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Livro Testes Entre Palavras 10

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Academic year: 2021

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Índice

1.

Testes de diagnóstico ...4

2.

Testes-modelo IAVE ...12

3.

Testes de compreensão do oral ...68

4.

Anexos ...84

5.

Soluções ...90

5.

Soluções... 90

Critérios gerais de classificação

dos testes ...84

Matriz dos testes de diagnóstico ...86

Matriz dos testes-modelo IAVE ...87

(3)

1.

Testes de

(4)

GRUPO I

A

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados. Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto1  enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas2. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da  blusa, por cima do busto, com balas3. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão­postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife4  mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima5  palavras como «data natalícia» e «saudade». Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.  Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de  cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem  notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar­lhe emprestados os livros que ela  não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como  casualmente, informou­me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo­o, dormindo­o.  E, completamente acima de minhas posses. Disse­me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que  ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar  num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado6 como eu, e sim  numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse­me que havia emprestado o livro a outra  menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá­lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a  esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo  estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava­me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais  tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não  caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e  diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para  ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia  eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do «dia seguinte» com ela ia se repetir com meu  coração batendo. Clarice Lispector, «Felicidade clandestina», in Contos de Clarice Lispector, Lisboa, Relógio d’Água, 2006. Vocabulário

1seios;2os seios não se notavam ainda;3rebuçados; 4cidade do nordeste brasileiro;5muito bem desenhada; 6edifício com vários andares

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Divide o texto em duas partes lógicas, justificando.

2. Caracteriza psicologicamente a narradora, tendo principalmente em atenção a sua relação com a leitura. Teste de diagnóstico

1

-5 -10 -15 -20 -25 -30

(5)

-3. Para sugerir a sua felicidade perante a perspetiva de poder ter acesso a um livro que muito desejava ler, a narradora serve-se de uma sucessão do mesmo recurso expressivo. Identifica-o apresentando pelo menos um exemplo.

4. Explica por que razão a narradora ficou «Boquiaberta», l. 23, quando percebeu que não iria receber o livro emprestado.

B

Escreve um texto que tenha entre 80 e 130 palavras no qual apresentes um livro que tenhas lido e  aconselhes outros jovens da tua idade a lê­lo.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário.

Inês de Castro e o seu tempo

A figura de Inês de Castro, na aventura amorosa que viveu com D. Pedro, herdeiro do reino de Portugal, bem como a sua morte trágica, quase sempre é evocada em termos romanceados, tendo servido de mote a uma gama variada de expressões artísticas. Mas certo é que esse acontecimento deve ser explicado pela investigação histórica inserido no conhecimento genérico do tempo em que ocorreu. De facto, Inês de Castro não era uma dama de família desconhecida. Antes pertencia a um núcleo que, no reino vizinho1, engrossava as fileiras de uma oposição senhorial2com que o respetivo rei

permanentemente se confrontava. Por isso, a sua ligação ao reino de Portugal, nomeadamente ao herdeiro do trono, não estava isenta de consequências políticas. Importa, pois, analisá-las para que possamos perceber as circunstâncias concretas que poderão explicar a atitude de Afonso IV de Portugal ao consentir no assassínio da jovem apaixonada de seu filho e herdeiro.

Essas explicações não poderão cingir-se à política interna portuguesa, às rivalidades sociais, ou aos problemas económicos, mas deverão enquadrar-se no todo peninsular, onde importa confrontar sobretudo a política luso-castelhana, nas relações de proximidade entre os reinos no período que decorreu entre 1325 e 1369. Quer isso dizer que importa entender, por parte de Portugal, os reinados de D. Afonso IV (1325-1357) e de D. Pedro I (1357-1367) e, em Castela, a parte final do reinado de Afonso XI (1312-1350) e o de Pedro, o Cruel (1350-1369).

Mas impõe-se ainda ter presente que toda esta ação decorre no século XIV, século marcado por um cortejo de calamidades que tiveram amplas repercussões a nível social, económico e, obviamente, político, nos reinos do ocidente europeu. Tradicionalmente, caracteriza-se esse século como o do outono da Idade Média3, mas também como o século «das fomes, das pestes e das guerras», desastres capazes de

alterar o processo dos reinos que, depois do século XI, tinham iniciado um caminho de reorganização de instituições e reconhecimento do poder régio. Precisamente esse caminho visava a recuperação da autoridade dos monarcas, o que exigia o domínio dos grandes poderes senhoriais-feudais, que haviam caracterizado o tempo anterior.

Ora, de entre os desastres que marcaram o novo século, devemos distinguir dois que tiveram uma extraordinária dimensão e de algum modo foram pano de fundo em muitas das situações calamitosas vividas na Europa de Trezentos: a Guerra dos Cem Anos que, iniciada em 1337, se estenderia, ainda que com algumas interrupções, até 1453, e a Peste Negra, com um período de ação fortíssima, que decorreu -5 -10 -15 -20 -25

(6)

-1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 A história amorosa de Inês de Castro deu origem

(A) a muitos romances.

(B) a investigações históricas.

(C) a poemas, romances, peças de teatro, quadros.

(D) a expressões figurativas.

1.2 Para se compreender bem a história de Inês de Castro, é necessário

(A) conhecer o contexto histórico da época em que se desenrolaram os acontecimentos.

(B) conhecer bem quem era a família de Inês de Castro.

(C) saber quem, em Espanha, se opunha ao rei.

(D) compreender as consequências políticas da ligação de Inês a Pedro de Portugal.

1.3 Para se perceber porque é que D. Afonso IV consentiu o assassínio de Inês de Castro, é preciso conhecer bem

(A) a realidade política europeia da época.

(B) a realidade política portuguesa da época.

(C) a realidade política da Península Ibérica da época.

(D) os reinados de D. Afonso IV e de seu filho D. Pedro I.

1.4 O texto refere o conjunto de desgraças que caracterizam o século XIV através de uma

(A) hipérbole.

(B) anáfora.

(C)comparação.

(D) metáfora.

1.5 A relação que a autora estabelece, no terceiro parágrafo, entre as «calamidades», l. 16, nele referidas e determinados acontecimentos políticos é de

(A) possibilidade.

(B) causalidade.

(C) consequência.

(D) oposição.

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica, justificando, o processo de formação presente na palavra «luso-castelhana», l. 13, (texto do Grupo II).

2.2 Indica a função sintática da expressão destacada em «que haviam caracterizado o tempo anterior.», ll. 23-24, (texto do Grupo II).

2.3 Classifica a oração subordinada presente em «disse-me que havia emprestado o livro a outra menina»,

ll.24-25, (texto do Grupo I).

GRUPO III

Ler por prazer é uma atividade a que se dedicam jovens e pessoas de todas as idades.

Escreve um texto de opinião, que pudesse ser publicado num jornal escolar, no qual demonstres a importância da leitura.

(7)

Teste de diagnóstico

2

GRUPO I

A

Lê o texto seguinte.

As armas e os barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando: Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.

Luís de Camões, Os Lusíadas, 3.aedição, Porto, Porto Editora, 1987.

