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Forma e Semiótica, pra quem não sabe Semiótica

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Academic year: 2021

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Forma e Semiótica, pra quem não sabe Semiótica

Uma boa forma, assim considerada, o é por atender condições de simplicidade, coerência, facilidade de reconhecimento. Atende, portanto, uma função de economia ou eficiência cognitiva. Assim ensina a teoria da forma, Gestalt, que trata da boa forma e não se pergunta sobre o seu significado. Talvez por isso tenha a teoria sido abraçada pela Bauhaus e pelo pensamento moderno. O que move esta reflexão é a proposta que o significado, ou seja, a relação de uma forma com uma coisa ou idéia deve também ser considerada na avaliação de sua eficiência.

Para pensar o significado temos a Semântica, a Semiologia, a Semiótica, todas denominações advindas de SEMEION, signos, em grego (plural de semeia).

A Semiologia de Ferdinand Saussure (Sw, 1857-1913) e a Semiótica de Charles Sanders Peirce (EUA,1839-1914) surgiram quase ao mesmo tempo. A Semiótica de C. S. Peirce se destacou por não se basear na linguagem verbal. Daí que veio a ser tomada como teoria das mais diversas linguagens, por isso também da linguagem das formas e veio a compor os currículos dos cursos superiores de comunicação, arte, design, e até de arquitetura.

Os relatos sobre Peirce o descrevem com um lógico, filósofo ou cientista. As narrativas fazem pensar em algum personagem dos contos fantástico de Jorge Luís Borges, dada sua quase insana obsessão em propor um sistema, uma arquitetura triádica de conhecimento do mundo, na qual a Semiótica, que o tornou célebre, é apenas uma parte. E não é uma parte pequena. Até hoje, seguidores se debruçam sobre seus escritos, já muitos organizados em coletâneas de publicação póstuma.

Isso porque Peirce, por não ter tido reconhecimento em vida, não deixou uma obra acabada. Nos textos e cartas, nos quais elabora suas idéias, as vezes define mais de uma vez seus termos, num processo de refinamento. Ao propor um novo sistema de pensamento, Peirce cuidou de inventar termos de forma a não se valer de palavras existentes. A estratégia que visava não confundir, acabou por gerar uma linguagem própria, até hermética, e a afastar os curiosos dos textos acessíveis apenas aos iniciados. O que é um paradoxo, e uma pena.

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Para fugir desse paradoxo vamos tentar ser claros, e não vamos tomar todos os aspectos da teoria, no momento, mas apenas aqueles que irão contribuir com nosso argumento (que a relação de uma forma com uma coisa ou idéia deve também se considerada na avaliação de sua eficiência). De todo modo, não escaparemos de todas as palavras e a palavra chave é SIGNO.

I use the word “Sign” in the widest sense for any medium for the communication or extension of a form (or feature). (C. S. Peirce, spring of 1906, letters for Lady Welby)

Signo é aquilo que está no lugar de aluma coisa. A idéia básica é que não se acessa nunca a coisa na sua totalidade pelo entendimento. Apenas parte, cada vez mais próxima porque a mente evolui, mas nunca completa porque o signo é por definição falível, e também porque objeto também evolui. E isso que a mente acessa é o signo do objeto.

Aqui o Daniel diz q devem entrar estes tópicos:

• a lógica dos predicados de Aristoteles, formada em cima da logica do logos PALAVRA =logica proposicional

• a lógica do Peirce se baseia nos elementos quimicos ver texto do Lauro Silveira: Pensar é estar em pensamento

Já em Kant, tem-se a idéia de que não se acessa a coisa em si, mas sim algo que de alguma forma aparece (fenomeno). Antes mesmo, de lembrar Kant, da minha rasa filosofia, vejo um paralelo com a Caverna de Platão. Mas em Platão a verdade estaria no mundo das essências, e o que está no mundo é imagem imperfeita disso. Para Peirce, vejam aí o cientista, a verdade (buscar verdade, verdade deveria ser um verbo) está no objeto e o signo, o que o sujeito apreende, é imperfeito. Vamos por partes:

OBJETO vem de ʻobjectusʼ: em face, em frente, contra, aquilo que está lançado a sua frente, pode ser uma coisa (concreta), uma idéia (abstrata). Numa relação epistemológica, objeto é aquilo que se quer conhecer. A palavra epistemológica, quebra nosso propósito de escrever as coisas de modo mais fácil. Poderíamos dizer numa relação de conhecimento.

