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A VIOLÊNCIA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA

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Academic year: 2021

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A VIOLÊNCIA RELIGIOSA CONTEMPORÂNEA

Carlos Alberto da Silva

Tomei a liberdade de ler os três livros sagrados das maiores religiões da atualidade – a Bíblia, o Al Corão e a Torá – e a partir deles, escrever uma reflexão sobre a violência religiosa contemporânea.

Historicamente a violência é um fenômeno inerente ao ser humano, os homens se valem desse instrumento de força para demonstrar a sua supremacia em relação aos demais seres. Diferentemente dos animais, que exprimem a violência como forma de manter seus domínios, o homem se vale da violência como forma de se auto-afirmar em relação aos congêneres. O homem, apresenta-se como o único ser que utiliza a violência para expressar razões, nem sempre compatíveis, com a sociedade contemporânea.

A violência, seja ela de qualquer tipo, nunca expressa com certidute as razões de sua ignorância. Se olharmos para a literatura dominante, seja ela expressa por vencidos ou vencedores, vamos verificar que ela é a tônica do inexplicável.

Como explicar, por exemplo, a escravidão negra, impostas por tribos africanas às outras tribos na África, que alimentavam o tráfico de escravos para a Europa e Américas. Como explicar a escravidão de outros povos pelos povos antigos, sejam narrados pela literatura ou pelos livros dos judeus e cristãos, já que o livro dos islamitas foi escrito apenas no século VII.

Perpassando pela história, vamos verificar que do ponto de vista econômico, a força de trabalho foi da escravidão – idade antiga, média e moderna, já que a abolição da escravatura só se materializa no século XIX – passando pela servidão - idade média e moderna – chegando finalmente ao trabalho remunerado, a partir da revolução industrial, com o contraponto das idéias presentes nas escolas marxistas que alegavam que o lucro era a expropriação do trabalho pelo capital. E sempre estava presente o estigma da violência, seja pela imposição da feitoria – na escravidão, na servidão e no trabalho – ou seja, pelo desrespeito ao ser humano – subjugo, violação de direitos e assédios morais e sexuais.

Mas nada de novo se concentra na gênese dessa violência, temo-na como produto de relações sociais e não analisamos outros ingredientes que interferem na sua gênese. Querer definir a violência como fenômeno social contemporâneo é desconsiderar toda a história das civilizações e fechar os olhos para ingredientes muito mais chocantes. Temos, com toda certeza, dois tipos de violência: a social e a religiosa. A social, típica dos desníveis sociais, principalmente em países de cultura fragilizada pela corrupção, inação dos poderes constituídos e omissão de política adequada à realidade da população – aqui se inclui o Brasil. A religiosa, decorrente do antagonismo entre islamitas e judeus num primeiro momento –

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países árabes e Israel - e islamitas e cristãos, decorrente do apoio aos países cristãos ao Estado de Israel.

Falar da violência social é discorrer sobre o óbvio ululante, aquilo que está bem à nossa frente e que não nos damos o trabalho de aprofundar, até mesmo porque requer maior responsabilidade de nós e não assumimos esta responsabilidade com o devido respeito que ela deve ser enfrentada.

Vamos imergir um pouco mais do que na superfície num tema que é mais discutido e nem sempre esclarecido: as raízes religiosas da violência no mundo contemporâneo. Como aqui, só temos o objetivo de anunciar o problema, não vamos aprofundar, mas expô-lo de modo a contribuir para o esclarecimento, mesmo que mínimo.

Os livros religiosos modernos, utilizados nas civilizações contemporâneas das Américas, Europa, Oceania, África e Ásia, têm como pai das três principais religiões a figura de Abraão, patriarca da Igreja e casado com Sara. Abraão não tinha filhos – sua esposa Sara não podia concebê-los – e foi autorizado por Sara a tê-lo com uma escrava – Agar – desse relacionamento nasce Ismael. Abraão, homem de fé inabalável, tem a graça de Deus, que permite que sua esposa Sara, já na velhice, conceba um filho – Isaac. Sara pede a Abraão que mande a escrava e o filho bastardo embora e Abraão assim o faz, no entanto, Deus na sua generosidade protege Agar e Ismael e dá a ele um povo, os Ismaelitas.

O povo de Ismael – os Ismaelitas – ao longo dos tempos, vão se firmando no cotidiano das civilizações e crescendo, tornando um povo de tradições arraigadas às suas crenças, costumes e tradições, no século VII, o último profeta do Islã, escreve o seu Livro Sagrado: Al Corão, um livro escrito por Maomé, com normas religiosas, sociais, econômicas e do direito, um livro que não se resume apenas na religião como fonte de Deus, mas a religião como fonte da doutrina do Estado, onde Deus deixa ao povo as regras para o sucesso na peregrinação terrestre até a morada eterna: o Paraíso.

O povo de Isaac – os Judeus e os Cristãos – são uma vertente da arca da aliança, são o povo que segue o caminho descrito por Deus até a chegada à terra prometida. Obviamente que o termo Cristão só se materializa com a passagem de Cristo pela terra.

