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Circulação de livros em Goiás no século XIX

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Academic year: 2021

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Circulação de livros em Goiás no século XIX

Maria Erilânde Ferreira de Souza 1; Valdeniza Maria Lopes da Barra 2

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Bolsista PBIC/UEG, graduanda do Curso de Pedagogia, UnU Inhumas - UEG.

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Orientador, professora pesquisadora, UFG.

RESUMO

Este trabalho pretende demonstrar os resultados obtidos na investigação realizada a partir do projeto de pesquisa intitulado: Circulação de livros em Goiás no século XIX, projeto este vinculado ao núcleo temático: Cultura Material Escolar. Banco de Dados: Subsídios para estudos de história da educação em Goiás no século XIX. Este projeto tem o objetivo de pensar aspectos da circulação do livro em Goiás no século XIX. Os documentos utilizados nessa pesquisa são, os Relatórios do presidente do Gabinete Literário Goiano (1880-1881-1882-1884), Estatuto do Gabinete Literário Goiano de 1905, Relação dos livros do Gabinete Literário, Livro de movimentação de entrada e saída de livros, dentre outros.1

Palavras-chave: livro, leitura, Gabinete Literário Goiano.

Introdução:

O par livro e leitura constituem uma, entre tantas outras opções de acesso ao mundo da escrita. Para Roger Chartier, um dos mais reconhecidos historiadores da atualidade, com especialidade no livro e ênfase nas práticas de leituras, é necessário discutir sobre as várias possibilidades de acesso a textos, que o mundo contemporâneo traz às pessoas. A internet, uma das novas tecnologias, é uma dessas possibilidades, pois segundo Chartier “além de auxiliar no aprendizado, a tecnologia faz circular os textos de forma intensa, aberta e universal e, vai criar um novo tipo de obra literária ou histórica” (ZAHAR, 2007, p. 22). Este autor destaca ainda que a sociedade atual passa por uma verdadeira revolução no mundo da leitura e dos livros, devido à série de mudanças que vem ocorrendo nos três níveis: o nível da técnica, o nível da forma de suporte e o nível de práticas de leitura se

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transformado ao mesmo tempo. Essa constatação pode, em alguma medida, ajudar a pensar os dados de uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2007(O Popular), na qual as Bibliotecas são apontadas como o instrumento público mais presente em Goiás. No entanto, segundo pesquisadores e profissionais, estas bibliotecas apresentam muitas deficiências, como a queda na visitação a esses espaços, a desatualização do acervo de livros, que só é feita por doações de títulos usados. Ou seja, os alunos e demais leitores optam pelo novo ambiente virtual, preferindo pesquisar em sites onde encontram tudo pronto e simplesmente copiam o que desejam.

Diante de tais mudanças na contemporaneidade são facilmente perceptíveis as relações que se estabelecem entre o livro e a leitura. Entretanto, esse trabalho pretende mostrar alguns dados que informam sobre os processos de criação dos primeiros espaços de leitura em Goiás (biblioteca, gabinete literário) e como o livro e a leitura eram percebidos e apropriados pela sociedade goiana no século XIX. Vale ressaltar, que não pretendemos explicar o presente através do passado, mas, tentar compreender o livro e a leitura em Goiás no século XIX.

Material e Métodos:

Os passos iniciais de trabalho incidiram sobre o levantamento bibliográfico de literatura afim. Paralelamente às leituras iniciou-se o trabalho empírico junto aos relatórios dos presidentes da província de Goiás no século XIX e à exploração de relatório da presidência do Gabinete Literário Goiano, encontrados no Arquivo Histórico Estadual de Goiás.

Do trabalho realizado com os relatórios da presidência da província foram extraídos dados pertinentes aos interesses do Núcleo Temático Cultura Material Escolar e,como de resto, ao projeto como um todo (Banco de dados: subsídios para estudos históricos da educação de Goiás no século XIX). Daí se procedeu às leituras dos documentos encontrados no Arquivo Históricos Estadual de Goiás (AHE-GO): Relatórios do presidente do Gabinete Literário Goiano de 1880-1881-1882-1884, Estatuto de 1905, sendo que, estes documentos foram lidos e transcritos na sua íntegra.

