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Contribuições do projeto de intervenção de estágio supervisionado em Serviço Social na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DCJS – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

PRISCILA SCHMIDT

CONTRIBUIÇÕESDOPROJETODEINTERVENÇÃODEESTÁGIO

SUPERVISIONADOEMSERVIÇOSOCIALNAASSOCIAÇÃODEPAISE

AMIGOSDOSEXCEPCIONAIS(APAE)DEPANAMBI/RS

IJUÍ/RS 2013

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PRISCILA SCHMIDT

CONTRIBUIÇÕESDOPROJETODEINTERVENÇÃODEESTÁGIO

SUPERVISIONADOEMSERVIÇOSOCIALNAASSOCIAÇÃODEPAISE

AMIGOSDOSEXCEPCIONAIS(APAE)DEPANAMBI/RS

Orientadora: Profa. Me. Marisa Camargo

Ijuí/RS 2013

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais – DCJS da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

(3)

'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive sem ter consciência de que é dono do seu destino.

'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.

'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. 'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

'Paralítico' é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

'Diabético' é quem não consegue ser doce. 'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: 'Miseráveis' são todos que não conseguem falar com Deus.

(4)

Dedico este trabalho a Deus, autor e consumador da minha fé.

Também aos meus pais, Guido e Siegried, sem pelos quais, meus sonhos não se realizariam.

(5)

PRISCILA SCHMIDT

CONTRIBUIÇÕESDOPROJETODEINTERVENÇÃODEESTÁGIO

SUPERVISIONADOEMSERVIÇOSOCIALNAASSOCIAÇÃODEPAISE

AMIGOSDOSEXCEPCIONAIS(APAE)DEPANAMBI/RS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Serviço Social apresentado para a obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social.

COMISSÃO EXAMINADORA:

_________________________________________ Profa. Me. Marisa Camargo (Orientadora)

UNIJUÍ

_________________________________________ Profa. Me. Solange Emilene Berwig

UNIJUÍ

(6)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, que esteve presente em todos os momentos da minha vida e nesta conquista também, afinal, DELE, POR ELE e PARA ELE são todas as coisas. Obrigada à minha querida mãe e ao meu pai. Meu pai, pelo amor e apoio, por batalhar por mim, pela emoção que eu sei que vai sentir na hora da formatura, pelo apoio financeiro, pelo coração verdadeiro e carinhoso. Minha mãe, aquela que mais acreditou em mim, a pessoa que

mais me deu forças, que mais acreditou no SERVIÇO SOCIAL, procurou entender o que é SER ASSISTENTE SOCIAL, por perceber a importância desta profissão e me impulsionar a seguir em frente, nem tenho palavras para expressar o quanto foi importante e essencial nessa

jornada, por perceber minha dedicação e meu esforço.

Agradeço meu namorado, futuro noivo e esposo que sempre me ama, que me buscou da faculdade todas as noites durante quatro anos. Especial e essencial na minha vida, o

verdadeiro presente de Deus.

A minha amiga da faculdade, Camila Madruga, que compartilhou com afinco as angústias, alegrias e conquistas dessa fase, por compartilhar conhecimentos e por, sobretudo, me

entender! A colega que se tornou amiga! Muito obrigada.

Agradeço também minha supervisora de campo Natalia, que me recebeu muito bem no campo de estágio, um exemplo de profissional, alguém que realmente ama o que faz. À APAE

Panambi, toda a equipe de profissionais dedicados que a instituição possui em especial Bianca, Mariana e Valéria, que me acolheram no projeto institucional ―Clínica precoce: brincar enquanto o futuro não vem‖, que me auxiliaram na aprendizagem interdisciplinar, em

especial no meu projeto de intervenção. Á todas as mães e crianças que participaram do meu projeto de intervenção, muito obrigada!

Agradeço todos os professores, inclusive pré-escola, ensino fundamental e médio, que passaram todo seu conhecimento para mim! Meus queridos mestres e doutores, os quais

sempre farão parte de minhas lembranças e aprendizados, sem eles não me tornaria ASSISTENTE SOCIAL! Em especial minha orientadora Marisa Camargo, pela paciência e

competência em me orientar.

Enfim, aos meus amigos e irmãos do coração, a todos que de uma forma ou de outra participaram da minha formação, obrigada, cada um tem um lugar especial no meu coração. Também, as amigas que fiz ao longo da faculdade, todas! Sentirei muitas saudades, obrigada

(7)

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) trata sobre o projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social, tendo como objetivo identificar as contribuições do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social junto ao projeto institucional ―Clínica precoce: brincar enquanto o futuro não vem‖ da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS, a fim de garantir a inserção do assistente social nas atividades desenvolvidas, tendo em vista o acesso e a garantia de direitos sociais e a interdisciplinaridade. Está embasado numa pesquisa de campo e documental, com abordagem e descrição qualitativa, fundamentada na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico, bem como nas categorias do método historicidade, totalidade e contradição, que teve como sujeitos as dez (10) famílias das crianças com deficiência de 0 a 06 anos de idade que participaram do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social. Para a coleta de dados, utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário composto de questões abertas e fechadas sobre o tema da pesquisa, complementado pela análise documental dos materiais elaborados pela autora durante o Estágio Supervisionado em Serviço Social, a exemplo do diário de campo e relatório final. Para tanto, resgata-se, nesse contexto, a contextualização histórica da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) no Brasil e no município de Panambi/RS, apresentando-se também, o processo de inserção do Serviço Social no contexto institucional, discorre-se sobre o processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social e o projeto de intervenção de Estagio Supervisionado em Serviço Social e, por fim, os resultados alcançados com a pesquisa, que consistem na identificação do perfil das famílias participantes do projeto de intervenção e nas contribuições para as famílias e a equipe multiprofissional. Conclui-se ser inegável a importância do assistente social no projeto institucional ―Clínica precoce: brincar enquanto o futuro não vem‖, pois além de contribuir para as famílias participantes do projeto de intervenção, também contribuiu de forma interdisciplinar para a equipe multiprofissional, para a própria profissão e para a população usuária, na construção de novos aprendizados e qualificação nos serviços prestados. Percebe-se, porém, que o trabalho em equipe multiprofissional apresenta inúmeros desafios, que envolvem desde o planejamento da ação profissional até a avaliação dos resultados alcançados.