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SUJEITO, dentro da relação epistemológica, é aquele que quer conhecer. Uma MENTE. A primeira idéia é que o sujeito é uma pessoa, mas poderia ser um animal, há hoje o entendimento que os animais também precisam elaborar signos para viver. Ele pensa: "opa! vegetação se mexendo: atenção!", o outro pensa: "opa! sinto um cheiro do meu predador: fugir." É provável não traduza o pensamento verbalmente, mas elabora signos. O Jorge Vieira vai além, e diz que a água também elabora signos, ainda que de forma muito restrita. Diante dos raios de sol dizer que a poça d'água pensa "evaporar" parece demais. Mas Jorge diz, não que ela pensa, mas que intepreta o calor em forma de mudança de estado. Matéria é mente embotada de hábito, entenderemos mais tarde.

SIGNO é o veículo.

O signo não tem existência material. É uma abstração lógica. É interessante notar que as outras teorias da significação são baseadas em duplas, significante, significado. Peirce descobriu (ou inventou) algo como um veículo, pois as coisas não tem como entrar em uma cabeça se não por um signo. Modo de dizer. De fato, sendo imaterial, o signo não está na coisa nem na minha cabeça, mas é uma relação. E essa relação, embora imperfeita deve ser coerente com a coisa. Apreendo a mesa elaborando um signo que pode ser um pouco diferente do seu, ou de uma criança japonesa.

É interessante notar, desde já, que o nome impresso "mesa", ou um desenho de mesa, não são signos da mesa, mas são outras coisas, tinta ou grafite depositado no papel, objetos que remetem ao objeto que representam. Daí que podem, na relação com o sujeito, significar, de alguma forma mesa.

A natureza desses signos é bastante distinta. O desenho pode comunicar a idéia mesa, quase sem educação visual prévia. Já a palavra escrita, necessita de uma série de acordos que vão desde a possibilidade de se representar o som com imagem, até o desenho de fonemas em forma de letras, e determinação de palavras que indicarão cada coisa. Para alguns, o fato do desenho da mesa ser feito a bico de pena ou carvão, se somará ao entendimento, acrescentando algo. Estes mesmos podem ler diferente se mesa aparece em caixa baixa, light, sem serifa, num tamanho 10 pt, ou se o mesmo nome é impresso em impact bold, caixa alta com 72pt de tamanho. Há ainda a

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possibilidade de se elaborar um signo similar mesa, entrando em uma sala escura e esbarrando em um objeto, na altura da cintura.

Observando estas diferenças, imagino que Peirce perdeu algumas noites de sono até fazer um mapa dos tipos de signo. Neste ponto recomendo fortemente a leitura do capítulo, "abrir as janelas: olhar para o mundo" do clássico O que é Semiótica, da Santaella, com o cuidado para o entendimento da fenomenologia Peirceana.

Neste texto, vamos apenas sublinhar que Peirce queria entender como as coisas, ou os fenômenos, aparecem à mente. As faculdades que devem ser desenvolvidas para tanto, são três:

1.capacipade contemplativa; 2. capacidade de distinguir. 3. capacidade de generalizar.

No intuito de generalizar, Peirce chegou a três elementos formais de toda e qualquer experiência:

1.Qualidade 2. Relação 3. representação.

Aí ele pensou, pensou, e resolveu dar nomes diferentes a essas categorias. Chamou-as:

1. Firstness que corresponde aquilo que é primeiro na percepção. 2. Secondness que corresponde ao reativo, aquilo em que se esbarra.

3.Thirdness, que é a síntese intelectual- ou o pensamento em signos.

Já foi comentado o poder de afastar as pessoas que os neologismos na semiótica acarretam. A inevitável tradução em PRIMEIRIDADE, SECUNDIDADE e TERCEIRIDADE, principalmente esta última,confunde o sentido pelo uso do sufixo "idade" que tem outro sentido na língua portuguesa, além de poder coisificar um adjetivo. Podia ser "primeireza" o que é da experiência primeira, e "secundeza" e "terceireza" , respectivamente. Mas não interessa aqui ficar discutido os nomes. E sim interessante é entender o que eles significam.

Aqui vou supor que todos leram Santaella, ou se isso fosse uma aula, eu daria uns três exemplos de cada categoria, pois vai ser mais interessante ter os exemplos no design, na arte e na arquitetura. Vou supor também que ninguém desistiu e mais, que todos, ou pelo

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menos os bravos, resolveram se engajar nessa idéia de sair observando, dividindo e agrupando tudo em três, três, três. Acreditem, os sistemas de pensamento não são fáceis, estudar filosofia é pra quem se aventura: tem que embarcar no pensamento do outro e seguir o cara. E entendendo.

