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PRÓ REITORIA DE EXTENSÃO

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PRÓ REITORIA DE EXTENSÃO

CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO CONCEITO DE TECNOLOGIA SOCIAL

Edvaldo Pereira da Silva1

I – Considerações Iniciais

A transferência e a utilização de Tecnologia Social (TS) como mecanismo de solução de problemas e instrumento auxiliar no combate às desigualdades e na inclusão social é um dos pressupostos inerentes à política de extensão dos Institutos Federais.

Este documento, elaborado exclusivamente para fins de estudos, não tem qualquer outra pretensão acadêmica, a não ser cumprir com o propósito de contribuir para o debate na busca da compreensão do conceito de TS, segundo a visão dos autores consultados, na perspectiva de auxiliar na sua aplicação e utilização na execução da política de extensão do IFRR.

Por isso, o mesmo foi elaborado de forma pragmática, sem preocupações com todo o arcabouço histórico e teórico que demarcam o assunto e suas origens, a partir de consultas e transcrições, devidamente referenciadas, de alguns incertos de trabalhos elaborados e publicados sobre o assunto.

II – O Conceito de Tecnologia Social (TS)

Não é recente o debate sobre o conceito de TS. Aparentemente de fácil compreensão, esse conceito envolve um conjunto de questões de natureza social, política e econômica que por vezes tende a passar despercebido do contexto em que o mesmo está sendo discutido. Segundo o Instituto de Tecnologia Social (ITS), o conceito de TS tem uma derivação do conceito de Tecnologia Apropriada (TA), que pode ser entendida no contexto da seguinte citação:

O conceito de TA desenvolveu-se em vários países, quando pesquisadores preocupados com as relações entre a tecnologia e a sociedade passaram a perceber que a tecnologia convencional, aquela que a empresa privada desenvolve e utiliza, não é adequada à realidade dos países em desenvolvimento. Nas décadas de 1970 e 1980 houve grande proliferação de grupos partidários da ideia da TA e a significativa produção de artefatos tecnológicos baseados nessa perspectiva (FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, 2009, p. 13)

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A TA foi muito utilizada para caracterizar as práticas tradicionais de determinadas culturas, inclusive na Índia, tendo em Gandhi o seu grande defensor, posto que o mesmo se utilizava desse argumento, como forma de valorização política da cultura local e instrumento de combate à dominação britânica:

Esse debate tem em Gandhi e na figura da roca de fiar um marco histórico na década de 1920 (Novaes & Dias, 2010). O líder indiano buscou popularizar a fiação manual como forma de lutar contra a exploração inglesa e reafirmar a cultura tradicional indiana. Assim, a roca de fiar tornou-se um símbolo de unidade nacional e de resistência à dominação econômica inglesa na Índia

dos anos 1920(JESUS e COSTA, 2004, p. 21).

No entanto, o conceito de TS ainda se encontra em construção e não há um consenso em torno de sua definição. A partir de uma contextualização histórica sobre os movimentos em busca do desenvolvimento local e de considerações sobre alguns conceitos que foram propostos pelos países centrais (desenvolvidos) para serem aplicados ao processo de desenvolvimento (econômico, na perspectiva da expansão do capitalismo e da economia de mercado) dos países periféricos (subdesenvolvidos), tais como a TA, o ITS afirma que a TS pode ser entendida como “um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida” (OTERO e JARDIM, 2004, p. 130)

Segundo a Fundação Banco do Brasil (2009, p. 14), para a compreensão do conceito de TS é preciso levar em consideração que a mesma não se refere somente a um produto mas, a um verdadeiro processo de construção social e, portanto, político, “que terá de ser operacionalizado nas condições dadas pelo ambiente específico onde irá ocorrer e cujo resultado final depende das condições e da interação passível de ser lograda entre os atores envolvidos”.

Para o ITS, a compreensão sobre a TS pressupõe que a mesma deve ser capaz de conferir um caráter transformador e participativo às técnicas e metodologias utilizadas e também, ser desenvolvida tendo em vista os objetivos de inclusão social e melhoria das condições de vida da população onde a mesma for implementada. A ênfase à participação dos sujeitos / agentes sociais é uma premissa fundamental para a compreensão da TS. Posto que, como afirma o ITS, há pelo menos três elementos

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importantes que se fazem presentes na construção da TS, cada um remetendo a um sentido específico, conforme

expressos a seguir: a) as TS devem ser “desenvolvidas na interação”; b) as TS devem ser “aplicadas na interação”; e c) as TS devem ser “apropriadas pela população”.