Palavras-chave: Estágio Supervisionado em Serviço Social; Projeto de Intervenção; Pessoa

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ABSTRACT

This Final Paper is about an intervention project of Supervised Training in Social Work, aiming to identify the contributions of the intervention project of Supervised Training in Social Work with the institutional project "Early Clinic: play while the future does not come" from the Parents and Friends Association of Exceptional Children (APAE) in Panambi / RS, in order to ensure the inclusion of a social worker in the activities developed to access and guarantee the social rights and interdisciplinarity. It is based in a field and documentary research, with description and qualitative approach, grounded in Critical Social Theory and Critical Dialectical Method, as well as the categories of the historicity method, totality and contradiction, which had as subjects the ten (10) families of children with disabilities from 0 to 06 years old who participated in the intervention project of Supervised Training in Social Work. To collect data, it was used as a research tool a questionnaire consisting of open and closed questions on the topic of research, supplemented by documentary analysis of materials prepared by the author during the Supervised Internship in Social Work, an example of a field journal and final report. Therefore, it is recalled, in this context, the historical contextualization of the Parents and Friends Association of Exceptional Children (APAE) in Brazil and in Panambi / RS, presenting also the process of insertion of Social Service in the institutional context, it talks about the process of Supervised Internship in Social Work and project intervention Supervised Internship in Social Work and, finally, the results achieved with the research, which involves identifying the profile of families participating in the intervention project and contributions for families and the multidisciplinary team. It is concluded to be undeniable the importance of a social worker in the institutional project "Early Clinic: play while the future does not come", because besides contributing to families participating in the project intervention, it also contributed in an interdisciplinary approach to the multidisciplinary team, to the profession itself and the user population, to the construction of new learning and skills in services. It is clear, however, that the multidisciplinary teamwork presents numerous challenges, which involve since the planning of professional action to the evaluation of results.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA A – Símbolo da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)...13 FIGURA B – Organograma organizacional da APAE de Panambi/RS...17 GRÁFICO A – Número total de usuários por faixa etária atendidos no mês de março de 2012

na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS...18

QUADRO 1 – Principais elementos da pesquisa que subsidiou o Trabalho de Conclusão do

Curso (TCC) em Serviço Social...46

GRÁFICO B – Comparação da escolaridade da mãe e escolaridade do pai das famílias que

participaram do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS...51

QUADRO 2 – Renda familiar das famílias que participaram do projeto de intervenção de

Estágio Supervisionado em Serviço Social na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS...53

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

1. A ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE) DE PANAMBI/RS: ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL...12

1.1 Processo histórico, estrutura organizacional e dinâmica da instituição...12

1.2 O trabalho do assistente social na instituição...20

2. O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL...28

2.1 O processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social...28

2.2 O projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social...35

3. OS RESULTADOS ENCONTRADOS COM O PROJETO DE INTERVENÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL...45

3.1 Contextualização da pesquisa sobre o projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social...45

3.2 Contribuições do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social...55

CONSIDERAÇÕES FINAIS...62

REFERÊNCIAS...65

ANEXOS...74

(11)

INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) trata sobre as contribuições do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social realizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS, no período de março a junho de 2013. O projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social foi desenvolvido a partir da introdução de ações voltadas para a área do Serviço Social, observando-se a possibilidade de contribuir na perspectiva interdisciplinar, bem como, trabalhar questões relacionadas à prevenção da violência, pouco abordadas até então.

Para tanto, o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Serviço Social está estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo resgata-se a constituição histórica da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) no Brasil, abordando-se o processo de fundação, a estrutura organizacional e a dinâmica da instituição na cidade de Panambi/RS, apresentando-se também o processo de inserção do Serviço Social no contexto institucional, o objeto, o instrumental e os resultados obtidos no trabalho desenvolvido pelo assistente social.

No segundo capítulo, enfatiza-se o processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social, apresentando conceitos de estágio, um breve resgate histórico e a legislação que o rege, destacando sua importância para a formação profissional. Também, explicita-se o projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social realizado junto ao projeto institucional ―Clínica precoce: brincar enquanto o futuro não vem‖, no período de março a junho de 2013.

No terceiro capítulo contextualiza-se a pesquisa que subsidiou o presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), abordando o percurso metodológico utilizado para desenvolvê-la. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória, de campo e documental, com abordagem qualitativa. Fundamenta-se na Teoria Social Crítica e no Método Dialético Crítico e suas categorias: historicidade, totalidade e contradição, tendo como problema da pesquisa: ―Quais as contribuições do projeto de intervenção de Estágio Supervisionado em Serviço Social realizado junto ao projeto ―Clínica precoce: brincar enquanto o futuro não vem‖ da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS?‖ Abordam-se ainda as questões norteadoras, o objetivo geral, os objetivos específicos e as categorias do método, bem como, os resultados alcançados com a pesquisa, referente ao perfil das famílias participantes e as contribuições do projeto de intervenção estas e a equipe multiprofissional.

(12)

Por fim, tecem-se as considerações finais com a síntese dos principais resultados encontrados com a pesquisa, reforçando-se a necessidade de um processo contínuo de formação profissional e a proposição de novos estudos em torno da temática.

(13)

1 A ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE) DE PANAMBI/RS: ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Este capítulo está organizado em dois subitens. No primeiro retoma-se o processo histórico da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) no Brasil, enfatizando a fundação, estrutura organizacional e dinâmica da instituição na cidade de Panambi/RS. No segundo item, apresenta-se o processo de inserção do Serviço Social no contexto institucional, bem como, o objeto, o instrumental e os resultados obtidos no trabalho desenvolvido pelo assistente social nesse espaço sócio-ocupacional.

1.1 PROCESSO HISTÓRICO, ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E DINÂMICA DA INSTITUIÇÃO

O denominado movimento APAEano teve origem no Brasil no século XIX. As primeiras ações para atender as pessoas com deficiência coincidem com o contexto histórico no qual o país dava seus primeiros passos após a independência, forjava sua condição de nação e esboçava as linhas de sua instituição cultural. Anteriormente, as pessoas com deficiência eram confinadas pela família ou recolhidas às Santas Casas ou às prisões (JÚNIOR; MARTINS, 2010).

O período imperial do Brasil (1822-1889), marcado pela sociedade aristocrática, elitista, rural, escravocrata e com limitada participação política, mostrou-se pouco propício à assimilação das diferenças, principalmente as das pessoas com deficiência. O Decreto n° 82, de 18 de julho de 1841, determinou a fundação do primeiro hospital ―destinado privativamente para o tratamento de alienados‖, o Hospício Dom Pedro II, vinculado à Santa Casa de Misericórdia, o Rio de Janeiro/RJ. Durante o século XIX, os cegos e os surdos eram contemplados com ações para a educação. Somente em 1904, instalou-se o primeiro espaço destinado para crianças com deficiência.

Na primeira metade do século XX, o Estado não promoveu novas ações para as pessoas com deficiência e apenas expandiu, de forma modesta e lenta, os institutos de cegos e surdos para outras cidades. [...] Diante desse déficit de ações concretas do Estado, a sociedade civil criou organizações voltadas para a assistência nas áreas de educação e saúde, como as Sociedades Pestalozzi (1932) e as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) (1954) [...] (JÚNIOR; MARTINS, 2010, p. 22).

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A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) foi fundada em 1954, no Rio de Janeiro/RJ, motivada pela chegada de Beatrice Bemis, membro do corpo diplomático norte-americano, que se admirava por não existir no Brasil uma fundação para pessoas com deficiência. Nos Estados Unidos da América (EUA), havia participado da fundação de mais de duzentas e cinquenta associações de pais e amigos. A fundação foi protagonizada por um grupo constituído por pais, amigos, professores e médicos de pessoas com deficiência, sendo a primeira reunião do Conselho Deliberativo realizada em 1955, na sede da Sociedade de Pestalozzi, que colocou à disposição parte de um prédio para a instalação de uma escola para crianças com deficiência (FENAPAES, 2008).

Em 1962 totalizavam-se dezesseis APAEs no Brasil. Destas, doze encontraram-se em São Paulo/SP para a realização da primeira reunião nacional de dirigentes APAEanos. Para uma melhor articulação criaram em novembro do mesmo ano a Federação Nacional das APAEs. Com a aquisição da sede própria, a Federação Nacional foi transferida de São Paulo para Brasília/DF (FENAPAES, 2008). Adotou-se como símbolo, o disponível na Figura A.