Os Judeus continuaram a sua peregrinação pelo mundo e na infelicidade da submissão ao poder da Roma Antiga e para que se cumprissem as escrituras, crucificaram Jesus Cristo, fazendo nascer, então, uma nova religião e um novo povo: os Cristãos. Pela força e pelo poder de disseminação da religião, os Cristãos foram mais incisivos do que os Judeus e conseguiram difundir a religião com mais facilidade, até mesmo porque os Judeus se colocavam como únicos eleitos de Deus e por isso quem não eram Judeu não era digno das promessas de Deus.

Patrocinados pelo Estado Romano, após a conversão do Imperador Constantino, no século IV, o Cristianismo passa a ser a religião oficial de todo o Império e é difundida entre os povos conquistados.

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As cruzadas, sobretudo na Idade Média, marcam o confronto entre Cristãos e Islamitas pelo controle da Cidade de Jerusalém, a sede única das três grandes religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo. Ao final, os Cristãos são arrasados pelos Islamistas, fazem desaparecer os Templários - cavalheiros encarregados da proteção da cidade e dos caminhos de peregrinação à cidade de Jerusalém, como também os Hospitalários - os responsáveis pelo socorro desses peregrinos e dos Templários feridos em combate.

Historicamente, após retornar à Europa, os Templários foram dizimados pela ira do Estado Francês e pela subserviência do Papa, à época indicado pelo Rei da França. De servidores da Igreja, os templários, pela volúpia do Estado Francês, passaram a ser considerados inimigos e perseguidos pela Europa, sendo abrigados pelo Estado Português, nas chamadas Companhias de Jesus. O certo é que o controle das publicações pelo Estado e pela Igreja, durante o período das trevas, impedem o reconhecimento dos templários e a sua real importância para a Europa e a difusão do Cristianismo.

Recentemente o Papa João Paulo II, reconheceu o erro de interpretação, em relação ao Templários, isso quase 700 anos passados, mas o certo é que o documento original do Papa Clemente V, no século XIV, foi interpretado da forma mais conivente ao Estado Francês e não ao que a Igreja expressava.

Com o retorno dos Templários à Europa, os Islamitas, compreenderam a sua força e agiram de forma mais incisiva na Europa, principalmente na península Ibérica, atuais territórios de Portugal e Espanha, fato que se materializa pelas construções e costumes existentes até hoje. Os Ismaelitas – conhecidos ao longo dos tempos como mulçumanos, árabes, mouros – tinham uma forma peculiar de difusão da doutrina Islamita, quando dominavam um povo, permitiam a eles três opções: 1. Morrer para defender a sua religião; 2 converter-se ao Islamismo; ou 3. Continuar exercitando a sua religião e pagar impostos em função disso. Dessa forma, se disseminaram pela África, Europa e Ásia, durante boa parte da Idade Média, principalmente a partir das Cruzadas, difundindo e impondo a sua forma de vida social e religiosa.

No século XV, com a expulsão dos mouros da península ibérica, os Europeus se lançaram a uma nova jornada, a descoberta de novos territórios, a era das grandes navegações, era preciso criar entrepostos e produzir especiarias destinadas à Europa. Com essa nova era, os Portugueses e Espanhóis conquistam novos territórios e levam a religião cristã a esses novos territórios. Permitem aos povos conquistados, diferentemente dos mouros, duas opções: 1. Morrer para defender a sua religião; ou 2. Se converter ao Cristianismo – os chamados cristãos convertidos ou novos cristãos.

Os Judeus, com a força do Islamismo nas terras do Oriente Próximo, são exilados de suas terras e passam a vagar pelo mundo, até a criação do Estado de Israel, pela ONU, com a partilha da região da Palestina, no ano de 1948, naquele mesmo ano, já começam os primeiros atos de violência entre judeus e islamitas, isto logo após a instalação do Estado de Israel, haja vista que na Palestina ficariam o Estado Judeu – Israel e o Estado Árabe – Palestina.

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Os Judeus, que até então vagavam pelo mundo, voltam às suas origens, financiados por grandes empresas e pessoas, o Estado Judeu, investe contra os seus vizinhos e anexa novas fronteiras, fazendo crescer seu território, ao mesmo tempo em que convive com os Palestinos – sem Estado, aqui compreendido: povo, território, nação e soberania.

O sentimento de revolta com o mundo ocidental acirra confrontos entre islamitas e judeus, extrapola fronteiras e atinge os financiadores do Estado de Israel. Os problemas que na antiguidade eram de ordem religiosa apenas, passa a ser de hostilidade a tudo que for a favor de Israel.

A África e a Ásia próximas à península arábica - região com forte predominância da religião islâmica - tornam-se inimigos declaradas do Estado de Israel. Passam a usar da violência para manifestar a sua indignação com a criação do Estado Judeu, sobretudo após a anexação da cidade de Jerusalém e a declaração da cidade como Capital do Estado Judeu.