Assim, a TS não se constitui em algo exógeno a uma determinada realidade ou contexto, mas pressupõe a participação e envolvimento ativo dos sujeitos sociais e o profundo conhecimento da realidade local. Segundo o ITS, a partir dos debates sobre o conceito de TS, foi necessário o agrupamento dos princípios que embasavam as ideias em discussão, os parâmetros para a caracterização de uma TS e as implicações que a análise do conceito traz consigo. Nesse sentido, o ITS faz os seguintes destaques:

a) em relação aos princípios embasadores da definição de TS: “aprendizagem e participação são processos que caminham juntos, que a transformação social implica compreender a realidade de maneira sistêmica, que a transformação social ocorre na medida em que há respeito às identidades locais e que qualquer indivíduo é capaz de gerar conhecimento e aprender” (OTERO e JARDIM, 2004, p. 133);

b) a necessidade de identificação de parâmetros de TS: “tem como objetivo servir de base para o futuro estabelecimento de critérios para análise de ações sociais: são os ingredientes e elementos que supomos serem os componentes das experiências que as tornam TSs”. O ITS destaca os seguintes parâmetros de referência para uma TS:

• quanto à sua razão de ser: a TS visa à solução de demandas sociais concretas, vividas e identificadas pela população;

• em relação aos processos de tomada de decisão: formas democráticas de tomada de decisão, a partir de estratégias especialmente dirigidas à mobilização e à participação da população;

• quanto ao papel da população: há participação, apropriação e aprendizagem por parte da população e de outros atores envolvidos;

• em relação à sistemática: há planejamento, aplicação ou sistematização de conhecimento de forma organizada;

• em relação à construção de conhecimentos: há produção de novos conhecimentos a partir da prática;

• quanto à sustentabilidade: visa à sustentabilidade econômica, social e ambiental;

• em relação à ampliação de escala: gera aprendizagens que servem de referência para novas experiências. Gera, permanentemente, as condições

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favoráveis que deram origem às soluções, de forma a aperfeiçoá-las e multiplicá-las (OTERO e JARDIM, 2004, p. 133)

c) quanto às implicações do conceito: O ITS destaca os aspectos da realidade que a noção de TS procura sublinhar e organiza essas implicações em três grandes eixos (relação entre C&T e sociedade; uma direção para o conhecimento; e um modo específico

de intervir diante de questões sociais). A citação a seguir, é um pouco longa, mas é esclarecedora com relação à explicação que os autores dão para esses eixos:

As implicações do conceito de TS podem ser organizadas em três eixos: a) sobre a relação entre produção de C&T e sociedade, a TS enfatiza: que a produção científica e tecnológica é fruto de relações sociais, econômicas e culturais, portanto não é neutra; que as demandas sociais devem ser fonte de questões para as investigações científicas; que a produção de conhecimento deve estar comprometida com a transformação social; que é necessário democratizar o saber e ampliar o acesso ao conhecimento científico; que é fundamental a avaliação dos riscos e impactos ambientais, sociais, econômicos

e culturais da aplicação de tecnologias e da produção de conhecimentos científicos, e que deve haver participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas; b) sobre uma direção para o conhecimento, a TS: enfatiza o conhecimento para a solução de problemas sociais vividos pela população, amplia a noção de conhecimento (conhecimentos tradicionais, populares e experimentações realizadas pela população, assim como o conhecimento técnico-científico, podem constituir fonte de soluções) e ressalta a importância de processos de monitoramento e avaliação de resultados e impactos de projetos; c) sobre um modo específico de intervir diante de questões sociais, a TS promove: o empoderamento da população; a troca de conhecimento entre os atores envolvidos; a transformação no modo de as pessoas se relacionarem com algum problema ou questão social; a inovação a partir da participação e o desenvolvimento de instrumentos para a realização de diagnósticos participativos. (OTERO e JARDIM, 2004, p. 133).

O ITS defende que, para além do conhecimento científico e tecnológico acadêmico, no confronto entre a produção de conhecimento e a solução de problemas sociais concretos, o conceito de TS está relacionado com a construção de modos específicos de enfrentar o desafio da legitimação de outras formas de conhecer, que por vezes extrapolam os contextos acadêmicos, o rigor da investigação científica e o saber do especialista, embora não negue a sua importância.

É importante ressaltar que os procedimentos adotados tornam impossível a dissociação entre o processo vivido e os resultados alcançados. Desse modo, o próprio conjunto de procedimentos adotados para a produção de um novo conhecimento – e um conhecimento enraizado em práticas, experiências e

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medidas socialmente partilhadas – pode ser entendido como uma TS, pois faz uso de ferramentas que estimulam e provocam a participação e parte do pressuposto de que todos os atores envolvidos são capazes de, refletindo sobre sua realidade, produzir conhecimento. Permanece o desafio de tornar legítima essa maneira de conhecer (OTERO e JARDIM, 2004, p. 130)

Para Jesus e Costa (2013, p. 20), “os debates em torno da tecnologia social partem de uma visão crítica das políticas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e da agenda de pesquisa no Brasil, questionando o caráter periférico da problemática da inclusão entre as prioridades dos investimentos em pesquisa”. Esses autores afirmam que a proposta de TS não só problematiza, como também questiona “os atores legitimamente

reconhecidos para pensar os problemas das cidades, a seca no Semiárido, os desastres em tempos de chuva, os problemas vividos no campo”. Nesse sentido, a TS questiona e legitimidade e combate à “ideia de que cabe aos especialistas, devidamente aparelhados com suas formações técnicas e metodologias testadas, a construção de soluções e de tecnologias para os inúmeros problemas cotidianos” (JESUS e COSTA, 2004, p. 20)