(Edição organizada por Emanuel Paulo Ramos)

1. Identifica o texto, inserindo-no na estrutura interna da obra a que pertence.

2. Refere os vários assuntos presentes nas duas primeiras estâncias que vão ser alvo do canto do Poeta. 3. Na terceira estância, está implícita a expressão do sentimento de orgulho. Refere as causas que estão

(8)

B

Escreve um texto no qual, recorrendo à tua experiência de leitura, exponhas os motivos de crítica apresentados por Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno ou no Auto da Índia em relação ao Fidalgo ou a Constança, respetivamente.

O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário.

Preparação para uma viagem de autonomia – por Filomena Gomes

A preparação para uma viagem de bicicleta em autonomia não é nova para nós. Na verdade, há alguns anos que o fazemos. Começámos com pequenas viagens, de 2 ou 3 dias, e fomos evoluindo para viagens um pouco maiores, à medida que a paixão pelas viagens e pela bicicleta crescia. Primeiro andámos por Portugal, depois fomos até Espanha, percorrendo os vários Caminhos de Santiago e depois mais longe, pela Europa e não só.

Gostávamos que as pessoas percebessem e se convencessem que não é preciso ser dotado fisicamente para fazer isto; basta ser empenhado e esforçado. Também não é preciso ser rico ou dispor de grandes recursos financeiros para colocar em prática uma viagem em bicicleta; nós até somos adeptos do low cost, e poupamos o mais possível durante estas nossas viagens. Nem tão pouco é preciso estar desempregado ou abandonar o emprego ou a vida que se tem para poder viajar em bicicleta; basta guardar as férias a que se tem direito por lei e utilizá-las nestas viagens. Pois outra coisa não sabemos fazer e não gastamos nem férias nem dinheiro em cruzeiros, excursões ou viagens exóticas organizadas. A organização fazemos nós, os locais exóticos somos nós que os delineamos, com estudo de percursos/tracks de GPS, alojamentos, infraestruturas existentes, tudo retirado da Internet, de sites oficiais ou de blogs e fruto de muitos, muitos pedidos de colaboração com pessoas que sabemos já terem pedalado nos locais onde queremos ir. Estas pessoas são muitas vezes desconhecidas, que encontramos online, portugueses ou estrangeiros, e após as sucessivas conversas via e-mail e trocas de informação, tornam-se verdadeiramente nossas conhecidas de há muito tempo!

O mundo é simples, é um título de um livro de Gonçalo Cadilhe, e é verdade! As pessoas estão dispostas

a dar o que têm. Não só fornecem voluntariamente a informação de que dispõem para ajudar quem quer viajar, como também, em viagem, as pessoas que se encontram por esse mundo fora são, regra geral, amistosas. Convidam-nos para sua casa. Oferecem de comer e de beber. Conversam. Apreciam e admiram. Gostam de saber e de conhecer. Incentivam. E são generosas e bem-intencionadas. Independentemente do local do mundo. Os viajantes em bicicleta não são alvos a abater. Pelo contrário, chamam a atenção pela simplicidade do seu meio de transporte e não atraem a cobiça alheia, pois são encarados como gente despojada de grandes bens. Por isso, atrevam-se, partam e não receiem pois quem não se atreve, mais tarde lamentará não o ter feito…

Viajar de forma simples significa também ser simples na bagagem, sobretudo quando temos de carregar tudo numa bicicleta! Assim, basicamente, o que carregamos para uma viagem de 3 dias é o mesmo que carregamos para uma viagem de 1 mês, por estranho que possa parecer! A roupa lava-se diariamente e há truques para ajudar à secagem. (…) Também temos de ser simples e contidos nos artigos de higiene e dormida. Bolsas, necessaires1 e carteiras só fazem peso e volume; há que acondicionar tudo em sacos de

plástico e ter o cuidado de transportar roupa e saco-cama (forçosamente de pequeno peso e volume) em sacos estanques, para o caso de chuva.

A nossa preparação física não é específica. Desde há vários anos que temos hábitos desportivos diários. Sabemos que estamos fisicamente preparados porque temos experiência e, por isso, temos noção do que é pedalar dias e dias seguidos, numa média de 100 km diários, com alforges2 a pesar 10 ou 15 kg, com chuva,

(continua) -5 -10 -15 -20 -25 -30 -30

(9)

-35 -40 -frio e vento, ou com calor abrasador. Na realidade, o fator físico é aqui secundário. O principal é o fator psicológico, é a determinação mental em prosseguir, aconteça o que acontecer, o caminho é para a  frente. Ninguém fica no meio de uma montanha ou de um deserto. Se ficar, por motivo de uma avaria  ou intempérie, há que manter a calma, analisar a situação e decidir em conformidade. Mas tudo tem  solução e há que ser forte, flexível e ter espírito de sacrifício. Ninguém se perde, pois os preciosos GPS Garmin indicam o caminho a seguir, bem como as estradas/vias alternativas existentes por perto. (…) Manter o espírito aberto, ser otimista, permeável ao que nos rodeia e bom observador, são estas as  chaves para qualquer viagem em bicicleta. Uma certa dose de audácia, boa disposição e pronto! http://eupedalo.blogs.sapo.pt/62203.html (Texto adaptado, com supressões, consultado em 24-10-2014)

Vocabulário

1pequena bolsa para colocar objetos de toilette; 2tipo de saco

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta.

1.1 Na opinião da autora, as qualidades que permitem o sucesso no tipo de atividade desportiva que refere são de natureza

(A) exclusivamente física.

(B) física e psicológica.

(C) mais física do que psicológica.

(D) principalmente psicológica.

1.2 A referência ao livro de Gonçalo Cadilhe O mundo é simples, l. 19, serve para

(A) apresentar um livro que aconselha solidariamente sobre como viajar de bicicleta.

(B) indicar um livro que comprova a solidariedade recebida por quem viaja de bicicleta.

(C) indicar um livro que comprova a solidariedade oferecida por quem viaja de bicicleta.

(D) apresentar um livro que aconselha sobre como ser solidário para quem viaja de bicicleta. 1.3 De acordo com o quarto parágrafo, ll. 28-34, a simplicidade em viagem deve incidir sobre

(A) toda a bagagem.

(B) a maior parte da bagagem.

(C) a bagagem mais importante.

(D) a bagagem menos útil.

1.4 A função da tecnologia referida no quinto parágrafo, ll. 30-38, é

(A) ajudar à preparação física.

(B) contribuir para a preparação psicológica.

(C) possibilitar a orientação.

(10)

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica qual o processo fonológico que se verifica na passagem da «alevanta», v. 8, estância 3, para

levanta (texto do Grupo I).

2.2 Identifica a função sintática da expressão «empenhado e esforçado», l. 7, (texto do Grupo II).

2.3 Classifica a oração subordinada presente na frase «Sabemos que estamos fisicamente preparados», ll. 31, (texto do Grupo II).

GRUPO III

A juventude é uma fase da vida frequentemente associada ao desporto e ao exercício físico. Escreve um texto de opinião, que pudesse ser publicado num jornal escolar, no qual demonstres a importância da atividade física para um harmonioso desenvolvimento pessoal dos jovens – física e psicologicamente.

