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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DO SETOR DE RETÍFICA EM UMA EMPRESA DE LIMAS

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DE TRABALHO DO SETOR DE

RETÍFICA EM UMA EMPRESA DE

LIMAS

Diego Otavio de Sousa Santiago (Unifran)

o.diego.santiago@gmail.com

Renato Luvizoto Rodrigues de Souza (Unifran)

rluvizoto@gmail.com

Natalia Caroline da Rosa (Unifran)

natalia_rosa123@hotmail.com

Marilia Giselda Rodrigues (Unifran)

marilia.rodrigues@unifran.edu.br

As indústrias de ferramentarias apresentam muitos acidentes e doenças associadas ao trabalho. As indústrias produtoras de limas possuem em grande parte um processo dependente diretamente do trabalho manual, apresentando diversos setores como estampagem, retifica, tratamento térmico, entre outros. Frente a relatos de dores e desconfortos no setor de retifica e uma indústria de limas este trabalho possui como objetivo desenvolver uma avaliação dos desconfortos associados às posturas de trabalho no setor de retífica. O método de estudo contou com a estrutura do estudo de caso, delineado pelos métodos e ferramentas: Ficha de Descrição da tarefa, o Diagrama de Corlett e Manenica e o

Sistema de Análise de Posturas Ocupacionais

(OvakoWorkingPostureAnalysing System, OWAS). Foram determinadas categorias de ações de acordo com a postura assumida

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durante a tarefa. Os resultados obtidos demonstraram que a exigência de posturas estáticas é grande, sendo necessário a intervenção com a finalidade de prevenção de possíveis constrangimentos a saúde do trabalhador analisado. Desta forma, sugeriu-se melhorias de curto e médio prazo, envolvendo adaptação das bancadas, do assento e melhoria na segurança do equipamento.

Palavras-chave: Ergonomia, produção de limas, posturas de trabalho, OWAS

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1. Introdução

As empresas têm buscado melhorar o desempenho operacional de seus sistemas de produção, produzindo uma maior quantidade de bens e serviços utilizando os recursos disponíveis da melhor maneira possível. Nesse contexto, as preocupações com as condições de trabalho são frequentemente colocadas em segundo plano.

A ergonomia busca resgatar essas preocupações por meio de intervenções que diminuam as inadequações das situações produtivas. Assim, a análise ergonômica tem como objetivos: conceber situações de trabalho que não alterarão a saúde dos trabalhadores, permitindo que os mesmos consigam exercer suas competências, simultaneamente num planejamento individual e coletivo, deparando-se com possibilidades de valorização de suas capacidades (IIDA, 2005). Nessa pesquisa, foi analisado um setor de uma empresa que se encaixa no contexto industrial de ferramentaria, especificamente em uma indústria de limas. Apesar dos operadores contarem com o auxílio de diversas ferramentas, parte considerável do processo é desenvolvido de forma manual. As limas são ferramentas de aplicação geral, sendo utilizadas de forma frequente em combinação com enxadas, serrotes, facões, motosserras e talhadeiras. O trabalho desenvolveu-se com objetivo de buscar melhorias nas condições de trabalho, apresentando recomendações com o intuito de minimizar os constrangimentos associados as posturas adotadas pelo trabalhador. A adequação das condições de trabalho pode impactar de forma positiva tanto na saúde do trabalhador, quanto na produtividade da empresa. São objetivos específicos desta pesquisa:

 Investigar a ocorrência de dores e desconfortos no trabalhador responsável pela retífica (associando sua atividade profissional e diagnosticando as condições de trabalho em relação à postura requerida);

 Relacionar a postura adotada pelo trabalhador com as posturas apresentadas pelo Método OWAS;

 Propor alternativas, com o objetivo de prevenir ou minimizar constrangimentos posturais e acidentes.

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4 Esse trabalho se justifica pela ausência de dados ergonômicos relacionados ao trabalho em uma indústria de limas e a falta de parâmetros posturais relacionados a elas, ratificando a importância em desenvolver novas pesquisas com o intuito de propor melhorias para a segurança e saúde no ambiente de trabalho, tendo potencial até mesmo para contribuir no desenvolvimento do setor de limas.

