A Lei dos Mercados de
A Lei dos Mercados de
J.B.
J.B.
Say
Say
Prof. Jos
Prof. Jos
é
é
Luis
Luis
Oreiro
Oreiro
Departamento de Economia
Departamento de Economia
–
–
UnB
UnB
Pesquisador N
A Lei dos Mercados de
A Lei dos Mercados de
Say
Say
O enunciado original da Lei de SayO enunciado original da Lei de Say, tal como foi concebida originalmente , tal como foi concebida originalmente
pelo pr
pelo próóprio prio Say, dizia simplesmente que haveria sempre demanda suficiente Say, dizia simplesmente que haveria sempre demanda suficiente para absorver a produ
para absorver a produçção corrente, qualquer que seja o níão corrente, qualquer que seja o nível desta. vel desta.
Esse resultado Esse resultado éé obtido a partir da adoçobtido a partir da adoção das seguintes premissas (cf. Lipkinão das seguintes premissas (cf. Lipkin, ,
1990): 1990):
“Produzir “Produzir ééquerer comprarquerer comprar””
“Produzir “Produzir éépoder comprarpoder comprar”. ”.
Em outras palavras, a Lei de SayEm outras palavras, a Lei de Say pressupõe que os requisitos para a existência pressupõe que os requisitos para a existência
de demanda efetiva pelas mercadorias
de demanda efetiva pelas mercadorias –– o desejo e a capacidade de comprar –o desejo e a capacidade de comprar – se acham impl
se acham implíícitos no prcitos no próóprio ato de produprio ato de produçção das mesmas. ão das mesmas.
“É“É bom observar que um produto acabado oferece sempre, a partir desse instante, um mercado bom observar que um produto acabado oferece sempre, a partir desse instante, um mercado
para outros produtos equivalente a todo o montante de seu valor.
para outros produtos equivalente a todo o montante de seu valor. Com efeito, quando o úCom efeito, quando o último ltimo produtor acabou seu produto, seu maior desejo
produtor acabou seu produto, seu maior desejo éé vendê-vendê-lo para que o valor desse produto não lo para que o valor desse produto não fique ocioso em suas mãos. Por outro lado, por
fique ocioso em suas mãos. Por outro lado, poréém, ele tem igual pressa de desfazerm, ele tem igual pressa de desfazer--se do dinheiro se do dinheiro que sua venda propicia, para que o valor do dinheiro não fique o
que sua venda propicia, para que o valor do dinheiro não fique ocioso. Ora não cioso. Ora não éé posspossíível vel desfazer
desfazer--se do dinheiro, senão procurando comprar um produto qualquer. Vêse do dinheiro, senão procurando comprar um produto qualquer. Vê--se, portanto, que se, portanto, que s
sóó o fato da criaço fato da criação de um produto abre, a partir desse mesmo instante, um mercadoão de um produto abre, a partir desse mesmo instante, um mercado para outros para outros produtos
A Lei ...
A Lei ...
Duas preposiçDuas preposições fundamentais da Lei de ões fundamentais da Lei de SaySay: :
A produçA produção (renda) éão (renda) é sempre gasta. sempre gasta.
Todo o níTodo o nível de produvel de produçção éão é solvsolváável. vel.
Uma vez aceitas as premissas da Lei de SayUma vez aceitas as premissas da Lei de Say temos que concluir que os temos que concluir que os
indiv
indivííduos irão utilizar toda a sua renda, proveniente da venda de suaduos irão utilizar toda a sua renda, proveniente da venda de sua produ
produçção no mercado, para adquirir outras mercadorias. ão no mercado, para adquirir outras mercadorias.
Isso porque a satisfaçIsso porque a satisfação de necessidades, presentes ou futuras, ão de necessidades, presentes ou futuras, éé o móo móvel da vel da
produ
produçção, de tal maneira que a simples ocorrência de atividade produtiva ão, de tal maneira que a simples ocorrência de atividade produtiva demonstra que os indiv
demonstra que os indivííduos desejam comprar outras mercadorias. duos desejam comprar outras mercadorias.
Invalida a crInvalida a crítica de sensoítica de senso--comum a Lei de comum a Lei de SaySay, segundo a qual a oferta de , segundo a qual a oferta de mercadorias pode se tornar excessiva porque os indiv
mercadorias pode se tornar excessiva porque os indivíduos que tem íduos que tem capacidade para adquirir bens, podem não ter o desejo de fazê
capacidade para adquirir bens, podem não ter o desejo de fazê-lo. -lo.
““O erro estáO erro está em não perceber que, embora todos os que tem com que pagar possam em não perceber que, embora todos os que tem com que pagar possam
j
jáá estar de posse de cada artigo de consumo que desejam, o fato deestar de posse de cada artigo de consumo que desejam, o fato de continuarem a continuarem a aumentar a produ
aumentar a produçção prova que a realidade efetiva não ão prova que a realidade efetiva não éé essaessa”” (Mill, 1988, (Mill, 1988, p.205).