Figura A – Símbolo da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).

Fonte: FENAPAES (2013).

A figura da flor ladeada por duas mãos em perfil, desniveladas, representam uma a posição de amparo e a outra de proteção (FENAPAES, 2008). O movimento APAEano se expandiu para outras capitais e depois para o interior dos Estados. O crescimento vertiginoso se deu graças à atuação da Federação Nacional e das Federações Estaduais, que permitiram e incentivaram a formação de novas APAEs.

(15)

Em Panambi/RS1, a APAE iniciou suas atividades em 22 de agosto de 1979. A Coordenadoria Municipal de Educação externou sua preocupação com a qualidade de vida das pessoas com deficiência e então, em uma reunião com lideranças da comunidade: Rotary Club, Lions Club, Poder Executivo, pais e empresários, iniciou-se o movimento comunitário frente à demanda existente e a falta de acesso à educação pública para pessoas com deficiência intelectual (APAE, 2010). Inicialmente, esteve instalada em um imóvel cedido pela Prefeitura Municipal. Porém, o mesmo passou a ser inadequado para os usuários, o que ocasionou a busca por sede própria com infraestrutura adequada.

[...] Inicialmente com área construída de 677,48 m.², em terreno de 2000m², doado pela Prefeitura Municipal de Panambi [...] atualmente a área total do terreno é de 13.600 m.² com área construída e ampliada para 969,41 m.², estando situada à Rua Carlos Frederico Lehsten, nº168, no bairro Arco Íris (APAE, 2010, p.4).

A instituição atua no município há 34 anos, tendo reconhecimento na comunidade pelo trabalho desenvolvido, na formação de parcerias com os Poderes Públicos e instituições do setor privado. Conta, efetivamente, com a participação de voluntários da sociedade civil na composição de suas diretorias e nas ações desenvolvidas. Tem como missão promover e articular ações de defesa de direito, prevenção, orientação, prestação de serviços, apoio à família, direcionados à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e construção de uma sociedade justa e solidária. É constituída por número ilimitado de associados, administrada por diretoria eleita através da Assembleia Geral Ordinária, conforme determinado pela Federação Nacional das APAEs, adequada ao novo Estatuto Social, tendo em composição 30% de pais e 70% de amigos das pessoas com deficiência (APAE, 2010).

A APAE atende usuários com deficiência intelectual ou múltipla. As pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, ou sensorial (visão e audição) os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. É um cidadão com os mesmos direitos de autodeterminação e usufruto das oportunidades disponíveis na sociedade. A pessoa com deficiência possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividades, podendo apresentar uma ou mais deficiências, percebida ao nascimento ou adquirida ao longo da vida (ONU, 2007).

1

Emancipado no dia 15 de dezembro de 1954 com instalação oficial em 28 de fevereiro de 1955, o município situa-se no planalto rio-grandense, a 360 km da capital Porto Alegre, região caracterizada pelos campos serranos, fazendo divisa com os municípios de Condor, Santa Bárbara do Sul, Pejuçara, Bozano e Ajuricaba (PREFEITURA MUNICIPAL DE PANAMBI, 2013).

(16)

A expressão ―deficiência intelectual‖ foi introduzida oficialmente em 1995, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Até a metade do século XIX, a deficiência intelectual era considerada uma forma de loucura e tratada em hospícios. Os primeiros estudos realizados no Brasil sobre a etiologia da deficiência intelectual datam do começo do século XX. A deficiência intelectual, à época denominada ―idiotia‖, passou a ser tratada na perspectiva educacional com tratamento diferenciado em relação aos hospícios do século XIX. Ao longo do tempo, a pessoa com deficiência intelectual foi denominada de ―oligofrênica‖, ―cretina‖, ―imbecil‖, ―idiota‖, ―débil mental‖, ―mongoloide‖, ―retardada‖, ―excepcional‖ e ―deficiente mental‖. A expressão ―deficiência intelectual‖ significa que há um déficit no funcionamento do intelecto, mas não da mente (JÚNIOR; MARTINS, 2010).

A APAE é uma instituição filantrópica2, sem fins econômicos, pertencente ao denominado terceiro setor, este considerado ―[...] um setor governamental‘, ‗não-lucrativo‘ e ‗esfera pública não-estatal‘ materializado pelo conjunto de ‗organizações da sociedade civil consideradas de interesse público‘‖ (ALENCAR, 2009, p.8). A expansão do terceiro setor no Brasil, remonta à década de 1990, quando o país passou a orientar-se pelo neoliberalismo3 e à consequente redução da atuação do Estado, nas políticas sociais, justificada nas exigências postas pela globalização e pela crise fiscal do Estado. Com a redefinição do papel do Estado, observa-se a transferência de uma considerável parcela de políticas e serviços sociais para a sociedade civil, caracterizando-se a desresponsabilização do Estado e do Capital com as respostas da questão social4(ALENCAR, 2009).

A publicização e a regulamentação do terceiro setor, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e instituições filantrópicas para atuar no social, repercutiram na privatização, focalização e descentralização das políticas sociais, esta última entendida não como compartilhamento de poder entre as esferas públicas, mas como mera transferência de responsabilidade para entes da federação ou para instituições privadas (BEHRING;

2 Dentre as fontes de financiamento para a manutenção das atividades da instituição estão subvenções, serviços e convênios com a Prefeitura Municipal de Panambi e Condor/RS, Governo Federal, campanhas, telemarketing, promoções, eventos, doações, parcerias e aprovação de projetos apresentados a pessoas físicas e jurídicas da comunidade local, de acordo com o Art. 45 do Estatuto Social (APAE, 2010).

3As origens do neoliberalismo, enquanto doutrina econômica e política remontam ao livro ―O Caminho da Servidão‖ (1944), de Friedrich Hayek, que criticava veementemente os mecanismos de regulação do Estado sobre o mercado. [...] Com a crise do capital nos anos 1970, as ideias liberais retornam ao debate político e econômico através do neoliberalismo, propondo limites ao Estado intervencionista, este visto como um dos vetores principais da crise contemporânea do capitalismo (ALENCAR, 2009, p. 2).

4

A questão social é indissociável da forma de organização capitalista. As diversas expressões da questão social são geradas pelo desenvolvimento do modo de produção capitalista, tais como fome, desemprego, violência, desigualdade e exclusão social, que são vivenciadas pelos indivíduos ―[...] em suas relações sociais quotidianas, às quais respondem com ações, pensamentos e sentimentos‖ (IAMAMOTO, 2007, p. 100).

