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Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 01119/16

Data do Acordão: 25-10-2017

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: ISABEL MARQUES DA SILVA

Descritores: IMPUGNAÇÃO JUDICIAL

SEGUNDA AVALIAÇÃO DEFICIENTE

CONSERVAÇÃO

COEFICIENTE DE VETUSTEZ

Sumário: I - Sendo o conceito de “estado deficiente de conservação”,

enquanto elemento minorativo do coeficiente de qualidade e

conforto previsto na Tabela I do n.º 1 do artigo 43.º do Código

do IMI, legalmente definido, não está o juiz legalmente

impedido, perante a prova documental e testemunhal produzida e sem prévio recurso a prova pericial, de julgar que tais

anomalias são subsumíveis no conceito de “deficiente estado de conservação”, devendo ter sido ser consideradas, dentro dos limites legais, como elemento minorativo do coeficiente de qualidade e conforto (Cq).

II A lei distingue claramente o Coeficiente de vetustez (Cv) -artigo 44.º do Código do IMI – do Coeficiente de qualidade e Conforto (Cv) - artigo 43.º do Código do IMI -, atendendo um e outro a realidades diferentes, o primeiro refletindo a

desvalorização do valor dos imóveis em função da sua idade e

o segundo tendo por função relevar o aumento ou diminuição

do valor que o mercado incorpora nos prédios em função da presença ou ausência de determinados elementos ou

características, não sendo permeáveis entre si coeficientes que

o legislador claramente autonomiza.

Nº Convencional: JSTA000P22433

Nº do Documento: SA22017102501119

Data de Entrada: 07-10-2016

Recorrente: FAZENDA PÚBLICA

Recorrido 1: A...

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo

Tribunal Administrativo:

Relatório

-1 – A Fazenda Pública recorre para este Supremo Tribunal da

sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga de 11 de Maio de 2016, que julgou procedente a impugnação judicial deduzida por A……… e B…………., ambos com os sinais dos autos, contra o resultado da segunda avaliação do prédio

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e concelho de Vila Nova de Famalicão, que fixou o valor

patrimonial tributário (VPT) global em €513 220,00, anulando os actos de avaliação impugnados.

A recorrente termina as suas alegações de recurso formulando as seguintes conclusões:

1.ª – A douta sentença em recurso, na parte de que se recorre

(VPT do primeiro e segundo andares, lados norte e sul, do prédio dos recorridos), violou os artigos 38.º, 43.º nº 1 e 44º, todos do CIMI, bem como os artigos 388º e 389º, ambos do CC, aplicáveis por força do artigo 2.º, alínea d), da LGT.

2.ª – Salvo melhor entendimento, para a recorrente, FP, apenas

o resultado de prova pericial podia determinar a aplicação, ou não, do factor minorativo relativo ao deficiente estado de conservação do prédio, afastando, ou não, o resultado a que tinham chegado a maioria dos peritos, por deslocação ao local, em sede de segunda avaliação do prédio que determinou o VPT impugnado, a saber, de que o estado de conservação do prédio avaliado encontrava-se contemplado no coeficiente de vetustez, decorrente da idade do prédio,

E,

3.ª – Para a FP, salvo melhor entendimento, apenas a prova

pericial podia fixar o concreto valor a utilizar como coeficiente minorativo no cálculo do VPT do prédio, o qual, dentro dos limites legais (até 0,05), seria o espelho, numa escala de 0,01 a 0,05, do deficiente estado de conservação do prédio

contemplado no cálculo do VPT do mesmo.

4.ª – Sem estes resultados de prova pericial, a apreciar

livremente pelo tribunal “a quo”, não poderia este decidir, como decidiu, com recurso, tão só, à prova testemunhal, que, ao VPT do prédio teria que se aplicar o coeficiente minorativo de

deficiente estado de conservação – cujo valor não concretizou, nem podia, dada a fonte de prova e convicção, proferindo, por isso, sentença inexequível.

