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A CERTIDÃO COMPROBATÓRIA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO

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A CERTIDÃO COMPROBATÓRIA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO

Alan Sampaio SUMÁRIO

Introdução. 1. Ação de execução e seus requisitos 2. A distribuição da ação de execução e o requerimento da certidão comprobatória. 2.1 O “ajuizamento da execução”. 2.2 Uma faculdade para o exequente. 2.3 Elementos da certidão. 2.4 Regulação pelos Tribunais. 3. A averbação da certidão comprobatória e a comunicação ao juízo. 3.1 Averbação. 3.2 Comunicação ao Juízo. 4. Penhora e cancelamento das averbações. 5. Presunção de fraude a execução. 6. Averbação indevida e dever de indenizar. Considerações finais. Referências.

RESUMO

O presente artigo tem o escopo tratar da certidão comprobatória do ajuizamento da ação de execução, partindo do ajuizamento da ação, do requerimento da certidão, dos elementos que ela deve conter, como os cartórios devem agir administrativamente para possibilitar sua elaboração e a obtenção pelo exequente. Após a sua obtenção, a averbação no registro de onde haja bens passíveis de penhora e a comunicação que deve ser feita ao juízo da execução, em dez dias e a falta de previsão legal sobre a perda desse prazo, são elementos que complementam o texto. Com a formalização da penhora o cancelamento das averbações excedentes ao valor da Execução. Para entender o objetivo da norma, tratou-se da presunção de fraude e do dever de indenizar os prejuízos eventualmente causados pelo autor da averbação indevida. Foi utilizado o método indutivo, o qual permitiu concluir que a certidão é mais uma ferramenta com o propósito de comunicar a existência de demanda capaz de atingir determinado bem e afastar adquirentes de boa-fé, garantindo a possibilidade de atingi-lo, mesmo quando este já tenha sido transferido para o patrimônio alheio.

Palavras Chave: Execução. Certidão de ajuizamento da ação. Finalidade. Direito Processual Civil.

INTRODUÇÃO

Se houve a necessidade da ação de execução, é porque o devedor não satisfez a obrigação voluntariamente! Com isso a execução é essencial para o sucesso da pretensão. O Direito garantido mesmo, se dá quando satisfeito o crédito ou a obrigação.

A legislação vem tentando evoluir, abrindo oportunidades de precaução e garantias ao exequente.

(2)

Não obstante à averbação da penhora, da qual o art. 659, §4º do Código de Processo Civil trata, para preceder a esta, aparece uma ferramenta que traz a possibilidade do exequente, tão logo o ajuizamento da execução, deixar claro a terceiros externos à relação processual, a sua intensão de atingir, caso não satisfeito seu crédito de outra forma, determinados bens do executado.

É o artigo 615-A do CPC, novidade introduzida pela Lei 11.382/06, um eficiente mecanismo à disposição do exequente de forma a garantir o recebimento de seu crédito, reduzindo a possibilidade de o devedor frustrar a execução desviando bens necessários ao adimplemento do seu débito para com o exequente.

Tal procedimento, opção do exequente, ajuda naquele problema antigo de afastar o terceiro adquirente de boa-fé, principalmente naquelas hipóteses em que a demanda judicial contra o alienante tramitava em local diferente do bem alienado.

Passemos à análise deste procedimento.

1 AÇÃO DE EXECUÇÃO E SEUS REQUISITOS

A execução origina-se da falta de cumprimento de uma obrigação pelo devedor para com um credor, entre outros requisitos legais explanados adiante. Essa obrigação nasce de uma relação jurídica entre duas pessoas - o devedor e o credor - que, conforme seus interesses estabelecem prestações mútuas. Obrigação esta que foi inadimplida e o Poder Judiciário foi o caminho usado pelo credor para cobrar o débito, compulsoriamente.

Conforme ensina Luiz Rodrigues Wambier1:

A ação de execução abrange a demanda formulada ao juiz, pedindo a execução e os demais atos que, no curso do processo, o exequente pratica. Tem os mesmos atributos essenciais da ação de conhecimento: é pública, independente, autônoma, abstrata e condicionada.

Todos os atos praticados com esse fim fazem parte da execução, com a publicidade, autonomia como na fase de cognição.