2. Referencial Teórico 2.1 Ergonomia

O termo ergonomia se deriva das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). A ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de equipamentos, sistemas e tarefas e máquinas, objetivando-se na melhoria da segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho (DUL; WEERDMEESTER, 2012). Iida (2005, p.2), conceitua a ergonomia como “o estudo da

adaptação do trabalho ao homem” essa intervenção é alusiva a toda a situação em que há

contato ou relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.

No ano de 2000, a Internacional Ergonomics Association (IEA) adotou uma nova definição da ergonomia, e atualmente este conceito é referência internacional. Essa definição aponta que a ergonomia é a disciplina cientifica que visa compreender de forma fundamental as interações entre seres humanos e demais componentes presentes em um sistema, é a profissão que utiliza de teorias, dados e métodos por finalidade de buscar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas (IEA, 2000).

Vale destacar que um importante aspecto na ergonomia é a interdisciplinaridade de seu caráter, como citado abaixo por Falzon (2007):

“Seu objetivo é elaborar, com a colaboração das diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que numa perspectiva de aplicação, deve ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de produção e dos ambientes de trabalho e de vida ” (p. 4).

Nesse sentido, a Associação Internacional de Ergonomia divide essas especializações em três áreas, sendo elas a ergonomia física, ergonomia cognitiva e ergonomia organizacional. A ergonomia física aborda características anatômicas, antropométricas, fisiológicas e biomecânicas do homem em sua relação com a atividade física. Outra área de especialização é

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5 a ergonomia cognitiva que se preocupa na abordagem dos processos mentais, como a percepção, memória, raciocínio e repostas motoras, relacionando-se às interações entre as pessoas e outros componentes de um sistema. E, por fim, a ergonomia organizacional que busca a otimização dos sistemas sócio-técnicos integrando sua estrutura organizacional, regras e processos. (IIDA, 2005).

2.2 Saúde e posturas no trabalho

Segundo o Artigo 3º da Lei nº. 8080 (19/09/1990), “a saúde tem como fatores determinantes e

condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-Americana Da Saúde No Brasil (2001) são cinco grandes grupos que podem representar algum tipo de risco para a saúde dos trabalhadores. Estes grupos são descritos no Quadro 1:

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Fonte: elaborado pelos autores com base em Ministério da Saúde do Brasil e Organização Pan-Americana Da Saúde No Brasil (2001) p. 29

Essa pesquisa dará maior enfoque para as questões associadas ao grupo “Ergonômicos e Psicossociais”, enfatizando principalmente as posturas de trabalho relacionadas às inadequações do posto de execução da tarefa.

A postura de trabalho é, frequentemente, determinada pelo posto de trabalho ou pela natureza da tarefa. Iida (2005) define postura como o estudo da disposição relativa de partes do corpo, como cabeça, tronco e membros, no espaço. E ressalta que uma boa postura tem caráter importante para que o trabalho seja realizado sem desconforto e estresse.

Laville (1977) aponta características que influenciam diretamente sobre a postura do trabalhador, citando as exigências visuais, exigências de precisão de movimentos, exigências da força a ser exercida, os espaços onde o operador atua e o ritmo de execução.

 Exigências visuais estão interligadas a precisão de detalhes, determinando a distância olho-tarefa; o eixo visual será determinado de acordo com o plano situado, determinando a orientação da cabeça; deve ser feita uma inspeção sobre a amplitude do espaço, pois será determinante para a amplitude dos movimentos da cabeça.

 Exigências de precisão de movimentos geralmente necessita da imobilização dos segmentos corporais que não estarão ativos no processo. A precisão aumenta caso o movimento seja executado diante do plano frontal do corpo e muito próximo do eixo corporal.

 Exigências da força a ser exercida está ligada a resistência dos comandos, pesos dos instrumentos, cargas a deslocar. O nível e a direção em que a força é exercida determinará a organização dos segmentos corporais a fim de opor uma força que auxiliará a manter o equilíbrio postural.

 Os espaços onde o operador atua deve haver uma orientação e dimensionamento dos planos de trabalho; implantação de comandos, instrumentos e materiais.