5.ª – Dito de outro modo, para a FP, a mera prova testemunhal

produzida em sede de processo tributário de impugnação não pode, por si só, afastar o parecer maioritário de peritos do procedimento tributário de segunda avaliação do prédio, nos casos em que, para aqueles peritos, por inspecção ao local, o estado de conservação do prédio avaliado é reflexo da sua idade e, por isso, encontra-se abrangido pelo coeficiente de vetustez.

6.ª – A justificação técnica, apresentada em sede de segunda

avaliação do prédio por peritos, não pode ser afastada por via da mera prova testemunhal que venha a ser produzida em sede de impugnação judicial.

7.ª – Apenas a prova pericial, que poderia ser singular ou

colegial, com ou sem deslocação ao local, com ou sem contacto com os peritos que procederam à referida segunda

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avaliação e que, com fotografias e demais documentos existentes no processo, poderia confirmar, ou rejeitar, a justificação de não aplicação do coeficiente minorativo de deficiente estado de conservação, da maioria dos peritos que procederam à segunda avaliação do prédio para efeito de atribuição de VPT.

8.ª – Trata-se de apreciar o estado de conservação do prédio

para efeito de fixação do VPT desse prédio e, em

consequência, de apreciar aquele estado de conservação como abrangido pelo coeficiente de vetustez (idade do prédio) ou não – apreciação técnica para a qual o Tribunal carece da

intermediação de perito. E,

9.ª - Trata-se ainda, para efeito de fixação do VPT de,

apreciado o estado de conservação do prédio como coeficiente minorativo de qualidade e conforto, fixar concreto valor para esse estado de conservação não abrangido pela idade do prédio, até ao limite legalmente previsto de 0,05 – apreciação técnica para a qual o Tribunal carece de intermediação de perito.

10.ª – Sem prova pericial requerida ou oficiosamente

determinada, inexistem elementos para o Tribunal a quo aplicar, como aplicou, a tabela I, do artigo 43.º, n.º 1 do CIMI, quanto ao deficiente estado de conservação do prédio, pelo que, não podia anular, como anulou, o acto de avaliação (o VPT) das fracções/apartamentos (do primeiro e segundo andares, lados norte e sul, do prédio dos recorridos).

Nestes termos e nos mais de direito que serão doutamente supridos por Vs. Exas. deverá o presente recurso obter provimento e a douta decisão em recurso ser revogada. Pede e Espera

Justiça

2 - Contra-alegaram os recorridos, concluindo nos seguintes termos:

1. A decisão proferida pelo tribunal “a quo” não deve ser

alterada, tendo o MM juiz julgado com perfeita observância da lei aplicável;

2. Não assiste razão à recorrente quanto à alegação de que

apenas o resultado de prova pericial podia determinar a aplicação, ou não, do factor minoritário relativo ao deficiente estado de conservação das quatro frações, uma vez que se encontraria contemplado no coeficiente de vetustez decorrente da idade do prédio.

3. Com efeito, dispõe o artigo 108.º, n.º 3 do CPPT que: “…o

impugnante oferecerá os documentos de que dispuser, arrolará testemunhas e requererá as demais provas que não dependam de ocorrências supervenientes.”

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4. O artigo 115.º do CPPT, com a epígrafe “Meios de Prova”

estabelece no seu n.º 1 que :” São admitidos os meios gerais de prova”.

5. Por sua vez o artigo 116.º da mesma lei no seu n.º 1 refere

que: “Poderá haver prova pericial no processo de impugnação judicial sempre que o juiz entenda necessário o parecer técnico especializado”.

6. Segundo o disposto nos artigos supra referidos é permitido

aos impugnantes escolherem livremente os meios de prova por não estarem vinculados a este ou aquele meio de prova.

7. O MM Juiz é livre para apreciar as provas segundo a sua

prudência e convicção sobre cada facto, encontrando-se este princípio da livre apreciação da prova previsto no artigo 607.º, n.º 5 do CPC, por remissão do artigo 2.º, n.º 1, alínea e) do CPPT.