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BOSCHETTI, 2011). Nesse contexto, observa-se o deslocamento do direito social para o ―direito moral‖, sob os princípios abstratos da ―ajuda mútua‖ e ―solidariedade‖, cujas contradições também podem ser observadas na APAE:

[...] Aponta-se a transferência dos serviços sociais para a sociedade civil, sob o discurso ideológico da ―autonomia‖, ―solidariedade‖, ―parceria‖ e ―democracia‖, enquanto elementos que aglutinam sujeitos diferenciados. No entanto, vem se operando a despolitização das demandas sociais, ao mesmo tempo em que desresponsabiliza o Estado e responsabiliza os sujeitos sociais pelas respostas às suas necessidades sociais [...] o que gera os processos de remercantilização dos serviços sociais e a refilantropização das respostas à questão social; na focalização do atendimento, sendo esse voltado para parcelas de segmentos sociais e serviços pontuais, da qual decorre a completa fragmentação das políticas sociais agora destinadas a pequenas parcelas da população; a implementação descoordenada de programas sociais, dada a ausência de uma instância de coordenação das políticas sociais (MONTAÑO, 2002 apud ALENCAR, 2009, p. 7-8).

De maneira semelhante, Souza5 (1987) ao expor o histórico de lutas das pessoas com deficiência e as contradições identificadas nas instituições do terceiro setor, no que diz respeito à desresponsabilização do Estado com as respostas da questão social, critica que coube às instituições de cunho assistencialistas e paternalistas no Brasil, histórica e atualmente, ―[...] desafogar a consciência pesada, coletiva, do sistema ―feudal‖ e capitalista emergente, provocada pela miséria progressiva e a crescente perda do valor do ser humano, em prol do culto à máquina, ao capital‖ (apud JÚNIOR; MARTINS, 2010, p. 69).

A APAE de Panambi/RS presta serviços em três áreas: assistência social, educação e saúde. Em acordo com as políticas sociais e as legislações que perpassam essas áreas, bem como a Legislação da Pessoa com Deficiência sobre a integração social, os benefícios da Previdência Social, a cota de vagas para pessoas com deficiência nas empresas privadas, a promoção da acessibilidade e a Língua Brasileira de Sinais (Libras), abrange:

1- Assistência social: os serviços prestados são de garantia e defesa de direitos, apoio e

orientação à família, promoção da cidadania, prevenção e inclusão (APAE, 2010).

2- Educação: diz respeito à parte pedagógica. Na Escola de Educação Especial Girassol

a estrutura de atuação está organizada com turmas de escolarização (educação infantil e Educação de Jovens e Adultos – EJA), profissionalização, socialização e convivência, além de projeto extraclasse, sociocultural e de expressão artística (APAE, 2010).

3- Saúde: se refere à Clínica Interdisciplinar de Saúde que compreende o atendimento

de fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, atendimento pedagógico especializado,

5 Coordenador da Organização Nacional de Instituições de Deficientes Físicos (ONEDEF), escolhido pelo movimento para defender a Emenda Popular na Assembleia Nacional Constituinte (JÚNIOR; MARTINS, 2010).

(18)

fonoaudiologia, serviço social, pediatria, psiquiatria, neurologia, projetos e projetos especiais de prevenção. Todos os serviços são oferecidos gratuitamente por profissionais credenciados conforme prerrogativas do Sistema Único de Saúde (SUS) (APAE, 2010).

Atualmente, são desenvolvidos os planos, programas e projetos, dispostos no organograma organizacional, conforme a Figura B, a seguir:

Figura B – Organograma organizacional da APAE de Panambi/RS.

(19)

A coordenação está organizada em três diferentes âmbitos: a direção da Escola de Educação Especial Girassol que coordena as questões relacionadas à parte pedagógica; a direção administrativa que rege a esfera financeira e administrativa; e a direção clínica que conduz as demandas da Clínica Interdisciplinar de Saúde. As ações são planejadas anualmente, na elaboração de um Plano de Ação, contando com a participação dos funcionários, usuários, diretoria e familiares. Ademais, cada profissional planeja as suas ações dentro de suas particularidades profissionais. Também ocorrem reuniões mensais com equipe da Clínica Interdisciplinar de Saúde e Escola de Educação Especial Girassol para a realização de planejamento e monitoramento das ações.

Segundo Barbosa (1980) o planejamento é um processo de reflexão que instrumenta transformações na realidade social, além disso, ―é o processo pelo qual tentamos aumentar a probabilidade dos resultados futuros desejados, além e acima da probabilidade de que isso aconteça por acaso‖ (GIEGOLD, 1980, p.35). Nesse sentido, o planejamento é fundamental, pois pode dar maior eficiência às atividades para se obter as metas preestabelecidas, além de auxiliar no estabelecimento de prioridades para as tomadas de decisões.

Os usuários que acessam a instituição com deficiência intelectual ou múltipla, são encaminhados por profissionais, pela rede regular de ensino ou pela procura da própria família. Quando a instituição é acessada, realiza-se uma avaliação com a equipe de profissionais para identificar quais as necessidades de atendimento do usuário. São atendidos usuários de ambos os sexos e diversas faixas etárias. Em levantamento realizado pelo Serviço Social na instituição através das fichas de identificação dos usuários em atendimento no mês de março de 2012, identificou-se a frequência de faixa etária, conforme consta no Gráfico A:

Gráfico A – Número total de usuários por faixa etária atendidos no mês de março de 2012 na

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS. Fonte: Stahlhöfer (2012). 8 6 15 10 13 14 52 0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 10 anos 11 a 14 anos 15 a 18 anos 19 a 25 anos acima de 26 anos

(20)

No mesmo levantamento, em relação ao perfil socioeconômico, observou-se que o que prevalece são famílias cujo usuário atendido na instituição recebe Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o pai e/ou mãe estão desempregados (STAHLHÖFER, 2012). Percebe-se assim, que a vulnerabilidade econômica dos usuários é preponderante. Para Abramovay (2002), a noção de vulnerabilidade social é recente na América Latina, desenvolvida para ampliar a análise dos problemas sociais, tentando incluir a população no que diz respeito à renda e a posse de bens materiais. Ser vulnerável não é o mesmo que ser incapaz, ―[...] significa ter por direito a condição de superar os fatores de risco que podem afetar o seu bem-estar‖ (SIERRA; MESQUITA, 2006, p.150).

Cabe registrar que há iniciativas importantes para a promoção e a defesa dos direitos humanos no Brasil e, de maneira especial, dos direitos das pessoas com deficiência, porém, os desafios ainda são muitos. O início do século XXI consagra o discurso dos direitos humanos que considera as diferenças, mas vai além das questões específicas. Pessoas com deficiência são sujeitos de direitos – cidadãos e cidadãs:

[...] A sociedade, que via esse segmento populacional como alvo de caridade, passa a entender que se busca tão somente a promoção e a defesa de seus direitos, em bases iguais com os demais cidadãos. É irrelevante se as pessoas apresentam ou não algum grau de limitação funcional. O que está em jogo são a equiparação de oportunidades e a nova interface entre o indivíduo e o ambiente sem obstáculos [...] (JÚNIOR; MARTINS, 2010, p. 109).

O desafio que permanece é o de garantir que os instrumentos legais conquistados, sejam efetivados na vida cotidiana, superando-se as situações de violações de direitos sociais de crianças, adolescentes, idosos com ou sem deficiência, na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O foco das discussões deve ser o modo como e para quem a sociedade organiza o cotidiano, as cidades, os bens e serviços disponíveis de educação, cultura, trabalho, saúde, proteção social, habitação, transporte, lazer, esporte, turismo e outros aspectos da vida comunitária, pois ―igualdade na diferença‖, é a proposta (JÚNIOR; MARTINS, 2010).

