• Nenhum resultado encontrado

CLITICIZAÇÃO FONOLÓGICA EM VARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊS 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CLITICIZAÇÃO FONOLÓGICA EM VARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊS 1"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

CLITICIZAÇÃO FONOLÓGICA EM VARIEDADE

BRASILEIRA DO PORTUGUÊS1

Cristina Márcia Monteiro de Lima Corrêa – UFRJ

0 Introdução

O sistema da língua portuguesa tem em sua constituição um conjunto de regras variáveis, que têm sido objeto de diversos estudos, seja à luz da Sociolinguistica Variacionista ou de outra corrente lingüística. Uma dessas regras corresponde à cliticização pronominal. Devido à complexidade do fenômeno, apesar de já ter tomado atenção de pesquisadores, muitas questões a seu respeito aguardam resposta.

Conforme Vieira (2002) constata, o fenômeno de cliticização pronominal configura um caso de interface entre fonologia, morfologia e sintaxe. Este trabalho, em especial, trata da face fonológica, ou seja, da possibilidade de o clítico ligar-se a um hospedeiro fonológico à direita (próclise) ou à esquerda (ênclise). Está sob análise, então, a direção fonológica dos clíticos pronominais, mais especificamente na variedade brasileira do português.

A presente pesquisa colabora para a sistematização do fenômeno, de maneira que trata empiricamente do tema proposto – a ligação fonológica dos clíticos pronominais brasileiros. Além disso, contribui para a averiguação das propriedades fonético-fonológicas dos pronomes, supostamente proclíticos, tendo em vista que essa seria a ligação pronominal, a princípio, não-marcada no Português do Brasil (cf. CARVALHO, 1989).

A investigação organiza-se em dois momentos. O objetivo do primeiro foi verificar se há semelhança entre a sílaba átona vocabular e a sílaba clítica, considerando aspectos segmentais e supra-segmentais. E o objetivo do segundo foi identificar o parâmetro acústico responsável pela ligação fonológica, por meio do procedimento de síntese de fala, seguido de teste de percepção auditiva. Aspectos de cada momento – a questão que se pretendeu responder, as hipóteses, a metodologia utilizada e os resultados atingidos – serão apresentados separadamente logo após uma breve exposição do aporte teórico no qual o trabalho, de modo geral, se fundamenta. Sendo assim, na seqüência, tem-se uma sessão referente à fundamentação teórica; posteriormente, outra sessão referente ao primeiro momento da pesquisa; outra, referente ao segundo momento; e, enfim, as considerações finais.

1 Fundamentação teórica

Neste estudo, fez-se uso do aparato teórico-metodológico da Fonética Acústica, de modo que os parâmetros acústicos de duração, intensidade e freqüência fundamental do corpus utilizado foram observados a partir de programa computacional adequado, sem desconsiderar, é evidente, as propriedades segmentais dos elementos em análise.

Uma das fundamentações teóricas diz respeito à Teoria da variação e mudança (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), pois seu princípio básico se aplica ao tema estudado: fenômeno de natureza variável, cujas formas variantes, neste caso, são ligação do clítico à direita ou à esquerda.

O terceiro parâmetro proposto por Klavans (1985) também deu suporte à investigação. De acordo com ele, a ligação fonológica do clítico (enclítica ou proclítica) pode ser investigada independentemente de comportamento sintático do pronome. Isso foi importante porque, embora os comportamentos fonológico e sintático dos pronomes mantenham relações estreitas, a autora mostra que ambos podem ser investigados independentemente. Este trabalho deteve-se no âmbito fonológico, com pretensões futuras de relacionar os resultados alcançados ao comportamento sintático, também variável, dos pronomes átonos.

1

Trabalho orientado pela Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira, que coordena o projeto “Interface prosódia-morfossintaxe em variedades do português”, o qual conta com o apoio do Programa Antônio Luiz Vianna, da FUJB/UFRJ.

(2)

Carvalho (1989) embasou o primeiro momento da pesquisa. O autor aponta semelhanças entre sílaba átona vocabular e sílaba clítica e sugere que o clítico brasileiro apresenta comportamento pretônico. Dessa forma, em busca de comprovação empírica, tal hipótese foi uma das testadas no primeiro momento da pesquisa através de comparação feita entre sílaba átona vocabular e sílaba clítica.