(11)

2.

Testes-modelo

(12)

GRUPO I

A

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Relato de viagens

Em viagem pelo Afeganistão

MAZAR-I-SHARIF, 27 de maio Esta cidade deve a existência a um sonho.

No tempo do sultão Sanjar, que reinou na primeira metade do século XII, chegou a Balkh, vindo da Índia, o boato de que o túmulo de Hazrat Ali, o quarto califa1, se encontrava ali perto. Tal ideia foi negada

por um dos mullahs2locais, o qual acreditava, como ainda acontece hoje com a maioria dos xiitas3, que o

túmulo se achava em Nejef, na Arábia. Então o próprio Ali apareceu ao mullah em sonhos e confirmou o boato. O túmulo foi encontrado, e o sultão Sanjar mandou erigir um santuário sobre ele, que ficou pronto em 1136 e se transformou no núcleo da cidade atual.

O santuário foi depois destruído por Gengis Khan4. Em 1481, substituiu-se o primeiro santuário por

outro, a pedido de Hussein Baikara, que no ano anterior estivera em campanha em Oxiana. Desde então, Mazar passou a ser um local de peregrinação, destituindo gradualmente as ruínas de Balkh, cidade atacada pela febre, tal como Mashad substituiu Tus pelo mesmo processo em Coraçone.

MAZAR-I-SHARIF, 28 de maio Em frente ao hotel há um jardim público, onde florescem cravos-dos-poetas, bocas-de-lobo e até primaveras. Entre os canteiros, dispuseram-se banquinhos, bem como esteiras5, que são mais populares, e

onde as pessoas se sentam com bebidas, enquanto ouvem música. Há duas bandas. A primeira – uma fila de velhotes com instrumentos de metal – está ao sol. Sabem três músicas europeias e são acompanhados por dois jovens, que se encontram atrás deles e batem cada compasso nos ferrinhos e no tambor. A outra banda, em pose indolente em cima de um estrado à sombra de uma árvore, toca música indiana com uma viola, vários tambores e um harmónio pequeno. Ficamos a ouvir música dos nossos quartos, com janelas de sacada que dão para uma varanda nas traseiras do jardim.

Todas as tardes, quando as nuvens se aglomeram sobre as montanhas, abate-se sobre a cidade uma lassitude6irresistível. As moscas e um calor húmido invadem o quarto. Os cacarejos de perdizes levaram

os meus devaneios para uma tarde de setembro em casa, até que me lembrei que deviam aguardar uma luta. Porquê estas nuvens? Está bastante calor, mas o verão já devia ter-se instalado há seis semanas. Não há memória de um ano semelhante. A chuva da noite em que chegamos fechou a estrada para Cabul7

durante um mês. Em Haibak, houve uma aldeia inteira que caiu para o desfiladeiro. Se prosseguirmos a cavalo, como talvez se venha a revelar necessário, teremos de montar acampamento.

Robert Byron, A estrada para Oxiana, Lisboa, Tinta da China, 2014, pp. 355-358. (Texto adaptado)

Vocabulário e notas

1o quarto dirigente máximo da religião muçulmana, o terceiro depois de Maomé; 2espécie de sacerdotes muçulmanos; 3um dos dois ramos principais da religião muçulmana; 4guerreiro lendário mongol que conquistou grandes territórios na Ásia; 5espécie de tapetes; 6diminuição de interesse; enfastiamento, tédio; 7capital do Afeganistão

Sequência 1 Teste de avaliação

1

-5 -10 -15 -20 -25

(13)
(14)

-Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Identifica, justificando, o tema dominante no texto.

2. Comprova que a variedade de temas é uma característica deste relato de viagens.

3. As dimensões narrativa e descritiva são evidentes no texto. Apresenta exemplos que comprovem esta afirmação. 4. Sensações e sentimentos do narrador estão presentes nos dois últimos parágrafos. Explicita essa presença.

B

Para os adolescentes, a viagem, principalmente com amigos e em férias, é uma tentação sempre presente. Escreve um texto no qual procures explicar porque é que assim sucede. O teu texto deve ter entre 80 e 130 palavras.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Exposição sobre um tema

A viagem feminina

Historicamente, a viagem feminina tem sido de modo geral considerada de natureza mais íntima e confessional do que a viagem masculina. Mas ignorar na mulher o ânimo de conquista ou exploração, tradicionalmente associado ao universo masculino, significa obliterar1, por exemplo, os meses que Alexandra David Néel2

passou tentando tornar-se na primeira ocidental a entrar em Lhasa3, na altura um

território proibido a estrangeiros; ou ignorar o mapeamento da região do nordeste do Irão feito por Freya Stark (1893-1993) enquanto buscava os castelos da histórica seita dos Assassinos. Ou mesmo a infortunada holandesa Alexandrine Tinne (1835-1869), que perdeu a vida no Saara, em busca da fonte do Nilo.

Estas mulheres foram aventureiras e procuraram ser as primeiras nas

explorações que se propunham fazer. Assim, não se pode negar que a vontade de mapear4existiu em numerosos casos. A diferença em relação ao homem surge na

maneira como a história é contada e recebida pelo público, bem como em todos os constrangimentos levantados pelo facto de ser uma mulher, e não um homem, a narrar a aventura.

Até bem adiantado o século XX, uma mulher que viajasse só era objeto de espanto, curiosidade ou escândalo, quando não o conjunto dos três sentimentos, traduzindo a estupefação perante uma representante do sexo «fraco» a aventurar-se no mundo dos homens.

Esta estranheza perante a mulher que se desloca é uma ideia dominante nos diversos livros de conduta que ao longo dos séculos foram aparecendo sobre as mulheres. Num deles, em que se dão conselhos a jovens solteiros – The art of governing a wife (1747) –, afirma-se claramente: «É suposto os homens irem para fora e arranjarem a sua vida, lidar com outros homens, tratar de todos os assuntos de portas abertas.» -5 -10 -15 -20

(15)

-1

-25 -30

-Mas sim, elas viajam, e fazem-no cedo como peregrinas, missionárias, monjas, mulheres de exploradores ou missionários, até que no século XIX, apesar de ainda se julgar estranha a mulher viajante, se assiste à grande explosão da mobilidade feminina. As saint-simmoniennes5em França e sobretudo as vitorianas5

inglesas dão o exemplo e partem em viagens de conhecimento e exploração:

Nós, duas mulheres (…) descobrimos e afirmamos que as mulheres sozinhas viajam muito melhor do que com homens: elas obtêm o que querem de uma forma calma e sempre conseguem levar a sua avante, enquanto os homens vão ficar seguramente nervosos e armar confusão se as coisas não estão imediatamente como eles querem.

Sónia Serrano, Mulheres viajantes, Lisboa, Tinta da China, 2014, pp. 27-29. (Texto adaptado)

Vocabulário e notas

1apagar, esquecer; 2nascida em 1868; 3principal centro religioso do Nepal; 4elaborar os primeiros mapas de certas regiões; 5saint-simmoniennes (…) vitorianas – mulheres viajantes do século XIX, respetivamente francesas e inglesas

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 A frase que melhor sintetiza o conteúdo deste texto é

(A) As mulheres só tardiamente começaram a viajar.

