• Nenhum resultado encontrado

A COMISSÃO DE MORADORES VS ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO INTRODUÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A COMISSÃO DE MORADORES VS ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO INTRODUÇÃO"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

A COMISSÃO DE MORADORES

A COMISSÃO DE MORADORES

A COMISSÃO DE MORADORES

A COMISSÃO DE MORADORES VS ÓRGÃOS

VS ÓRGÃOS

VS ÓRGÃOS

VS ÓRGÃOS

DA ADMINISTRAÇÃO

DA ADMINISTRAÇÃO

DA ADMINISTRAÇÃO

DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL DO ESTADO

LOCAL DO ESTADO

LOCAL DO ESTADO

LOCAL DO ESTADO

Osvaldo Cololo

Osvaldo Cololo

Osvaldo Cololo

Osvaldo Cololo

1111

S

SS

SUMÁRIO

UMÁRIO

UMÁRIO::::

UMÁRIO

Introdução.

1.

1.

1.

1. Comissão de Moradores: Conceito e

Natureza

Jurídica.

2.

2.

2.

2.

Objectivos.

3.

3.

3.

3.

Competências. 4.

4.

4.

4. Implantação territorial

das

Comissões

de

Moradores.

5

5

5

5.

Constituição. 6

6

6

6. Aquisição da personalidade

jurídica, registo e reconhecimento. 7

7

7

7.

. .

.

Comissão de Moradores VS Governo

Provincial. 8

8

8.

8

.

.

. Comissão de Moradores VS

Administração Municipal. 8.1.

8.1.

8.1.

8.1. Existe uma

relação de hierarquia entre a Administração

Municipal e a Comissão de Moradores? 9.

9.

9. A

9.

Comissão de Moradores e o Orçamento

Participativo.

10

10

10

10.... Conclusão.

11

11

11

11.... Referências Bibliográficas.

12

12

12

12. Legislação Consultada.

1

Advogado Estagiário da Faria de Bastos, Lopes & Associados - Sociedade de Advogados, RL.

INTRODUÇÃ

INTRODUÇÃ

INTRODUÇÃ

INTRODUÇÃO

O

O

O

A democracia participativa é hoje uma

bussola que orienta a acção governativa

dos Estados ao redor do mundo.

O modelo de governação em que o

soberano decide unilateralmente sobre as

questões relevantes do Estado,

considera-se

obsoleto

e

em

progressiva

descontinuação.

Tem sido cada vez mais apregoada, a

convicção de que o governado tem uma

palavra a dizer na forma e no modo como é

governado. Com o advento das redes

sociais, e o acesso facilitado à informação, é

cada vez mais custoso para quem governa

obstar à intervenção do governado na

gestão da rés pública.

A Constituição da República de Angola

consagrou o poder local no artigo 213.º. O

poder local, constitui uma realidade

tridimensional, abarcando os conceitos de

autarquias locais, autoridades tradicionais e

as outras formas de participação do

cidadão na vida pública. Esta última

encontra nas Comissões de Moradores uma

das formas de manifestação.

Tendo

em

vista

a

necessidade

de

concretização da orientação constitucional

sobre a participação dos cidadãos na gestão

dos assuntos das respectivas Comunidades,

Angola aprovou a Lei Orgânica Sobre

Organização

e

Funcionamento

das

Comissões de Moradores – Lei nº 7/16, de

1 de Junho, doravante Lei das Comissões de

Moradores e o seu Regulamento, que foi

aprovado em 2019, através do Decreto

Presidencial nº 158/19, de 17 de Maio,

doravante

Regulamento

da

Lei

das

Comissões de Moradores.

Neste modesto artigo, pretendemos refletir

em torno da actual relação entre as

Comissões de Moradores e os Órgãos da

Administração

Local

do

Estado,

na

perspectiva de procurar descortinar os

(2)

meandros deste “relacionamento” que se

tem mostrado necessário e inevitável.

1.

1.

1.

1.