A alternativa do Estado de Israel para manter o seu território, proteger seu povo, afirmar a sua soberania e alargar o seu conceito de nação, encontra respaldo nos seus grandes financiadores e nos programas sociais de apoio ao povo da Palestina, que, no entanto, não são suficientes para amenizar as questões religiosas da violência.

O Estado Judeu, expressão utilizada para designar o Estado de Israel, cria nos demais países árabes uma revolta decorrente da utilização de um termo religioso para a designação de um Estado. A revolta não está na opção religiosa de Israel, mas na tomada de um termo religioso como contraponto de um Estado.

O povo árabe não concilia a idéia da utilização de um termo religioso – judeu - para a designação de uma instituição secular – Estado. Mas o que vem a ser isso? É a mesma coisa de se falar que a França, por exemplo, que tem a maioria da população católica, se chamasse Estado Católico da França, ou os Estados Unidos, que tem a maioria da população WASP, se chamasse Estado WASP dos Estados Unidos. Como se a religião, sentimento importante para o Árabe e que expressa a sua relação com Deus, fosse designativo de coisas seculares e ultrajantes a Deus.

A antinomia entre Judeus e Islamitas, pode ser percebida também entre Islamitas e Cristãos – casos clássicos na África, Ásia e Oceania, onde tribos de origem religiosas diferentes se enfrentam de forma a exterminar ou subjugar os integrantes adversos, como se a religião fosse mais importante do que a sociedade. Alguém mais centrado poderia dizer: “Mas essas tribos vivem em estágio inicial de civilização e não compreendem a dimensão dessa agressão”. Se assim pensarmos, o que dizer dos genocídios dos Bálcãs, onde os cristãos exterminaram os islamitas, ou ainda o que dizer da Irlanda onde Cristãos Católicos e Protestantes se matam, a par de uma separação construída por um monarca inglês, que não teve o seu casamento anulado pela igreja católica. Erro que a própria monarquia inglesa reconheceu e possibilita a partir de data recente o casamento de herdeiros do trono com Cristãos Católicos, coisa proibida até outubro de 2011.

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A violência religiosa contemporânea é assinaladamente marcante e de forma genocida, entre os próprios Islamitas onde os extremistas aniquilam seus irmãos e dizimam aldeias a partir da equivocada interpretação religiosa. O Iraque foi invadido pelos Estados Unidos e forças de coalizão a partir de uma Resolução da ONU que autorizou o uso da força para evitar o extermínio de xiitas pelos sunitas. E de onde vêm estes termos? Os sunitas são os seguidores do livro, seguem o que o Profeta Maomé escreveu como verdade e o interpretam literalmente. Os xiitas são os seguidores de Ali, genro do Profeta Maomé, casado com uma de suas filhas, de nome Fátima, a quem segundo eles deveria ser o sucessor do Profeta Maomé.

Lá no século VII, começa o primeiro desentendimento entre eles – os Islamitas Sunitas e Islamitas Xiitas – com a morte do Profeta Maomé é instituído o Califado, que tem apenas quatro Califas, pois após a morte deles, chegou-se a conclusão de que não seria uma idéia factível, afinal dos quatro primeiros califas, três foram assassinados. Iniciando uma guerra civil no coração do Islã, o que alguns historiadores chamam de a tormenta maior do Islã. O certo é que Cristãos e Islamitas nunca foram unanimidades entre eles, a separação entre Cristãos Católicos, Protestantes, Cooptas, Ortodoxos, levaram a algumas batalhas com conseqüências nefastas à humanidade, sem, no entanto, levar à intervenção beligerante patrocinada pela ONU. Diferentemente, a ação dos Islamitas Xiitas e Sunitas parece-se mais aniquilante e tem exigido a intervenção da força armada, caso mais recente da Líbia, onde grupos de diferentes etnias se uniram com um objetivo comum.

De tudo uma coisa é evidente, a única coisa que une Islamitas Xiitas e Sunitas é ódio ao Estado Judeu e isso tem levado os patrocinadores do Estado de Israel a se valer de novas armas para defender a sua existência e patrocinar a defesa do Estado Judeu, caso mais recente é a expressão Cristão Sionista, novo nome dado às denominações protestantes nos Estados Unidos e que não se sabe ainda a que nível de intolerância devem chegar.

Os extremismos já se mostraram maléficos ao longo da primeira década desse século, atentados nos EUA, Europa e algumas regiões da Ásia, África e Oceania foram reivindicados por grupos extremistas islâmicos e exigiram a intervenção armada patrocinada pela ONU, com certeza se ações como estas não fossem levadas a efeito pela ONU, poderíamos ter um caudal de violência religiosa muito maior do que vemos hoje.

Caso as ações perpetradas contra os grupos radicais Islâmicos, que em nada colocam em prática as lições do Profeta Maomé, em seu livro sagrado Al Corão, não tivessem sido exitosas, viveríamos as efemérides do caos.

Como escrevi no início, a intenção é apenas dar um mergulho superficial no tema e suscitar o questionamento, os livros sagrados são muito interessantes, nos fornecem elementos de apropriação do conhecimento e nos permitem especular num tema tão antigo quanto a humanidade.

Referências

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