1

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. 10 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. v. 2. p. 83.

(3)

Misael Montenegro Filho2 conceitua:

A execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável, suficientes para a plena satisfação do exequente, operando-se em beneficio deste e independentemente da vontade do executado.

[...]

é exigida a intervenção estatal para que se desloquem do patrimônio do devedor meios que assegurem o cabal cumprimento da obrigação.

O Estado se sub-roga da posição de credor para garantir o adimplemento da obrigação. É uma questão que vai além do interesse particular, uma questão de ordem pública.

Como ensina Humberto Theodoro Junior3 :

Cognição e execução, em seu conjunto, formam a estrutura global do processo civil, como instrumento de pacificação de litígios. Ambas se manifestam como formas de jurisdição contenciosa, mas não se confundem necessariamente numa unidade, já que os campos de atuação de uma e outra se diversificam profundamente: o processo de pura cognição busca a solução, enquanto o de pura execução vai rumo à realização das pretensões.

A execução, portanto, caminha para o adimplemento que o credor busca, seja alcançado.

Segundo Luiz Rodrigues Wambier4 “No processo de execução não haverá discussão acerca da efetiva existência do direito; não se ouvirão – senão pela propositura de ação incidental de embargos – os argumentos do réu, no que tange ao mérito.”

O direito já foi discutido e o credor ao chegar neste ponto já o tem definido, busca o estado para garanti-lo.

Theodoro Junior5, sobre os meios de atuação do Estado leciona:

O Estado se serve de duas formas de sanção para manter o império da ordem jurídica: os meios de coação e os meios de sub-rogaçao.

2 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 4ed. São Paulo: Atlas, 2008. v. 2. p. 229. 3

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 42 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 2. p. 127

4

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. p. 61

5

(4)

Entre os meios de coação, citam-se a multa e a prisão, que se apresentam como instrumentos intimidativos, de força indireta no esforço de obter o respeito às normas jurídicas. Não são medidas próprias do processo de execução, a não ser em feitio acessório ou secundário.

Já os meios de sub-rogaçao, o Estado atua como substitutivo do devedor inadimplente, procurando, sem a sua colaboração e até contra sua vontade, dar satisfação ao credor, proporcionando-lhe o mesmo benefício que para ele representaria o cumprimento da obrigação ou um beneficio equivalente.

Do ponto de vista estritamente técnico, entende-se por execução forçada a atuação da sanção por via dos meios de sub-rogaçao. É o Estado se colocando no lugar do credor, como comentado anteriormente, para garantir a obrigação.

Misael Montenegro Filho6 elucida:

Além das condições gerais da ação (interesse, legitimidade e possibilidade jurídica do pedido) e dos provimentos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, para implemento da execução, a lei exige a coexistência de três elementos:

a impontualidade do devedor (o que o código intitula não satisfação da obrigação)

que a obrigação seja certa, líquida e exigível;

a existência de título executivo, corporificando a obrigação.

Ausente qualquer dos elementos, o magistrado deve extinguir o processo sem resolução do mérito.

Portanto, o processo de execução, traz todos os requisitos da atividade jurisdicional e ainda, os requisitos específicos, ou seja, a impontualidade do devedor, que a obrigação seja certa, líquida e exigível e a existência de título executivo.

2 A DISTRIBUIÇÃO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO E O REQUERIMENTO DA CERTIDÃO COMPROBATÓRIA

O artigo 615-A foi acrescentado ao CPC através da Lei nº11.382/2006, com a finalidade de possibilitar que terceiros tenham ciência da execução, no advento de interesse de aquisição do patrimônio do executado, dificultando a incidência de fraude à execução que envolva terceiro de boa-fé.

6

MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. São Paulo: Atlas, 2008.

(5)

Segundo Cássio Scarpinella Bueno7 o objetivo da regra é: “criar condições seguras e objetivas de que não haja circulação indevida de patrimônio do executado”.

2.1 O “ajuizamento da execução”

O caput do art. 615-A dispõe que a certidão a ser obtida pelo exequente é comprobatória do “ajuizamento da execução”.

Cássio Scarpinella Bueno8 elucida o que deve ser entendido por “ajuizamento” neste caso.