8. A faculdade da escolha por parte dos impugnantes e a livre

apreciação da prova do juiz prevista na lei processual civil e tributária desmente a interpretação tendenciosa da Fazenda Pública no recurso que apresentou.

9. Nas suas alegações de recurso, a Fazenda

Pública/recorrente pretende fazer vingar errada interpretação do disposto nos artigos 607.º, n.º 5 do CPC, por remissão do artigo 2.º, n.º 1 alínea e) do CPPT e artigo 389.º do Código Civil.

10. A alegação da recorrente de que apenas o resultado da

prova pericial efectuada pelos senhores peritos, por inspeção ao local é que podia determinar o estado de conservação do prédio avaliado que era reflexo da sua idade, e por isso, encontrava-se abrangido pelo coeficiente de vetustez, carece de qualquer razão, na justa medida em que a conservação concreta de um prédio não tem relação e conexão directa com a idade do mesmo, pelo que o seu valor não se encontra abrangido pelo coeficiente de vetustez.

11. É facto notório que, através de mera observação, por

exemplo, de hotéis, mosteiros, etc., com dezenas e centenas de anos, que se encontram em melhor estado de conservação do que muitos prédios recentes.

12. O douto tribunal tomou em consideração a documentação

junta aos autos com a petição inicial, nomeadamente elementos fotográficos e plantas, elucidativa do estado de conservação do imóvel na data em que os impugnantes o adquiriram, fruto de anos de desleixo e incúria por parte dos anteriores proprietários e não da vetustez do mesmo.

13. A prova testemunhal carreada aos autos era conhecedora

do estado de conservação do imóvel ao tempo da aquisição, facto que levou a que o tribunal valorasse a prova testemunhal e a prova documental e se afastasse livremente do parecer dos peritos regionais, como previsto na lei processual tributária e

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civil e também pela doutrina.

14. O tribunal podia apreciar livremente como apreciou e

decidiu que para calcular o valor patrimonial do prédio teria de ser aplicado o coeficiente minoritário de deficiente estado de conservação, e não o coeficiente de vetustez.

15. Ao contrário do que a recorrente alegou o recurso que

apresentou versa sobre matéria de facto quanto ao acto de avaliação dos quatro apartamentos, e não sobre a matéria de direito.

16. Não foi objecto de recurso da recorrente Fazenda Pública a

prova dos factos pelo que se consolidou, ou seja, foi dado como provado que o imóvel tinha o telhado e as fachadas em mau estado, com infiltrações de água, e os interiores das “frações” de habitação apresentavam deteriorações na parte elétrica, esgotos, pinturas, portas e janelas.

17. Factos que de acordo com o Anexo II da Portaria 982/2004,

de 4 de Agosto, constituíam os parâmetros para apreciação do estado deficiente de conservação do prédio.

18. Se era entendimento da recorrente que os danos de que

padecia o edifício e que constam no processo não eram danos normais, teria aquela que recorrer da prova de facto e não recorreu.

19. Assim, à luz dos factos provados nos artigos 17.º e 18.º que

se consolidaram em juízo foi a questão bem decidida e não deverá ser alterada.

20. A douta sentença não violou o disposto nos artigos 38.º,

43.º, n.º 1 e 44.º todos do CIMI e os artigos 388.º e 389.º do Código Civil, uma vez que o tribunal se afastou livremente do parecer dos peritos, liberdade que a lei e o princípio da livre apreciação da prova permitem,

21. A douta sentença não merece qualquer reparo por ter

realizado correcta aplicação da lei;

Assim e em conclusão, devem improceder todas as conclusões da Recorrente Fazenda Pública, pelo que a douta sentença deve ser confirmada “in totum” assim se fazendo JUSTIÇA!