(B) As mulheres souberam ganhar o direito à viagem.

(C) As mulheres começaram a viajar muito depois dos homens.

(D) As mulheres são melhores viajantes do que os homens. 1.2 De acordo com o primeiro parágrafo, ao longo do tempo, considerava­se que as mulheres viajavam

(A) somente para expressar sentimentos e emoções.

(B) principalmente para realizar explorações e elaborar mapas.

(C) também para realizar explorações e elaborar mapas.

(D) também para expressar sentimentos e emoções. 1.3 A «estranheza» referida no texto, na l. 16, derivava de condicionalismos e preconceitos de ordem

(A) psicológica.

(B) social.

(C) económica.

(D) física. 1.4 A condição de viajante das mulheres, historicamente considerada, expressa­se no texto através de uma

(A) antítese.

(B) metáfora.

(C) comparação.

(D) enumeração.

(16)

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica o processo de formação presente na palavra «cravos-dos-poetas», l. 12, (texto do Grupo I). 2.2 Indica a função sintática da expressão destacada na frase:

Essas mulheres estavam admiradas com a paisagem.

2.3 Classifica a oração destacada na frase «Ou mesmo a infortunada holandesa Alexandrine Tinne (1835-1869), que perdeu a vida no Saara», l. 7, (texto do Grupo II).

GRUPO III

Hoje em dia, é frequente entidades como câmaras municipais ou juntas de freguesia proporcionarem viagens ou excursões a pessoas idosas.

Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, expõe as tuas ideias sobre a importância destas viagens para essas pessoas.

(17)

Sequência 1

Teste de avaliação

2

GRUPO I

A

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.

Apreciação crítica de livro

Ingredientes vitais

Ricardo Ribeiro

Breve História de Quase Tudo, de Bill Bryson

Tradução de Daniela Garcia

Lisboa: Quetzal Editores, 2003, 496 pp.

Os livros de ciência acessível a todos podem ser considerados um género próprio, apesar do lugar onde colocam a tal ciência ficar muito discutivelmente à mão de verdadeiramente «todos». Este tipo de obras surge com alguma frequência no nosso mercado, com balizas temáticas mais ou menos definidas. Um dos históricos, será Cosmos, de Carl Sagan, e, para completar o enquadramento, teremos em Ao Encontro de

Espinosa, de António Damásio, um dos mais recentes casos.

É à luz desta categoria que deveremos observar Breve História de Quase Tudo, cuja primeira particularidade pode ser assinalada no percurso profissional e literário do seu autor, Bill Bryson.

Basicamente desde sempre, Bryson escreveu sobre viagens. Os seus travelbooks1 são famosos, sobretudo no

mundo anglo-saxónico, e a sua presente incursão no ramo da ciência terá surpreendido muita gente. Segundo as suas palavras, o desejo de escrever algo assim partiu dos seus pesadelos enquanto jovem aluno, obrigado a encarar a ciência com materiais de estudo pouco claros e extremamente aborrecidos. Vai daí, decidiu arranjar maneira de pintar todas essas cinzentas matérias com cores bem mais alegres, e aqui temos este Breve

História de Quase Tudo.

E quando escolheu o título, não estava a brincar! Na realidade, ao longo das suas quase quinhentas páginas, uma infinidade de ciências é desdobrada perante o atónito olhar do leitor, que nem se apercebe da passagem de uma para outra. Geologia, paleontologia2, sismologia, antropologia, física quântica, química,

farmacologia... um leitor apenas terá de escolher, porque qualquer ramo da ciência que lhe ocorra terá elevadas probabilidades de se encontrar representada neste extenso tratado.

A divisão dos capítulos não coincide obrigatoriamente com a transição entre estas áreas do saber; nem o ritmo adotado por Bryson o permitiria, tal é a velocidade com que muda de assunto. Não pense o leitor que por ação desta dinâmica as coisas são expostas de forma atabalhoada e superficial. Bom, superficial talvez, que afinal de contas este livro é sobre quase tudo, mas há aqui margem para vários conceitos, e não poderá mesmo assim ser de ânimo leve que se classificará o texto de superficial.

Uma das características da escrita do autor é o humor despretensioso com que se exprime. Por incrível que possa parecer, quem lê este livro pode dar consigo mesmo a rir literalmente à gargalhada, perante as situações narradas, mas, sobretudo, pela forma como estas são descritas por Bryson. (…)

Quanto à edição portuguesa da Quetzal Editores, há que se lhe tirar o chapéu: «plasticamente» muito agradável, é enriquecida por um excelente trabalho de tradução assinado por Daniela Garcia.

-5 -10 -15 -20 -25

(18)

-Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Identifica, justificando, o tema dominante no texto.

2. Divide-o em três partes lógicas, justificando.

3. Apresenta uma justificação plausível e adequada ao sentido geral do texto para o uso do sinal de pontuação com que termina a frase «E quando escolheu o título, não estava a brincar!», l. 13.

4. O texto apresenta pelo menos uma característica do livro que pode ser alvo de crítica e duas que são obviamente positivas. Justifica esta afirmação, com base em elementos textuais pertinentes.

B

A edição de livros de divulgação científica tem em Portugal uma expressão e tradição notáveis. Existe mesmo uma coleção, «Ciência aberta», da responsabilidade da editora Gradiva, que é escolhida até por autores estrangeiros para lançamento mundial de obras suas. Entre muitos outros títulos, nesta coleção foi editado o famoso Cosmos de Carl Sagan, que deu origem a uma conhecida série televisiva e ao filme

Contacto, com Jodie Foster.

Escreve um texto no qual indiques justificadamente se, na tua opinião, é preferível ler um livro ou ver uma série televisiva ou um filme nele baseado.

O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Artigo de divulgação científica

Planeta para ET

1

Há lugares na Terra cujas condições, verdadeiramente extremas, não ficam atrás das que reinam em certas luas e planetas, e onde prosperam criaturas que proporcionam pistas sobre como poderá ser a vida extraterrestre.

Na cada vez mais febril procura de planetas habitáveis noutros mundos, dentro e fora do nosso Sistema Solar, os astrobiólogos descobriram que não é preciso mergulhar nos lagos de metano de Titã (uma das luas da Saturno), perfurar rochas marcianas ou submergir sob a espessa camada de gelo de Europa (satélite de Júpiter) para encontrar vida extraterrestre ou imaginar como poderá ser. No segundo caso, existem no nosso próprio planeta recantos que abrigam micro-organismos tão espantosamente resistentes, obstinados2e adaptáveis a ambientes extremos como os que poderiam habitar outros mundos.