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7 Portanto, esses elementos devem ser concebidos de forma que o trabalhador possa adotar uma postura que, consiga na medida do possível respeitar o equilíbrio corporal e não provoque sobrecarga circulatória, havendo a possibilidade de ser frequentemente alterada.

2.3 Sistema OWAS

O sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) foi desenvolvido na Finlândia para analisar as posturas de trabalho na indústria de aço, sendo proposto por pesquisadores finlandeses em conjunto com o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (KARHU et al., 1977).

O sistema abrange a compreensão das posturas adotadas pelo trabalhador, a carga e a força utilizada, possuindo como objetivos:

 Catalogar posturas conciliadas entre as costas, braços, pernas e forças exercidas

onde será determinado qual o efeito resultante sobre o sistema músculo esquelético;

 Examinar qual o tempo relativo gasto em determinada postura especifica para a

região corporal e concluindo o efeito resultante sobre o sistema músculo esquelético.

Segunda Iida (2005), o sistema OWAS tem como base 72 posturas (ver exemplo na Figura 1) típicas que resultam em combinações diferentes em relação as posições do dorso (4 posições típicas), braços (3 posições típicas) e pernas (7 posições típicas).

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Figura 1 - Esquema postural do sistema OWAS.

Fonte: Iida (2005)

O Sistema OWAS utiliza as seguintes categorias de classificação:

 Classe 1 - Postura normal, os cuidados são dispensados considerando apenas casos

excepcionais;

 Classe 2 - A postura deve ser verificada quando acontecer uma próxima revisão

dos métodos de trabalho;

 Classe 3 - Postura que requer atenção em curto prazo;

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9 Nota-se que a partir da classe 2 já se faz necessário uma intervenção para adaptar o posto de trabalho. No segundo caso, a intervenção deve ocorrer um curto espaço de tempo e, por fim, caso a situação seja definida como Classe 4, a intervenção deve ocorrer de forma imediata. A aplicação do sistema consiste em observar visualmente e registrar as posturas do trabalhador e confrontar com as posturas apresentadas na Figura 1, atribuindo-lhe um código, que vai ser classificado de acordo com as categorias já mencionadas.

3. Metodologia

Esta pesquisa foi desenvolvida a partir do método estudo de caso (YIN, 2005). Para a coleta de dados foram utilizados questionários, registros fotográficos e em vídeos e observações livres. Para a descrição e análise dos dados, foram utilizados os instrumentos: ficha de descrição da tarefa (CAMAROTTO, 2007) e o sistema OWAS. Além disso, foi utilizado também para a análise dos dados o software Ergolândia, o software apresenta 20 ferramentas ergonômicas que podem ser utilizadas de forma gratuita, auxiliando na melhoria dos postos de trabalho, possibilitando resultar em aumento da produtividade e diminuição dos riscos ocupacionais (FBF SISTEMAS, 2010).

Inicialmente aplicou-se um questionário aos 10 trabalhadores da linha de produção, procurando compreender como se dava o processo, quais as principais dificuldades da operação e quais os principais desconfortos, além de um mapeamento geral da população trabalhadora. Logo após a aplicação do questionário eram realizadas coletas de dados por observação para identificar e registrar as posturas que poderiam causar algum tipo de desconforto no trabalho. Foram realizadas gravações em vídeo e imagens, além da medição do tempo de cada tarefa em cada setor.

As gravações em vídeo auxiliaram posteriormente a compreender a permanência em diferentes combinações das posições do braço, dorso e perna. Ao final no expediente foi aplicado o diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Manenica (1986). Após o levantamento de todos os dados notou-se que o setor de retífica apresentava maiores complicações, onde foram relatados ocorrência de acidentes e dor pelo trabalhador presente no mesmo. Desta forma os demais setores foram descartados, focando no setor de retífica. Logo após a seleção

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10 do posto a ficha de descrição da tarefa foi utilizada para fornecer uma visão mais detalhada sobre o posto de trabalho e sobre a tarefa. Posteriormente aplicou-se o sistema OWAS, utilizando apenas as informações levantadas do funcionário da retífica.