No corrente ano de 2013, as APAEs brasileiras enfrentaram uma polêmica discussão em torno do seu fechamento. Isto porque, a proposta original da quarta meta do Plano Nacional de Educação (PNE) traçado pelo Ministério da Educação (MEC) para 2011-2020 previa a inclusão de alunos de 4 a 17 anos com deficiência na educação básica, com garantia de suporte público para escolas especializadas e entidades sem fins lucrativos que realizassem esse tipo de atendimento, porém, de forma indireta, o repasse do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) a entidades como a APAE, não seriam

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mais repassados a partir de 2016. Em consequência, muitas APAES teriam de fechar suas portas (IHOSHI, 2013).

Diante da repercussão pública da informação, o MEC informou que irá propor uma nova redação para a quarta meta da PNE, sem definir uma data para o fim dos repasses do FUNDEB às instituições que oferecem ensino especial, a exemplo da APAE (AGÊNCIA SENADO, 2013). Nesse sentido, entende-se que é preciso haver consonância entre a escola regular de ensino e as escolas especiais da APAE, pois ambos os espaços educativos visam à inclusão social das pessoas com deficiência, até que a rede pública regular de ensino tenha efetivamente condições adequadas e profissionais preparados tecnicamente para atendê-las.

1.2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA INSTITUIÇÃO

Desde a emergência do Serviço Social no século XIX, a assistência e o assistencialismo conjugavam-se entre si, pelo fato da profissão ter relação com a ação social da Igreja Católica. A assistência social antes de se tornar uma política pública, era caracterizada por assistencialismo, clientelismo, caridade, voluntariado (PESTANO; REIS, 2008).

Segundo Montaño (2007) há duas teses que fundamentam a natureza do Serviço Social na sua gênese, a perspectiva endogenista e a perspectiva histórico-crítica. A primeira, sustenta o surgimento do Serviço Social na evolução e profissionalização das formas de ajuda, caridade e filantropia, em cuja perspectiva a profissão é vista a partir de si mesma. A segunda, surge em oposição à anterior, entendendo o aparecimento da profissão como o resultado da síntese dos projetos político-econômicos que ocorreram num dado momento do desenvolvimento histórico. Considera o assistente social como um profissional que desempenha um papel político, cuja função não se explica por si mesma, mas pela posição que ocupa na divisão do trabalho.

Por ser a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) uma instituição de assistência social, o processo de inserção do Serviço Social está intimamente ligado, para além do próprio processo histórico de constituição da profissão, às práticas caracterizadas inicialmente pelo assistencialismo, caridade e voluntariado. Nesse sentido, a ação do Serviço Social iniciou-se com um cunho assistencialista, entretanto, no decorrer da renovação da profissão, o assistencialismo foi cedendo espaço à assistência social:

[...] A contextualização da Assistência Social como direito e não como ajuda cresce não só no âmbito do Serviço Social, mas em uma conjuntura mobilizadora de classes

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no decorrer da década de 80. E em meio a um cenário de crises econômicas e de luta por abertura política, em 05 de outubro de 1988, é promulgada a nova Constituição da República Federativa do Brasil, introduzindo um conceito abrangente de proteção social, compreendendo um conjunto integrado de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e á assistência social (GUEDES; RODRIGUES, 2011, p. 2).

No âmbito da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao lado da saúde e da previdência social, a assistência social passou a compor a seguridade social, como política pública não contributiva. Portanto, é direito do cidadão e dever do Estado, pois: ―as ações da política de assistência social são organizadas para promover o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, a capacidade de proteção da família, a autonomia e o protagonismo dos indivíduos, famílias e comunidades‖ (BRASIL, 2008, p. 35). A assistência social como direito social é regulamentada pela Lei n.º 8.742 de 1993, intitulada Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que dispõe sobre a organização desta e dá outras providências. Ambas as instituições jurídico-formais representam um marco na luta pela redefinição da assistência social (STOPA; MUSTAFA, 2009). Através de seus princípios e diretrizes, a LOAS regulamentou a assistência social no Brasil, baseando-se nos princípios da Constituição Federal de 1988, que determina a descentralização político-administrativa e participação popular, responsabilizando o Estado na organização das políticas sociais, em cada esfera de governo, prevendo ainda, programas, projetos e benefícios (BRASIL, 1988).

Tendo em vista materializar as diretrizes da LOAS, aprovou-se a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), através da Resolução nº 15, de 15 de outubro de 2004. A PNAS, expressa a materialidade da Assistência Social como um pilar do sistema de proteção social brasileiro, no âmbito da seguridade social (BRASIL, 2004). A PNAS determina como público alvo para a política de assistência social, aqueles cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, divididos em grupos de pessoas com fragilidade em seus vínculos familiares e de pertencimento a sociedade, como famílias, idosos e crianças.

Em atendimento à demanda de universalizar as ações da assistência social e materializar a LOAS, iniciou-se a implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), um sistema descentralizado e participativo, no ano de 2005 através da aprovação da Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social (NOB/SUAS) com a Resolução nº 130 de 15 de julho deste mesmo ano e Lei n.º 12.435 sancionada em 06 de julho de 2011. De acordo com a PNAS, o SUAS:

Define e organiza os elementos essenciais e imprescindíveis à execução da política de assistência social possibilitando a normatização dos padrões nos serviços,

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qualidade no atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede socioassistencial e, ainda, os eixos estruturantes e de subsistemas conforme aqui descritos:

I - Matricialidade sociofamiliar.

II - Descentralização político-administrativa e territorialização. III - Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil. IV - Financiamento.

V - Controle social.

VI - O desafio da participação popular/cidadão usuário. VII - A Política de Recursos Humanos.

VIII - A informação, o monitoramento e a avaliação (BRASIL, 2004, p. 39).

Seguindo a lógica de organização das ações e da territorialização, com o SUAS, a assistência social tem suas ações organizadas em dois tipos de proteção de acordo com suas especificidades, a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial, tendo como foco prioritário, a proteção à família. O atendimento especializado a pessoas com deficiência e suas famílias desenvolvido pela APAE de Panambi/RS, diz respeito à Proteção Social Especial, a qual é dividida em níveis de média e alta complexidade, de acordo com os serviços ofertados, sob a coordenação dos Centros de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS).

Coerentemente com a legislação social da política de assistência social, o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais no âmbito das APAEs superou o cunho caritativo das ações, passando a orientar-se pela centralidade na família, através da mediação do acesso às condições necessárias para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, quanto à inserção do Serviço Social especificamente na APAE de Panambi/RS, ainda que as comunicações orais indiquem a presença de assistentes sociais desde o início das atividades, não há registros escritos a respeito:

[...] Todo processo de registro e avaliação de qualquer ação é um conhecimento prático que se produz, e que não se perde, garantindo visibilidade e importância à atividade desenvolvida. [...] É dar uma história ao Serviço Social, uma história ao(s) usuário(s) atendido(s), uma história da inserção profissional do assistente social dentro da instituição – é essencial para qualquer proposta de construção de um conhecimento sobre a realidade social (SOUSA, 2008, p. 129).