Enquanto se espera que a tecnologia, a vontade política e o dinheiro permitam o ideal, que seria viajar diretamente para esses sítios longínquos em busca de vestígios de vida, cientistas como Chris McKay, astrobiólogo do Centro de Investigação Ames da NASA, na Califórnia, estudam cenários terrestres que mantêm certas semelhanças com alguns planetas e satélites vizinhos. O objetivo é procurar reconhecer indícios de vida em ambientes que podem ser considerados incompatíveis com ela, tal como a

conhecemos. Obtém-se, assim, um profundo conhecimento da enorme diversidade metabólica3terrestre,

fundamental para as missões interplanetárias já em curso, como a da Curiosity em Marte, planeta onde o veículo robótico da NASA chegou em agosto de 2012. Com efeito, o rover4, verdadeiro laboratório com

rodas, procura indícios de vida no planeta vermelho. Os dados recolhidos pelos investigadores na Terra poderão revelar-se fundamentais para o Curiosity poder explorar onde interessa e o que interessa. Estão em jogo interrogações sobre o que é a vida, como podemos defini-la, quais os requisitos para poder -5 -10 -15 -20

(19)

-25 -30 -35

-A formação da crosta terrestre, dos oceanos e da atmosfera são processos que ainda não compreendemos bem. Sabe-se que, há cerca de 3500 milhões de anos, época em que os investigadores situam a origem da vida, a Terra era um lugar muito mais quente do que hoje: a temperatura à superfície oscilava entre os 55 e os 85 graus Celsius, precisamente o nível em que prosperavam muitos extremófilos, os micro-organismos que vivem em condições extremas. Naquela época, a nossa casa poderia ser definida como uma

concentração em constante transformação, embora inerte, de rochas, gases e água. Nesse caso, como foi possível surgir vida da não-vida?

A resposta poderia residir na química, nomeadamente no estudo dos compostos que contêm ferro e enxofre.

Em laboratório, minerais como a pirite, que possui estes dois elementos, produziram reações químicas que serviram de base a uma hipótese sobre a origem da vida: o ferro e o enxofre poderiam ter desempenhado um papel importante na formação de aminoácidos, as substâncias químicas orgânicas que constituem os componentes fundamentais das proteínas, as quais formam as células de animais e vegetais. (…)

Nestas páginas, visitamos alguns dos sítios mais extremos do nosso planeta, lugares onde McKay e outros especialistas procuram as chaves para o aparecimento da vida. Talvez nos ajudem a encontrá-la não muito longe daqui.

Revista Superinteressante, n.º197, setembro de 2014, p. 76. (Texto adaptado, com supressões)

Vocabulário e notas

1extraterrestres; 2teimosos; 3variedade de transformações químicas em seres vivos; 4veículo apropriado para andar em superfícies irregulares

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 A frase que melhor sintetiza o conteúdo dos dois primeiros parágrafos é 

(A) Não é necessário explorar outros planetas para descobrir marcas de vida típica de ambientes de  naturezaextraterrestre.

(B) É necessário explorar outros planetas para descobrir marcas de vida típica de ambientes de natureza  extraterrestre.

(C) Os astrobiólogos estão convencidos de que é muito importante visitar outros planetas para descobrir  pistas do que poderá ser a vida extraterrestre.

(D) Os astrobiólogos descobriram na terra micro­organismos de natureza idêntica aos que poderão existir  noutros planetas. 1.2 A consecução do objetivo apresentado no terceiro parágrafo depende

(A) da aplicação de dois fatores.

(B) da aplicação de três fatores.

(C) do conhecimento de duas características.

(D) do conhecimento de três características.

1.3 O planeta Terra é apresentado, no quarto parágrafo, através de uma

(A) hipérbole.

(B) comparação.

(C) metáfora.

(20)

1.5 A prova de que este texto funciona como introdução a um texto mais extenso encontra-se

(A) no primeiro parágrafo.

(B) no terceiro parágrafo.

(C) no quinto parágrafo.

(D) no último parágrafo.

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica o processo morfológico de formação de palavras presente na criação do neologismo «astrobiólogos», l. 5.

2.2 Indica a função sintática da expressão destacada na frase «precisamente o nível em que prosperavam muitos extremófilos», l. 25.

2.3 Classifica a oração destacada na frase «Em laboratório, minerais como a pirite, que possui estes dois

elementos, produziram reações químicas», l. 31.

GRUPO III

Escreve um texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, no qual aprecies criticamente um livro ou um filme que te tenha marcado especialmente.

(21)

Sequência 2

Teste de avaliação

1

GRUPO I

A

Lê o poema seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Cantigas de amigo

Cantiga de romaria

Fui eu, madr’, en romaria a Faro con meu amigo e venho del namorada por quanto falou comigo,

ca1mi jurou que morria

por mi, tal bem mi queria

Leda2venho da ermida3e desta vez leda serei,

ca falei com meu amigo que sempre muito desejei, ca mi jurou que morria

por mi, tal bem mi queria

Du m’eu vi4com meu amigo, vin leda, se Deus mi perdon,

ca nunca lhi cuid’ a mentir por quanto m’ele disse’ enton,5

ca mi jurou que morria por mi, tal bem mi queria

Joan de Requeixo, in Poemas portugueses – Antologia da poesia portuguesa do século XIII ao século XXI, Porto, Porto Editora, 2009, p. 149.

Vocabulário e notas

1porque; 2alegre, feliz; 3pequena igreja; 4enquanto vinha; 5v. 10: porque estou certa de que me não mentiu em tudo o que me disse.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Explicita, justificando, a relação entre o sujeito poético e a sua mãe.

2. Indica as causas do estado psicológico do sujeito poético, apresentando pelo menos três, uma relativa a cada estrofe.

3. Tem em atenção o refrão. Explica em que consiste a sua expressividade literária.

4. Apesar da existência de marcas paralelísticas como, entre outras, o refrão, esta cantiga não é um exemplo de paralelis-mo perfeito. Justifica esta afirmação.

-5 -10

(22)

-B

A variedade do sentimento amoroso é uma característica da expressão do amor nas cantigas de amigo. Escreve um texto no qual comproves esta afirmação com base na tua experiência de leitura.

O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Homens e mulheres da Idade Média, livro coletivo organizado pelo historiador francês Jacques Le

Goff, retrata a época em questão como um tempo «muito mais positivo e mais progressista do que se pensou», nas palavras do próprio Le Goff, que já se debruçara em diversas outras obras sobre esse tema que tanto o fascina. O livro apresenta um panorama com 112 de seus personagens mais notórios, cujos perfis traçados por Le Goff e equipa não se limitam a resumir a vida e a exaltar os feitos dos retratados, mas mostrá-los como testemunhas da época em que viveram, o que permite novos olhares sobre a História dita oficial, aquela muitas vezes propagada de forma simplista ou reducionista1, quando não equivocada,

nos livros didáticos2. Cristóvão Colombo, por exemplo, embora fosse um homem tipicamente medieval,

«teria ficado muito surpreso que se fizesse dele um inventor da modernidade», como o livro o considera. É na Idade Média que, talvez pela primeira vez, se verifica um certo equilíbrio entre homens e

mulheres nas suas dimensões históricas. O que se deve, em grande parte, à mudança de estatuto da figura feminina na perspetiva da Igreja – a santidade. As mulheres puderam, enfim, tornar-se monjas,

desempenhando papel decisivo na espiritualidade da época, nomeadamente no culto à Virgem Maria. Outro foco bem evidenciado é o dinamismo artístico do período, materializado3, sobretudo, na

produção musical (vocal e instrumental), na pintura e na arquitetura religiosa – embora grande parte daqueles que fizeram da época o «tempo das catedrais» tenham os seus nomes ignorados pela História.