A partir dos resultados obtidos aplicando as ferramentas e métodos ergonômicos de avaliação postural, foram feitas sugestões para que houvesse uma correção postural e adequação do posto de trabalho ao operador, que se forem adotadas podem contribuir na busca do conforto aos operadores, evitando o aparecimento ou desenvolvimento de doenças ocupacionais e aumentando a produtividade.

4. Resultados

4.1 Descrição e caracterização da empresa e do produto produzido

A empresa estudada possui mais de 30 anos de atuação no setor de ferramentaria, atuante no mercado de ferramentas manuais, no caso limas e grosas. Está localizada no interior do estado de São Paulo. A empresa conta com um portfólio de mais de 150 tipos de limas diferentes. Além de possuir a própria marca, possui também pedidos de outras marcas que terceirizam sua produção. Esses produtos são produzidos em um processo de produção em que atuam dez funcionários diretamente ligados à produção e três funcionários no setor administrativo. O processo produtivo é composto por um sistema de produção puxado em que a produção da empresa é determinada de acordo com os pedidos em carteira. Todos os tipos de produtos desta indústria passam pelo mesmo processo, diferenciando-se apenas a matéria-prima utilizada para cada produto, o método empregado em cada picagem e os tempos de produção. O processo produtivo da fábrica está dividido em 8 setores, de acordo com cada processo realizado.

4.2 Recorte de análise

A empresa disponibilizou dados a respeito de afastamentos por lesões por esforços repetitivos ou distúrbios. Com base nesses dados foram realizadas análises que permitiram compreender que houve um aumento no número de afastamentos por DORT nos últimos anos. Além disso, no setor de retífica destacam-se a ocorrência de dois acidentes graves, acarretando o afastamento definitivo do colaborador da empresa. Segundo relatos do responsável do setor

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11 ambos os casos foram acidentes de trabalho gravíssimos com sérias lesões em membros superiores.

Além desses dados, foram levantados dados gerais relacionados ao trabalho na empresa, estes dados estão resumidos abaixo:

 Horário de trabalho - jornada de trabalho de oito horas, das 07:00 às 17:00, com pausa para o almoço de 1h e 30 minutos e para o café da tarde de 30 minutos;

 Produção mensal em média de 30.000 unidades por mês, com picos de 55.000 unidades;

 Os processos de trabalho são essencialmente manuais, com a utilização de ferramentas pesadas;

 A população trabalhadora é formada por homens e mulheres com formação média até o ensino fundamental.

Além dos acidentes ocorridos no setor de retífica, no questionário realizado no início da pesquisa, esse setor foi destacado como um dos responsáveis pelas reclamações relacionadas a desconfortos e riscos no trabalho.

A Figura 2 destaca a área é realizada a retífica e, devido aos acidentes e reclamações, foi o local de desenvolvimento desta pesquisa na empresa.

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Figura 2 - Layout do processo com destaque do recorte de análise

Fonte: Autor.

O sistema produtivo conta com as etapas de: estamparia, martelete, retífica, picagem, acerto, tratamento térmico, revenimento e expedição. Conforme destacado na Figura 2, a pesquisa foi realizada na retífica.

Nesse posto, trabalho um operador do sexo masculino, com 67 anos, que possui mais 30 anos de experiência no setor de ferramentaria, tendo passado por diversas empresas. Para uma melhor compreensão do processo produtivo foi desenvolvida uma Ficha de Descrição da Tarefa, conforme é apresentado no Quadro 2.

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Fonte: elaborado pelos autores

Aplicando a ficha de descrição da tarefa, notou-se que a cadeira não possuía regulagem, as bancadas onde as limas brutas e finalizadas são colocadas são baixas, necessitando a inclinação do dorso do trabalhador, o rebolo do esmeril não possui nenhuma proteção, esse conjunto de fatores submetem o funcionário a posições desconfortáveis. A ficha de descrição auxilio no entendimento mais profundo sobre a tarefa, auxiliando no desenvolvimento do trabalho.

4.3 Resultados da aplicação do método OWAS

A coleta de dados foi feita por meio de observações sistemáticas das ações e tarefas realizadas pelo trabalhador. Esta etapa foi auxiliada com o registro de imagens e filmagens para análise comparativa.