A Lei ...
A Lei ...
Aceitas as premissas da Lei de
Aceitas as premissas da Lei de
Say
Say
temos que concluir
temos que concluir
que todo o n
que todo o n
í
í
vel de produ
vel de produ
ç
ç
ão
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é
é
solv
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á
á
vel
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De acordo com a segunda premissa da Lei de
De acordo com a segunda premissa da Lei de
Say
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,
,
sabemos que
sabemos que
“
“
produzir
produzir
é
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pode comprar
pode comprar
”
”
.
.
Essa premissa significa que
Essa premissa significa que
é
é
a pr
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ó
ó
pria produ
pria produ
ç
ç
ão que
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determina a renda dos indiv
determina a renda dos indiv
í
í
duos, ou seja, que a renda
duos, ou seja, que a renda
é
é
gerada no pr
gerada no pr
ó
ó
prio ato de produ
prio ato de produ
ç
ç
ão.
ão.
Nas palavras de
Nas palavras de
Say
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:
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“
“
Em que consistem tais meios? Em outros valores, outros serviç
Em que consistem tais meios? Em outros valores, outros servi
ç
os, frutos
os, frutos
de sua ind
de sua ind
ú
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stria, de seus capitais e de suas terras: da
stria, de seus capitais e de suas terras: da
í
í
resulta, embora a
resulta, embora a
primeira vista pare
primeira vista pare
ç
ç
a um paradoxo, que
a um paradoxo, que
é
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a produç
a produ
ção que propicia
ão que propicia
mercados para os produtos
A Lei ...
A Lei ...
Ao acrescentarmos a primeira premissa o esquema fica completo: os indivAo acrescentarmos a primeira premissa o esquema fica completo: os indivííduos duos
produzem porque querem comprar outros produtos, e ao produzirem
produzem porque querem comprar outros produtos, e ao produzirem obtemobtem os meios os meios necess
necessáários para fazêrios para fazê--lo. lo.
A demanda não se constitui em obstáA demanda não se constitui em obstáculo para o crescimento da produculo para o crescimento da produçção, pois ão, pois
qualquer n
qualquer níível de produvel de produçção ão éé solvásolvável. vel.
A Lei de SayA Lei de Say pode ser vista como um princípode ser vista como um princípio que estabelece a existência de uma pio que estabelece a existência de uma
rela
relaçção de determinação de determinação unilateral do gasto pela renda. ão unilateral do gasto pela renda.
A produA produçção determina a renda ão determina a renda
A renda A renda éé integralmente gasta. integralmente gasta.
YtYt= Dt= Dt (1) (1)
Subtraindo o consumo de ambos os lados da expressão (1), temos: Subtraindo o consumo de ambos os lados da expressão (1), temos:
StSt = Yt= Yt ––CtCt = Dt= Dt ––CtCt = It (2)= It (2)
A poupanA poupançça determina o investimento. a determina o investimento.
Se os indivíSe os indivíduos sóduos só produzem com o objetivo de comprar, então a parcela da produzem com o objetivo de comprar, então a parcela da
produ
produçção que não for alocada para consumo presente seráão que não for alocada para consumo presente será, de imediato, alocada , de imediato, alocada para consumo futuro.
para consumo futuro.
A Lei ...
A Lei ...
Para os economistas cl
Para os economistas cl
á
á
ssicos não h
ssicos não h
á
á
distin
distin
ç
ç
ão entre poupan
ão entre poupan
ç
ç
a e
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investimento, ou seja, poupar
investimento, ou seja, poupar
é
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o mesmo que investir, não são
o mesmo que investir, não são
decisões distintas, mas a dupla face de um mesmo fenômeno: a
decisões distintas, mas a dupla face de um mesmo fenômeno: a
acumula
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ç
ç
ão de capital.
ão de capital.
Nas palavras de
Nas palavras de
Garegnani
Garegnani
:
:
““In Ricardo In Ricardo andand MalthusMalthus, as in Smith , as in Smith beforebefore thenthen, , thethe questionquestion ofof a a possiblepossible
divergence
divergence betweenbetween thethe twotwo magnitudes magnitudes hashas notnot beenbeen posedposed”” (Garegnani(Garegnani, 1983, , 1983, p.26).
p.26).
A poupan
A poupan
ç
ç
a não se constitui numa redu
a não se constitui numa redu
ç
ç
ão da demanda
ão da demanda
agregada, ou seja, a parcimônia não implica numa redu
agregada, ou seja, a parcimônia não implica numa redu
ç
ç
ão da
ão da
demanda por bens.
demanda por bens.
Isso porque tudo o que não for gasto com a compra de bens de
Isso porque tudo o que não for gasto com a compra de bens de
consumo, o ser
A Lei ...
A Lei ...
A aceitaçA aceitação da Lei de Sayão da Lei de Say não implica na neganão implica na negação da possibilidade de ção da possibilidade de
ocorrência de crises econômicas. ocorrência de crises econômicas.