Atualmente, o Serviço Social da APAE de Panambi/RS é representado por um assistente social, que trabalha na instituição desde o ano de 2010. O trabalho do assistente social na sociedade capitalista produz ―[...] um valor de uso (o serviço oferecido ao usuário, aos grupos, à comunidade, às organizações e às instituições) e um valor de troca (preço pago por este serviço no mercado de trabalho)‖ (PRATES, 2003, p. 108). Os assistentes sociais

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atendem a necessidades humanas, recebendo em troca disto, um salário. Produzem serviços que tem determinado significado para alguém, mas não produz mais-valia (GUERRA, 1995).

O Serviço Social é uma especialização do trabalho coletivo, profissão inserida na divisão sócio-técnica do trabalho e inscrita em processos de trabalho. O assistente social trata-se de um trabalhador que participa de processos de trabalho. Segundo Marx (1989, p. 202), são componentes do processo de trabalho: ―1) a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho; 2) a matéria a que se aplica o trabalho, o objeto de trabalho; 3)os meios de trabalho, o instrumental de trabalho‖. O trabalho é expressão da vida humana, a relação do homem com o objeto:

[...] Atividade dirigida com fim de criar valores-de-uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas, é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza, é condição natural eterna da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais (MARX, 1989, p. 208).

Os processos de trabalho são realizados por trabalhadores coletivamente, portanto não pode haver um ―processo de trabalho do assistente social‖. Os trabalhadores inserem-se em processos de trabalho imprimindo-lhe particularidades, mas condicionados pela venda de sua força de trabalho, ou seja, pelas condições de assalariamento e pelos rebatimentos da organização e gestão do trabalho na divisão social técnica do mesmo (recessão, desemprego estrutural, fragilidade de espaços organizativos dos trabalhadores, condições de trabalho precárias, etc.) (PRATES, 2011).

Todo e qualquer trabalho pressupõe a existência de: objeto, instrumental e produto. O objeto de trabalho do assistente social são as expressões da questão social, tanto na manifestação das desigualdades sociais6 como das resistências sociais7 empreendidas pelos sujeitos, contradição que se materializa de modo diverso em diferentes áreas, segmentos sociais e âmbitos da vida social, exigindo diferentes estratégias e processos coletivos de enfrentamento. O fato de ser objeto de uma profissão não impede que outras áreas incidam sobre ele (PRATES, 2011). As expressões da questão social são geradas pelo modo de produção capitalista, fruto da relação social capital-trabalho, gerado entre a compra (detentores dos meios de produção) e a venda da força de trabalho (trabalhadores):

6

Falta de acesso a bens, serviços, oportunidades, participação, valorização, reconhecimento, precarizações, fragilidades, desmantelamentos nas mais diversas formas de organização e áreas da vida social (PRATES, 2011). 7 Organizações, mobilizações, utilização de apoios, políticas e estratégias de ordens diversas que tem por objetivo enfrentar as desigualdades seja para não sucumbir a elas ou para tentar superá-las (PRATES, 2011).

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A matéria-prima do trabalho do assistente social (ou da equipe interprofissional em que se insere) encontra-se no âmbito da questão social em suas múltiplas manifestações – saúde da mulher, relações de gênero, pobreza, habitação popular, urbanização de favelas etc. – tal como vivenciadas pelos indivíduos sociais em suas relações sociais cotidianas, às quais respondem com ações, pensamentos e sentimentos. Tais questões são abordadas pelo assistente social por meio de inúmeros recortes, que contribuem para delimitar o ―campo‖ ou objeto do trabalho profissional no âmbito da questão social (IAMAMOTO, 2007, p. 100).

As expressões da questão social são atendidas nas instituições a partir de recortes, ou seja, há uma delimitação do objeto de intervenção profissional. Nesse sentido, o objeto de trabalho do assistente social nas APAEs constitui-se em expressões como vulnerabilidade social, violência, conflito familiar, negligência, etc. As ações profissionais frente às demandas são voltadas para o resgate de vínculos familiares fragilizados envolvendo a família e as pessoas com deficiência. Para a materialização das ações profissionais, frente às demandas apresentadas, o assistente social:

[...] Deverá imprimir em sua intervenção profissional uma direção, sendo necessário, para isto, conhecer e problematizar o objeto de sua ação profissional, construindo sua visibilidade a partir de informações e análises consistentes — atitude investigativa. Concomitantemente, o trabalho do AS deverá ser norteado por um plano de intervenção profissional objetivando construir estratégias coletivas para o enfrentamento das diferentes manifestações de desigualdades e injustiças sociais, numa perspectiva histórica que apreenda o movimento contraditório do real (FRAGA, 2010, p. 45).

Nesse sentido, deve-se conhecer o objeto, desvendando suas múltiplas expressões, dando-lhe visibilidade a partir de dados concretos e a partir daí planejando, executando e gerindo estratégias de enfrentamento. Para tanto, é fundamental o uso de um instrumental (ou meios de trabalho). Os meios de trabalho são ―uma coisa ou conjunto de coisas que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho e lhe serve para dirigir sua atividade sobre este objeto [...] de acordo com o fim que tem em mira‖ (MARX, 1989, p. 202). Embora os meios não participem diretamente do processo de trabalho, quando não se conta com eles o trabalho fica ―total ou parcialmente impossibilitado de concretizar-se‖ (MARX, 1989, p. 205).

O instrumental utilizado pelo assistente social não é específico da profissão, mas apresenta particularidades que são caracterizadas pelo modo como os media, imprimindo-lhe peculiaridades (PRATES, 2011). Os conhecimentos, as políticas sociais, as estratégias, o planejamento, a investigação, os planos de trabalho, as redes de serviços, as estratégias de comunicação, informação, vinculação, além de técnicas e instrumentos fazem parte do conjunto de meios utilizados no trabalho do assistente social.

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Segundo Prates (2003, p. 6) os instrumentos e técnicas são na verdade ―[...] estratégias sobre as quais se faz a opção de acordo com o contexto e o conteúdo a ser mediado para se chegar a uma finalidade‖. Dentre os instrumentos e técnicas utilizados pelo assistente social, incluem-se: a visita domiciliar, a entrevista, os grupos, as reuniões com outros serviços de distintas políticas públicas para discussão e planejamento deações em atendimentos prestados para usuários em comum, os pareceres técnicos, os estudos sociais, os relatórios, etc.

No final, o produto do trabalho é um valor-de-uso, ―o trabalho está incorporado ao objeto sobre o que atuou [...] Ele teceu e o produto é um tecido [...] Meio e objeto de trabalho são meios de produção e o trabalho é trabalho produtivo‖ (MARX, 1989, p. 205). Neste sentido, são produtos do trabalho: projetos, planos, análises, avaliações, diagnósticos, artigos científicos, sínteses, estudos sociais, perícias sociais, laudos sociais, encaminhamentos, relatórios, atas, prontuários, processos (os produtos são também instrumentos dependendo do lugar que ocupam na cadeia produtiva) (PRATES, 2011).

O produto do trabalho, nem sempre resulta da ação de um único trabalhador, portanto resulta de trabalhos coletivos, muitas vezes provenientes de áreas diversas. As demandas do mundo do trabalho cada vez mais exigem produtos provenientes de ações interdisciplinares (PRATES, 2011). O assistente social ingressa na instituição empregadora ―[...] como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais, cujo resultado final é produto de um trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados nos vários espaços ocupacionais‖ (IAMAMOTO, 2007, p. 421).