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objeto temático fonte a ser ainda mais explorado, redefinindo a direção para se pensar a circulação dos livros em Goiás no século XIX.

A necessidade de conhecer o próprio Gabinete Literário Goiano (Cidade de Goiás) se tornou um imperativo. Lá, foram encontrados alguns documentos como: Registros de entrada e saída de livros dos sócios de 1879, Relação dos livros existem no Gabinete em 1872. Onde foram transcritos parcialmente.

Resultados e Discussão:

De acordo com estudo realizado por Cynthia Greive Veiga (2001, p.186), os primeiros “espaços culturais como biblioteca e gabinetes de leitura” foram vistos pela primeira vez no Rio de Janeiro em meados do século XIX. Esses espaços eram sempre freqüentados por uma elite letrada.

Em Goiás, parece não ter sido diferente, pois o Gabinete de leitura foi constituído a partir de “uma sociedade, composta dos homens mais representativos da Capital, homens que liam ou poderiam ler com proveito bons autores” (BRETAS, 1991, p.408-409). Com isso, pode-se perceber que o Gabinete de leitura não foi pensado para o público em geral, mas, para uma minoria letrada. Os sócios do Gabinete Literário Goiano, como se pode identificar nas leituras de Bretas (1991) e nos relatórios do Gabinete (1880 a 1884), eram médicos, políticos, dentre outros. Mas vale destacar, que, de acordo com o Estatuto de 1905, no art. 4º, todos o público geral poderia fazer parte desta sociedade, desde que fossem considerado idôneo e que estivesse de acordo com as exigências propostas aos sócios, detalhadamente descritas no Estatuto.Veja-se abaixo algumas exigências que o Estatuto de 1905, fazia a seus sócios.

Art.30 Os socios effectivos pagarão mensalmente a quantia de 1$000 e por adiantamento. Art.34 Nenhum socio poderá retirar-se do Gabinete sem que tenha feito entrega dos livros ou outros objectos que estejam em seu poder e sem que esteja quites com a thesouraria.

De acordo com o Estatuto do Gabinete Literário Goiano de 1905, o gabinete era uma instituição particular e restrita aos seus sócios, que visava uma educação por meio de leituras diversas. Tal afirmação pode ser conferida no art.1º do Estatuto. Vejamos:

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Art. 1º. O Gabinete litterário tem por fim promover a educação scientifica e litteraria de seus sócios, por meio de estudo e leituras de obras, e jornaes scientificos e litterarios e tambem por intermédio de conferencias publicas. (Fonte: Estatuto do Gabinete Literário de 1905. Encontra-se no AHE-GO, Caixa nº 03)

Mas, pode ser destacada no mesmo documento a possibilidade desse espaço vir a ser freqüentado e utilizado pelo público em geral. Isto se daria quando o Gabinete ocupasse um espaço onde pudesse atender a todos. Assim, o art. 6º expõe tal possibilidade.

Art. 6º. A biblioteca será franqueada ao publico logo que o Gabinete adquirir um prédio, com as necessárias accomodações para o salão de leitura, completamente mobiliado e com livro próprio para assentamento do livro pedido pelo leitor. (Fonte: Estatuto do Gabinete Literário de 1905. Encontra-se no AHE-GO, Caixa nº 03).

Tais sócios poderiam ler todos os tipos de leitura, demonstrando assim uma certa liberdade de escolha das leituras, já que os mesmos tinham a abertura para participar da escolha dos títulos dos livros adquiridos pelo Gabinete, como consta no art. 32.

Art. 32 os sócios poderão apresentar por escripto á directoria qualquer indicação para a aquisição de livros, jornaes, revistas, etc, e quaesquer outros melhoramentos que tenham em vista para o desenvolvimento do Gabinete. (Fonte: Estatuto do Gabinete Literário de 1905. Encontra-se no AHE-GO, Caixa nº 03).