3 – O Excelentíssimo Magistrado do Ministério Público junto deste Supremo Tribunal emitiu o douto parecer de fls. 379 a 382 dos autos, concluindo no sentido de que a sentença

recorrida incorreu em erro de julgamento, por insuficiência da matéria de facto para a solução de direito adotada, motivo pelo qual se impõe a sua revogação na parte objecto de recurso, determinando-se a baixa dos autos à 1.ª instância a fim de ser ampliada a matéria de facto que permita apreciar a questão colocada ao tribunal”.

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a 385 dos autos – vieram os recorridos responder, nos termos de fls. 393 a 395 dos autos, manifestando discordância quanto à necessidade de ampliação da matéria de facto pois que, nas fichas de avaliação junto aos autos, foi atribuído o valor

correspondente à unidade ao coeficiente de qualidade e conforto (Cq), o que implica, como julgado, não terem sido

aplicados quaisquer coeficientes minorativos quanto ao respectivo estado de conservação.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. Fundamentação -4 – Questão a decidir

É a de saber se a sentença recorrida, ao ter anulado o acto de 2.ª avaliação das partes susceptíveis de utilização

independente destinadas a habitação, incorreu em erro de julgamento, por violação dos artigos 38.º, 43.º nº 1 e 44º, todos

do CIMI, bem como os artigos 388º e 389º, ambos do CC, aplicáveis por força do artigo 2.º, alínea d), da LGT, por

alegadamente apenas o resultado de prova pericial poder

determinar a aplicação, ou não, do factor minorativo relativo ao deficiente estado de conservação do prédio.

5 – Matéria de facto

Na sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga objecto do presente recurso foram dados como provados os seguintes factos:

FACTOS PROVADOS:

1) Através de contrato de compra e venda celebrado em 3 de

Agosto de 2007, os impugnantes adquiriram, pelo preço declarado de €225 000,00, um imóvel em propriedade total, composto por edifício de rés-do-chão, primeiro e segundo andares, sito na Avenida ………., freguesia e concelho de Vila Nova de Famalicão, inscrito e descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Famalicão sob o n.º 349, inscrito na matriz, na 1.ª Repartição de Finanças daquele concelho sob o artigo 702.º urbano – cfr. fls. 5/12 do processo administrativo apenso aos autos (doravante PA).

2) O dito prédio encontra-se em regime jurídico de propriedade

total e é composto por uma loja destinada comércio no Rés-do-chão e por quatro apartamentos de tipologia T4, dois no

primeiro andar e dois no segundo andar, sendo todas as fracções sem garagem.

3) Em 2 de Outubro de 2007, os Impugnantes apresentaram a

Mod. 1 do IMI e anexo II, relativamente àquele bem imóvel, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido – cfr. fls. 16/17 do PA.

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4) Por se tratar da primeira transmissão na vigência do CIMI, o

bem imóvel foi objecto de avaliação, tendo sido fixado o Valor Patrimonial Tributário, conforme segue:

- €206 320,00 relativos ao rés do chão; - €79 370,00 relativos ao 1.º andar sul - €74 080,00 relativos ao 1.º andar norte; - €79 370,00 relativos ao 2.º andar sul - €74 080,00 relativos ao 2.º andar norte; (cfr. fls. 19 a 28 do PA)

5) Em 21 de Janeiro de 2008, os Impugnantes requereram

segunda avaliação, nos termos e com os fundamentos de fls. 36/37 do P.A., que se têm por integralmente reproduzidas.

6) Em 27 de Novembro de 2008, foi lavrado o “Termo de

Avaliação”, relativamente ao rés-do-chão, do qual se extrai o seguinte:

“O perito da parte entende que o valor da construção a

considerar não deverá ser de 615€/m2 face ao disposto no art.º 39.º do CIMI. O problema em concreto não reside na vetustez do prédio que foi considerada mas antes na qualidade dos materiais do prédio e no estado de conservação dos mesmos. Entende ainda que edifício nenhum destinado a comércio poderá funcionar sem áreas dependentes. No caso concreto a fracção tem diversos espaços destinados a arrumos e

arrecadações que deveriam ter sido contemplados apesar de não terem sido objecto do licenciamento inicial do edifício.