O atual profissional de Serviço Social da APAE de Panambi/RS, além de exercer a função de assistente social desempenha a fundão de direção da Clínica Interdisciplinar de Saúde. Partindo do pressuposto de que a interdisciplinaridade é ―[...] o princípio da máxima exploração das potencialidades de cada ciência, mas, acima de tudo, o princípio da diversidade e da criatividade‖ (ETGES, 1993 apud JANTASCH; BIANCHETTI, 1995, p.14), é impossível pensar o trabalho do assistente social fora dessa relação. O trabalho do assistente social no âmbito da gestão deve embasar-se na promoção de ações que visem à interdisciplinaridade, a partir da participação e contribuição dos profissionais de diversas áreas. Segundo Rodrigues (1995, p.157):

[...] Para o Serviço Social, a interação com outras áreas é particularmente primordial: seria fatal manter-se isolado ou fazer-se cativo. A interdisciplinaridade enriquece-o e flexiona-o, no sentido de romper com a univocidade de discurso, de teoria, para abrir-se à interlocução diferenciada com outros. Isto implica romper com dogmatismos muitas vezes cultivados no interior da profissão.

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Segundo o Código de Ética Profissional dos/das Assistentes Sociais constitui-se dever profissional, dentre outros: ―d) incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar‖ (BRASIL, 1993, art. 10º, p.6). Este dever está diretamente relacionado com um dos princípios fundamentais do assistente social, referente ao compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. Ademais, com a interdisciplinaridade, o Serviço Social tem a oportunidade de garantir maior visibilidade à profissão.

Ainda em relação à interdisciplinaridade, para o Serviço Social, a articulação com a rede de serviços constitui-se em estratégia necessária para a garantia de direitos e inclusão social. O termo rede sugere ―[...] a ideia de articulação, conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros, interdependência de serviços para garantir a integralidade da atenção aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situação de risco social e pessoal‖ (BOURGUIGNON, 2001, p.4). A articulação e manutenção das redes internas e externas de serviços são um caminho para fazer valer a garantia dos direitos sociais e o enfrentamento das expressões da questão social.

Cabe ainda registrar os desafios enfrentados pelo assistente social, tanto na APAE de Panambi/RS, como nos distintos espaços sócio-ocupacionais nos quais se insere, pois os valores e os princípios ético-políticos que norteiam a ação profissional dos assistentes sociais têm passado por significativas mudanças. A consolidação do projeto ético-político profissional em construção exige ―[...] remar na contracorrente, andar no contra vento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade‖ (IAMAMOTO, 2007, p.141).

Nesse sentido, torna-se necessário legitimar a profissão, ampliando competências e ocupando espaços, sem perder de vista as suas particularidades; dar visibilidade ao trabalho profissional e aos produtos do trabalho; valorizar e fortalecer os espaços coletivos e a organização profissional; acompanhar o debate profissional e o contexto mundial, nacional e local, comprometendo-se com a formação permanente. Além disso, devem-se assumir os compromissos e lutas definidos como centrais pela categoria, a democracia, a qualidade das políticas públicas, a superação das desigualdades, o fortalecimento dos trabalhadores e a luta contra qualquer forma de violação de direitos individuais e coletivos (PRATES, 2011).

Portanto, ao atuar na realidade social, não se pode perder de vista o processo contínuo e dinâmico de desafios, mudanças e contradições engendrados na sociedade capitalista neoliberal, pois é neste contexto que se consolidam os espaços de resistência nos quais o

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assistente social trabalha, reconhecendo e construindo respostas profissionais às demandas emergentes. Para tanto, o assistente social deve articular o projeto profissional a um processo de enfrentamento aos pressupostos neoliberais, partindo da premissa de que o terceiro setor não substitui as responsabilidades do Estado.

[...] O assistente social deve manter os princípios de universalidade, incondicionalidade e solidariedade das políticas sociais, denunciando e enfrentando, com competência intelectual e coragem política, o modelo de reforma neoliberal, onde não há espaços para respostas estatais universais e centralizadas à ‗questão social‘ [...] (MONTAÑO, 1999, p. 77).

Assim, o assistente social necessita atualizar-se e qualificar-se, a fim de construir posicionamentos críticos em relação às demandas emergentes, sabendo o papel que o terceiro setor cumpre na sociedade capitalista neoliberal. Diante dos desafios apresentados cotidianamente ao assistente social, reforça-se a necessidade de um processo de formação profissional de qualidade, capaz de formar profissionais críticos e comprometidos com a transformação da realidade social. Nessa perspectiva, entende-se que, durante a formação profissional, uma das possibilidades apresentadas é o processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social, entendido como ―[...] um espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de situações, de atividades de aprendizagem profissional se manifestam para o estagiário, tendo em vista sua formação‖ (BURIOLLA, 2003, p.13), tema que será abordado no próximo capítulo.

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2 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL

Este segundo capítulo está dividido em dois subitens. Primeiramente, aborda-se o processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social, apresentando os conceitos de estágio, um breve resgate histórico e a legislação que rege o Estágio Supervisionado em Serviço Social, demonstrando seu significado e importância para a formação profissional. No segundo item, apresenta-se o projeto de intervenção, enquanto parte fundamental do processo de Estagio Supervisionado em Serviço Social, contextualizando sobre o projeto de intervenção realizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Panambi/RS.

2.1 O PROCESSO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL

O estágio é o momento de aprendizado prático, em meio a gama de conhecimentos teóricos vivenciado nas universidades. Bianchi (2002) refere que está imbricado no estágio, além da vivência prática, um estudo que engloba em seu desfecho: supervisão, revisão, correção e exame. Dessa maneira, o estágio supervisionado é parte integrante do processo de formação profissional dos acadêmicos das mais diversas áreas.

O estágio é componente fundamental do processo de formação profissional a exemplo do Serviço Social, pois permite ao acadêmico o contato direto com a realidade social concreta, os desafios e as possibilidades que se apresentam à futura profissão. Para o acadêmico, o estágio significa uma primeira aproximação vivencial no mundo do trabalho, no qual desenvolve habilidades e competências profissionais. O estágio é o espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social (BURIOLLA, 2003).

Desde a criação das primeiras escolas de Serviço Social, em 1936 em São Paulo e um ano depois no Rio de Janeiro, na década de 1930, o estágio é parte integrante e obrigatória dos cursos de graduação (BURIOLLA, 2003; LEWGOY, 2009). Na década de 1940, com o fim da II Guerra Mundial, confirma-se a hegemonia econômica dos Estados Unidos da América (EUA) e sua influência no cenário latino-americano. Estreitam-se os laços entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA): o próprio Serviço Social brasileiro passa a receber influência norte-americana, através da utilização das abordagens de Serviço Social de Caso, Grupo, Comunidade e Supervisão de Estágios (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009).

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Em virtude do contexto socioeconômico e político, emergiu tanto a necessidade quanto a demanda de uma formação qualificada ao ensino em Serviço Social no Brasil, o que delineou um novo contorno à supervisão na década de 1940. Esse período demarcou a criação e o desenvolvimento das grandes instituições assistenciais estatais [...] Foi o momento em que se ampliou o mercado de trabalho para a profissão [...] (LEWGOY, 2009, p. 71).

