanças climáticas, consequências positivas e negativas das mudanças climáticas e as opções para adaptação a elas. Também leva em consideração as inter-relações entre vulnerabilidade, adaptação e desenvolvimento sustentável. A informação avaliada é considerada por setor (recursos hídricos; ecossistemas; alimentos e florestas; sistemas costeiros; indústria e saúde humana) e por região (África; Ásia; Austrália e Nova Zelândia; Europa; América Latina; América do Norte; Regiões Polares e Pequenas Ilhas).

4

O documento e outros detalhes sobre o trabalho do WG1 podem ser acessados no link: http://www.climatechange2013.org/

5 Os materiais referentes aos trabalhos desse grupo podem ser acessados no link: http://www.ipcc.ch/report/ar5/wg2/

6

Os documentos que reportam as contribuições desse grupo são acessados no link: http://www.ipcc.ch/report/ar5/wg3/

7 https://www.ipcc.ch/report/ar5/syr/

8 As informações sobre temas e tópicos cobertos pelos especialistas dos três WGs foram levantadas a partir do seguinte endereço: https://www.ipcc.ch/working_groups/working_groups.shtml

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Finalmente, o WG3 avalia as opções para mitigação das mudanças climáticas por meio da limitação ou prevenção das emissões de GEE e pelo estímulo às atividades que os removem da atmosfera. Os principais setores econômicos são levados em conta, tanto em curto quanto em longo prazo. Os setores incluem energia, transporte, construção, indústria, agricultura, atividades florestais e gestão de resíduos. Esse grupo analisa os custos e benefícios das diferentes abordagens para a mitigação, considerando também os instrumentos disponíveis e as medidas de política. A abordagem é mais voltada a soluções.

Cada Working Group reúne algumas centenas de autores, provenientes de muitos países e áreas disciplinares específicas com contribuições relevantes para o entendimento dos temas e tópicos mencionados anteriormente. Nesta última edição do AR, o WG1 contou com 259 autores, provenientes de 39 países; o WG2 com 308 autores, de 70 países; e o WG3 com mais de 800 autores, de 37 países.

Esta formação reflete a própria organização do IPCC, cujas tarefas são realizadas a partir dos três grupos de trabalho acima mencionados, além de uma Força-Tarefa (Task Force) e de um Grupo de Tarefa (Task Group).

As atividades de cada Working Group e da Força-Tarefa são coordenadas e administradas por uma Unidade de Apoio Técnico (Technical Support Unit - TSU), sendo uma TSU para cada WG. As TSUs prestam apoio científico, técnico e organizacional aos grupos de trabalho. Cada uma delas pode ser formada para fornecer apoio na preparação de um relatório síntese (Synthesis Report) ou para qualquer outra Força-Tarefa constituída pelo Painel.

De acordo com o IPPC, as TSUs:

Oferecem apoio para os co-presidentes e para os departamentos dos respectivos Working Groups ou forças-tarefa ou ao presidente do IPCC, no que tange à preparação de Relatórios Síntese, à elaboração de todos os produtos relevantes do IPCC, de acordo com os princípios que regem o trabalho do IPCC.

 Contribuem para a implementação do Protocolo IPCC voltado a questões como: lidar com erros; estratégia de comunicação do IPCC; e a política de conflito de interesses, de acordo com as responsabilidades contidas nesses documentos.

 Participam, por meio dos seus dirigentes, do Comitê Executivo do IPCC, como membros consultivos.

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 Realizam quaisquer outras tarefas previstas pelos co-presidentes ou departamentos dos Working Groups ou forças-tarefa ou pelo presidente do IPCC, a fim de auxiliá-los no cumprimento das suas funções.

A TSU para o WG1 possui sede na França; a do WG2, na Alemanha; e a WG3, no Reino Unido e Índia. A TSU da Força-Tarefa para inventários nacionais de gases de efeitos estufa tem sede no Japão.9

Tendo compreendido a estrutura organizacional do IPCC, bem como das atribuições de seus componentes para a elaboração do AR5, cabe observar os resultados veiculados no âmbito deste relatório.

1.2. Causas e efeitos das mudanças climáticas, segundo o AR5

Os resultados divulgados pelo AR5 dizem respeito às contribuições levantadas e sintetizadas pelos três WG.

No que diz respeito à avaliação elaborada no âmbito do Working Group I do IPCC, é possível reconhecer o aporte de evidências e argumentos para as teses de que: i) as mudanças verificadas no clima do planeta são reais; e ii) que elas são causadas em especial pelo aumento das emissões de gases do efeito estufa.