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

DE

DE

DE

DE

MORADORES:

MORADORES:

MORADORES:

MORADORES:

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

A Comissão de Moradores pode ser

entendida como toda a pessoa colectiva de

direito

público,

resultante

da

união

voluntária

e

organizada

de

pessoas

residentes

numa

determinada

rua,

quarteirão, bairro, aldeia ou povoação.

As

Comissões

de

Moradores

são

apartidárias e sem fins lucrativos, dotadas

de autonomia financeira e administrativa e

têm natureza associativa, já que resultam

da união de indivíduos com vista à

prossecução de objectivos comuns.

Numa circunscrição administrativa, deve

existir apenas uma Comissão de Moradores

em respeito ao princípio da unicidade. Seria

disfuncional

e

administrativamente

censurável, a existência de mais de uma

Comissão

de Moradores

na

mesma

circunscrição,

ademais,

tal

situação

despoletaria indubitavelmente conflitos de

competência e a coabitação entre as duas

estruturas revelar-se-ia umbrática.

Em relação ao regime financeiro e

patrimonial, as Comissões de Moradores

autofinanciam

as

suas

actividades,

mediante

a

quotização

e

outras

contribuições

financeiras

dos

seus

associados

e

instituições

públicas

e

privadas, exclusivamente destinadas à

prossecução das suas atribuições.

2.

2.

2.

2.

OBJECTIVOS

OBJECTIVOS

OBJECTIVOS

OBJECTIVOS

As Comissões de Moradores orientam a sua

actividade para o alcance de objectivos que

digam respeito à resolução de problemas

que são comuns a todos os membros da

sua circunscrição.

Considerando o afirmado no parágrafo

retro, resulta claro que a promoção da

coesão e a disseminação do espírito de

participação activa entre os moradores na

busca pela solução de problemas comuns,

constitui a principal meta das Comissões de

Moradores, a está, podemos associar os

seguintes objectivos:

a)

A resolução de problemas

comuns dos moradores;

b)

A promoção da participação

activa na vida da comunidade;

c)

A promoção da solidariedade e

da cooperação na comunidade;

d)

A melhoria da qualidade de

vida dos moradores.

3.

3.

3.

3.

COMPETÊNCIAS

COMPETÊNCIAS

COMPETÊNCIAS

COMPETÊNCIAS

2

No exercício das suas atribuições, compete

à Comissão de Moradores cooperar com os

órgãos da Administração local do Estado e

com as autarquias locais nas questões

relativas, nomeadamente á:

a)

Identificação dos moradores

nacionais e estrangeiros;

b)

Ambiente e o saneamento

básico urbano e rural;

c)

Denúncia de construções não

autorizadas e da ocupação

ilegal de terrenos;

d)

Denúncia de imigrantes ilegais;

e)

Denúncia

de

práticas

de

comércio ilegal;

f)

Denúncia de igrejas e seitas

ilegais;

g)

Segurança e ordem pública;

h)

Exercer o direito de petição

perante o órgão competente da

administração local nos termos

da lei e outras.

2 As competências aqui citadas, são meramente exemplificativas, não esgotam o rol de competências definidas quer pela Lei das Comissões de Moradores, quer pelo seu Regulamento.

(3)

4.

4.

4.

4.

IMPLANTAÇÃO

IMPLANTAÇÃO

IMPLANTAÇÃO

IMPLANTAÇÃO

TERRITORIAL

TERRITORIAL

TERRITORIAL

TERRITORIAL

DAS

DAS

DAS

DAS

COMISSÕES DE MORADORES

COMISSÕES DE MORADORES

COMISSÕES DE MORADORES

COMISSÕES DE MORADORES

As Comissões de Moradores organizam-se

nas ruas, edifícios, quarteirões, aldeias ou

outros conjuntos habitacionais.

Actualmente,

em

grande

parte

dos

Municípios do país, verifica-se que as

Comissões de Moradores se encontram

implantadas nos Bairros. Em princípio,

parece

que

esta

opção

está

em

consonância com a Lei, já que a própria Lei

admite

tal

possibilidade.

