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CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE GUARULHOS: UM ESTUDO DE CASO MESTRADO EM GERONTOLOGIA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE

GUARULHOS: UM ESTUDO DE CASO

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM GERONTOLOGIA

CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE

GUARULHOS: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia no Programa de Estudos Pós-graduados em Gerontologia da PUC-SP, sob orientação da Profa. Dra. Elisabeth Frohlich Mercadante.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE

GUARULHOS: UM ESTUDO DE CASO

BANCA EXAMINADORA

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Aos meus pais, Antônio e Aldina, que foram exemplos de determinação e caráter. Meu pai, que viveu 86 anos, me possibilitou uma reflexão sobre a velhice. Minha mãe, que tinha horror à velhice e morreu tão cedo, me ensinou a ver os belos frutos da juventude por meio desses versos:

“A primavera tem lindas flores A mocidade ainda tem mais A primavera vai e volta sempre A mocidade vai e não volta mais.”

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“Mas, não basta que o número de velhos aumente. Além da simples sobrevivência, é preciso que a sociedade lhes garanta saúde e – mais importante que tudo – a oportunidade de encontrarem um sentido para suas existências. Só assim a velhice será vivida não como maldição, mas como bênção.”

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Elisabeth F. Mercadante, pelo convite e incentivo para que ingressasse no universo da Gerontologia; pela paciência e dedicação; pela amizade. Além de ser uma grande mestra, é uma pessoa extremamente generosa que, superando momentos de dor e dificuldade, serviu-me de exemplo para não desistir.

À Profa. Dra. Suzana Carielo da Fonseca, que me possibilitou a construção de uma identidade nessa trajetória incerta na Gerontologia. Ao falar uma linguagem familiar, ou seja, do campo da Medicina, me manteve firme nessa caminhada.

À Profa. Dra. Ruth G. Lopes e à Profa. Dra. Beltrina Côrte por suas sugestões e críticas no exame de qualificação, que permitiram reflexões e sugeriu um olhar mais seguro para a elaboração desta dissertação.

A todos os professores do Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia da PUC-SP, pelo conhecimento transmitido e por terem despertado em mim essa nova percepção sobre o envelhecimento e a velhice.

Um agradecimento especial ao meu grande amigo e colega Rodnei William Eugênio pela paciência, colaboração e incentivo na elaboração deste trabalho e também a minha querida Andreia Caetano de Almeida, meu anjo da guarda, que esteve sempre presente e atenta aos detalhes técnicos desta dissertação.

A minha querida amiga Silvana Scarpino, que me incentivou e auxiliou na elaboração do projeto de pesquisa para ingressar no Programa.

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Agradeço a minha família pelo incentivo, carinho e apoio nos momentos mais difíceis, em especial a minha querida Filipa e ao meu querido José Miguel.

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RESUMO

A proposta deste trabalho é um estudo de caso sobre o Centro de Referência do Idoso da cidade de Guarulhos. Inicialmente, fizemos uma reflexão em torno do conceito de velhice e sobre a possibilidade de compreendê-lo na ótica médica. Analisamos os pressupostos da Gerontologia Social, verificando como alguns autores, como Canguilhem, Messy, Beauvoir, Ayres, entre outros, propõem um novo olhar para a doença e a velhice.

Ao analisar as políticas públicas voltadas para o envelhecimento, enumeramos uma série de benefícios e carências dos idosos. As determinações da ONU e OMS servem de base para a construção de uma legislação voltada ao idoso no Brasil. O Estatuto do Idoso, a LOAS e outras conquistas fundamentam a gestão e os serviços oferecidos no CRI de Guarulhos. Os dados do IBGE dão a dimensão da demanda e da precariedade no atendimento ao idoso.

O CRI de Guarulhos foi o espaço da pesquisa de campo que começou com uma análise dos documentos, passou por uma descrição dos serviços e das instalações e terminou com entrevistas com os gestores e os usuários. Além de apontar algumas dificuldades, este estudo sugere um aprofundamento na utilização e nos serviços do CRI para que sirva, de fato, como referência para o estabelecimento de outras instituições de convivência e sociabilidade para idosos.

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ABSTRACT:

The purpose of this work is a case study on the Reference Centre of the Elderly of the City of Guarulhos (GRCE). Initially, we did a reflection on the concept of the old age and the possibility of understanding it in the medical view. We analyze the assumptions of Social Gerontology, seeing how some authors like, Canguilhem, Messy, Beauvoir, Ayres, and others, propose a new look for sickness and old age.

By analyzing public policies on aging, we list a number of benefits and needs of the elderly. Measurements of the UN and WHO are the bases for the construction of a law aimed at the elderly in Brazil. The Elderly Statute, the LOAS and others achievements based managements and services offered by GRCE. The Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) data give the size of demand and instability in the senior care.

The GRCE was the space of field research that began with a review of documents, went through a description of services and facilities and ended interviews with managers and users. Besides pointing out some difficulties, this study suggests a further use of the GRCE and services to serve, in fact, as a reference for the establishment of others institutions of conviviality and sociability for the elderly.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO 1: VELHICE: UM CONCEITO MÉDICO ? ... 18

CAPÍTULO 2. ENVELHECIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS ... 29

CAPÍTULO 3. O CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE GUARULHOS....36

CAPÍTULO 4. METODOLOGIA ... 50

CAPÍTULO 5. A VOZ DOS IDOSOS – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 69

BIBLIOGRAFIA ... 72

ANEXOS 1. FOTOS DO CRI... 75

ANEXO 2. ENTREVISTAS ... 79

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INTRODUÇÃO

Um curso de pós-graduação strictu sensu era algo muito distante da minha realidade. Numa vida atribulada, com inúmeros compromissos profissionais e uma rotina empresarial para gerir, era quase improvável conciliar o trabalho com as exigências de um mestrado. Quando conheci a Profa. Elisabeth Mercadante, então coordenadora do Programa de Estudos Pós-graduados em Gerontologia da PUC-SP, um mundo novo me foi apresentado. A princípio nunca consegui aceitar o convite para assistir a algumas das aulas do Programa, mas no segundo semestre de 2009, o que era um convite tornou-se quase uma convocação e acabei me inscrevendo no curso mesmo sem conhecer a profundidade da sua proposta.

Fiquei muito surpresa ao saber que se tratava de um curso em nível de mestrado e que seria necessário apresentar um projeto de pesquisa que, ao final, se transformaria em uma dissertação. Na ocasião, pensava na possibilidade de criar uma Organização Não Governamental (ONG) para idosos na cidade de Guarulhos, onde resido desde 1972. A empolgação com o projeto me fez aceitar o desafio, mas ao longo do curso a ideia inicial foi alterada e surgiu a possibilidade de uma pesquisa mais densa.

A Profa. Beltrina Côrte mostrou os riscos de um projeto sobre uma ONG, uma vez que haveria um comprometimento com o produto final. Mesmo sendo médica e empresária, não possuía experiência suficiente para avaliar os riscos de uma organização

desse porte e voltada para um público, para mim, ainda “desconhecido”. Então surgiu a

ideia de um estudo sobre o Centro de Referência do Idoso de Guarulhos, até como uma possibilidade de chamar a atenção do Poder Público e sensibilizar a iniciativa privada sobre as necessidades e carências dessa população.

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12 conhecimento adquirido pelos mais velhos poderia ser compartilhado, caso o olhar da sociedade estivesse mais atento ao idoso como sujeito.