As observações e os indicadores produzidos por trabalhos científicos sintetizados pelo WGI para o AR5 evidenciam um sistema climático global em mudança. A Figura 1.1, na página a seguir, mostra as concentrações de três importantes gases de efeito estufa - gás carbônico (CO2, em verde), metano (CH4, em laranja) e óxido nitroso (N2O, em vermelho),

determinados a partir de ice core data (pontilhados) e de medidas atmosféricas diretas (linhas cheias). As concentrações desses gases são estoques dessas substâncias na atmosfera e é possível visualizar com clareza que as concentrações globais crescem de forma importante a partir de 1850 e de forma muito acelerada a partir da década de 1950.10

9

Informações do IPCC. Cf. https://www.ipcc.ch/organization/organization_secretariat.shtml#2 10

A aceleração da liberação de gases de efeito estufa a partir de 1945 constitui o que Steffen, Crutzen & McNeill (2007) chama de “grande aceleração”, que é um fenômeno caracterizado pelos autores como processos inter-relacionados de mudanças dramáticas nos sistemas antrópicos e nos sistemas naturais. A “grande aceleração” corresponderia a um segundo estágio do chamado “Antropoceno”, que, por sua vez, constitui a proposta dos autores para uma revisão da cronologia geológica. O Antropoceno seria uma nova “época” geológica, uma Age of Man, ou a “Era Recente do Homem” (STEFFEN,CRUTZEN & MCNEILL, 2007).

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Figura 1.1 - Médias Globais de concentrações de gases de efeito estufa

Nota: as concentrações de CO2 estão apresentadas em verde, as de metano em laranja e as de óxido nitroso em vermelho. As linhas pontilhadas se referem a dados mensurados (ice core data) e as linhas cheias são referentes a medidas atmosféricas diretas.

Fonte: IPCC (2014a, p. 3)

Por sua vez, as emissões antropogênicas11 globais de gás carbônico podem ser conhecidas segundo suas principais fontes, reunidas na Figura 1.2, a seguir, em dois grupos: de um lado, combustíveis fósseis, cimento e flaring12; de outro, a atividade florestal e outros usos da terra. Essas emissões dessas fontes ao longo do período de 1850 e 1970 são mostradas na Figura 1.2 (página a seguir), no gráfico da esquerda, enquanto que as emissões acumuladas de gás carbônico a partir dessas fontes e suas incertezas associadas são mostradas no gráfico de bars and whiskers, à direita.

11 O gás carbônico tem sido considerado o principal gás dentre os seis gases de efeito estufa, que incluem também o CH4 (metano), o N2O (óxido nitroso), os HCFs (hidrofluorcarbonetos), o PFC (perfluorcarbono) e o SF6 (hexofluoreto de enxofre), além do vapor d´agua. Todas as emissões são convertidas em termos de sua equivalência ao potencial de aquecimento global com relação ao CO2, razão pela qual o nome desta unidade de medida é CO2e (ou seja, CO2 equivalente). As emissões antropogênicas de GEE são resultantes de um amplo conjunto de atividades humanas, notadamente associadas à oferta e ao consumo de energia e às mudanças no uso da terra para produção de alimentos e outros fins (IPCC, 2014b, p. 64).

12 Flaring é o nome dado à queima de gases em refinarias, plantas da indústria química e em unidades de processamento de gás. A principal razão para a queima do gás diz respeito a razões de segurança associadas ao alívio da alta pressão envolvida nos processos e equipamentos nesta indústria. Na extração de petróleo onshore e offshore, o gás natural que vem à superfície juntamente com o petróleo extraído é às vezes queimado por causa da ausência de gasodutos. Cf. https://www3.epa.gov/ttncatc1/dir1/c_allchs.pdf

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Figura 1.2 - Emissões antropogênicas globais de gás carbônico

Fonte: IPCC (2014a, p. 3)

A Figura 1.3, a seguir, apresenta as emissões antropogênicas dos GEE no período compreendido entre 1970 e 2010. Conforme atesta o AR5, as emissões deste período correspondem à metade das emissões antropogênicas acumuladas entre 1750 e 2010, o que oferece uma imagem excepcionalmente reveladora de como o crescimento das emissões antropogênicas se aceleram de forma avassaladora no período mais recente (IPCC, 2014b). O relatório também afirma que os crescimentos populacional e econômico continuam sendo os maiores intensificadores das emissões de CO2. Pode-se perceber isto ao visualizar que as

emissões de CO2 por combustíveis fósseis e processos industriais estiveram em franca

expansão desde 1970, demonstrando a urgência de se alterar as formas de consumo e desenvolvimento da sociedade contemporânea.