Homens e mulheres da Idade Média está dividido em cinco partes. A primeira abarca o período entre a

Antiguidade tardia e a alta Idade Média, cujo personagem central é Carlos Magno, sagrado imperador pelo papa e que assume a missão de submeter os bárbaros à civilização romana. A morte de Carlos Magno é o que principia a segunda parte, que vai até ao ano 1000, momento em que se afirma a cristandade. A terceira aborda a fase mais luminosa da Idade Média, não por acaso intitulada na obra como «o apogeu medieval», quando as cidades aceleraram o desenvolvimento urbano, e as universidades cresciam com a participação dos teólogos4. A quarta parte é intitulada «Perturbações e mutações», e trata do período de

transição rumo ao Renascimento, quando se multiplicam as revoltas campesinas conhecidas por

jacqueries, e também algumas movimentações que, de certa forma, anunciam a Reforma protestante

vindoura. Para encerrar, há o capítulo sobre «Personagens imaginários», em que são evocadas figuras míticas como a da Virgem Maria, a do rei Arthur, a de Robin Hood e a de Satanás. Le Goff justifica a inclusão destas personagens – «Numa sociedade o imaginário tem seguramente tanta importância e eficácia quanto as condições reais da vida e do pensamento».

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=42197466 (Texto adaptado, consultado em 26-10-2014)

Vocabulário e notas

1simplificada em excesso; 2livros destinados ao ensino básico, manuais escolares; 3concretizado; 4especialistas em teologia, a ciência ou estudo que se ocupa de Deus, da sua natureza e seus atributos e das suas relações com o homem e com o universo

-5 -10 -15 -20 -25

(23)

-1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 Este texto apresenta o livro Homens e mulheres da Idade Média, coordenado por Jacques Le Goff,

(A) de forma tendencialmente objetiva.

(B) de forma tendencialmente subjetiva.

(C) equilibrando objetividade e subjetividade.

(D) dando maior ênfase à subjetividade. 1.2 O livro apresenta a Idade Média partindo

(A) de resumos da vida de 112 personagens importantes nesse período histórico.

(B) da exaltação de grandes feitos dessas personagens.

(C) da condição de observadores do seu tempo dessas personagens.

(D) da crítica aos «livros didáticos», l. 8.

1.3 A «arquitetura religiosa», l. 15, é uma das marcas mais importantes da Idade Média, «o ‘tempo das catedrais’», l. 16. Contudo, segundo o texto,

(A) a produção artística também foi muito importante.

(B) a música «vocal e instrumental», l. 15, teve grande desenvolvimento também.

(C) desconhecem-se os nomes dos arquitetos responsáveis por essas construções.

(D) ignoram-se os nomes dos trabalhadores que construíram esses edifícios. 1.4 A terceira das fases em que o livro divide a Idade Média é apresentada através de

(A) uma hipérbole.

(B) uma metáfora.

(C) uma anáfora.

(D) uma comparação.

1.5 O último capítulo do livro Homens e mulheres da Idade Média distingue-se dos outros devido a

(A) ter uma extensão bastante superior à média.

(B) abordar um tema de natureza diferente dos outros.

(C) tratar do tema do imaginário da sociedade medieval.

(D) ser importante o tratamento do tema do imaginário das sociedades em geral. 2. Responde, de forma correta aos itens apresentados.

2.1 Indica o processo fonológico de alteração que se verifica na evolução da palavra latina amicu- para a

palavra portuguesa «amigo», v. 1, (texto do Grupo I).

2.2 Indica a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal átono existente na frase «que já se debruçara em diversas outras obras sobre esse tema que tanto o fascina.», ll. 3-4, (texto do Grupo II). 2.3 Classifica a oração subordinada presente na frase «A quarta parte (…) trata do período de transição

(24)

Sequência 2

2

2

Teste de avaliação

GRUPO I

A

Lê o poema seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Cantigas de amor

Quantos an1gran coita d’amor

eno mundo, qual oj’ eu ei2,

querrian morrer, eu o sei, e haverian en sabor. 3

Mais4mentr’eu5vos vir, mia senhor,

sempre m’eu querria viver, e atender6e atender!

Pero7já non posso guarir8,

ca já cegam os olhos meus por vós, e non me val’ i9Deus

nem vós; mais por vos non mentir, enquant’ eu vos, mia senhor, vir,

sempre m’eu querria viver, e atender e atender! E tenho que fazem mal sem10

quantos d’amor coitados son de querer sa morte, se non houveron nunca d’amor ben, com’eu faço11. E, senhor, por en12

sempre m’eu querria viver, e atender e atender!

Joan Garcia de Guilhade, in Poemas portugueses – Antologia da poesia portuguesa do século XIII

ao século XXI, Porto, Porto Editora, 2009, pp. 63-64.

Vocabulário e notas

1têm; 2tenho; 3v. 4: teriam nisso prazer; 4mas; 5enquanto eu; 6esperar; 7mas; 8curar-me; 9nisso; 10v. 15: entendo que ajuízam mal; 11como me acontece a mim; 12por isso

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Identifica, justificando, o sentimento que o sujeito poético expressa nos vv. 1-2. 2. Explicita a relação existente entre o sujeito poético e os outros na mesma situação.

-5 -10 -15 -20

(25)

-3. Identifica, justificando, o recurso expressivo presente no v. 9.

4. Tem em atenção as repetições constantes do refrão. Refere, justificando, a sua expressividade literária.

B

A coita amorosa é uma característica fundamental da expressão do amor nas cantigas de amor. Escreve um texto no qual comproves esta afirmação com base na tua experiência de leitura. O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.

GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário.

Os jograis

Os jograis são uma das mais importantes instituições da Idade Média, porque são eles quem conserva e vulgariza1a cultura da palavra num tempo em que o livro era um objeto tão precioso como uma joia cara.

Através dele se comunicam entre si os diversos grupos sociais com os seus valores; as diferentes regiões culturais do mundo com as suas criações próprias. Eles transmitem o repertório folclórico internacional, assim como as invenções que o vão enriquecendo. Além disso, é por via deles que passam à cultura oral muitas criações registadas em livros. São os intermediários culturais por excelência (…).

O camponês, o burguês, o senhor, ou nas feiras e romarias, ou nos festins e banquetes, ao ar livre ou em salões, até mesmo nas naves das igrejas, entretinham-se a ver o jogral que tocava, cantava e bailava,

mostrava o macaco dançarino, executava malabarismos com facas ou maçãs, fazia trejeitos2e paródias3e por

vezes recitava poemas ou relatava notícias de longínquas e extraordinárias terras. Se o sacerdote tinha o prestígio do saber e entendia os mágicos sinais que enegreciam os livros, o jogral despertava a imaginação com as suas estórias de países fantásticos ou de guerreiros invencíveis, com as suas canções, a

desenvoltura4de viajante sabedor e de aventureiro. Enquanto no clérigo se via um ministro de Deus, um

guardião da porta do Céu, o jogral parecia um discípulo do Diabo, sem vergonha, sem eira nem beira, errante5. E a mulher que o acompanhava, dançarina ou cantadeira, não era também uma mulher como as

outras: livre e devassa6, mostrava o corpo no bailado e nas acrobacias, e os seus cantares eram uma

provocação ao jogo erótico.