Ainda considerando a minha experiência como médica, especialmente o trabalho no consultório, sempre me posicionei de uma maneira aberta na relação médico-paciente, dando voz e ouvindo atentamente a sua fala. Dessa forma, imprimi ao meu trabalho um diferencial, que tem a ver, evidentemente, com a minha maneira particular de exercer e de vivenciar a medicina, compreendendo o ser humano não apenas como um órgão afetado por uma doença, mas como um todo. Infelizmente, a medicina perdeu o seu valor maior: o contato médico-paciente.

Por sempre ter olhado para o sujeito idoso como um todo, percebi minha identificação com a Gerontologia, sobretudo pela proposta de entender a velhice não como uma categoria natural, mas como uma construção histórica e social (Debert, 1998: 51). Isso era o que tinha em mente quando pensei na possibilidade de uma ONG, ou mesmo um centro de convivência para idosos. A pesquisa de campo no Centro de Referência de Guarulhos daria não só o suporte de gestão, mas, sobretudo, revelaria maneiras de viver e tratar o processo de envelhecimento e a velhice.

Pensando nisso, com base em minha atuação há vários anos na cidade de Guarulhos, lancei meu olhar para a formação e funcionamento desse Centro de Referência do Idoso, que até então acreditava ser um centro de convivência, com a finalidade de aplicar essa visão diferenciada da velhice e de possibilitar a construção de um envelhecimento mais digno e, se possível, mais feliz.

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13 A rigor, um centro de referência do idoso funciona como uma instituição que se dedica ao atendimento das necessidades da população com mais de 60 anos. Como qualquer organização pública, um CRI é constituído para satisfazer às exigências desse público-alvo. Em princípio, reuniria em um só local diversos serviços e promoveria um atendimento integral, gratuito e com o máximo de atenção ao idoso. Esse atendimento integrado e abrangente deveria ocorrer no menor tempo possível. Obviamente, o conceito de centro de referência foi pensado com base em critérios de saúde, mas na cidade de Guarulhos a integração social dos usuários tornou-se prioridade, uma vez que o CRI é um órgão da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania.

Normalmente, os Centros de Referência do Idoso seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), visando à promoção do envelhecimento saudável e ativo dos usuários; ao aumento de suas potencialidades, autonomia e qualidade de vida; e à redução de suas limitações e dependências. Via de regra, o CRI de Guarulhos observa esses princípios, acrescentando atividades de convivência, já que os cuidados com a saúde (que no CRI não praticados) incluem, além de procedimentos clínicos, atividades de recreação, diversão e arte; prática de atividades físicas e preventivas; atendimento psicológico e estímulos à estabilidade emocional, ao raciocínio e à reflexão; bem como práticas de segurança pessoal, autoestima e noções de cidadania e direito.

Cabe aqui ressaltar que na cidade de Guarulhos, uma cidade com mais de um milhão de habitantes, como veremos nos dados do IBGE, há apenas um CRI para “servir”

todo contingente idoso, o que, obviamente, não é suficiente. Existem outras comunidades que se reúnem para fazer ações pontuais, como a Associação SOS Família São Geraldo; Congregação das Filhas de Nossa Senhora Stella Maris; Universidade de Guarulhos, entre outros.

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14 já adianto que neste CRI medicina não é prioridade. Todas as ações estão voltadas para o social, visando promover a integração e a convivência dos usuários.

Minha atenção ficou mais apurada para a importância do CRI quando meu pai, com 83 anos, sofreu um atropelamento bem em frente à sede e foi prontamente socorrido pelo resgate, tendo em vista a intervenção dos membros e dirigentes do Centro de Referência. Até então, não percebia meu pai como velho e esse acidente marca uma nova fase de nossas vidas, marca o início de sua velhice. Evidentemente, toda sorte de estigmas e estereótipos sobre a velhice e o envelhecimento pululavam em meu imaginário. Ver meu pai com medo de sair de casa, com movimentos limitados e com traumas (mais psicológicos do que físicos), fez com que o enquadrasse no conceito de velhice que a medicina sempre me fez acreditar.

De acordo com Beauvoir (1990: 45): como o organismo do velho está ligado ao seu psiquismo, este último é frágil. De fato a fragilidade de meu pai estava na cabeça e não no corpo.

Ressalto aqui, a minha visão pessoal de filha e também a minha visão profissional de médica sobre o papel importante de um espaço social, nesse caso o Centro de Referência do Idoso de Guarulhos, chamando a atenção para um olhar diferenciado para o idoso. O que acabei de relatar mistura, de forma positiva, minhas memórias profissionais e pessoais para o estudo do envelhecimento em geral e para a velhice singular de meu pai que, até aquele momento, já com 83 anos, não se percebia nem era visto por mim como velho.

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15 continuidade e ampliação do CRI, principalmente com a participação da iniciativa privada e a otimização de verbas públicas que, infelizmente, demoram a chegar.

Respeitar a maneira de viver e de envelhecer de cada indivíduo, sobretudo sua vontade e autonomia, não é um aprendizado fácil. Defender que cada idoso tem o direito de envelhecer e de viver a velhice como bem entender é um conceito que esbarra em outras noções importantes, especialmente no aspecto da saúde. Certo que essas noções de saúde são importantes, mas não podem ser determinantes, afinal, a ideia de acolhimento, pertencimento, bem como o respeito à opinião do idoso e a sua autonomia são fatores imprescindíveis para a compreensão da velhice. Essa proposta é uma tentativa clara e louvável que se apresenta como uma perspectiva a ser seguida e implantada no CRI.

Sem convivência não é possível que se configure um vínculo comunitário, e o CRI busca o aumento dos contatos entre os usuários.

Guarulhos tem mais de um milhão de habitantes, dos quais quase 9% são idosos. Sua população divide-se em diversas classes sociais, com interesses e prioridades diferentes. O CRI localiza-se num bairro de classe média, portanto, serve a um público de maior poder aquisitivo, que, evidentemente, tem todo o direito de utilizar os serviços, mas o ideal seria que a partir do CRI fossem criados e espalhados por todo o município vários Centros de Convivência. Em termos práticos, um único CRI não dá conta da demanda.

Como já tinha uma forma diferenciada de praticar a medicina, a Gerontologia veio reforçar e fundamentar os conceitos que, de uma maneira ou de outra, já aplicava. Na verdade, a Gerontologia me fez ver o quanto a Medicina havia se afastado de seu papel, principalmente ao perder de vista o contato médico-paciente. Nessa relação, tanto o paciente quanto o médico deixam de ter identidade, um já não conhece o outro. O

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16 Confesso que a Gerontologia mudou minha maneira de olhar para a velhice e de perceber o processo de envelhecimento. O conhecimento adquirido com essa pesquisa vem ao encontro do que já pensava. Eu mesma nunca havia pensado na velhice antes de ingressar no Programa, mas sempre soube que só não fica velho quem morre jovem. Todo ser biológico degenera com o correr dos anos, mas perceber essas mudanças em nós mesmos é uma tarefa muito difícil, uma vez que o sujeito tem uma visão de si que nem sempre corresponde ao estado atual de seu corpo. Antes da Gerontologia, jamais havia pensado na questão do envelhecimento ou da velhice, muito menos como um fator construído e vivido social e culturalmente.

As colocações apresentadas são desenvolvidas na presente dissertação nos capítulos que seguem:

1 – Velhice – Um Conceito Médico?

A velhice não é doença; logo, não é como tal que se torna objeto de estudo da Medicina. Velhice é um conceito humano que pode, perfeitamente, ser analisado do ponto de vista médico, sem, contudo, desconsiderar seus aspectos sociais, culturais, psicológicos, muito menos privilegiar apenas fatores biológicos.

2 – Envelhecimento e Políticas Públicas

Discussão sobre as políticas públicas como incumbência do Estado e que devem levar em conta os desafios demográficos para engendrar novas maneiras de pensar a inclusão do idoso na sociedade brasileira.