Pelas razões expostas o perito não concorda com o valor obtido pela comissão de avaliação.

Os peritos regionais em inspecção ao local verificaram que o estado de conservação e os materiais aplicados na construção refletem a idade de 39 anos pelo que inscreveram na ficha de avaliação os elementos correspondentes às áreas e os

restantes parâmetros de avaliação.” – cfr. fls. 61 do PA.

7) Na mesma data, foram lavrados os “Termos de Avaliação”,

relativamente a cada uma das restantes fracções, com teor idêntico e do qual se extrai o seguinte:

“O perito da parte entende que o valor da construção a

considerar não deverá ser de 615€/m2 face ao disposto no art.º 39.º do CIMI. O problema em concreto não reside na vetustez do prédio que foi considerada mas antes na qualidade dos materiais do prédio e no estado de conservação dos mesmos. Entende ainda que deveria ser aplicado o coeficiente relativo ao estado deficiente de conservação previsto na tabela 1 do art. 43.º do CIMI. Pelas razões expostas o perito não concorda com o valor obtido pela comissão de avaliação.

Os peritos regionais em inspecção ao local verificaram que o estado de conservação e os materiais aplicados na construção refletem a idade de 39 anos pelo que inscreveram na ficha de avaliação os elementos correspondentes às áreas e os

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restantes parâmetros de avaliação.”

8) A nova avaliação manteve o VPT da 1.ª avaliação, nos

seguintes termos:

Andar ou divisão Ficha de avaliação Valor patrimonial (€)

R/C 2439525 206 320,00

1.º Andar Norte 2439528 74 080,00 1.º Andar Sul 2439527 79 370,00 2º Andar Norte 2439526 74 080,00 2º Andar Sul 2439530 79 370,00

9) As fichas de avaliação apresentam os seguintes factores: - Ficha n.º 002439525: Vt = 206.320,00; VC=615,00€; A =248,5000; Ca=1,20; Cl=1,50; Cq=1,00; Cv=0,75 - Ficha n.º 002439528: Vt = 74.080,00; VC=615,00€; A =126,0550; Ca=1,00; Cl=1,30; Cq=0,98; Cv=0,75 - Ficha n.º 002439530: Vt = 79.370,00; VC=615,00€; A =135,0550; Ca=1,00; Cl=1,30; Cq=0,98; Cv=0,75 - Ficha n.º 002439526: Vt = 74.080,00; VC=615,00€; A =126,0550; Ca=1,00; Cl=1,30; Cq=0,98; Cv=0,75

(fichas de avaliação de fls. 58/60, 62/64, 66/68 e 70/72 do PA)

10) A Impugnante foi notificada do resultado da 2.ª avaliação

através do ofício n.º 9899, datado de 18.12.2008 – cfr. fls. 79/80 do PA.

Mais se provou que:

11) O prédio foi construído na década de 60, tendo obtido

Licença de Utilização em 23/05/1968 – cfr. fls. 67 do suporte físico dos autos;

12) Na data em que os Impugnantes adquiriram o imóvel, três

das cinco “fracções” que o compõem encontravam-se arrendadas.

13) O apartamento 2º Poente encontrava-se arrendado a

C………., pessoa de vetusta idade, que pagava a renda mensal de €50,00, tendo entretanto falecido.

14) O apartamento 1º Esquerdo encontrava-se arrendado a

D……….., pessoa de vetusta idade, qua pagava a renda mensal de €81,20 – cfr. fls. 68 do suporte físico dos autos.

15) Por sua vez, o Rés-do-chão encontrava-se arrendado à

empresa E……….. e C.ª, Lda., NIPC ……… – cfr. fls. 69 do suporte físico dos autos.

16) A empresa arrendatária do rés-do-chão era detida

respectivamente pela filha e genro dos aqui impugnantes – cfr. fls. 70/72 do suporte físico dos autos.