A interpretação mais correta do dispositivo é que entende por “ajuizamento” a tão só entrega da petição inicial no distribuidor (art.263 – CPC). Independentemente de qualquer outra providência, desde que aceita a petição por aquele servidor, a execução foi “ajuizada”.

Importante ressaltar que somente a citação válida triangulariza a relação processual. O ajuizamento da execução indica tão somente a existência de demanda que pode recair em determinado patrimônio, o que garante ao exequente, através do dispositivo em comento, o direito de informá-la nos registros de qualquer bem sujeito à penhora.

2.2 Uma faculdade para o exequente

Segundo o caput do artigo 615-A do Código de Processo Civil, o exequente poderá obter certidão comprobatória de ajuizamento da execução, com identificação das partes e valor da causa, certidão esta que servirá como uma ferramenta a mais de segurança ao exequente, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos a penhora ou arresto.

O verbo “poderá”, demonstra que tal providência não passa de mera faculdade em favor do exequente. É direito seu obter a certidão, uma fermenta que ele pode ou não utilizar, no total ou até mesmo em um único bem que pretenda atingir com a execução.

Ensina Misael Montenegro Filho9:

7

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3. p. 74.

8

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. p. 75.

(6)

Além disso, o Magistrado não pode determinar que a averbação seja procedida de ofício, eventual decisão interlocutória neste sentido pode ser combatida com agravo de instrumento, devido a possibilidade de lesividade de tal ato.

Tal averbação pode não se fazer necessária e o juiz não deve determiná-la de ofício, pois neste caso a responsabilidade por eventual dano ao executado não seria do exequente.

E Cássio ScarpinellaBueno10 aduz:

Ademais, pode ser que o exequente, por outros mecanismos, alcance a mesma finalidade do art. 615-A. É o que ocorre nos casos em que o exequente se tenha valido da “hipoteca judiciária” a que se refere o art. 466 do CPC ou, com os bens já penhorados, pela averbação no registro imobiliário nos moldes do §4º do artigo 659 do CPC.

Neste caso, não seria necessário a averbação, pois já é de conhecimento a execução em andamento, a certidão é, tão somente, mais uma ferramenta para isso. 2.3 Elementos da certidão

O caput ainda indica os dados que constarão na certidão, as partes, que são o exequente e o executado e o valor da causa, tais como apontados na petição inicial.

Daniel Amorim Assumpsão Neves11 diz que caberá ao Cartório Distribuidor a elaboração dessa certidão, sempre que o exequente solicitar, mesmo que verbalmente.

O valor da causa deve ser informado na certidão para que o credor faça a averbação em determinados bens que sejam, mais ou menos, compatíveis com a execução.

2.4 Regulação pelos Tribunais

Ainda sobre a certidão, o §5º do art. 615-A dispõe que “os Tribunais poderão expedir instruções sobre o cumprimento deste artigo”.

ScarpinellaBueno12 explica:

9

MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. São Paulo: Atlas, 2008.

10

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. p. 76.

11

NEVES, Daniel Amorim Assumpsão. Manual de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo Método, 2009. p. 882

(7)

o que os Tribunais podem fazer, quando há autorização expressa – e é este o caso em comento - é criar condições para a aplicação administrativa da regra. Assim, por exemplo a forma da certidão, as diferentes formas de seu envio aos registros de bens, inclusive por meio eletrônico (arts. 154, §1º, e 659, §6º, e, mais amplamente, art. 7º da Lei nº 11.419/2006), eventual dever de comunicação “oficiosa” das averbações feitas ao juízo, para eliminar, de vez, o problema que, certamente, surgirá na interpretação do §1º do art.615-A.

É manifesto que não compete aos Tribunais criar regras de processo, competência constitucional privativa do Poder Legislativo da União e, concorrentemente, da União e dos Estados (art. 22, I e art. 24, XI, da CRFB/88), aqui se fala da competência administrativa e regulamentadora, ou seja, criar condições para o cumprimento do dispositivo, quer seja a respeito de uma taxa, de um prazo, ou ainda qual servidor responsável e como elaborá-la.