3 – O Centro de Referência do Idoso de Guarulhos

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17 4 – Metodologia

Apresentação da metodologia fundamentada na pesquisa qualitativa.

5 – A Voz dos Idosos - Fundamentação Teórica

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CAPÍTULO 1.

VELHICE: UM CONCEITO MÉDICO?

Mas, afinal, o que é velhice? A velhice na ótica médica, na qual desenvolvo minha atividade profissional, apresenta um foco diferente sobre o sujeito velho. Para a Medicina, que é uma ciência organicista e positivista, o ser se apresenta a partir de um órgão doente e não como um ser holístico com alma, sentimentos e desejos.

Na perspectiva médica, o envelhecimento é definido, na maioria das vezes, exclusivamente como um processo biológico. De fato, não se pode negar que com o correr dos anos o metabolismo fica mais lento e o idoso está mais suscetível ao aparecimento de determinadas doenças, principalmente as degenerativas, como diabete e hipertensão. De acordo com a prática da Medicina, os órgãos ficam mais lentos, dificultando a digestão de alimentos; aumenta a incidência de doenças; os reflexos diminuem e as emoções afloram. Esse processo não é exatamente igual em todos os indivíduos, afinal, Medicina não é Matemática e cada indivíduo é um ser único que deve ser olhado em suas especificidades.

Uma passagem de Canguilhem (2009: 54) ilustra bem essa reflexão:

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19 hipófese; a doença é do organismo cujas funções todas estão mudadas.

É preciso considerar que aspectos psicológicos, agressões impostas pelo meio e as dificuldades do dia-a-dia também afetam nesse processo. Embora se trate de uma questão biológica, não se pode reduzir a explicação do envelhecimento à Medicina. Fatores como estresse, por exemplo, que em certa medida pode ser considerado uma doença cujas causas não estão necessariamente no corpo físico, contribuem para apressá-lo.

Há, porém, certas doenças que estão diretamente relacionadas ao envelhecimento, como Alzheimer e Parkinson. Em outras situações, a parte óssea fica comprometida e, para algumas mulheres, a menopausa é um período de muitas transformações e incertezas.

De acordo com Messy (1999: 10), existem velhos de 20 anos e jovens de 80, ou seja, a maneira de ser, pensar e viver a vida também interfere nesse processo. Nas palavras do próprio autor: “o velho é o outro em que não nos reconhecemos. A velhice não tem nada a ver com a idade cronológica. É um estado de espírito”.

Contudo, a única certeza que temos é a morte, que não pode, de forma alguma, ser interpretada como sinônimo de velhice, uma vez que transita em nossas vidas desde o nascimento. De acordo com Beauvoir (1990: 46):

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20 único. As mortes ditas “naturais” – em oposição às mortes por acidente – são, de fato, provocadas por deterioração orgânica.

A Gerontologia, como uma ciência interdisciplinar, permite uma reflexão e um aprendizado maior sobre esse ser que ocupa um espaço tanto em nível biológico, quanto psicológico e social. Esse aprendizado possibilitou um olhar que, de alguma forma, já buscava para uma compreensão mais profunda do segmento idoso, pois no momento em que o sujeito mais pode contribuir com a sociedade, principalmente com a sua experiência adquirida ao longo dos anos, ele é excluído de muitos locais e atividades sociais.

A área médica não se preocupa com as questões humanistas em relação aos diversos segmentos como: infância, juventude, idade adulta e velhice. A partir da perspectiva médica temos uma identificação da velhice com a doença e a morte, que, como já disse, não acomete apenas os velhos, ou seja, não é sinônimo de velhice, podendo acontecer em qualquer fase de nossas vidas. Nas palavras de Foucault (2008: 158):

Os processos da morte, que não se identificam nem com os da vida nem com os da doença, servem, no entanto, para esclarecer os fenômenos orgânicos e seus distúrbios. A morte lenta e natural do velho retoma, em sentido inverso, o desenvolvimento da vida na criança, no embrião e talvez mesmo na planta (...).

Quero destacar que só desenvolvi esse olhar ao cursar o Programa de Gerontologia, especialmente com a leitura de autores como Georges Canguilhem (2009), Michel Foucault (2008), Jack Messy (1999), Daniel Groisman (2002), Delia Catullo Goldfarb (1996), Ângela Mucida (2004; 2006; 2009), José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres (2004) e, finalmente, Simone de Beauvoir (1990).

Pensar a “velhice como uma nova fase de vida”, e não como um fim,

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21 coloca atualmente como uma etapa que possibilita novos conhecimentos e desafios para aqueles que a estão vivenciando.

Para enfatizar a questão, vale citar Fernando Pessoa, que diz: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, pois a alma nunca envelhece. Envelhecemos da mesma maneira que vivemos. O sujeito não se torna outro na velhice. De acordo com a conclusão de Messy (1999: 140):

(...) quis mostrar como o envelhecimento, cujo término é a morte, diz respeito a todos nós. O indivíduo, seja qual for a sua idade, permanece um sujeito com desejo, e cujo apelo é preciso sustentar, até o momento em que a mensagem vire sofrimento.

Ao ingressar no universo da Gerontologia, não imaginava a riqueza que acrescentaria à minha formação médica. Esse novo aprendizado contribuiu para uma desconstrução de alguns conceitos de minha profissão.

Geralmente, a medicina enxerga o sujeito como um órgão doente, não o vê como um todo. Por meio dos conhecimentos adquiridos, dos novos conceitos e das visões apresentadas, embora já pensasse a Medicina de modo diferente, as noções iniciais tornaram-se mais harmoniosas e adequadas à minha visão de médica, ou seja: dar voz e escuta ao sujeito, construindo uma nova maneira de pensar, que muito contribuiu para minha reflexão. Assim como Ayres, acredito que seja importante abrir o ouvido para uma escuta do sujeito (2004: 18). O próprio autor passa a observar sua paciente (Dona Violeta)

como um “Ser” e não como um “sintoma” (Hipertensão), deixando de lado a doença

propriamente dita (patológico), indo além da simples abordagem clínica do médico, passando para uma abordagem de escuta.

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22 Ayres resgata a polaridade “normal versus patológico”, abordada por Canguilhem (1966; 2006), abrindo uma escuta, vendo o sujeito como um todo, e não dicotomizado, levando em conta que o normal serve de padrão para avaliar o patológico.

No século XIX, o corpo se adequava a uma norma, a um modelo predefinido, rompendo com esta concepção. Numa vida normal, a sua duração está relacionada com uma condição biológica e social. Para Canguilhem, “na espécie humana a

frequência estatística não traduz apenas uma normatividade vital, mas também uma

normatividade social” (2009: 115). E continua citando Flourens (1939: 80-81):

Vemos todos os dias homens que vivem oitenta ou cem anos. Sei muito bem que o número dos que chegam a essa idade é pequeno em relação ao número dos que não chegam mas, enfim, há quem chegue. E, do fato de se chegar, às vezes, a essa idade, é muito possível concluir que se chegaria mais frequentemente até lá se circunstâncias acidentais e extrínsecas, se causas perturbadoras não viessem se opor a essa longevidade. A maioria dos homens morre de doença; muito poucos morrem de velhice propriamente dita.

A saúde está relacionada com a interação do sujeito com o meio, seu modo de vida e a relação com o outro em seu habitat. Isso quer dizer que é determinada socialmente. De acordo com Canguilhem (1995: 127):

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23 higiene, de atenção à fadiga e às doenças, em resumo de condições sociais tanto quanto fisiológicas. Tudo acontece como se uma sociedade tivesse “a mortalidade que lhe convém”, já que o número de mortos e sua distribuição pelas diversas faixas etárias traduzem a importância que uma sociedade dá ou não ao prolongamento da vida.