17) Na data da aquisição, o imóvel tinha o telhado e as

fachadas em mau estado, com infiltrações de água, e os interiores das “fracções” de habitação apresentavam

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deteriorações na parte eléctrica, esgotos, pinturas, portas e janelas.

18) No rés-do-chão existe uma área com 11,70m2 que se

encontra no exterior do prédio e que corresponde a um espaço ao ar livre, destinado a arrumos e que funciona como depósito de bebidas – cfr. plantas de fls. 107, 108 e 112 do suporte físico dos autos.

19) Em 1995 foi solicitada na Câmara Municipal de Vila Nova

de Famalicão uma alteração de destino do referido rés-do-chão no sentido de ser instalado um restaurante e um snack-bar – cfr. fls. 110 e 111 do suporte físico.

20) Alteração de destino que veio a ser aprovada nos termos

solicitados – idem.

21) E cuja planta de arquitectura é a que consta de fls. 112 do

suporte físico dos autos, cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido.

22) A actual planta discrimina todas as áreas interiores da

fracção, nomeadamente:

. O depósito de bebidas e vasilhame, com a área de 11,70m2, . os arrumos, com a área de 5,5m2;

. a despensa, com a área de 25,27 m2, - os vestiários, com a área de 5,65 m2, Que totalizam, no conjunto, 48,12 m2.

FACTOS NÃO PROVADOS:

- Na data de aquisição, o estado de conservação do

rés-do-chão do prédio em causa nos autos era manifestamente deficiente.

MOTIVAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO DADA COMO ASSENTE E COMO NÃO PROVADA

Os factos dados como provados resultam da análise dos documentos juntos aos autos, nomeadamente dos elementos constantes do Processo Administrativo e dos documentos juntos com a petição inicial que não foram objecto de impugnação.

Relativamente à factualidade vertida nos pontos 12) a 16) e 18), o tribunal considerou os depoimentos das testemunhas

………… e ……….., respectivamente, genro e filha dos Impugnantes, que confirmaram a existência dos arrendamentos e descreveram o local destinado a depósito de bebidas, como sendo um espaço exterior, com uma simples cobertura de plástico amovível. As referidas testemunhas demonstraram razão de ciência, uma vez que exploram o estabelecimento comercial situado no rés-do-chão e os seus depoimentos mostram-se isentos e credíveis. Foram, ainda, consideradas, relativamente ao ponto 18), as plantas juntas a fls. 107, 108 e 112 do suporte físico dos autos, com especial destaque para o alçado principal da planta de fls. 108, do qual resulta

(10)

prédio.

No tocante aos factos descritos no ponto 17), o tribunal formou a sua convicção com base nos depoimentos das testemunhas ………… e …………, ambos empresários da construção civil e conhecedores do imóvel em questão, por aí terem realizado obras, assistindo-lhes, por isso, razão de ciência. Os seus depoimentos mostram-se concretizados, revelando um elevado grau de conhecimento sobre as questões que lhe foram

colocadas, sem hesitações que fizessem o Tribunal duvidas da consistência das suas declarações. O primeiro referiu que o imóvel estava “em mau estado”, que o telhado e as fachadas apresentavam “entradas de água” e que as portas, janelas, instalação eléctrica e esgotos estavam deteriorados; o segundo afirmou que os apartamentos apresentavam um “estado de completa degradação” e que “não se aproveitava nada”, incluindo paredes, pinturas, esgotos e instalação eléctrica. Relativamente ao facto não provado, a testemunha ……….. afirmou que relativamente ao rés-do-chão a situação era

diferente, por ter sofrido alterações, resultando, efectivamente, dos autos que em 1995 aquela “fracção” passou a ter

características diversas das iniciais.

6 – Apreciando.