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Figura 1.3 - Emissões antropogênicas globais por grupo de GEE entre 1970 e 2010

Fonte: IPCC (2014a, p. 5)

Diante das evidências aportadas pelos estudos científicos, o AR5 conclui que: “As emissões antropogênicas dos gases de efeito estufa têm crescido desde a era pré-industrial, amplamente determinadas pelo crescimento econômico e populacional, que agora estão maiores que nunca. Isso tem levado a concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso sem precedentes pelo menos nos últimos 800 mil anos. Seus efeitos, associados a outros determinantes antropogênicos, têm sido detectados por todo o sistema climático e é extremamente provável que tenham sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século XX” (IPCC, 2014a, p.4)13

Além de sintetizar os esforços envidados por cientistas bem posicionados em seus campos disciplinares para os temas avaliados, conforme já mencionado, o IPCC também se empenhou, conforme Van Vuuren et al (2011), no estímulo à concepção, elaboração e análise de cenários para conhecer as perspectivas futuras sobre as emissões dos GEE, sob a consideração de diversas hipóteses com respeito aos desenvolvimentos econômico e

13 Tradução livre do original: “Anthropogenic greenhouse gas emissions have increased since the pre-industrial era, driven largely by economic and population growth, and are now higher than ever. This has led to atmospheric concentrations of carbon dioxide, methane and nitrous oxide that are unprecedented in at least the last 800,000 years. Their effects, together with those of other anthropogenic drivers, have been detected throughout the climate system and are extremely likely to have been the dominant cause of the observed warming since the mid-20th century” (IPCC, 2014a, p.4) .

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tecnológico, à evolução das relações internacionais, com interesse particular aos desdobramentos em termos de investimento, produção e consumo de energias não renováveis e renováveis.

Ainda no âmbito do WG1, dentre outras elaborações, foram simulados quatro diferentes cenários que incluem séries temporais do conjunto de emissões e concentrações de gases de efeito estufa, aerossóis e gases quimicamente ativos, como também o uso da terra. Essas simulações correspondem aos chamados Caminhos Representativos de Concentração de GEE (RCPs na sigla para a expressão em inglês Representative Concentration Pathways).

Os RCPs são:

“cenários que incluem séries temporais de emissões e concentrações para o conjunto total dos GEE e aerossóis e gases quimicamente ativos, bem como o uso da terra/cobertura da terra [...]. O termo “representativo” significa que cada RCP oferece apenas uma de muitas possibilidades de cenários que levariam a uma característica forçante radiativa específica. O termo “caminhos” (pathways) enfatiza que não apenas os níveis de concentração de longo prazo são de interesse, mas também a trajetória tomada ao longo do tempo para alcançar aquele resultado” (IPCC, 2014b, p. 1270).14

A forçante radiativa corresponde a:

“Diferença entre os fluxos radiativos (mensurado em W/m2) líquidos descendentes e ascendentes nos níveis da tropopausa ou topo da atmosfera, devido a mudanças na fonte externa de mudança climática, como por exemplo a mudança na concentração de CO2 ou na incidência de radiação solar. Para os propósitos do WG3, a forçante radiativa é ainda definida como a mudança relativa ao ano de 1750 e se refere a um valor médio global e anual. ” (IPCC, 2014b, p. 1269)15

Ou, ainda:

"razão entre a quantidade de energia solar que entra e que sai do nosso planeta, indicando o quanto ficou armazenada no sistema terrestre de acordo com as concentrações de gases de efeito estufa, partículas de aerossóis emitidas e outros agentes climáticos." (TOLEDO, 2013) Os Caminhos Representativos de Concentração de GEE são em número de quatro, cada um deles denominado a partir da sigla RCP seguida da forçante radiativa

14 Tradução livre do verbete Representative Concentration Pathways (RCPs), conforme consta do glossário do relatório completo do WG3 (IPCC, 2014b, p.1270): “Scenarios that include time series of emissions and concentrations of the full suite of greenhouse gases (GHGs) and aerosols and chemically active gases, as well as land use / land cover (Moss et al., 2008). The word representative signifies that each RCP provides only one of many possible scenarios that would lead to the specific radiative forcing characteristics. The term pathway emphasizes that not only the long-term concentration levels are of interest, but also the trajectory taken over time to reach that outcome (Moss et al, 2010)”.

15

Tradução livre do verbete Radiative forcing, a partir do glossário do relatório completo do WG3: “Radiative Forcing is the change in the net, downward minus upward, radiative flux (expressed in W m – 2) at the tropopause or top of atmosphere due to a change in an external driver of climate change, such as, for example, a change in the concentration of carbon dioxide (CO2) or the output of the sun. For the purposes of this report, radiative forcing is further defined as the change relative to the year 1750 and refers to a global and annual average value.” (IPCC, 2014b, p.1269).

Referências

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