Do ponto de vista eclesiástico, o jogral, parente do Diabo, só como agente do mal podia encontrar o seu lugar. Mas isso mesmo o tornava perigosamente sedutor. As suas estórias e cantares levavam a imaginação para um mundo livre bem longe das naves da igreja: para o luar, para as florestas na primavera, para as cidades de sonho, para as ilhas encantadas do mar desconhecido. Por isso, durante muito tempo a Igreja e os moralistas condenaram os jograis. Lembrava-se a frase de Santo Agostinho segundo a qual dar presentes aos jograis era o mesmo que dá-los ao Diabo. São Gregório Magno, Papa, num texto traduzido em Alcobaça, narrava complacentemente7a morte desastrosa de um jogral em castigo de se ter intrometido numa festa

religiosa.

Numa iluminura8francesa do século XII, num manuscrito do Breviário de Amor, de Matfré de

-5 -10 -15 -20 -25

(26)

-Mas não era fácil dispensá-los. Os moralistas distinguiram subtilmente entre os bons e os maus jograis, e a joglaria10acabou por adquirir direitos de cidade na sociedade medieval.

António José Saraiva, A cultura em Portugal – teoria e história – Livro II – primeira época: a formação, Lisboa, Livraria Bertrand, 1984, pp. 56-57.

Vocabulário

1 divulga; 2 gestos estranhos, cheios de comicidade; 3 brincadeiras imitativas de natureza cómica; 4 o à vontade; 5 viajante; 6 pecadora; 7 com satisfação; 8 desenho, miniatura, grafismo que ornamenta livros, especialmente manuscritos medievais; 9 imitar de forma caricatural, distorcida, zombeteira; 10 os jograis enquanto instituição

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 A frase que melhor sintetiza o conteúdo do primeiro parágrafo é

(A) A função dos jograis na Idade Média consistia em substituir os livros.

(B) Durante a Idade Média, os jograis foram o principal veículo das trocas culturais.

(C) A função dos jograis na Idade Média consistia em transmitir informações que constavam dos livros.

(D) Durante a Idade Média, os jograis foram o principal veículo de divulgação dos livros. 1.2 O segundo parágrafo estrutura-se através de uma comparação entre

(A) as várias classes sociais e os eclesiásticos.

(B) as várias classes sociais e os jograis.

(C) os jograis e os eclesiásticos.

(D) Deus e o Diabo.

1.3 O conector «por isso», l. 21, refere-se a um facto

(A) enunciado antes, concretamente à capacidade de os jograis serem capazes de libertar as imagina-ções.

(B) enunciado depois, concretamente à condenação que a igreja lançava sobre os jograis.

(C) enunciado depois, concretamente às condenações que Santo Agostinho e São Gregório Magno lançaram sobre os jograis.

(D) enunciado antes, concretamente à capacidade de os jograis serem considerados parentes do Diabo. 1.4 O quarto parágrafo apresenta dois exemplos cuja função no texto é

(A) mostrar como a arte medieval representava os jograis.

(B) ilustrar informação anteriormente apresentada sobre os jograis.

(C) ilustrar informação posteriormente apresentada sobre os jograis.

(D) exemplificar uma visão negativa dos jograis na Idade Média.

Apesar de mal vistos, os jograis eram aceites na sociedade. Os «moralistas», l. 22, encontraram um modo de os integrar porque

(A) admitiam a inexistência de maus jograis.

(B) não admitiam a existência de bons jograis.

(C) não admitiam a inexistência de maus jograis.

(27)

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica o processo fonológico que se verifica na evolução da palavra «eno», v. 2, para no (texto do Grupo I). 2.2 Indica a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal átono existente na frase «dar presentes aos

jograis era o mesmo que dá-los ao Diabo.», ll. 22-23, (texto do Grupo II).

2.3 Classifica a oração subordinada presente na frase «(…) entretinham-se a ver o jogral que tocava», l. 8, (texto do Grupo II).

GRUPO III

Escreve um texto cuja função seja apreciar criticamente uma série da TV que vejas frequentemente. O teu texto deve ter um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras.

(28)

Sequência 2

3

2

Teste de avaliação

GRUPO I

A

Lê o poema seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.

Cantigas de escárnio e maldizer

Ai, dona fea, foste-vos queixar

que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais1ora2quero fazer um cantar

em que vos loarei toda via3;

e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia4!

Dona fea, se Deus mi pardom, pois avedes [a] tam gram coraçom que eu vos loe, em esta razom

vos quero já loar toda via; e vedes qual sera a loaçom: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei

em meu trobar, pero muito trobei; mais ora já um bom cantar farei,

em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei:

dona fea, velha e sandia!

Joam Garcia de Guilhade, in A lírica galego-portuguesa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1983, p. 160. (Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de Elsa Gonçalves)

Vocabulário e notas

1mas; 2agora; 3apesar de tudo; 4tola

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1. Identifica o tema da cantiga.

2. Relaciona-a com o louvor da dama típico das cantigas de amor.

3. Identifica o recurso expressivo utilizado recorrentemente no decurso da cantiga – ao serviço da chacota. Justifica, apresentando pelo menos um exemplo.

4. Identifica estruturas paralelísticas cuja função é acentuar a sátira. Justifica a tua resposta.

B

As cantigas de escárnio e maldizer abordam um variado leque de alvos de sátira.

Escreve um texto que tenha entre 120 e 150 palavras no qual, apelando à tua experiência de leitura, comproves esta afirmação.

-5 -10 -15

(29)

-5 -10 -15 -20 -25 -30 -35

-GRUPO II

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Medos medievais, medos de hoje: paralelismo legítimo?

Os homens e as mulheres que viviam há mil anos são nossos antepassados. Falavam uma língua parecida com a nossa e as suas conceções do mundo não andavam muito longe das nossas. Há portanto analogias1

entre as duas épocas, mas também diferenças e são estas diferenças que têm muito a ensinar-nos. Não são as semelhanças que vão impressionar-nos, é o que nos afasta que nos leva a interrogar-nos.

Mudamos porquê e em quê? E em que pode o passado trazer-nos confiança?

A nossa sociedade sente-se inquieta. O simples facto de ela se voltar resolutamente2para a sua memória3é

prova disso. Os franceses nunca comemoraram tanto. Todas as semanas se festeja aqui ou além o aniversário de qualquer coisa. Se nos agarramos assim à memória dos acontecimentos ou dos grandes homens da nossa história é também para recuperarmos a confiança. É portanto porque está oculta no fundo de nós uma inquietação, uma angústia.