Todavia,

o

Regulamento da lei das Comissões de

Moradores,

restringiu

o

âmbito

de

implantação

desta

figura

nas

zonas

urbanas, às ruas, quarteirões e edifícios

3

.

Com a devida vénia, abrimos um parêntese

para questionar a legalidade da restrição

imposta à Lei das Comissões de Moradores

pelo respectivo Regulamento no que toca à

implantação das Comissões de Moradores

nas zonas urbanas. Entendemos estar

diante de uma restrição ilegal porque os

regulamentos

de

execução

ou

complementares

devem

guardar

conformidade à Lei habilitante.

4

Ao atentarmos para a definição legal de

Comissão de Moradores, imposta pelo nº 1,

do artigo 2.º da Lei da Comissão de

Moradores, notamos que trata-se de uma

estrutura que resulta da união voluntaria e

organizada de pessoas residentes numa

rua, quarteirão, bairro, aldeia ou povoação,

isto reforça a nossa tese da ilegalidade da

3Artigo 4.º do Regulamento da lei das Comissões de Moradores.

4 Aprendemos de outras paragens que do ponto de vista da relação com a Lei, o regulamento pode ser complementar ou independente.

O primeiro desenvolve ou aprofunda a disciplina jurídica constante de uma Lei, a sua concepção resulta da imposição imposta por uma Lei Chamada Lei habilitante.

Por sua vez, os regulamentos independentes correspondem aos regulamentos que os órgãos administrativos criam no exercício da sua competência de modo a assegurar uma ótima realização das suas atribuições. Assim, estas organizações não se encontram obrigadas por lei a desenvolver objetiva e especificamente um certo comando legislativo.

restrição imposta pelo Regulamento, em

relação a implantação territorial das

Comissões de Moradores

O dito regulamento consagrou uma nova

figura chamada Conselho de Moradores

que são estruturas representativas das

Comissões de Moradores nos diferentes

níveis

5

. Os Conselhos de Moradores têm

como função principal assegurar uma acção

coordenada e harmoniosa das Comissões

de Moradores e representá-las perante os

órgãos competentes da Administração

Local do Estado.

Os Conselhos de Moradores surgem da

necessidade de conferir maior eficácia às

Comissões de Moradores, através da

restrição da sua área de implantação, como

já frisado, actualmente o grosso das

Comissões de Moradores encontram-se

implantadas nos Bairros. No figurino actual,

a circunscrição territorial de uma Comissão

de Moradores pode estender-se por

quilómetros conforme a dimensão do

respectivo Bairro.

As

Comissões

de

Moradores

foram

concebidas para promover o espírito de

participação, solidariedade e colaboração

entre os moradores das respectivas

circunscrições.

Porém,

estes

fins

dificilmente serão alcançados com as

dimensões territoriais ocupadas pelas

Comissões de Moradores

6

já existentes, daí

a necessidade de delimitá-las às ruas,

prédios e quarteirões.

5.

5.

5.

5.

CONSTITUI

CONSTITUI

CONSTITUI

CONSTITUIÇÃO

ÇÃO

ÇÃO

ÇÃO

Para a constituição de uma Comissão de

Moradores é necessário um número

mínimo de 25 moradores da respectiva

5

Os níveis de representação dos Conselhos de Moradores obedecem a seguinte ordem: Município, Comuna ou Distrito Urbano, Bairro, Sector, Área de Residência.

6 Por serem muito extensas, os órgãos socias das Comissões de Moradores encontram dificuldades em manter o controlo das suas circunscrições e garantir a aproximação da Comissão aos cidadãos.

(4)

circunscrição em que a mesma será

instituída.

A título excepcional, pode ser constituída

uma Comissão de Moradores com o

número inferior a 25 membros/associados,

quando o número total de moradores do

conjunto habitacional ou circunscrição

territorial for inferior a 25, mas não menos

que 5 moradores.

Podem ser membros da Comissão de

Moradores, os cidadãos angolanos maiores

de 18 anos de idade, residentes no

respectivo

conjunto

habitacional

ou

circunscrição territorial, podendo ainda ser

membros das Comissões de Moradores, os

cidadãos estrangeiros residentes na área da

respectiva circunscrição territorial, há mais

de um ano.