6.1 Do alegado erro de julgamento da sentença recorrida A sentença recorrida, na parte impugnada – VPT do primeiro e

segundo andares, lados norte e sul, do prédio dos recorridos

(conclusão 1.ª das alegações de recurso) – julgou procedente a impugnação judicial deduzida pelos ora recorrentes do acto de 2.ª avaliação de prédio urbano relativo àquelas partes

susceptíveis de utilização independente, no entendimento de que no acto de avaliação deveria ter sido aplicado o coeficiente

previsto na tabela 1, do artigo 43.º, do CIMI que prevê a ponderação do deficiente estado de conservação, o que, não

tendo sido feito, inquina de ilegalidade o acto de avaliação relativo àquelas partes, determinando a sua anulação (cfr. sentença recorrida, a fls. 318/319 dos autos)..

Alega a recorrente que ao assim julgar incorreu a sentença recorrida em erro de julgamento, violando os artigos 38.º, 43.º

nº 1 e 44º, todos do CIMI, bem como os artigos 388º e 389º, ambos do CC, aplicáveis por força do artigo 2.º, alínea d), da LGT, pois, alegadamente, apenas o resultado de prova pericial podia determinar a aplicação, ou não, do factor minorativo relativo ao deficiente estado de conservação do prédio,

afastando, ou não, o resultado a que tinham chegado a maioria dos peritos, por deslocação ao local, em sede de segunda avaliação do prédio que determinou o VPT impugnado, a saber, de que o estado de conservação do prédio avaliado

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decorrente da idade do prédio (…) não podendo o Tribunal

decidir, como decidiu, com recurso, tão só, à prova

testemunhal, que, ao VPT do prédio teria que se aplicar o coeficiente minorativo de deficiente estado de conservação,

pois que, alega, a mera prova testemunhal produzida em sede

de processo tributário de impugnação não pode, por si só, afastar o parecer maioritário de peritos do procedimento tributário de segunda avaliação do prédio, nos casos em que, para aqueles peritos, por inspecção ao local, o estado de conservação do prédio avaliado é reflexo da sua idade e, por isso, encontra-se abrangido pelo coeficiente de vetustez.

Os recorridos sustentam a manutenção do julgado recorrido, pois que, em síntese, a faculdade da escolha por parte dos

impugnantes e a livre apreciação da prova do juiz prevista na lei processual civil e tributária desmente a interpretação

tendenciosa da Fazenda Pública no recurso que apresentou,

sendo que a alegação da recorrente de que apenas o resultado

da prova pericial efectuada pelos senhores peritos, por inspeção ao local é que podia determinar o estado de

conservação do prédio avaliado que era reflexo da sua idade, e por isso, encontrava-se abrangido pelo coeficiente de vetustez, carece de qualquer razão, na justa medida em que a

conservação concreta de um prédio não tem relação e conexão directa com a idade do mesmo, pelo que o seu valor não se encontra abrangido pelo coeficiente de vetustez.

O Magistrado do Ministério Público junto deste STA, embora defenda a baixa dos autos ao tribunal “a quo” para ampliação da matéria de facto, comunga do entendimento do tribunal “a

quo” de que não se mostram necessários conhecimentos especiais para julgar, com base na prova documental e

testemunhal produzida, que in casu se verificavam factos subsumíveis no elemento minorativo do coeficiente de

qualidade e conforto “estado deficiente de conservação” (cfr. parecer, a fls. 380/381 dos autos).

Vejamos.

Não há base legal, nem a recorrente a invoca, que permita introduzir uma restrição probatória onde o legislador a não consagrou, sendo evidente que na matéria que nos ocupa o não fez.