Finalmente, de Vieira (2002) – tese de doutorado que também se dedicou à efetuação de experimentos prosódicos –, extraíram-se os procedimentos metodológicos, que adiante serão relatados. 2 Contribuições da pesquisa: 1º momento

Inicialmente, na investigação, comparou-se a sílaba átona vocabular e a sílaba clítica, a fim de responder à pergunta: em que aspectos segmentais e supra-segmentais (duração, intensidade e freqüência fundamental) os pronomes átonos diferem das sílabas átonas vocabulares? Como dito anteriormente, uma hipótese foi a de que a sílaba pretônica vocabular e a sílaba clítica apresentariam propriedades acústicas semelhantes, sugerindo que o pronome se ligaria ao elemento à direita, conforme Carvalho (1989) sugere. Outra hipótese foi a de que os parâmetros de duração e de intensidade desempenhariam papel importante na determinação do estatuto acentual dos pronomes átonos.

Em Vieira (2002), quando essa tarefa foi realizada, o parâmetro de duração destacou-se, evidenciando que as sílabas átonas comparadas seriam similares quanto à duração. Por não consistir o objetivo principal do trabalho, a autora contou com um corpus reduzido, que permitiu fazer apontamentos preliminares. Com isso, na presente pesquisa, objetivou-se verificar se os resultados alcançados em Vieira (2002) se confirmam com a utilização de um corpus mais representativo.

No que concerne às etapas desta investigação, primeiramente, para constituir o corpus, formaram-se 22 pares homônimos, como se pode visualizar abaixo:

Tabela 1: Lista dos 22 pares homônimos formados

megera e me gera seleciona e se leciona

fez metal e fez-me tal seviciar e se viciar

meter e me ter separou e se parou

meditar e me ditar tecer e te ser

medisse e me disse vendo tear Mário e vendo-te armário

melava e me lava bem-te-vi e bem te vi

secura e se cura atingiu e a tingiu

sedar e se dar haver e a ver

sessenta e se senta apago e a pago

setenta e se tenta opaco e o pago

selava e se lava atiro e a tiro

Em seguida, foi elaborado contexto frasal para cada vocábulo fonológico criado, de modo a oferecer naturalidade para a gravação dos enunciados. Esperava-se que estes fossem produzidos pelos informantes de forma neutra, isto é, sem qualquer marcação de foco, pois alteraria o padrão rítmico do enunciado. Observem-se, a seguir, exemplos de contextos frasais criados para um par homófono.

(a) Você agora me diz que o Thiago avisou que a reunião foi cancelada. Eu não lembro nada disso. Se ele me disse aquilo, eu saberia.

(b) Preciso que meçam esse muro, porque ele parece torto. Mas só tem um funcionário aqui e acho que ele não sabe. Se ele medisse aquilo, eu saberia.

Como se pode observar, houve duas preocupações. Primeiro, os vocábulos fonológicos que formam o par homófono deveriam integrar períodos similares, para que se propiciasse um ambiente favorável à pronuncia neutra almejada. Além disso, os vocábulos fonológicos não deveriam se concentrar nas extremidades das frases, pois assim se evitaria a interferência da curva melódica na

(3)

distribuição acentual no nível prosódico da palavra2. Por exemplo, visto que o padrão da curva melódica do Português brasileiro é descendente, se o vocábulo se localizasse no final da frase, a sílaba pretônica poderia ter a atonicidade valorizada.

Feitas essas considerações a respeito da elaboração do corpus, acrescenta-se que os enunciados elaborados foram gravados por três informantes femininos, de faixa etária entre 23 e 40 anos, utilizando o programa computacional Sound Forge 7.0.

Efetuadas as gravações, pretendia-se efetuar um cálculo para verificar o peso fônico da sílaba clítica e da sílaba pretônica em relação ao contexto circunvizinho. Para isso, foram medidos os parâmetros de duração, intensidade e freqüência fundamental referentes à sílaba clítica / átona vocabular e às sílabas adjacentes, utilizando o programa computacional PRAAT.