3 A AVERBAÇÃO DA CERTIDÃO COMPROBATÓRIA E A COMUNICAÇÃO AO JUÍZO

3.1 Averbação

Ainda no caput, a regra fala em “averbação”, e segundo Walter Ceneviva13, as averbações:

“...são lançamentos à margem de registros existentes, destinados a os modificar ou esclarecer, feitas a pedido da parte, por determinação judicial ou, excepcionalmente, de oficio”(...)”averbar é a ação de anotar, à margem do assento existente, fato jurídico que o modifica ou o cancela. É privativa do oficial ou de funcionário autorizado, a ser praticado com tanto cuidado e atenção quanto o próprio registro, do qual é acessório.” (...) “A averbação é acessória, em relação ao registro, mas nem por isso deve ser examinada com menor atenção pelo serventuário.

Lição de direito registral e notarial, definindo o que é uma averbação e sua importância como informação no registro.

Segundo Luiz Rodrigues Wambier14: “A averbação em exame está instrumentalmente ligada à futura penhora dos bens. É, em certa medida, um ato preparatório da constrição executiva.”

12

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. p.82

13

CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos comentada. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 93/191/322

(8)

Caso o devedor aliene os bens, havendo essa averbação, o terceiro adquirente não pode alegar boa-fé, que não tinha conhecimento da execução.

Se houve averbação, a partir de sua data, dá-se conhecimento a terceiro de que existe a execução, que esse bem pode ser atingido e, portanto, a sua alienação é fraude à execução caso essa pretensão se concretize, como trataremos adiante. 3.2 Comunicação ao Juízo

De acordo com o §1º do artigo 615-A do Código de Processo Civil, o exequente terá o prazo de 10 dias da concretização da averbação para comunicá-la ao juízo onde foi distribuída a execução. Até mesmo para que o Juiz tenha possibilidade de controlar eventual ato abusivo praticado pelo exequente.

Não existe, entretanto, consequência prevista em lei para o caso da não realização da comunicação.

Nos atos processuais, quando um prazo é extrapolado, a consequência é a perda da possibilidade de realizar-se o ato que não se fez no prazo ou, se já praticado o ato, a cessação de seus efeitos. É o instituto da preclusão temporal.

Segundo ScarpinellaBueno15

A questão, contudo parece impor solução um pouco mais sofisticada para assegurar a finalidade da regra do caput do art. 685-A, que é a de proteger o exequente de eventuais fraudes que venham a ser praticadas pelo executado, mais ainda quando tais atos possam envolver terceiros de boa-fé, que pela falta de qualquer informação no registro do bem adquirido, tendem a ter maior dificuldade de saber da execução ou, de forma mais ampla, das consequências do comprometimento do patrimônio do executado ao negocio que pretendem realizar. É imaginar a situação em que a alienação dos bens sujeitos à penhora dá-se em foro diverso daquele em que tramite a execução.

[...]

Por isso mesmo, a melhor solução para o impasse é que a averbação ou as averbações eventualmente feitas, mas não comunicadas no prazo de dez dias a que se refere o §1º do art. 615-A não percam, tão só pelo transcurso do prazo, a sua eficácia. É importante que se analise cada caso concreto.

Outro argumento neste sentido é que a averbação regulada pelo dispositivo aqui examinado é providência que gera seus efeitos fora do processo. Não é ato

15

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. p. 77.

(9)

processual, mas sim uma ferramenta acessória e, por isso mesmo, não pode ser atingida pelo instituto da preclusão. É ato que o próprio exequente pratica, independentemente de qualquer autorização e prazo judiciais.

E ela é importante, até para fins de cancelamento das averbações que se mostrem, oportunamente, desnecessárias nos termos do §2º do artigo 615-A do Código de Processo Civil, assunto que trata-se adiante.

Luiz Rodrigues Wambier16 diz que:

A razão de ser da comunicação exigida pelo §1º do art. 615-A, é que o juízo tenha ciência do que ocorre fora do processo, no plano exterior a ele, para que possa ser estabelecida a necessária ligação entre o plano de direito material e o do direito processual.

Do descumprimento deste dever de comunicação, contudo, não decorre a ineficácia do ato de averbação. A devida publicidade dos atos que possam infringir a execução não é de interesse só do exequente, a aquisição de um bem sujeito a execução é ato que agride a instituição judiciária, que compromete a segurança jurídica por colocar em risco terceiros de boa-fé, e isto deve ser levado em conta pelo intérprete e pelo aplicador do direito processual civil.