Entendidas as categorias, vale salientar que as separações se dão, muitas vezes, no campo lógico, mas se confundem na experiência. Não há fronteiras claras entre os tipos de signos elaborados na percepção dos fenômenos.

Peirce juntou aquela história de objeto, interpretante e signo, com essas três categorias e saiu cruzando as coisas sempre de três em três e chegou a uma matriz de nove, que se desdobra em matrizes de múltiplos de nove. Vamos fechar nas nove, que acho que menos que isso dá conta do nosso problema que... qual é mesmo? A aposta que o o significado, ou seja, a relação de uma forma com uma coisa ou idéia deve também ser considerada na avaliação de sua eficiência.

Eis a matriz:

signo em si mesmo signo com seu objeto signo com seu interpretante

1stness qualisigno Ícone rema

2ndness sinsigno índice dicente

3rdness legisigno símbolo argumento

Nessa matriz, o tempo passa no sentido da escrita, na horizontal, e para baixo na vertical.

Vamos a primeira coluna:

O signo em si mesmo, num estado primeiro é qualisigno, e como o nome sugere, é um signo de qualidade. Fico tentada a dizer, uma sensação (lembrando a lógica da sensação do Deleuze, embora estes cruzamentos não sejam recomendáveis). A fugaz experiência de primeiridade, vai se tornando rara a medida em que as coisas tornam-se conhecidas para as mentes. Mas algo de primeiridade pode nos atingir, quando algo surpreende nossos sentidos, provoca conexões impensáveis, algo nos tira o chão. O algo me toma e o algo sou eu, no meu corpo mexido por aquilo. Não distingo entre o algo e eu.

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O sinsigno é o signo de relação ou reação. Já percebo um objeto (que pode ser abstrato). Opa, aqui tem coisa. Reconheço algo pela diferença que há entre aquilo e eu, sujeito. Há uma separação, a percepção que algo objeta. Retomo meus contornos e o que percebo, ainda que não nomeado é algo alheio.

O legisigno, é o signo elaborado quando já nomeio, já vinculo aquilo a um geral. Reconheço. O eu embebido na experiência deu lugar a eu em contato com a coisa até eu saber dizer: tal forma, tal som, tal cor. Ou, pensando numa mente, ocorre reação de forma pré-estabelecida, conforme um hábito, ou uma lei.

A seqüência, qualisigno, sinsigno, legisigno pode não acontecer sempre assim, talvez seja mais uma linha para explicar de forma didática. Vou contar uma história para ilustrar. Quando vi pela primeira vez o livro SMLXL, aquilo foi uma pancada. Era algum tempo antes do ano 2000. Anos, talvez. Embora encadernado como livro, o objeto em nada se parecia com os livros que eu conhecia. Peso, dimensão, as páginas sem ter uma diagramação regular, fotos estranhas, eu nem conseguia entender sobre o que era aquilo. Liguei para o Daniel e disse: tem um livro muito estranho aqui. Ele respondeu: compra.

De cara o tomei sabendo que era um objeto semelhante a um livro (reconhecimento) . Embora a forte emoção do ocorrido, não posso dizer que em algum momento tive dúvidas sobre onde acabavam meus limites e começavam os do livro. Mas peso (reação) e a vertiginosa estrutura do livro minavam minhas certezas e já não conseguia fazer juízos racionais diante daquilo (qualidade). Quando classifiquei como “livro estranho” já estava identificando, vinculando a um geral (reconhecimento).

Entre segundo e terceiro, sinsigno e legisigno, vivemos na maior parte da experiência cotidiana do conhecimento. Algo e primeiro permeia, às vezes. Um qualisigno acontece mais raramente, porque o universo é legal. Os hábitos predominam.

_______________________ Notas possíveis.

Saussure

Fundador da linguística moderna e junto c Peirce, fundador da Semiótica contemporânea...

Semiótica- teoria geral dos signos. O estudo da doutrina dos signos, algumas vezes pretende ser uma ciência dos signos; a investigação sistemática da natureza,

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propriedades e tipos de signos, especialmente quando tomados em um "self - conscious way".

o estudo dos signos tem uma longa historia. uma tradiçao vem de CS Peirce, criador do pragmatismo.

Semiologia- teoria geral dos signos [tb] semeion- signos [grego]

semantica- estudo dos significados

Referências

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