As figuras 3 e 4 apresentam os posicionamentos adotados pelo trabalhador nesta primeira fase do trabalho, e o esforço realizado pelo mesmo para desempenhar a função. Nota-se que o funcionário mantém o dorso inclinado, apresentando angulações que podem prejudicar sua coluna.

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Figura 3 - Trabalhador separando as limas a serem esmerilizadas.

Fonte: autores

Figura 4 - Trabalhador colocando as limas a serem esmerilizadas próximo a sua bancada.

Fonte: autores

Para desempenhar a atividade o funcionário utiliza as mãos, que se mantém posicionadas abaixo dos ombros, e faz o transporte de um lote de limas a serem esmerilizadas de uma bancada a outra (Figura 4), o lote segundo relato do trabalhador possui carga inferior a 10 kg. Esta atividade é desempenhada em um curto período de tempo, porém exige a inclinação do funcionário em grande parte deste tempo, desta maneira e por meio de análise e auxilio do

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Figura 5 - Trabalhador regulando o rebolo.

Fonte: autores

Nesse momento (Figura 5) o trabalhador faz a regulagem do gabarito, nota-se que as posturas assumidas nesta atividade são parecidas com as posturas assumidas na atividade 1. Porém, o dorso do funcionário fica inclinado em grande parte do tempo.

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19 Figura 6 - Trabalhador esmerilhando a lima.

Fonte: autores

Figura 7 - Trabalhador conferindo o acabamento.

Fonte: autores

Durante a esmerilagem (Figura 6) e a conferência (Figura 7) o trabalhador precisa acomodar-se (acomodar-sentar) para realizar ambas atividades, nota-acomodar-se que apesar da cadeira possuir o movimentando giratório em 360°, não possui regulagem, fazendo com que os pés do trabalhador não toquem no chão.

Essa atividade exige que o trabalhador mantenha seu dorso inclinado durante todo o tempo. Apesar da atividade não demandar que o operador faça muita força, a realização da esmerilagem exige muito a movimentação do braço direito do funcionário, principalmente do cotovelo, que permanece flexionado em grande parte do tempo. Destaca-se que o cotovelo foi o segmentado do corpo com maior incidência de reclamação no diagrama de áreas dolorosas. Essa situação foi verbalizada, destacando as dores no cotovelo.

Olha, normalmente eu não sinto dores [...], mas sempre sinto uma dorzinha na coluna, sinto muita canseira na minha mão, mas o braço é o que mais dói, principalmente meu cotovelo” (Funcionário da Retífica).

Segundo Másculo (2011), movimentos de rotação do antebraço e o flexionamento dos dedos e punhos, interligados à força e à repetitividade, podem ocasionar uma tendinite (Inflamação que sucede no tendão, onde há a união do músculo ao sistema ósseo) no lado interno do cotovelo.

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4.4 Resultados obtidos por categoria na classificação do método OWAS

Foi observado que a maior parte do tempo o trabalhador desenvolve assumindo posturas que podem causar desconfortos, havendo a necessidade de correções em um futuro próximo. Para esclarecimento tabulou-se os códigos e classificação da categoria de ação no Quadro 3.

Quadro 3 - Posições correspondentes na execução do preparo e esmerilagem e categoria de ação.

Fonte: autores

Por mais que o trabalho não exija muita força do trabalhador, os mesmos movimentos são repetidos inúmeras vezes durante o dia, o que pode ser agravante e causador desta dor.

De acordo com as determinantes de posturas listadas por Laville (1997), pode-se dizer que a retífica exige um grau de precisão na finalização da lima, portanto faz com que seja necessária uma exigência visual por parte do trabalhador para que essa precisão seja alcançada.

Os movimentos também precisam ser precisos, afinal a lima deve apresentar característica planas em suas superfícies, desta forma utiliza-se um gabarito que auxilia este processo, onde a lima é posicionada entre o gabarito e o rebolo. Essa junção de equipamentos elimina a necessidade de que uma força maior seja empregada na tarefa.