Assim, a TS questiona o pressuposto da autoridade do saber e a legitimidade do “especialista” que de forma exógena se apresenta propondo a importação de soluções e alternativas de outras realidades para a solução de problemas locais de uma determinada comunidade, muitas vezes de forma equivocada, baseado somente na premissa da supremacia da universalização do conhecimento científico e tecnológico, sem o necessário conhecimento contextualizado sobre a realidade social para a qual está apresentando suas propostas. No sentido inverso a esse movimento, mas sem negar a importância do conhecimento científico e tecnológico, a TS pressupõe a participação da comunidade local na definição das políticas de intervenção em sua realidade e enfatiza a perspectiva de que “cidadãos, associações de bairro, empreendimentos de economia solidária, organizações não-governamentais, movimentos sociais e outras instituições da sociedade civil organizadas podem desenvolver, apropriar-se de, ou adequar tecnologias em benefício de sua coletividade” (JESUS e COSTA, 2004, p. 20).

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III – Considerações Finais

Como visto, o conceito de TS não se reduz à simplicidade do entendimento do senso comum, como sendo uma coisa banal, informal ou não científica. A política de TS pressupõe a valorização da cultura local e do saber socialmente construído ao longo da história de vida das comunidades. Nesse sentido, o conhecimento científico e tecnológico construído na academia, exógeno à comunidade, por falta de aderência, adequação e contextualização à realidade concreta, se presta apenas como uma referência importante, mas não como a solução direta para os problemas dessa comunidade.

A utilização da TS pressupõe a mobilização social em torno da busca de alternativas e soluções para os problemas locais, a partir da valorização dos conhecimentos tradicionais, dos saberes e das experiências da própria comunidade, promovendo a contextualização e adequação do saber científico e tecnológico ao saber socialmente construído e à cultura do lugar, de modos a promover a valorização dos

sujeitos sociais e sua interação com o contexto socioambiental no sentido da preservação e valorização da vida presente e futura. Nesse processo, podem integrar ações da TS empreendimentos da economia solidária, ONGs, associações de produtores, além de um sem número de outras iniciativas que tenham como premissa o envolvimento da comunidade e a valorização dos sujeitos sociais locais. No entanto, é importante demarcar neste texto, que embora a TS possa se pautar segundo os Arranjos Produtivos Locais (APLs), a mesma não se confunde com esses. Posto que, para além dos APLs e de forma independente desses, pode haver várias iniciativas e ações de TS, visando alternativas e solução para problemas locais, pontuais e específicos. Nessa perspectiva, a pretensão do desenvolvimento local pautado nos pressupostos do desenvolvimento econômico à luz das orientações liberais não se coadunam com os pressupostos políticos da TS.

No contexto da política de extensão proposta para os Institutos Federais a TS pode ser um bom instrumento de aplicação do princípio da indissossiabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, seja mediante ações que promovam a articulação entre os conhecimentos curriculares e a experiência/vivencia do futuro profissional na interação

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com os sujeitos do lugar, na identificação de problemas pontuais de um determinado contexto social e na aplicação prática desses conhecimentos em soluções para tais problemas; seja por meio da articulação entre ações de pesquisa e desenvolvimento tecnológico na investigação e produção de conhecimentos e técnicas, que aliados aos conhecimentos locais e socializados por meio das atividades de extensão, promovam a valorização dos sujeitos, contribuam para o combate às desigualdades e proporcionem a melhoria da qualidade de vida e inclusão social dos sujeitos do lugar.

Finalizando, porém sem esgotar o assunto, compartilha-se o posicionamento da Fundação Banco do Brasil (2009, p. 14) na transcrição a seguir, pela força da mensagem que a mesma endereça aos Institutos Federais e às suas políticas de extensão: O conceito de Tecnologia Social (...), introduz a ideia de que falar de TS não é referir-se a um produto apenas e sim, a um processo de construção social e, portanto, político, que terá de ser operacionalizado nas condições dadas pelo ambiente específico onde irá ocorrer e cujo resultado final depende das condições e da interação passível de ser lograda entre os atores envolvidos. Na expectativa de que este texto possa ser útil para o entendimento sobre o conceito de TS e sua aplicação no desenvolvimento da política de extensão do IFRR, almeja-se uma boa leitura a todos e que o mesmo possa suscitar o interesse pela busca de mais informações.

Referencias:

BRASIL, Tecnologia Social na Fundação Banco do Brasil: Soluções para o Desenvolvimento Sustentável. Fundação Banco do Brasil. Brasília, 2009.

JESUS, Vanessa M. B. de; COSTA, Adriano B. Tecnologia Social: Breve referencial teórico e experiências ilustrativas. In: COSTA, Adriano Borges, (Org.) Tecnologia Social e Políticas Públicas. São Paulo: Instituto Polis; Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2013.

OTERO, Martina R.; JARDIN, Fabiana A. Instituto de Tecnologia Social: Reflexões sobre a construção do conceito de tecnologia social. In: Tecnologia Social: Uma estratégia para o desenvolvimento /Fundação Banco do Brasil – Rio de Janeiro: 2004.

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