Outros documentos que foram trabalhados foram os relatórios do Gabinete Literário, datados nos anos de 1880, 1881,1882 e 1884, pertencem à gestão do então presidente Dr. Francisco Antônio de Azeredo, e são divididos em duas partes. Na primeira parte, dos relatórios, é apresentada a movimentação financeira, de sócios, de empréstimos de livros, compras de livros e materiais do Gabinete Literário. Na segunda parte dos relatórios são abordados diferentes temas que o presidente apresenta com relativa freqüência.

Conclusões:

Os resultados até aqui encontrados, podem ser considerados ainda inconclusos. Visto que, a documentação com a qual se trabalhou fortalece algumas idéias, como por exemplo: a criação de um espaço de leitura para a elite letrada goiana, indiciando assim um suposto Projeto Educacional da Sociedade Goiana no século XIX. Mas, ao mesmo tempo a

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pode ser considerado como a primeira biblioteca pública de Goiás? O acesso às obras que faziam parte do acervo do Gabinete Literário seria de acesso a todos?Outro aspecto importante é com relação à diferença entre o tipo de leitura que os sócios do Gabinete faziam, ligados mais aos seus interesses pessoais, como: leituras de romances. Ao contrário da proposta apresentada pelo então Presidente do Gabinete Literário Goiano Antônio de Azeredo, que em seus relatórios demonstra uma preocupação pelas questões públicas.

Referencias bibliográfica:

BRETAS, G. História da Instrução Pública em Goiás. Goiânia: Editora da UFG, 1991.

CHARTIER, R. Do livro à leitura. In.:______(Org.). Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 77-110.

CARVALHO, Guido de Oliveira. Formatação de textos acadêmicos. Inhumas: UEG, 2008.

DUTRA, Eliana Regina de Freitas. O almanaque Garnier, 1903-1914: ensinando a ler o Brasil, ensinando o Brasil a ler. In: ABREU, M. (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP, 1999, p. 313-333.

FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. Bibliotecas de médicos e advogados no Rio de Janeiro: Dever e lazer em um só lugar. In: ABREU, M. (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP, 1999, p. 313-333.

Jornal O Popular, de 23 de Setembro de 2007.

MARTINS, A. L. Gabinetes de Leitura do Império: casas esquecidas da censura? In: ABREU, M. (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP, 1999, p. 395-410.

MORAIS, Chistianni Cardoso. Os caminhos do livro. Revista Brasileira de História da Educação. SBHE (Sociedade Brasileira de História da Educação).São Paulo, n.12, p.197-206, 2006.

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MOYSÉS, S. M. A. Literatura e história: imagens de leitura e de leitores no Brasil do século XIX. Revista Brasileira de Educação. Campinas, São Paulo: Editora Autores Associados, 1995, p. 53-62.

TAMBARA, Elomar. Livros de leitura nas escolas de ensino primário no século XIX no Brasil. 2001. Trabalho com resultado parcial de pesquisa – CEIHE (Centro de Estudos e Investigações em História da Educação) – UFPEL.

VEIGA, C. G. Historia da educação. São Paulo: Ática, 2001.

VAZ, Marcelo. Sobre a Historia do livro no Brasil. DISPONÍVEL EM: <http://revistaentrelivros.uol.com.br/edicoes/3/artigo8792-1.asp> Acesso em: 26/05/08.

Fontes documentais:

Arquivo Histórico Estadual de Goiás (AHE – GO): • Estatuto do Gabinete Literário Goiano de 1905.

• Relatórios do Presidente do Gabinete Literário Goiano de 1880 – 1881 – 1882 – 1884.

Gabinete Literário Goiano (Cidade de Goiás):

• “Dezignações das Obras Sahida e entrada das mesmas. Nomes dos Snres. Sócios com os quais se acham as mencioandas obras 1879”.

• Catálogo dos livros existentes no Gabinete Literário Goiano em 1872 (livros em portugues, em francês e em brochuras).

Referências

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