E segue Canguilhem:

A duração média da vida não é a duração de vida biologicamente normal, mas é, em certo sentido, a duração de vida socialmente normativa. (idem, ibidem)

A doença é um modo de vida reduzido. A saúde é uma margem de tolerância às infidelidades do meio. Ayres ao permitir que Dona Violeta falasse sobre a sua vida, seus sonhos, suas perdas, abriu um diálogo para conseguir interagir com sua doença (patológico) de uma maneira mais eficiente e com isso conseguir que ela, sujeito, deixasse o

“sofrimento” de lado, resgatando inclusive seus sonhos perdidos. Ayres, por sua vez, conseguiu recuperar o humano e os cuidados nas práticas de saúde. Como o próprio autor descreve:

Sei que uma consulta nunca mais foi igual à outra, e eram de fato “encontros”, o que acontecia a cada vinda sua ao serviço. Juntos, durante o curto tempo em que, por qualquer razão, continuamos em contato, uma delicada e bem-sucedida relação de cuidado aconteceu. Receitas, dietas e exercícios continuaram presentes; eu e ela é que éramos a novidade ali. (Ayres, 2004: 18)

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24 doença era uma coleção de sintomas, que eram sua primeira transcrição. Ao médico cabia observar, elencar sintomas e verificar as mudanças de comportamento. Nesse século, transcreveu-se a realidade natural e dramática da doença, fundando a verdade de um conhecimento e a possibilidade de uma prática.

O signo anuncia: prognostica o que vai se passar; faz a anamnese do que se passou; diagnostica o que ocorre atualmente. Entre ele e a doença reina uma distância que ele não transpõe sem confirmá-la, na medida em que ele se dá de viés e muitas vezes de surpresa. Não faz conhecer; quando muito pode-se esboçar, a partir dele um reconhecimento. Um reconhecimento que, às cegas, avança nas dimensões do oculto: o pulso trai a força invisível e o ritmo da circulação; ou ainda o signo desvela o tempo como o azulado das unhas que anuncia infalivelmente a morte, ou as crises do quarto dia que, nas febres intestinais prometem a cura. Através do invisível, o signo indica o mais longínquo, o que está por baixo, o mais tardio. Trata-se nele do término da vida e da morte, do tempo, e não desta verdade imóvel, dada e oculta que os sintomas restituem em sua transparência de fenômenos. (Foucault, 2008: 102)

Com a anatomia patológica do século 19 houve uma mudança. A doença passa a ser vista a partir dos restos inanimados do corpo humano. O que muda não é a concepção de doença, mas a relação da doença com o olhar. A tese dominante desse século era de que:

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25 o patológico é designado a partir do normal, não tanto como a ou dis mas como hiper ou hipo. (Canguilhem, 2009: 55)

A doença é diferente da saúde, pois a doença comporta originalidade. Saúde e doença fazem parte da polaridade vital do indivíduo. A doença é uma nova condição existencial vital. A doença comporta uma novidade fisiológica no indivíduo. Em outros termos, num estado de saúde não nos lembramos que temos cérebro, pulmões, rins ou coração; só nos lembramos desses órgãos quando ficamos doentes, ou seja, a doença é aquilo que perturba a capacidade dos órgãos normais. Segundo Leriche “a saúde é a vida no silêncio dos órgãos”.

De tudo que foi dito, pode-se concluir seguramente que velhice não é doença; logo, não é como tal que se torna objeto de estudo da Medicina. Velhice é um conceito humano que pode, perfeitamente, ser analisado do ponto de vista médico, sem, contudo, desconsiderar seus aspectos sociais, culturais, psicológicos, muito menos privilegiar apenas fatores biológicos.

Beauvoir (1990) propõe uma desnaturalização da velhice, pois a velhice humana é um fato cultural que acontece no seio de uma sociedade. Portanto, deve ser entendida do ponto de vista vital, biológico e, sobretudo, cultural, no qual somente o humano está inserido. É preciso uma concepção de sujeito e não só de organismo na compreensão da velhice.

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26 expectativa de vida, aspectos econômicos também introduzem um novo modo de olhar para os idosos.

Beauvoir (1990) suscita a seguinte questão: “para que escrever um livro sobre velhice?” E responde: “para quebrar a conspiração do silêncio”. A sociedade em geral estaria despreparada para as questões da velhice. Esse silêncio se refere aos estigmas para encarar a velhice. A sociedade burguesa está acostumada a não considerar os velhos como homens. Para quebrar o silêncio é preciso dar vez e voz aos velhos. Não suportamos a ideia de velhos porque somos humanos.

Atribuir significados é uma capacidade eminentemente humana. Sendo assim, ao se estudar a velhice, devem-se considerar todas as significações que suscita, todos os discursos, verdades e saberes que encerra. Foucault, por exemplo, ao descrever os mecanismos de poder em seus detalhes, procura entender o enunciado naquilo que ele diz. Assim, a loucura não existe antes de seu enunciado, inferindo-se, pois, que é necessário descobrir os enunciados que definem a velhice.

Voltando a Beauvoir, se a velhice, enquanto destino biológico, é uma realidade e transcende a história, não é menos verdade que este destino é vivido de maneira variável de acordo com o contexto social. Do ponto de vista existencial, só o próprio velho pode nos dizer o que é a velhice, portanto é preciso ouvi-lo e deixar que se pronuncie. Nas palavras da própria autora (1990: 266):

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27 porque a cumplicidade de princípio com todo o empreendimento não conta mais no caso da velhice.

Messy (1999: 9) relata que entrou na Gerontologia como aventureiro, e, por

analogia, digo que “caí de paraquedas”, mas, sem dúvida, já me sinto como parte de todo esse universo. Em Messy, a ideia de que o velho é o outro no qual não nos reconhecemos é reforçada. Para o autor, a velhice não tem nada a ver com a idade cronológica, é um estado de espírito.

A imagem da velhice parece uma imagem “fora”, no espelho, imagem que nos apanha quando é antecipada e produz uma impressão de inquietante estranheza, no sentido descrito por Freud (...) O tempo deixa suas marcas em nosso rosto, cria-se um descompasso, como uma fuga do idêntico ou o deslizamento da identidade.

Ao compartilhar dessa ideia, procurei disseminá-la na pesquisa de campo, dando voz e escuta ao sujeito; um sujeito completo, com desejos, sentimentos e emoções. Trabalhar com as noções de velhice e envelhecimento não é tarefa fácil, principalmente quando se vem de uma formação e uma prática médica de quase 30 anos. De acordo com Messy (1999: 12):

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28 romancistas. Envelhecemos como vivemos, e não segundo a famosa fórmula de Ajuriaguerra, como tivermos vivido, subentendendo-se aí que não vivemos mais quando envelhecemos e que só os velhos envelhecem.

Velhice não é doença, mas um processo que faz parte da vida. Ocorre que as culturas tendem a classificar as coisas e a organizá-las a partir de seu universo simbólico. Assim, as construções socioculturais que definem a velhice têm a ver com as representações produzidas pelo grupo. É preciso, portanto, problematizar o “ser velho”

compreendendo-o como um elemento complexo.

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29

CAPÍTULO 2.

ENVELHECIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Avaliar os desafios do Estado diante do aumento da expectativa de vida dos idosos é uma das principais questões impostas à Gerontologia Social. Então, parece que a longevidade tornou-se um problema. No caso da população brasileira, é preciso verificar que tipo de demanda decorre de seu envelhecimento. Na verdade, o crescimento significativo do número de idosos com mais de 80 anos transformou a velhice em uma questão social. Embora seja um fenômeno recente no Brasil, os países classificados como desenvolvidos há muitos anos já se deparam com esse fato. Na realidade, esse fato denota uma composição alterada dentro do próprio grupo, pois o índice de pessoas com mais de 80 anos de idade no Brasil aumentou cerca de 70% nas últimas décadas.