As Comissões de Moradores têm, na sua

génese, dois elementos fundamentais,

quais sejam, o elemento volitivo e o

elemento democrático.

Do primeiro resulta que a Comissão de

Moradores é produto da livre vontade de

um número de moradores pertencentes a

uma determinada circunscrição territorial.

No processo de constituição de qualquer

Comissão de Moradores, não deve ser

admitida intervenção externa,

7

sendo ferido

de nulidade o acto de constituição que

deriva da coação ou imposição de qualquer

ente. Se os membros de determinada

circunscrição territorial entenderem ser

dispensável

a

constituição

de

uma

Comissão de Moradores, ninguém pode

obrigá-los do contrário, nem mesmo os

órgãos

da

Administração

Local

da

respectiva circunscrição.

Do segundo resulta que, os órgãos sociais

das Comissões de Moradores devem ser

preenchidos através da realização de

7 Por intervenção externa, devemos entender as orientações e diretrizes emanadas de qualquer ente estranho à respectiva circunscrição territorial e que digam respeito por exemplo: a indicação de pessoas para o preenchimento dos órgãos socias ao em vez da realização de eleições.

eleições periódicas, sendo que o mandato

dos membros destes órgãos é de três anos

renováveis apenas uma vez.

6.

6.

6.

6.

AQUISIÇÃO

AQUISIÇÃO

AQUISIÇÃO

AQUISIÇÃO

DA

DA

DA

DA

PERSONALIDADE

PERSONALIDADE

PERSONALIDADE

PERSONALIDADE

JURÍDICA,

REGISTO

E

JURÍDICA,

REGISTO

E

JURÍDICA,

REGISTO

E

JURÍDICA,

REGISTO

E

RECONHECIMENTO

RECONHECIMENTO

RECONHECIMENTO

RECONHECIMENTO

A Comissão de Moradores adquire a

personalidade jurídica pelo depósito

8

,

contra recibo, de um exemplar da acta da

Assembleia Constitutiva, do estatuto e a

respectiva aprovação tutelar.

A aprovação tutelar é o acto pelo qual, no

exercício da tutela administrativa, o Poder

Executivo confirma a observância dos

procedimentos e requisitos necessários à

criação de uma Comissão de Moradores.

A homologação tutelar é de mera

legalidade, restringe-se à verificação da

conformidade legal dos estatutos e da acta

da assembleia constitutiva. A homologação

tutelar dá lugar a um certificado de registo

que é emitido pelo órgão competente da

Administração

Local

do

Estado

do

respectivo espaço territorial.

O órgão competente para a emissão do

certificado de registo é a Administração

Municipal da respectiva circunscrição em

que se encontra sediada a Comissão de

Moradores.

7.

7.

7.

7.

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

DE

DE

DE

DE

MORADORES

MORADORES

MORADORES

MORADORES

VS

VS

VS

VS

GOVERNOS PROVINCIAIS

GOVERNOS PROVINCIAIS

GOVERNOS PROVINCIAIS

GOVERNOS PROVINCIAIS

A Administração Local é composta pelos

órgãos da Administração do Estado cuja

competência encontra-se restringida a uma

parcela do território nacional, em oposição

9 O depósito é feito junto da Administração Municipal da área da sede da Comissão de Moradores.

(5)

aos órgãos da Administração Central do

Estado cuja competência estende-se a todo

território nacional.

Os Governos Provinciais fazem parte da

Administração Local do Estado, já que as

suas competências se restringem a uma

parcela

de

território

devidamente

delimitada, a província.

Nos termos da Lei, os Governos Provinciais

não têm qualquer poder de controlo sobre

as Comissões de Moradores.

O Regulamento da Lei das Comissões de

Moradores veio aclarar esta questão,

deferindo o poder tutelar sobre as

Comissões de Moradores às Administrações

Municipais e não aos Governos Provinciais

9

.

8.

8.

8.

8.