O cálculo consiste em somar a sílaba anterior (S1) e posterior (S3) à sílaba átona em análise e dividir o resultado dessa soma por dois, alcançando uma média (M). Em seguida, toma-se o valor medido da sílaba átona (S2) – seja da sílaba clítica ou da pretônica vocabular, o que dependerá do vocábulo de que se trata – e divide-o pela média (M), alcançada anteriormente, chegando ao resultado (R1), que corresponde ao peso fônico desejado. Um esquema abaixo ilustra tal procedimento matemático.

sílaba anterior (S1) + sílaba posterior (S3) = M sílaba clítica ou pretônica (S2) = R1 2 M

Com os resultados em mãos, os pesos fônicos foram comparados. Veja, por exemplo, a tabela abaixo:

Tabela 2: Exemplo de cálculo efetuado para obtenção do peso fônico da sílaba átona observada Intensidade (informante 3)

Amanhã seria bom a ver calma no trabalho. Amanhã seria bom haver calma no trabalho.

S1 S2 S3 R1 S1 S2 S3 R1

[..

] 79 80 74 1,04

[..

] 78 77 73 1,01

O primeiro peso fônico da esquerda para a direita (1,04) diz respeito ao clítico acusativo [], enquanto o segundo peso (1,01) se refere à sílaba pretônica [] do verbo “haver”. Comparou-se o peso fônico da sílaba clítica com o da sílaba átona vocabular, a fim de se verificar se a diferença entre os valores atingidos não ultrapassou 10 pontos. No exemplo ilustrado, a diferença é de 3 pontos.

Adiante, seguem, na forma de tabela, os resultados finais dessa etapa. Vale dizer, antes disso, que, em virtude de terem ocorrido elisão e ditongação envolvendo sílaba clítica, não se pôde, nesses casos, comparar os parâmetros acústicos da sílaba clítica com aqueles da sílaba átona vocabular, tendo, assim, que se desconsiderar, nessa etapa da análise, alguns pares.

Tabela 3: Proporção de número de pares cuja diferença de peso fônico não ultrapassa 10 pontos em relação ao total de pares homônimos observados

Informante 1 Informante 2 Informante 3

Duração 6/16 37% 7/17 41% 3/19 15%

Intensidade 16/16 100% 17/17 100% 19/19 100%

F0 11/16 68% 14/17 82% 16/19 84%

2 Os clíticos foram enquadrados no nível prosódico da palavra fonológica, para manter a harmonia com a

perspectiva adotada em Câmara Jr. (1972), assim como foi feita referência ao termo vocábulo fonológico, definido pelo autor como unidade vocabular com apenas um acento. Nesse aspecto, não se pretende polemizar em que nível da hierarquia prosódica o grupo que acolhe o clítico é contemplado.

(4)

De acordo com a tabela acima, ao que parece, sílaba do clítico e sílaba átona vocabular assemelham-se fundamentalmente quanto ao parâmetro da intensidade. A respeito da duração, houve poucos casos em que a diferença entre o peso silábico do clítico e o da átona vocabular registrou menos de 10 pontos (menos de 50% na realização dos três informantes). A margem de diferença superior a 10 pontos pode estar relacionada à duração intrínseca dos segmentos vocálicos, pois a duração foi semelhante nos pares em que as sílabas continham o mesmo segmento, como o [] em

atiro e a tiro, e não como em m[]ditar e m[] ditar.

Quanto à freqüência fundamental (F0), embora tenha sido controlada como um elemento potencialmente “influenciador”, a semelhança detectada deve ser analisada com cuidado. Os contextos submetidos à análise pressupõem curvas entoacionais muito parecidas, pois os informantes deveriam dar a mesma entoação, que seria a neutra, nos dois contextos. Na verdade, a F0 interfere fundamentalmente na entoação no nível de frase e, por isso, não é parâmetro seguro para a investigação em nível vocabular.

3 Contribuições da pesquisa: 2º momento

O segundo momento da pesquisa diz respeito à realização da síntese de fala, seguida de aplicação de teste de percepção auditiva. O intuito principal foi responder à questão: a redução da intensidade, parâmetro tradicionalmente definidor do acento, seria identificada pelos brasileiros como um índice de ênclise?

A hipótese foi a de que, enquanto a realização original de clíticos no Português seria percebida pelos brasileiros como proclítica, pronúncias do clítico com a intensidade reduzida e, sobretudo, a duração implicariam a percepção do pronome como enclítico. Isto porque, quanto mais frágil a sílaba, mais ela se assemelharia à sílaba postônica; sendo, portanto, a ligação do clítico percebida para a esquerda (ênclise).

A respeito das etapas metodológicas, primeiramente, efetuou-se a gravação de frases por dois informantes masculinos, de faixa etária entre 36 e 55 anos, para realizar síntese de fala. Tais frases continham os fragmentos que teriam os parâmetros acústicos alterados posteriormente, quais sejam:

vinha me lavar e vinha se lavar.