Entre os dados recorrentes quando se observa o tempo médio de vida da população acima de 60 anos, estão alguns fatores interessantes, como a feminização da velhice, a diminuição da fecundidade, a intensificação das trocas intergeracionais, a reintegração dos idosos na economia e no mercado de trabalho. No caso brasileiro, o aumento real do salário mínimo, os benefícios previstos na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), os empréstimos consignados, entre outros dados, transformaram os idosos, em alguns casos, em chefes de família.

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30 O que se pode esperar, por exemplo, do grupo familiar diante de um idoso com uma enfermidade crônica, física ou psíquica? Que tipo de suporte o Estado proporciona a essas famílias? De que forma os centros de referência do idoso podem colaborar com a questão? Qual o posicionamento dos profissionais da Gerontologia? Embora, do ponto de vista legal, caiba à família a tarefa de cuidar do idoso, esta nem sempre está preparada. Logo, o apoio do Estado, por meio de políticas públicas adequadas, e da Gerontologia, com a preparação de mão de obra qualificada, torna-se imprescindível. Até mesmo a iniciativa privada pode colaborar e ajudar a dar conta dessa demanda.

Mudar hábitos e comportamentos requer uma interferência do Poder Público, por meio de legislação e políticas específicas, para evitar, por exemplo, casos de violência contra o idoso, sobretudo no âmbito familiar. Sensibilizar e mobilizar a sociedade para a necessidade de novas alternativas para o cuidado e atenção ao idoso também é fundamental. Dar conta dessas exigências requer esforço e vontade política, bem como uma ação efetiva da sociedade civil, organizada em movimentos e associações.

Constatar que as novas modalidades de família incluem o sujeito idoso não significa que a convivência entre gerações será produtiva ou proveitosa, embora inevitável. Certo que a longevidade pode vir acompanhada de uma infinidade de problemas, sobretudo os de saúde, com os quais a família raramente está preparada para lidar. É muito raro o idoso que enxergue a velhice como uma possibilidade de realizações, pois isso depende, na grande maioria dos casos, da maneira como o sujeito velho se relaciona com sua família. Mais raro ainda é os jovens perceberam a velhice como algo interessante.

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31 Tratar o envelhecimento como uma questão social impõe alguns conflitos à sociedade, começando por uma dificuldade em mudar sua própria estrutura. Vivemos um tempo de crise, em que alguns valores estão se perdendo, sobretudo no que diz respeito às relações dos idosos com a família e a sociedade. O consumo exagerado e a falência de algumas instituições vêm mudando as práticas de convívio e o papel do idoso.

Em muitas situações, os velhos eram simplesmente excluídos dessas relações, especialmente das que passavam necessariamente por uma inserção no mercado formal de trabalho. Nas demandas atuais, em que vigoram as características de uma sociedade de consumo, essa identidade com o mundo do trabalho deixa de existir.

Desde a década de 1970, as mudanças sociais promoveram uma ruptura da ordem vigente. No Brasil, a exclusão já impõe suas armadilhas há muito tempo, transformando em vítimas sociais uma série de minorias, como mulheres, indígenas, negros, deficientes físicos, homossexuais e idosos. A História desse país sempre foi profundamente marcada pela exclusão, fazendo com que a marginalização, em suas diversas fases e estágios, nos parecesse normal. Nunca tivemos uma política de inclusão eficiente e, até hoje, implementar ações afirmativas é motivo de resistência em setores mais conservadores da sociedade, haja vista a polêmica gerada pela proposta de cotas para a população negra e indígena.

Numa História profundamente marcada pela exclusão, é difícil visualizar a degradação de uma situação anterior, uma vez que a desigualdade nos parece normal. De acordo com Castell (2007), a grande armadilha da exclusão reside na ausência de questionamento sobre o que gera esse desequilíbrio. Não há prevenção dos fatores de vulnerabilidade, o que ratifica a ruptura da integração social e gera exclusão. No caso dos idosos, os centros de referência tendem a ser uma política de Estado para reintegrá-los à sociedade.

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32 necessariamente, por fatores como velhice, pobreza ou desemprego, pois há indivíduos velhos, pobres e desempregados perfeitamente integrados. De acordo com Castell (2007), alguns fatores precedem a exclusão, que, ao contrário do que muitas vezes se pensa, não é causada por uma incapacidade pessoal. A atitude conformista e resignada de boa parte dos excluídos está relacionada à determinação dos lugares sociais, que leva as vítimas a assumirem certa responsabilidade por sua situação.

Esses lugares sociais fazem parte de um sistema que estabelece diferentes categorias de pessoas, sobretudo numa sociedade profundamente hierarquizada e autoritária. Essa estrutura se fundamenta em critérios de classe, gênero, raça, cor e idade. Trata-se, como se vê, de uma cultura de exclusão, em que o conjunto das práticas, de forma subjacente, reproduz a desigualdade nas relações sociais. Isso determina o espaço de pobres, negros, idosos e outras minorias.

Os movimentos sociais que surgiram no Brasil em meados da década de 1980, especialmente no período de redemocratização, proporcionaram a construção de uma nova noção de cidadania. A constituição de sujeitos sociais ativos, que definem e lutam pelo pleno reconhecimento dos seus direitos, não se vincula a uma estratégia das classes dominantes e do Estado. Todo esse movimento tem reflexos bastante claros na legislação vigente, ou seja, a luta organizada desses sujeitos sociais ativos vem conquistando direitos para diversas minorias, inclusive os idosos. A aprovação do Estatuto do Idoso promoveu uma verdadeira transformação das práticas sociais até então arraigadas. Nesse sentido, o Estado tem reconhecido um novo quadro social e atendido, embora de forma insuficiente, as reivindicações e demandas do segmento, como se pode constatar no próprio Centro de Referência do Idoso de Guarulhos.

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33 Hoje, a expectativa de vida no Brasil está em 74 anos, ou seja, nosso índice aproxima-se cada vez mais do índice dos países desenvolvidos. Presume-se que em 2050, a expectativa aumentará para 87,5 anos para homens e 92,5 para mulheres. Para Berquó (2006), a explicação desse dado se deve à redução nas taxas de fecundidade e mortalidade. Em suas próprias palavras:

(...) a transição da fecundidade no Brasil teve início em meados da década de 1960, as taxas sofreram redução de 24,1% entre 1970 e 1980, de 38,6% na década seguinte e a partir daí, 11,1% entre 1991 e 2000.

Dados obtidos e publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que até 2025 o Brasil estará em sexto lugar no mundo, com uma das maiores populações idosas. O cenário brasileiro, de uma população relativamente jovem, já vem se modificando, como demonstram os dados do IBGE. No início dos anos 1980, tínhamos uma população predominantemente jovem. A partir de 1996, o número era de 16 idosos para cada 100 crianças; e no ano 2000, eram 30 idosos para cada 100 crianças, portanto, o índice de idosos quase dobrou. Berquó (1995) faz a seguinte projeção:

(...) trata-se de um momento favorável, dada a estrutura etária conformada pelo declínio rápido e sistemático da fecundidade, sem que tenha havido tempo ainda para que a população já fosse envelhecida. Este metabolismo demográfico leva a uma razão de dependência declinante até os 20 anos do próximo século, quando, então, esta passará a crescer pelo efeito do peso relativo da população idosa.

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34 população idosa cresce em média 3,84% ao ano, embora nos últimos anos o crescimento teve média um pouco menor.