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21 O funcionário dispõe de espaço para desempenhar sua tarefa e se locomover quando necessário, em que o ritmo é imposto de acordo com os pedidos, com um ritmo considerado aceitável pelo próprio funcionário.

4.5 Diagnóstico e recomendações

A bancada de trabalho: Foram notadas posturas impróprias que podem comprometer a saúde do funcionário, partindo deste princípio, a bancada onde o funcionário recolhe e coloca as limas a serem esmerilizadas e a bancada onde as limas finalizadas serão colocadas poderiam ser elevadas ou reguláveis não havendo a necessidade de que o mesmo se curve.

A cadeira: A cadeira poderia oferecer regulagem para que o funcionário melhore sua postura, afinal a atual cadeira não oferece essa possibilidade. Abaixar a altura do esmeril também ajudaria o funcionário a manter o dorso ereto, conseguindo melhorar ainda mais sua postura.

Ferramentas de trabalho: O esmeril não possui nenhuma proteção em seu rebolo, o que cria uma situação de risco. Sugere-se a implantação de um protetor no rebolo. Esse protetor, deverá ser transparente para não atrapalhar o campo de visão do funcionário, conforme a observação percebeu-se que esse campo de visão é fundamental para que o trabalhador consiga realizar sua operação.

Ginastica laboral e pausas programadas: Iida (2005) considera que pausas de 10 minutos a cada hora de trabalho, são suficientes para recuperação da fadiga em trabalhos moderados. Implantar a ginastica laboral poderia auxiliar ainda mais o funcionário, buscando a melhoria da saúde e evitar possíveis lesões decorrentes de esforços repetitivos e algumas doenças ocupacionais.

5. Considerações finais

O posto de trabalho estudado conta com o auxílio de uma retífica, entretanto, todo restante da atividade é feita de forma manual. A experiência do funcionário na função é crucial para que

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22 sejam atingidos os resultados da produção e para que o mesmo não se acidente, visto a falta de proteção nas máquinas e os relatos de acidentes nesse e em outros setores da produção. Por meio do método de registros, diagrama das áreas dolorosas de Corlett e Manenica e a análise de dados feitas a partir do sistema postural do método OWAS, foi possível identificar quais os principais constrangimentos do trabalhador. A análise das posturas permitiu evidenciar ainda que nenhuma delas pode ser considerada totalmente aceitável, devendo ser repensadas em futuro próximo.

Vale ressaltar que por mais que as análises sejam feitas por meio dos métodos, as variabilidades encontradas nos postos de trabalho são diversas e os métodos apresentam limites quando a sua aplicação. Durante o questionário o operador relatou não sentir desconfortos, apontando somente o cotovelo como um local de desconforto moderado. Em outro momento, durante as entrevistas, o operador citou também dores na coluna, que conforme o operador estava associado às posturas do trabalho.

Verificou-se que podem ser realizadas melhorias em diferentes frentes do setor de retífica. Para que essas melhorias tenham impactos positivos sobre a produção e à saúde do trabalhador, as mesmas devem ser implantadas com a participação do trabalhador do setor. Além disso, essas recomendações são oriundas de um estudo que considerou elementos pontuais do trabalho do operador, assim estudos que compreendam de forma mais aprofundada todo o entorno no qual o trabalho se desenvolve são necessários.

REFERÊNCIAS

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CAMAROTTO, J. A. Apostila de Projeto do Trabalho: Métodos, tempos, modelos, posto

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23 CORLETT, N; WILSON, J; MANENICA, I. The ergonomics of working postures. London:Taylor & Francis, 1986.

DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard.Ergonomia prática.3. ed. rev. e ampli. São Paulo: Edgard Blucher, Blucher, 2012.

FALZON, P. Natureza, objetivos e conhecimentos da Ergonomia. In: Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007. p. 3–19.

FBF Sistemas. (2008). Ergolândia (Versão 5.0) [software]. Belo Horizonte, MG. IEA. Definition and Domains of ergonomics. Açao Ergonômica, v. 1, n. 1, p. 10, 2000. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2005.

KARHU, O.; KANSI, P.; KUORINKA,I. Correcting working postures in industry: a

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MÁSCULO. Biomecânica. In: MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. (Eds.). . Ergonomia:

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