Enquanto processo de formação, o estágio se propunha a atender a demanda de profissionais especializados, munidos de novos meios e formas de execução do trabalho, exigido pela ampliação do mercado de trabalho. Ao Serviço Social, a partir de então, é permitido romper ―[...] com suas origens confessionais e transformar-se numa atividade institucionalizada [...]‖ (SILVA, 1995 apud LEWGOY, 2009, p.71). Com a regulamentação do ensino em Serviço Social (1953), o estágio passou a exigir legislação específica, tendo em vista a garantia da qualidade na formação e a regulamentação da prática (BURIOLLA, 200).

A primeira legislação específica do Serviço Social relacionada ao estágio foi a Lei N.º 1.889/53, regulamentada pelo Decreto N.º 35.311/54 que dispõe sobre a normatização do ensino, organização dos cursos e oferta de componentes. Os cursos de Serviço Social, cuja duração era de três anos, deveriam organizar o ensino em três etapas: 1ª) parte teórica, 2ª) mediação entre a teoria e a prática; 3ª) preponderância da prática. Em 1957, regulamentou-se a profissão de assistente social, através da Lei N.º 3.252, a partir da qual se definem as atribuições do assistente social. No Art. 5º da Lei N.º 3.252/57, consta a supervisão de alunos em trabalhos teóricos e práticos do Serviço Social, garantindo que somente profissionais assistentes sociais desempenhem a função de supervisor (BURIOLLA, 2003).

Na década de 1970, é regulamentado o Currículo Mínimo do Curso de Serviço Social, através da Resolução N.º 242/70 do Conselho Federal da Educação (CFE). No Art. 7º consta que à teoria do Serviço Social cabe proporcionar uma visão integrada com vistas à ação social, unindo a ordem teórica à ordem prática. No Art. 9º consta que os estágios práticos, base profissional do curso deveriam articular-se com os estudos teóricos (BURIOLLA, 2003).

Na década seguinte, é regulamentado o Novo Currículo Mínimo do Curso de Serviço Social, através do Parecer N.º 412/1982 do Conselho Federal da Educação (CFE) homologado pela Resolução N.º 06/1982. O Art. 1º preconiza que o estágio supervisionado obrigatório com a duração de, no mínimo 10% de duração do curso. No Art. 2º, orienta a duração mínima do curso de 2.700 horas e do estágio de 270 horas. No mesmo período, com a regulamentação da Lei N.º 6.494, através do Decreto N.º 87.497/80, o estágio recebe maior preocupação e atenção, determinando-se que sejam realizados convênios e acordos entre as entidades de

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ensino, e os campos de estágio, garantindo o cumprimento de um termo de compromisso (BURIOLLA, 2003).

Em 1993, é aprovada a Lei N.º 8.662 de Regulamentação da Profissão e o novo Código de Ética Profissional dos/das Assistentes Sociais com a Resolução do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Nº. 273. A supervisão de estágio emerge como atribuição privativa do assistente social, através do ―treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social‖ (BRASIL, 1993b, p. 02), sendo vedado:

[...] d) Compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais; e) Permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize acompanhamento direto ao aluno estagiário (BRASIL, 1993a, p. 05).

Em 1996, no contexto de aprovação das Diretrizes Curriculares para os cursos de formação em Serviço Social pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) e pelo Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS), o estágio é definido como uma atividade curricular obrigatória, que se configura com a ―[...] inserção do aluno no espaço sócio-institucional objetivando capacitá-lo para o exercício do trabalho profissional, o que pressupõe supervisão sistemática‖ (CRESS, 2009, p. 56). Assim, a supervisão deve ser realizada pelo professor supervisor e o profissional do campo, através da ―[...] reflexão, acompanhamento e sistematização com base em planos de estágio, elaborados em conjunto entre Unidade de Ensino e Unidade de Campo de Estágio, tendo como referência o Código de Ética Profissional (1993)‖ (CRESS, 2009, p. 56). A partir da aprovação das Diretrizes Curriculares de 1996 ―[...] a supervisão passou a ter a visão de processualidade na formação do assistente social‖ (LEWGOY, 2009, p.89).

No contexto geral, o estágio é regido pela denominada Lei dos Estágios N.º 11.788, que abrange todos os cursos e áreas do conhecimento, em nível federal, revogando as leis anteriores e dispondo sobre a definição, classificação e relação do estágio de estudantes. Nesse ínterim, o estágio é dividido em obrigatório – aquele definido como tal no projeto do curso –, e não obrigatório – desenvolvido como atividade opcional –, sendo considerado o ―[...] ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos [...]‖ (BRASIL, 2008, p. 1, Art. 1º).

No âmbito da profissão, com base na Lei dos Estágios, a Resolução Nº. 533/2008 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) regulamenta a supervisão direta de Estágio no

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Serviço Social, que deve se estabelecer na relação entre a unidade acadêmica e a instituição que recebe o acadêmico. A supervisão direta de estágio em Serviço Social é prerrogativa de assistente social funcionário do quadro de recursos humanos da instituição campo de estágio, devendo ser realizado ―[...] na mesma instituição e no mesmo local onde o estagiário executa suas atividades de aprendizado, assegurando seu acompanhamento sistemático, contínuo e permanente, de forma a orientá-lo adequadamente‖ (CFESS, 2008, Art. 5º).

O estágio pode ser desenvolvido em órgãos públicos e/ou privados, instituições de ensino, dentre outros. Na condição de atividade curricular-obrigatória pressupõe o acompanhamento e a orientação profissional, através do processo de supervisão acadêmica e de campo, configurando um dos princípios que fundamentam a formação profissional. Dessa forma, conforme Oliveira (2004, p. 10), o Estágio Supervisionado em Serviço Social adquire importância ímpar no processo de formação profissional, oportunizando ―[...] não somente aproximações no processo de capacitação teórico-metodológica para o exercício profissional, mas também o conhecimento das diferentes relações que compõem o complexo tecido social‖. Em 2010 foi aprovada a Política Nacional de Estágio (PNE), produto da discussão iniciada com o lançamento, em maio de 2009, do documento base8 que subsidiou um debate coletivo em todo o País. As propostas recebidas para a versão final foram discutidas em oficinas regionais de graduação da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 2010).

Em seu conteúdo constam: os princípios norteadores do estágio; as atribuições dos sujeitos e instâncias envolvidas; a construção de parâmetros quantitativos da relação professor/aluno na supervisão acadêmica do estágio supervisionado obrigatório; orientações quanto ao estágio não obrigatório; estratégias de operacionalização do estágio supervisionado, bem como, uma discussão sobre as tensões e desafios do estágio. Apresenta um caráter mobilizador na defesa do projeto de formação profissional como instrumento de luta contra a precarização do ensino superior, em um período em que tem crescido a demanda de articulação das entidades representativas da categoria em torno da garantia de um estágio qualificado (ABEPSS, 2010). Quanto à supervisão acadêmica e de campo, prevê:

[...] A indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e de campo, em que o estágio, enquanto atividade didático pedagógica, pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta, integrando planejamento, acompanhamento e

8 Elaborado pelo Grupo de Trabalho (GT) da Política Nacional de Estágio (PNE) da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), instituído em sua primeira Reunião Ampliada da Diretoria eleita para a Gestão 2009-2010, nos dias 16 a 18 de março de 2009, no Rio de Janeiro (ABEPSS, 2010).

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