Sendo o conceito de “estado deficiente de conservação”, enquanto elemento minorativo do coeficiente de qualidade e

conforto previsto na Tabela I do n.º 1 do artigo 43.º do Código

do IMI, legalmente considerado como verificado quando os

elementos construtivos do prédio não cumpram

satisfatoriamente a sua função ou façam perigar a segurança de pessoas e bens – cfr. a alínea m) do n.º 2 do artigo 43.º do

Código do IMI - e estando definidas pela CNAPU, em

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directrizes para a definição do “estado deficiente de

conservação”, sendo estas, nos termos do Anexo II da portaria 982/2004, de 4 de Agosto: Anomalias na estrutura; Cobertura

em mau estado; Revestimentos de piso, paredes e tectos deteriorados; Caixilharia deteriorada; Instalações deterioradas ou em deficiente funcionamento; Condições de salubridade e higiene deficientes., não estava o juiz “a quo” legalmente

impedido de, perante a prova documental e testemunhal produzida e sem prévio recurso a prova pericial, nem de fixar no probatório – cfr. o seu n.º 17 – que Na data da aquisição, o

imóvel tinha o telhado e as fachadas em mau estado, com infiltrações de água, e os interiores das “fracções” de habitação apresentavam deteriorações na parte eléctrica, esgotos,

pinturas, portas e janelas, nem tão-pouco de julgar que tais

anomalias são subsumíveis no conceito de “deficiente estado de conservação”, devendo ter sido ser consideradas, dentro dos limites legais, como elemento minorativo do coeficiente de qualidade e conforto (Cq). E note-se, apenas este último

julgamento é sindicável por este STA, pois que eventual discordância da recorrente quanto à matéria de facto fixada seria sindicável, não no STA, mas no TCA territorialmente competente, e a recorrente dirigiu o seu recurso a este STA e não ao TCA.

Acresce que a lei distingue claramente o coeficiente de vetustez (Cv) - artigo 44.º do Código do IMI – do Coeficiente de

qualidade e Conforto (Cv) - artigo 43.º do Código do IMI -, ensinando JOSÉ MARIA PIRES (Lições de Impostos sobre o

Património e do Selo, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2015, pp.

96 a 106) que um e outro atendem a realidades diferentes, pois o primeiro reflete a desvalorização do valor dos imóveis em

função da sua idade e o segundo tem por função relevar o aumento ou diminuição do valor que o mercado incorpora nos prédios em função da presença ou ausência de determinados elementos ou características, parece-nos que tais coeficientes,

que o legislador claramente autonomiza, não são permeáveis entre si.

O recurso interposto não merece, pois, provimento, sendo de confirmar a sentença recorrida que não incorreu em erro de julgamento da matéria de direito, contrariamente ao alegado. E também, salvo o devido respeito pelo parecer do Ministério Público junto deste STA proferido nos presentes autos, não sofre de qualquer insuficiência no julgamento de facto

efectuado que determine a anulação do julgado para ampliação desta.

É certo que na segunda avaliação efectuada aos quatro

(13)

conforto (Cq) inferior à unidade, em concreto 0,98 – cfr. o n.º 9 do probatório fixado. Mas daí não se retira necessariamente, nem tinha de se retirar, que afinal o “estado deficiente de conservação” foi considerado na avaliação dos ditos

apartamentos, sobretudo em face das declarações expressas dos peritos, reproduzida no n.º 7 do probatório fixado, mas também na pluralidade de elementos de qualidade e conforto a que a lei manda atender (cfr. a tabela I do n.º 1 do artigo 43.º do Código do IMI) e na ausência de qualquer fundamentação

constante das fichas e termos de avaliação dos apartamentos que permitisse ao juiz determinar se e que elementos

minorativos foram em concreto atendidos pela Comissão de Avaliação.

Acresce que a recorrente, que melhor saberá, nenhuma discordância manifesta no que respeita ao juízo de facto

retirado pela sentença no sentido de que o elemento minorativo “deficiente estado de conservação” não foi considerado na avaliação sindicada.

Pelo exposto se conclui que o recurso não merece provimento, sendo de confirmar a sentença recorrida.

Decisão

-7 - Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal

Administrativo, em negar provimento ao recurso, confirmando a sentença recorrida.

Custas pela recorrente.

Lisboa, 25 de Outubro de 2017. - Isabel Marques da Silva (relatora) - Pedro Delgado - Dulce Neto.

Referências

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