Numa entrevista de 2007, Alexandre Kalache chamava a atenção para o desafio econômico da longevidade brasileira, observando a diferença significativa do fenômeno do envelhecimento nos países em desenvolvimento e nas nações desenvolvidas. Para ele:

Os países desenvolvidos enriqueceram e depois envelheceram. Nós, como todos os países pobres, estamos envelhecendo antes de enriquecer. Eles tiveram recursos e tempo. A França levou 115 anos para dobrar de 7% para 14% a proporção de idosos na população. O Brasil vai fazer o mesmo em 19 anos. Uma geração. Eles levaram seis. (Felix, 2007)

Os desafios demográficos abarcam novas maneiras de pensar o idoso, afinal, promover políticas de inclusão para um número cada vez mais significativo da população requer uma análise precisa dos dados, o cumprimento e o pleno atendimento das reivindicações desses indivíduos. Pensar o sujeito idoso é uma tarefa indispensável neste século, sobretudo se considerarmos sua participação social cada vez mais efetiva e as demandas que decorrem de sua expectativa e qualidade de vida.

Em geral, as políticas públicas são incumbências do Estado, que designa como os recursos arrecadados por meio dos impostos devem ser empregados. Em princípio, esses recursos devem ser revertidos em benefício de todos os cidadãos. Dessa forma, para que as políticas públicas sejam implementadas, a intervenção do Estado é obrigatória.

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35 fiscalizar, a sociedade civil organizada pode contribuir, principalmente no âmbito municipal, apontando as demandas e reivindicações dos diversos segmentos.

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36

CAPÍTULO 3.

CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO DE GUARULHOS

Guarulhos é um Município que está inserido na região Metropolitana do Estado de São Paulo. É a segunda cidade mais populosa do Estado, a 13ª mais populosa do Brasil e a 52ª mais populosa do continente americano. É a cidade não capital mais populosa do Brasil, além de deter o segundo maior PIB do Estado e o nono maior do País, embora com uma população com poder econômico de menor renda. Assim, vamos considerar o percentual da população idosa da Cidade de Guarulhos como do Estado de São Paulo de 9,0%.

A cidade possui uma área geográfica de aproximadamente 318,014 Km2 com 1.222.357 habitantes, segundo o censo do IBGE de 2010. Isso gera uma densidade de 3.843,72 hab./km2.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) é de 0,798 sendo o IDH-M longevidade de 42.854, a expectativa de vida é de 74,2 anos e a mortalidade infantil até um ano de vida é de 11,46/1000 habitantes. Em educação, o IDH é de 8.325 com taxa de alfabetização de 98,90%. O PIB per capta anual do Município em 2008 (IBGE) era de R$ 24.989,21.

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é o índice que compara os países com objetivo de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida da população. O relatório anual de IDH é elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da ONU.

(37)

37 mais próximo de um, mais desenvolvido é o país. Este índice também é usado para apurar o desenvolvimento de cidades, estados e regiões.

No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e Produto Interno Bruto per capta.

O Brasil atingiu em 2011 o IDH de 0,718 ocupando o 84º entre os 187 países analisados. O IDH Médio mundial é de 0,682. O IDH do Brasil é considerado de alto desenvolvimento humano, pois o País vem apresentando bons resultados econômicos e sociais. A expectativa de vida do brasileiro também tem aumentado, colaborando para a melhoria do índice nos últimos anos. Hoje esta expectativa de vida é de 73,4 anos.

Fazendo um comparativo do IDH Brasil – 0,718 com o de Guarulhos – 0,798 podemos observar que está superior à média, embora abaixo de outras cidades urbanas com número de habitantes similar, como Campinas com 1.088.611 habitantes e com um IDH de 0,852.

Com relação à expectativa de vida, Guarulhos está acima da média brasileira (74,2 para 73,4 anos). Já Campinas tem uma expectativa de vida inferior a 72,2 anos.

Segundo a estimativa do IBGE 2010, a população da cidade de Guarulhos é de 1.222.357 habitantes. Assim tem-se:

Local População Índice de Idosos Total Idosos

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38 Da população idosa existente em Guarulhos, classifica-se estatisticamente conforme recenseamento do IBGE 2010 para a cidade de São Paulo, com relação à faixa de idade, proporcionalmente:

Pop. Total Pop. Idosa total

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 ou mais

100% 9,0 2,9 2,3 1,7 2,1

1.222.357 110.012 35.448 28.114 20.780 25.670

Com relação ao sexo, o índice encontrado foi projetado ao resultado conforme recenseamento de 2010 do IBGE para o Estado de São Paulo, na seguinte proporção:

H M

48,7% 51,3% 53.575 56.437

Ainda nesta análise, podemos identificar que dos idosos que são responsáveis economicamente por seus domicílios, projetados na relação São Paulo –

Guarulhos, segundo dados do IBGE 2000, temos:

H M

63,3% 36,7%

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39 2000 2010

893,00 3.009,00

Segundo dados da Prefeitura Municipal de Guarulhos, 28% da população tem renda per capta de 5 a 10 salários mínimos (SM), concluindo então que: 32.741 idosos podem estar na média de rendimento para a responsabilidade do lar em Guarulhos.

A renda per capta em Guarulhos corresponde:

+20 SM 5%

+10 a 20 SM 14% + 5 a 10 SM 28% + 2 a 5 SM 35% + 1 a 2 SM 13%

Até 1 SM 5%

A população de Guarulhos está assim dividida segundo a classe econômica:

A/B 23% C 41% D/E 36%

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40 Média anos

Geral

4,4%

Média Homens

4,7%

Média Mulheres

3,8%

Se fizermos um comparativo da classe social de Guarulhos com a do Brasil, onde 50% da população é da classe C, o Município tem uma demanda de 50.115 idosos na classe C necessitando de atendimento.

Diante dos dados acima descritos levantamos algumas questões que consideramos pertinente examinar em nossa dissertação de mestrado. Uma delas diz respeito à existência de espaços de convivência para idosos na cidade de Guarulhos.

Primeiramente, pensamos em mapear os espaços de convivência para idosos. Numa cidade populosa como Guarulhos, notamos uma grande carência de serviços públicos voltados para o segmento idoso.

Sabemos que só há um centro de referência para idosos na cidade e assim sendo perguntamos também se há por parte do município – Prefeitura – interesse na criação de novos espaços de convivência para o segmento idoso.

Diante da constatação da existência de um único centro de referência optamos por realizar a nossa pesquisa no mesmo, e em que medida as atividades nele desenvolvidas atendem de maneira satisfatória os idosos frequentadores.

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41 Para a presente pesquisa é necessário um levantamento do perfil dos frequentadores do CRI por faixa etária, sexo, estado civil, escolaridade e renda.

O Centro de Referência do Idoso (CRI) da cidade de Guarulhos localiza-se na Av. Salgado filho, 1732, no Bairro Santa Mena. Criado na década de 1990, o CRI está ligado à Divisão Técnica de Proteção Social Básica do Departamento de Assistência Social da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania. O objetivo geral é desenvolver atividades que contribuam para o processo de envelhecimento saudável, propiciando autonomia e fortalecimento de vínculos familiares e sociais e prevenindo situações de risco. De acordo com Ayres (2004: 16):

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42 pontos-chave para a reconstrução ética, política e técnica do cuidado em saúde.

Estruturado a partir de um plano de trabalho para gestão anual, o CRI de Guarulhos regulamenta-se com base na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei Federal 8.742/93); na Política Nacional do Idoso (Lei Federal 8.842/94); no Estatuto do Idoso (Lei Federal 10.741/03) e na Política Nacional de Assistência Social (PNAS 2004).