4 PENHORA E CANCELAMENTO DAS AVERBAÇÕES

Aduz o §2º do art. 615-A do Código de Processo Civil, realizada a penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, será determinado o cancelamento das averbações aos bens que, por qualquer razão, não foram penhorados.

Aqui sim, trata-se de ato judicial, ato que será praticado por ordem do juízo e que depende da devida comunicação regulada pelo §1º, como ensina Misael Montenegro Filho17 privilegiando o princípio da menor onerosidade para o devedor, que habita o art. 620.

Acontece que o § 2º do art. 615-A do Código de Processo Civil impõe apenas o cancelamento das averbações relativas aos bens não penhorados e não fala sobre como proceder com as averbações dos bens que foram penhorados.

16

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. p.187.

17

(10)

Pode-se entender que a lei dispensou a realização de novo registro no caso de penhora de bem com averbação anterior.

Cássio Scarpinella Bueno18 leciona que:

O ideal, do ponto de vista da lei, é que as averbações relativas ao “ajuizamento” da execução dêem lugar a novas averbações relativas à penhora.

Justamente para que essa comunicação que tratamos no tópico anterior prosseguisse com informações atualizadas sobre a situação do bem, que anteriormente era alvo e agora já penhoradas é material da execução. Não há orientação sobre como proceder quanto aos bem penhorados, se a averbação do ajuizamento basta, ou se agora, com a nova situação de penhora, deve-se alterá-la, ou até mesmo constituir uma nova averbação.

5 PRESUNÇÃO DE FRAUDE A EXECUÇÃO

Não encontra sucesso o pensamento que simplesmente a propositura de uma ação de execução torne ineficaz a disposição de patrimônio de alguém, a intenção é prevenir que se alegue boa-fé numa posterior incidência desta execução no bem gravado.

Misael Montenegro Filho19 ensina que:

prerrogativa conferida ao exequente não significa que os bens do devedor se tornam inalienáveis com a só distribuição da demanda executiva, mas que, pelas averbações, amplia-se a possibilidade de a existência da ação chegar ao conhecimento de terceiros, evitando que formalizem negócios jurídicos com o devedor, passiveis de reconhecimento de ineficácia em momento posterior, por declaração de fraude à execução.

A presunção de ciência sobre a existência da ação é absoluta, mas a presunção de fraude é relativa, o artigo 615-A no §3º, ao dizer que “presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação (art. 593)”.

A fraude só ocorre caso o bem alienado venha, depois, a ser penhorado e ainda depende do estado de insolvência do devedor.

18

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. p. 78

19

(11)

Conforme ressalta Humberto Theodoro Júnior20, o dispositivo em comento institui um mecanismo de ineficácia relativa, ou seja:

A eventual alienação ou oneração será válida entre as partes do negócio, mas não poderá ser oposta a execução por configurar hipótese de fraude nos termos do art. 593, como prevê o § 3° do art. 615-A. Não obstante a alienação, subsistirá a responsabilidade sobre o bem, mesmo tendo sido transferido para o patrimônio de terceiro. Naturalmente, essa presunção legal de fraude de execução, antes de aperfeiçoada a penhora, não é absoluta e não opera quando o executado continue a dispor de bens para normalmente garantir o juízo executivo. Mas se a execução ficar desguarnecida, a fraude é legalmente presumida, independentemente da boa ou má-fé do adquirente, graças ao sistema de publicidade da averbação, no registro publico, da simples existência de execução contra o alienante.

Portanto, conforme confirma Daniel Amorim A. Neves21: “[...] demonstrando o executado ter bens restantes em seu patrimônio aptos a satisfazer o direito do exequente, não terá ocorrido qualquer espécie de fraude na alienação e/ou oneração do bem objeto da averbação”.

Independentemente da análise da intenção (boa ou má-fé) do adquirente se o executado que alienou o bem averbado tinha patrimônio suficiente para saldar seu débito, não se pode falar em fraude de execução.

6 AVERBAÇÃO INDEVIDA E DEVER DE INDENIZAR

Apesar do não haver consequência processual na falta de comunicação das averbações ao juízo, como foi tratado no §1º ponto 3.2, os danos porventura experimentados pelo executado deverão ser suportados pelo exequente.