Embora se saiba que o hospedeiro fonológico do clítico não corresponda necessariamente a seu hospedeiro sintático (verbo), o pronome encontrava-se entre dois verbos, a fim de não conduzir os juízes do teste a refletirem sobre aspectos sintáticos da cliticização.

A alteração dos parâmetros acústicos dos dois enunciados deu-se da seguinte forma: cada enunciado “novo” teve um ou mais parâmetros do clítico alterados; a redução da intensidade e/ou da duração podia ser dos tipos “leve” (30%) ou “forte” (50%) e a redução da F0 foi equivalente a 20Hz, de modo a mudar o padrão entoacional de ascendente para descendente.

Os enunciados “novos” e os originais foram organizados para serem submetidos à avaliação de nove juízes. No teste, eles deveriam marcar, a cada enunciado ouvido, se o pronome estaria ligado à palavra anterior ou à seguinte [por exemplo: vinha-se lavar ( ) vinha se-lavar (x)].

Sobre os resultados do teste, a maioria dos juízes marcou, em relação à versão original do enunciado, que o clítico se liga à direita (próclise), conforme o esperado, já que a frase foi gravada por indivíduos brasileiros. Em relação aos contextos manipulados na síntese, a duração mostrou-se o principal fator para a variação em estudo, ratificando o resultado de Vieira (2002). A redução “forte” da duração isoladamente foi o contexto em que mais se registrou a marcação de ligação do clítico à esquerda (ênclise).

Na seqüência, será mostrada a produtividade, em percentual, da percepção do clítico pronominal como ligado à direita, tomando por base 12 versões dos enunciados vinha me lavar e

(5)

a) Enunciado vinha me lavar: 79 79 72 72 69 61 59 50 44 39 39 36 0 50 100

Redução "forte" da intens.

F0 ascendente e redução "leve" da intens. Redução "leve" da intens.

F0 ascendente

Versão original (duas apresentações) Redução "leve" da duração

F0 ascendente e redução "leve" da duração Redução "leve" da duração e "forte" da intens. Redução "leve" da duração e da intens.

F0 ascendente e redução "leve" da duração e da intens. Redução "forte" da duração e "leve" da intens.

Redução "forte" da duração

Gráfico 1: Percepção da ligação fonológica do pronome à esquerda para “vinha me lavar”, segundo os valores percentuais dos votos em testes de percepção auditiva.

Na versão original, o pronome, na maioria das vezes, foi entendido como proclítico. Nos contextos em que a freqüência fundamental foi reduzida, ora o julgamento foi predominantemente de próclise, ora de ênclise, o que sugere que esse parâmetro parece, de fato, não interferir no julgamento da direção da ligação do clítico. Referente ao parâmetro de intensidade e de duração, em contrapartida, os resultados foram relativamente sistemáticos. A redução da intensidade isoladamente não provocou a escolha pela ligação do clítico à direita (ênclise). À medida que sua redução era associada à redução da duração, o julgamento mudava. A redução “forte” da duração foi fator que, majoritariamente, levou os juízes a compreenderem o pronome como enclítico.

b) Enunciado vinha se lavar:

72 67 64 61 61 56 50 50 50 39 39 33 0 50 100

F0 ascendente e redução "leve" da intens. F0 ascendente

Versão original (duas apresentações) Redução "f orte" da intens.

Redução "leve" da intens.

F0 ascendente e redução "leve" da duração

F0 ascendente e redução "leve" da duração e da intens. Redução "leve" da duração

Redução "leve" da duração e "forte" da intens. Redução "leve" da duração e da intens Redução "f orte" da duração e "leve" da intens. Redução "f orte" da duração

Gráfico 2: Percepção da ligação fonológica do pronome à esquerda para “vinha se lavar”, segundo os valores percentuais dos votos em testes de percepção auditiva.

De certo modo, os apontamentos feitos a partir do primeiro gráfico permanecem aplicáveis ao segundo gráfico. Relativa à versão original, a alternativa mais sinalizada foi clítico ligado à esquerda (próclise). A redução da F0 parece não provocar julgamento de ligação à esquerda, pois, nos contextos em que o parâmetro foi alterado, os resultados são parecidos com o obtido para a versão original. Ademais, apesar de a produtividade por contexto ter destoado um pouco do primeiro gráfico, a duração ainda consiste no parâmetro que mais se destaca. Neste caso, sua redução “forte” continua

(6)

sendo o contexto em que menos se registrou próclise, ou seja, mais se registrou ênclise; desse modo, a redução da duração parece ser fator determinante para a ligação do clítico à direita (enclítico).