O público-alvo é constituído de idosos em situação de vulnerabilidade social com 60 anos de idade ou mais. No entanto, o CRI também atende outras pessoas a partir de 50 anos. São cerca de 900 usuários, todos inseridos num modelo de organização que visa garantir segurança no acolhimento e no convívio. Dessa forma, procura-se ampliar as trocas culturais e de vivência, além de desenvolver o sentimento de pertencimento e identidade, fortalecendo os vínculos familiares e incentivando a socialização e a convivência comunitária.

Max Weber define comunidade como uma relação social que se inspira em um sentimento subjetivo, tanto afetivo quanto tradicional, em que os membros participam da constituição de um todo. De acordo com o próprio Weber (1975: 11):

A comunidade pode apoiar-se sobre toda espécie de fundamentos, afetivos, emotivos e tradicionais: uma confraria pneumática, uma relação erótica, uma relação de piedade, uma comunidade “nacional”, uma tropa unida por sentimentos de camaradagem. Este tipo é expresso com maior adequação pela comunidade familiar. Entretanto, a imensa maioria das relações sociais participam em parte da “comunidade” e em parte da “sociedade”.

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43 tem em vista o alcance de alternativas emancipatórias, isto é, que promovam autonomia e independência para que o idoso, com o apoio do Centro, possa enfrentar os riscos da vulnerabilidade social. Para tanto, o CRI procura desenvolver atividades que auxiliem no processo de envelhecimento, buscando, além de autonomia, vínculos familiares e sociais mais efetivos, minimizando e prevenindo as situações de risco.

Mais especificamente, a intenção do CRI de Guarulhos é contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo, além de assegurar um espaço de encontro não só para idosos, mas também encontros intergeracionais, promovendo a convivência familiar e comunitária. Ao detectar as necessidades e motivações dos idosos, o Centro busca desenvolver potencialidades e capacidades para novos projetos de vida.

Também é objetivo do CRI estimular e potencializar as condições de decisão e escolha por meio de vivências que a valorizem, o que ainda contribui para o desenvolvimento da autonomia e para tornar o idoso um protagonista social. Além disso, estão entre as principais finalidades do CRI a melhoria da condição de sociabilidade, a redução e prevenção de situações de isolamento social e de institucionalização, tão comuns nessa fase da vida.

Falando dos usuários de forma mais específica, além das características etárias, ou seja, idosos com 60 anos ou mais e também pessoas a partir dos 50 anos de idade, e da situação de vulnerabilidade social, o público atendido é composto por idosos assistidos pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC) e idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, bem como idosos com vivência de isolamento por ausência de acesso a serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e disponibilidade indiquem inclusão no serviço. Todos, obviamente, residentes no município de Guarulhos.

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44 constituem formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social. Ao incluir vivências que valorizam as experiências desses idosos, o CRI acaba por estimular e tornar possível as condições de escolher e decidir.

Do ponto de vista técnico, o acolhimento é executado por assistente social e/ou psicólogo, que procuram identificar as demandas dos usuários atendidos e traçar o plano de intervenção. O projeto inclui ainda profissionais de outras áreas, como Educação Física (a maioria com ensino superior completo) e conta com verbas municipal e federal.

O CRI oferece diversas atividades com objetivos variados, como caminhada, ginástica, natação, condicionamento, alongamento, hidroginástica, vôlei adaptado e tênis de mesa, todas essas ministradas por professor de Educação Física. Há também movimentos livres, corte, costura e bordado, dança de salão, informática, pintura em tela e em tecido, coral e tai chi chuan, crochê, artesanato com garrafa pet, teatro, violão e teclado, algumas ministradas por voluntários e outras, por arte-educador. Os grupos de acolhimento e socioeducativo e o aconselhamento ficam a cargo dos psicólogos e dos estagiários de Psicologia.

Cada atividade procura dar conta de uma série de objetivos. Na área de Educação Física, as funções vão desde a melhoria da condição cardiorespiratória, da massa óssea e muscular, da flexibilidade dos músculos e da coordenação motora até correção de postura, prevenção de quedas, aumento das tarefas diárias, agilidade, tempo de reação, noção de espaço e tempo. Nas artes, a intenção é promover a socialização e a convivência comunitária, trabalhar a expressão corporal, melhorando a autoestima e a saúde, bem como otimizar a sensibilidade e a capacidade de observação e concentração.

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45 linguagem e expressão corporal e oral, à memorização e desinibição através do teatro, do artesanato e da iniciação musical.

Por meio dos grupos de acolhimento, que ocorrem semanalmente, os idosos conhecem o Centro de Referência e seu funcionamento. Dessa forma, os recém-chegados são inseridos e incluem-se nas diversas atividades. Definido o perfil desse usuário, ele é encaminhado, se necessário, para os serviços de apoio da comunidade. O grupo de acolhimento lança mão de diversos meios de integração, como dinâmica de grupo e recursos audiovisuais e, a partir de entrevistas individuais, os profissionais complementam a chamada Ficha de Atendimento Inicial.

Já os grupos socioeducativos procuram proporcionar momentos de reflexão a fim de promover o envelhecimento saudável, ou seja, no que se refere aos aspectos biopsicossociais visam minimizar as dificuldades dessa fase da vida. Essa atividade inclui jogos e simulação, dinâmica de grupo e desenvolvimento de palestras com diversos temas, como cidadania, profilaxia, alimentação saudável, sexualidade etc.

No que concerne ao aconselhamento psicológico, a intenção é enfatizar a fortificação do ego por meio de atividades proativas. Isso minimiza a tendência à depressão e fornece um suporte emocional que ajuda a melhorar a autoestima, promovendo a convivência familiar e intensificando os vínculos afetivos. Esse atendimento pode ser individual ou familiar e abrange orientação e aconselhamento para estimular a adesão do usuário aos programas de manutenção de saúde, que incluem visitas domiciliares, relatórios e encaminhamento.

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46 A construção do banco de dados dos usuários e organizações é um aspecto da metodologia que visa criar um sistema de informação que possibilite a mensuração da eficiência e da eficácia das ações, bem como a transparência, o acompanhamento, a avaliação do sistema e a realização de estudos, pesquisas e diagnósticos que contribuam para o monitoramento e a avaliação do projeto como um todo. Uma pesquisa semestral com os usuários ajuda a avaliar os serviços prestados e a aprimorar as ações.

No setor de Psicologia, os serviços prestados são examinados de acordo com a escala de Satisfação Global com a Vida, que além de avaliar o usuário faz com que ele reflita sobre sua satisfação com a própria vida naquele momento. Um auto-relato ajuda a identificar a percepção que o idoso tem de si, do outro e de sua vida, além de avaliar a sua própria evolução. Esse método auxilia na melhoria da condição de sociabilidade e na prevenção de situações de isolamento e de institucionalização.

Por outro lado, a avaliação da condição física segue parâmetros de aptidão funcional, isto é, que indicam as capacidades fisiológicas associadas com as funções exigidas para as atividades diárias, tanto básicas quanto avançadas. Em outros termos, para avaliar critérios como força e resistência, resistência aeróbica e flexibilidade são utilizadas atividades como andar, subir degraus e levantar-se da cadeira. Já a capacidade motora, que inclui potência, velocidade, agilidade e equilíbrio, e a composição corporal são avaliadas por meio de atos como erguer ou alcançar, inclinar-se ou abaixar-se e por atividades como cooper e corrida.

Os índices quantitativos, medidos por meio de indicadores de resultados, constam de relatórios mensais e além do número total de atendidos abrangem o número de atendidos por sexo, por faixa etária e por atividades e serviços prestados. Também registra a média de freqüência nas atividades e serviços prestados, o número total de atendimentos, de inclusões e de desligamentos.