Com efeito, todos os economistas cláCom efeito, todos os economistas clássicos reconheciam a possibilidade de ssicos reconheciam a possibilidade de
ocorrência de divergências entre a composi
ocorrência de divergências entre a composiçção setorial da oferta e a ão setorial da oferta e a composi
composiçção setorial da demanda, de forma que haveriam algumas ão setorial da demanda, de forma que haveriam algumas mercadorias em excesso de oferta nos mercados.
mercadorias em excesso de oferta nos mercados.
A contra-A contra-partida dessa situaçpartida dessa situação ão éé que existiriam outras mercadorias com que existiriam outras mercadorias com
excesso de demanda. excesso de demanda.
A níA nível agregado, contudo, a magnitude da oferta seria igual a magnivel agregado, contudo, a magnitude da oferta seria igual a magnitude da tude da
demanda. demanda.
Nas palavras de SowellNas palavras de Sowell: :
“The“The classicalclassical economistseconomists werewere notnot guiltyguilty ofof thethe absurdityabsurdity ofof denyingdenying thethe existenceexistence ofof depressions, depressions,
unemployment
unemployment, , oror unsoldunsold goods, as goods, as sometimessometimes is is claimedclaimed in in thethe literature. literature. TheyThey recognizedrecognized suchsuch phenomena
phenomena as as effectseffects ofof productionproduction as faras far as productas product mix mix waswas concerned, concerned, butbut notnot excessiveexcessive in in thethe aggregate
A Lei de
A Lei de
Say
Say
e a Moeda
e a Moeda
A existência de moeda faz com que os atos de compra e venda de A existência de moeda faz com que os atos de compra e venda de
mercadorias sejam separados no tempo. mercadorias sejam separados no tempo.
Ao vender um produto, o indivAo vender um produto, o indivíduo não íduo não éé obrigado a gastar imediatamente o obrigado a gastar imediatamente o
resultado dessa venda. Ele pode
resultado dessa venda. Ele pode adiar adiar a realizaa realizaçção desse gasto. ão desse gasto.
A introduçA introdução da moeda como simples intermediáão da moeda como simples intermediário de trocas rio de trocas éé condiçcondição ão
necess
necessáária para dar um grau maior de autonomia ria para dar um grau maior de autonomia às decisões de gasto dos agentes às decisões de gasto dos agentes econômicos.
econômicos.
Nesse caso, a possibilidade de adiamento Nesse caso, a possibilidade de adiamento dos gastos que édos gastos que é introduzida pela moeda introduzida pela moeda
faz com que o corol
faz com que o coroláário brio báásico da Lei de Saysico da Lei de Say seja rejeitado: os indivíseja rejeitado: os indivíduos duos produzem, vendem a sua produ
produzem, vendem a sua produçção no mercado, mas não compram. ão no mercado, mas não compram.
No períNo período de produodo de produçção de referência haverão de referência haveráá um excesso de mercadorias não um excesso de mercadorias não
vendidas devido a insuficiência de demanda efetiva. vendidas devido a insuficiência de demanda efetiva.
Para que a existência de moeda seja uma condiçPara que a existência de moeda seja uma condição suficiente para o adiamento da ão suficiente para o adiamento da
decisão de gastos, no entanto, a moeda não deve ser vista apenas
decisão de gastos, no entanto, a moeda não deve ser vista apenas como um como um intermedi
intermediáário de trocas, ela deve ser vista como um instrumento de acumulario de trocas, ela deve ser vista como um instrumento de acumulaçção ão de riqueza no tempo.
de riqueza no tempo.
Essa funçEssa função da moeda como “ão da moeda como “reserva de valorreserva de valor”” não não éé considerada pelos considerada pelos
economistas cl
A Lei de
A Lei de
Say
Say
e a Moeda
e a Moeda
Nas palavras de Ricardo:
Nas palavras de Ricardo:
“
“
Os produtos são sempre trocados por outros
Os produtos são sempre trocados por outros
produtos ou servi
produtos ou servi
ç
ç
os. O dinheiro
os. O dinheiro
é
é
o meio pelo qual
o meio pelo qual
se efetua a troca
se efetua a troca
”
”
(Ricardo, 1982, p.198).
(Ricardo, 1982, p.198).
Nas palavras de
Nas palavras de
Say
Say
:
:
“
“
(...) O dinheiro
(...) O dinheiro
é
é
apenas a viatura de valor dos
apenas a viatura de valor dos
produtos
A Lei de
A Lei de
Say
Say
e a Teoria
e a Teoria
Ricardiana
Ricardiana
A Lei de
A Lei de
Say
Say
desempenha um papel importante
desempenha um papel importante
na teoria
na teoria
Ricardiana
Ricardiana
da acumula
da acumula
ç
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ão de capital,
ão de capital,
qual seja: demonstrar que a demanda não pode
qual seja: demonstrar que a demanda não pode
exercer qualquer influência limitante no
exercer qualquer influência limitante no
crescimento econômico no longo
crescimento econômico no longo
-
-
prazo.
prazo.