Enfim, a partir do que foi observado em ambos os gráficos, traçou-se um continuum para melhor se perceber a gradação notada a partir dos gráficos, relativa à medida em que se deixava de perceber o clítico como proclítico para entendê-lo como enclítico. Abaixo, a representação do

continuum mencionado.

+ Próclise / - Ênclise - Próclise / + ênclise Versão original,

F0 ascendente e/ou redução “leve” da intensidade.

Redução “forte” da intensidade e/ou redução “leve” da duração, combinada(s) ou não à F0 ascendente.

Redução “forte” da duração e/ou redução “leve” da intensidade, combinadas ou não à F0 ascendente.

Na coluna da extrema esquerda, encontram-se os contextos em que mais se identificou o clítico como proclítico; na coluna intermediária, contextos em que os julgamentos ficaram divididos; e, na última coluna, contextos considerados como mais prototípicos de pronomes enclíticos.

Considerações finais

O trabalho relatado é de natureza essencialmente experimental e está longe de ser concluído. No entanto, os resultados até então atingidos já permitem tecer considerações significativas, baseadas em investigação empírica.

No que diz respeito à comparação entre sílaba clítica e sílaba átona vocabular, confirmou-se a hipótese de que ambas apresentariam propriedades acústicas parecidas. O parâmetro de intensidade desempenha papel importante na determinação do estatuto acentual dos pronomes átonos e a qualidade vocálica parece realmente ser um fator que diferencia o clítico pronominal das sílabas átonas vocabulares.

Os valores obtidos sugerem, inicialmente, semelhança quanto à intensidade e à freqüência fundamental. Quanto à duração, a diferença na qualidade vocálica não permitiu verificar a influência isolada desse parâmetro.

Finalmente, com base no teste de percepção, apesar da dificuldade de percepção por ele imposta, os resultados permitem detectar o caráter proclítico dos pronomes brasileiros. A F0 e a intensidade não parecem exercer a mesma influência sob a cliticização fonológica se comparadas ao parâmetro da duração, pois a alteração deste, associado ou não a outros parâmetros acústicos, parece implicar uma interpretação distinta da direção do clítico.

Referências

BISOL, L. Os constituintes prosódicos. In: Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. 4ª ed. rev. e ampl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, p. 243-255.

CÂMARA Jr., J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1972.

CARVALHO, J. B. de. Phonological conditions on Portuguese clitic placement: on syntactic evidence for stress and rhythmical patterns. In: Linguistics 29: 1989, p. 405-436.

KLAVANS, J. The independence of Syntax and Phonology in cliticization. In: _____. Language. 1985, p. 95-120.

LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972. –––––– . Principles of linguistic change. Cambridge: Blackwell, 1994.

VIEIRA, S. R. Colocação pronominal nas variedades européia, brasileira e moçambicana: para a

definição da natureza do clítico em Português. 2002. 441 f. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) -

(7)

WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMANN, W. P. e MARKIEL, A. Directions for historical linguistics: a symposium. London: University of Texas Press, 1968, p. 95-199.

Referências

Documentos relacionados

A partir de um estudo sobre os modelos de desenvolvimento do pensamento sobre a linguagem de funções, este trabalho tem o objetivo de propor e testar um modelo de níveis

Em meio a recentes tensões quanto à coordenação econômica e política entre os três Estados, a cooperação cultural presta o argumento que atrela a consecução da

Ela deve enfraquecer-se continuamente para dar lugar a essa igualdade de fato, meta última da arte social que, diminuindo até mesmo os efeitos da diferença natural

O candidato e seu responsável legalmente investido (no caso de candidato menor de 18 (dezoito) anos não emancipado), são os ÚNICOS responsáveis pelo correto

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

The purpose of this study is to recognize and describe anatomical variations of the sphenoid sinus and the parasellar region, mainly describing the anatomy of

Com a descrição das ocorrências de SE-Indeterminado, SE- Passivo e SE-Reflexivo em orações principais neutras, contexto de variação na posição do pronome em relação

Portanto a Modelagem Matemática é uma estratégia de ensino, que visa melhorar a aprendizagem matemática, tão importante que já foi incluída na Educação