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47 intenso, com muitos ônibus e caminhões. Não há nenhuma faixa de segurança em frente ao CRI e o semáforo mais próximo está a cerca de 50 metros da entrada principal. Um estacionamento externo, para uns dez veículos, é um prolongamento da calçada. Apesar da recente reforma, o concreto continua um pouco desgastado em alguns trechos.

Um pequeno jardim, rente ao muro, tem algumas plantas. A entrada é bem acessível e sem degraus. O prédio não possui escadas e as instalações, em geral, são adequadas ao público idoso. O piso é de cimento rústico e plano, sem buracos nem obstáculos que possam causar acidentes.

As fachadas são pintadas de branco com uma barra cinza na parte inferior, um pequeno jardim na parte interna. No jardim interno está a placa que sustenta o nome da instituição. A sala da administração tem aproximadamente 20m2 e requer algumas reformas, sobretudo no piso e paredes. O atendimento é feito num guichê. Nas paredes, entre o quadro de avisos, relógio e ventilador, uma tela com um beija-flor torna o ambiente mais aconchegante.

A sala de música é maior, tem o dobro do tamanho da sala da administração. Possui alguns instrumentos musicais como violões e teclado.

Nessa sala acontecem várias atividades, inclusive, para minha surpresa, aulas de alfabetização, normalmente ministradas três vezes por semana. A professora é voluntária e as aulas são preparadas especialmente para os idosos, que têm mais dificuldade de aprendizado. Interessante notar que os idosos desse curso de alfabetização não frequentam o CRI regularmente.

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48 de basquete e vôlei. Há ainda bolas de pilates, aparentemente novas. A sala de pintura guarda os materiais de aula e as telas pintadas pelos alunos.

O desenvolvimento da sociabilidade dos idosos usuários do CRI é um ponto importante presente nas várias atividades como apontam os documentos analisados e expostos neste texto.

A atual gestora do Centro de Referência, Roda Pintos, Gerente II e Assistente Social, também explica o seu trabalho com os idosos chamando a atenção para o exercício da sociabilidade. A seguir trechos de sua entrevista:

Aqui é mais um espaço para lazer, o espaço que eles se encontram, fazendo com que aconteça essa sociabilidade entre eles, que nada mais conviver em grupos. Cabe a nós promover o convívio dessas pessoas com harmonia entre gerações, defender os direitos, ensiná-los algumas experiências, mostrar que cada um tem suas responsabilidades, suas obrigações, seus direitos mais ainda têm deveres a cumprir para a sociedade.

O trecho explicita o desenvolvimento da sociabilidade dos idosos no sentido de aproximá-los da sociedade. Essa aproximação é reiterada quando a entrevistada explica que os idosos continuam cidadãos, cumprindo deveres e defendendo os seus direitos.

A entrevistada chama a atenção também para o fato do exercício da sociabilidade atuar na melhora da saúde do idoso.

Rosa Pintos explica:

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49 até remédios de tarja preta pararam de tomar, então eu acho que essa questão dos encontros, das atividades físicas gera um bem estar muito grande para eles.

Diante da questão formulada pela entrevistadora sobre a relação da sociabilidade com a saúde, Rosa Pintos explica que no momento falta uma integração maior, desenvolvimento de parcerias entre várias secretarias do Município de Guarulhos, principalmente com a Secretaria da Saúde. No trecho a seguir a explicação dada pela entrevistada.

(50)

50

CAPÍTULO 4.

METODOLOGIA

Como se trata de um estudo de caso, ou seja, com a intenção de uma compreensão mais aprofundada do objeto, a pesquisa qualitativa apresenta entrevistas semiestruturadas como a técnica mais adequada, uma vez que permite o conhecimento do problema a partir de uma exploração mais intensa, no diálogo entre o sujeito entrevistador e os sujeitos entrevistados.

A intenção é entender as dificuldades para se implementar um Centro de Convivência, e para tanto procuramos verificar as múltiplas inter-relações por meio de uma pesquisa de campo que inicialmente mapeou a cidade, levantando necessidades específicas da pessoa idosa. A partir de uma descrição densa do próprio espaço do Centro de Referência ao Idoso de Guarulhos e de suas especificidades administrativas, entrevistamos os sujeitos frequentadores, com entrevistas semiestruturadas para verificar quais as necessidades por eles percebidas e a avaliação que fazem dos serviços oferecidos pelo Centro de Referência do Idoso de Guarulhos.

A seguir apresentamos um roteiro de questões que norteou a realização das entrevistas:

1) Sexo, idade, estado civil, renda. 2) Tempo de frequência no centro.

3) Número de reuniões (semanais, mensais, diárias ou eventuais) que participa. 4) Considerações sobre a participação no CRI.

5) Atividades realizadas no CRI.

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51 7) Outras atividades propostas além das que são oferecidas.

8) Relações de amizade desenvolvidas no CRI.

9) Visão do idoso sobre a avaliação que a sua família tem sobre a sua participação no CRI.

(52)

52

CAPÍTULO 5.

A VOZ DOS IDOSOS

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como campo de saber interdisciplinar, a Gerontologia nos permite tratar a

questão do envelhecimento sob diversos ângulos. Do ponto de vista sociológico,

a velhice representa uma construção social que diz respeito à capacidade de desempenho de papéis na comunidade ou numa coletividade. (Patrocínio, 2006: 56).

Considerando que um Centro de Convivência seja um espaço de interação, supõe-se que nele estarão convivendo sujeitos diferenciados, uma vez que:

não existe uma cultura brasileira homogênea, matriz dos nossos comportamentos e dos nossos discursos. Ao contrário: a dimensão do seu caráter plural é um passo decisivo para compreendê-la como um ‘efeito de sentido’, resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço. (Bosi, 1987: 7).

Olhar o sujeito idoso como um todo, implica perceber formas diferenciadas de atenção e cuidado, respeitando a cultura local, suas tradições e história de vida. A intenção de um centro de convivência não deve ser homogeneizar os participantes, mas respeitar e promover a interação entre as diferenças, pois, segundo Gusmão (2001), a velhice não seria uma outra cultura, mas uma etapa neste processo.

(53)

53 Em que medida podemos entender o Centro de Referência como um espaço comunitário? A discussão sobre comunidade se faz necessária para a presente análise.

Importa aqui ressaltar que estamos trabalhando com a noção de comunidade como elaborada por Max Weber, qual seja: o conceito de comunidade implica pertencimento. Portanto, um Centro de Referência, a rigor, deve configurar-se como um espaço de reconhecimento, que pode gerar uma comunidade, na qual é permitido ao idoso estabelecer um conjunto mínimo de significações que criem algum vínculo com sua identidade. Diante dessa explicação, uma nova questão se coloca, que implica saber se é de fato uma comunidade que encontraremos no CRI de Guarulhos.

Para Weber, a ideia de pertencimento, ou seja, o sentimento de pertencer ao grupo, é o que fundamenta a relação social na comunidade.

Chamamos comunidade a uma relação social quando a atitude na ação social – no caso particular, em termo médio ou no tipo puro – inspira-se no sentimento subjetivo (afetivo ou tradicional) dos partícipes na constituição de um todo. (Weber, 1973: 140).

Em outro momento, o mesmo autor explica:

A comunidade pode apoiar-se sobre toda espécie de fundamentos, afetivos, emotivos e tradicionais: uma confraria pneumática, uma relação erótica, uma relação de piedade,

uma comunidade “nacional”, uma tropa unida por

sentimentos de camaradagem. (Weber, 1973: 141).

Imagem

Foto 2. Entrada do CRI
Foto 5. O Baile
Foto 7. Sr. B.F. dançando com a Sra. B.

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