A Idade Média está longe da nossa história e as informações são raras. Temos portanto que considerar a Idade Média no seu conjunto. Verificamos que esta sociedade foi tomada, entre o ano 1000 e o século XIII, por um progresso material fantástico, comparável ao que se desencadeou no século XVIII e ainda hoje prossegue. A produção agrícola multiplicou-se por cinco ou seis e, em dois séculos, a população das regiões que constituem a França atual triplicou. Este mundo mudava muito depressa. Acelerava-se a circulação dos homens e das coisas. Depois, nos meados de século XIV, entrou-se numa fase de quase estagnação que durou até meados do século XVIII. Assim, por exemplo, nenhum progresso notável se registou nos transportes entre o reinado de Filipe Augusto e o de Luís XVI, a duração do trajeto de Marselha a Paris mantém-se praticamente igual num período de cinco séculos.

Vemos também claramente a evolução das mentalidades. Num período de forte crescimento, como atualmente, os filhos não pensavam como os pais. Apesar de esta sociedade muito hierarquizada4cultivar

fundamentalmente o respeito pelos anciãos. Ora aí temos uma diferença em relação a hoje.

Todavia, não podemos responder a todas as perguntas que se fazem sobre a Idade Média. Para compararmos o homem medieval e o homem de hoje nos seus temores é necessário abrir um pouco o campo a fim de recolher indicações, factos suficientes.

Temos também de tentar esquecer o que pensamos e meter-nos na pele dos homens de há oito ou dez séculos para penetrarmos na civilização da Idade Média, tão diferente da nossa. Nesse tempo, ninguém duvidava que houvesse outro mundo situado além das coisas visíveis. Impunha-se então uma evidência: os mortos

continuavam a viver nesse outro mundo. E, à exceção das comunidades judaicas, toda a gente estava convencida de que Deus tinha encarnado5. (…)

Tudo o que parecesse um desregramento6da natureza era considerado sinal anunciador das atribulações7que

haviam de preceder o fim do mundo. Tomo um exemplo: toda a gente pensava que, segundo a vontade divina, o curso dos astros é regular. O aparecimento de um cometa, isto é, de uma irregularidade, suscitava inquietação.

Georges Duby, Ano 1000 ano 2000 – no rasto dos nossos medos, Lisboa, Teorema, 1997, pp. 13-18. (Texto adaptado)

Vocabulário e notas

1semelhanças; 2corajosamente; 3para a lembrança, através de comemorações, de momentos ou personagens importantes da história; 4sociedade dividida em estratos segundo a importância de cada um, fundamentalmente clero, nobreza e povo; 5Deus tinha vindo ao mundo, fazendo-se homem na pessoa de Jesus Cristo; 6algo invulgar; 7sofrimentos

(30)

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a única opção que permite obter uma afirmação correta.

1.1 Pode dizer-se que a função deste texto é

(A) fazer uma apreciação crítica sobre a mentalidade medieval.

(B) convencer da inferioridade da mentalidade medieval comparada com a nossa.

(C) expor modos de viver e de pensar do homem medieval.

(D) narrar os medos do homem medieval.

1.2 A frase que melhor sintetiza o primeiro parágrafo é

(A) As nossas sociedades podem aprender conhecendo principalmente o que há de comum entre elas e a sociedade medieval.

(B) As nossas sociedades podem aprender conhecendo o que há de diferente entre elas e a sociedade medieval.

(C) As nossas sociedades podem aprender conhecendo o que há de comum e de diferente entre elas e a sociedade medieval.

(D) As nossas sociedades podem aprender conhecendo principalmente o que há de diferente entre elas e a sociedade medieval.

1.3 O «progresso material», l. 16, registado na Idade Média, a partir do ano 1000,

(A) não é comparável ao dos nossos tempos.

(B) é comparável ao dos nossos tempos.

(C) não é comparável ao que se iniciou no século XVIII.

(D) foi de curtíssima duração.

1.4 No que respeita às relações familiares, uma grande diferença entre o nosso tempo e a Idade Média do

tempo do progresso material – séculos XI a XIV – reside

(A) no modo como olhamos para os idosos.

(B) no modo como os filhos se relacionam com os pais.

(C) no modo como os idosos eram tratados nesse tempo.

(D) no modo como os pais se relacionavam com os filhos.

1.5 O homem medieval via em determinados fenómenos físicos, para ele incompreensíveis,

(A) um sinal de Deus.

(B) um sinal de desgraça.

(C) um aviso de desgraça próxima.

(31)

2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica, justificando, o processo fonológico que se verifica na evolução da palavra do português antigo «fea», v. 1, para feia, no português contemporâneo (texto do Grupo I).

2.2 Indica a função sintática das palavras destacadas na frase «está oculta no fundo de nós uma

inquietação», ll. 12-13, (texto do Grupo II).

2.3 Classifica a oração subordinada presente em «Nesse tempo, ninguém duvidava que houvesse outro mundo», ll. 30-31, (texto do Grupo II).

GRUPO III

Escreve um texto de natureza expositiva no qual apresentes, justificando, pelo menos três problemas que consideres dos mais graves do mundo atual.

(32)

Sequência 3

1

2

Teste de avaliação

GRUPO I

A

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados a seguir ao texto.

De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomendadas1a boõs homees

d’armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neũa pessoa, que muito conhecida nom fosse2, havia

d’entrar nem sair, sem primeiro saber em certo por que razom ia ou viinha; e ali atravessavom paos com tavoado pera dormir os que tal cuidado tiinham3, por de noite serem deles acompanhadas4, e neuũ malicioso

seer atrevido de cometer neuũ erro.

E dalgũas portas tinham certas pessoas de noite as chaves, por razom dos batees5que taes horas iam e

viinham d’aalem6com trigo e outros mantimentos, segundo leedes7em seu logar; outras chaves apanhava uũ

homem cada noite de que o Meestre muito fiava, e veendo primeiro como as portas ficavom fechadas, lhas levava todas aos Paaços onde pousava8. Acerca da9porta de Santa Catarina da parte do arreal10per onde mais

acostumavom sair aa escaramuça, estava sempre uma casa prestes11, com camas e ovos e estopas12, e triaga13,

e outras necessárias cousas pera pensamento14dos feridos quando tornavom15das escaramuças.

Na ribeira havia feitas duas grandes e fortes estacadas16de grossos e valentes paos, que o Meestre mandara

fazer ante que el-Rei de Castela veesse, por defender17o combato da ribeira; e eram feitas des onde18o mar

mais longe espraia ataa19terra junto com a cidade. E ũa foi caminho de Santos, a fundo da torre de atalaia

contra aquela parte20, onde entendeo que el-Rei poeria seu arreal21; outra fezerom no outro cabo da cidade

junto com o muro dos fornos da cal contra o moesteiro de Santa Clara. (…)

Nom leixavom os da cidade, por serem assi cercados, de fazer a barvacãa22d’arredor do muro da parte do

arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d’ Alvoro Paaez, que nom era ainda feita, que seeriam dous tiros de besta23; e as moças sem neuũ medo, apanhando pedra pelas herdades, cantavom altas vozes24dizendo: Esta é Lixboa prezada,

mirá-la e leixá-la25. Se quiserdes carneiro26, qual derom ao Andeiro26; se quiserdes cabrito27, qual deram ao Bispo27,

e outras razões semelhantes. (…)

(continua) -5 -10 -15 -20 -25

Referências

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