Para Luiz Rodrigues Wambier22: “o exequente deve agir de modo responsável no exercício dessa faculdade que a lei lhe confere.”

Não se pode descartar que muitas vezes pode ocorrer certo abuso no ajuizamento de execuções infundadas e indevidas, partindo destas averbações também indevidas. Por isso o §4º do artigo 615-A do Código de Processo Civil

20

THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 33.

21

NEVES, Daniel Amorim Assumpsão. Manual de direito processual civil. p. 882

22

(12)

dispõe que o exequente é responsável por averbações manifestamente indevidas e deverá indenizar a parte contrária nos termos do §2º do artigo 18 do CPC.

A averbação manifestamente indevida pode ser ilustrada, como exemplificou Misael Montenegro Filho23:

quando atingir uma pluralidade de bens do executado, sendo a divida de valor bastante inferior ao dos bens abatidos pela providência; quando o exequente estiver na posse de coisa pertencente ao devedor, por direito de retenção, com a obrigação de excuti-la de modo preferencial (art. 594), não obstante a isso, formalizando a averbação em outros bens do executado;

quando a averbação persiste, não obstante a formalização da penhora em bens suficientes para garantir a execução.

Estas hipóteses configuram litigância de má-fé, justificando a fixação de indenização em favor do prejudicado.

Essa ilustração pode ser estendida, acima o autor dá exemplos, mas outras situações podem ainda vir a causar prejuízos ao executado e gerar indenização.

Cássio ScarpinellaBueno24 doutrina:

Para haver indenização a cargo do exequente, é fundamental que o executado comprove ter sofrido prejuízos. Só se indeniza eventual desfalque patrimonial ou moral experimentado por alguém. Sem dano e sem que este dano decorra da averbação manifestamente indevida (nexo causal), não há lugar para qualquer indenização. De resto, a hipótese da lei não é de responsabilidade objetiva. Também o elemento subjetivo da responsabilidade civil, a culpa ou o dolo, devem-se fazer presentes. Tanto assim que o §4º se refere a averbação manifestamente indevida.

Comprovados esse elementos, atividades que, de acordo com a regra, deverão ser desenvolvidas em autos apartados, mas perante o juízo da execução, o magistrado fixará o valor a ser indenizado e desde que haja culpa em sentido amplo, dano e nexo causal, fixará a indenização em valor não superior a 20% do valor da causa.

Ainda MisaelMontenegro Filho25 diz:

Se o prejuízo suportado pelo executado exceder o limite previsto no §2º do artigo 18 do CPC, ou se a pretensão for movida em face do Estado, defendemos a possibilidade de o prejudicado propor ação de indenização por perdas e danos [...].

23

MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. p. 669.

24

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva.

25

(13)

Pois além das responsabilizações derivadas do artigo em comento, há instituto mais amplo, o da responsabilidade civil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo trouxe uma análise da certidão de ajuizamento da ação de execução como uma ferramenta de publicidade, a incidir no registro de bens do executado com o propósito de comunicar a existência de demanda capaz de atingir determinado bem e afastar adquirentes de boa-fé.

O sucesso da execução vai muito além deste procedimento. Ele tão somente vem aderir a um conjunto de atitudes que, o credor de um negócio jurídico, deve tomar a fim de resguardar seu adimplemento.

Evidente que quanto mais ferramentas o legislador proporcionar ao exequente, maior será a possibilidade de sucesso da tutela que o Estado tem de proporcionar para garantir a ordem jurídica.

Não é mais necessário se aguardar o aperfeiçoamento da penhora. Desde a propositura da ação já é possível tomar atitudes no intuito de se resguardar o crédito executado.

É neste sentido que o presente artigo abordou todas as questões suscitadas sobre tal certidão.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Tutela Jurisdicional Executiva. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3.

CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos comentada. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

.MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. São Paulo: Atlas, 2008.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil. 4ed. São Paulo: Atlas, 2008. v. 2.

(14)

NEVES, Daniel Amorim Assumpsão. Manual de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo Método, 2009.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 42 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. v. 2.

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. 10 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. v. 2.

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