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

COMISSÃO

DE

DE

DE

DE

MORADORES

MORADORES

MORADORES

MORADORES

VS

VS

VS

VS

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Nos termos da Lei, as Comissões de

Moradores são pessoas colectivas distintas

do Estado

10

, criadas ao abrigo do tripé do

poder local e como frisamos nas linhas

antecedentes, contempla para além das

autarquias

locais

e

das

autoridades

tradicionais,

as

outras

modalidades

específicas de participação do cidadão.

O

Poder

Executivo

exerce

tutela

administrativa sobre as Comissões de

Moradores

por

intermedio

da

Administração Municipal que é a entidade

responsável pela homologação tutelar

11

.

O exercício do poder tutelar confere à

Administração Municipal, em caso de

violação da Constituição, das leis e dos

estatutos da Comissão de Moradores, o

9 Artigo 33.º do Regulamento da Lei das Comissões de Moradores.

10 Sobre outros tipos de pessoas colectivas públicas e respectivas natureza jurídica, vide FEIJÓ, Maria Carlos e PACA Cremildo, Direito Administrativo, Mayamba Editora, ano de 2013, Pág. 45

11 Sobre a homologação tutelar vide páginas retro.

poder para destituir ou dissolver os órgãos

sociais

da

respectiva

Comissão

de

Moradores.

8.1.

8.1.

8.1.

8.1.

Existe uma relação de hierarq

Existe uma relação de hierarq

Existe uma relação de hierarq

Existe uma relação de hierarquia

uia

uia

uia

entre a Administração Munici

entre a Administração Munici

entre a Administração Munici

entre a Administração Municipal e

pal e

pal e

pal e

a Comissão de Morad

a Comissão de Morad

a Comissão de Morad

a Comissão de Moradores

ores

ores

ores?

??

?

Tendo

em

atenção

a

efémera

abordagem

feita

nos

parágrafos

precedentes, resta claro que a Comissão

de Moradores e a Administração

Municipal são entes distintos, e,

portanto,

sem

qualquer

relação

hierarquizada. Está afirmação parece

tornar despropositada a indagação que

colocamos no presente ponto. Porém,

em concreto, verificam-se determinadas

situações que tornam urgente clarificar

este aspecto.

Na prática, situações como a imposição

da

Administração

Municipal

aos

moradores de certa circunscrição para a

constituição

de

Comissão

de

Moradores

12

, intervenção excessiva da

Administração Municipal no processo de

constituição

das

Comissões

de

Moradores, influenciando inclusive o

sentido de voto dos moradores das

respectivas

circunscrições,

ou

a

excessiva submissão dos titulares dos

órgãos

socias

das

Comissões

de

Moradores às orientações emanadas da

Administração

Municipal,

fazem

presumir a existência de uma relação de

subordinação entre os dois entes.

Actualmente os órgãos das Comissões

de

Moradores

são

comumente

confundidos como uma extensão dos

órgãos da Administração Local do

Estado, observando-se que não raras

vezes

usurpam

competências

das

Administrações Municipais, praticando

actos privatísticos destas. Para falarmos,

12Ao arrepio do postulado no nº 1, do artigo 11.º do RLCM que, determina que a iniciativa para a constituição da Comissão de Moradores é de caracter voluntario.

(6)

a título de exemplo, da emissão de

atestados de residência, licenças de

concessão de terrenos e certidão de

óbito

13

.

Em matéria de competência das

Comissões de Moradores, impera o

princípio da taxatividade, ou seja, os

actos que devem ser praticados pelas

Comissões de Moradores são os

enumerados na Lei.

Posto isto, é mister reiterar que não

obstante os poderes que a lei outorga à

Administração Municipal no âmbito do

exercício do poder tutelar, inexiste

qualquer relação de subordinação entre

a Administração Municipal e a Comissão

de Moradores.

Outra nota importante prende-se com o

valor jurídico dos actos praticados pelas

Comissões de Moradores.

Actos como a emissão de declaração de

morador, emissão da declaração de

ocorrência de óbito e outros, que são

praticados

pelas

Comissões

de

Moradores, destinam-se exclusivamente

aos órgãos da Administração Local do

respectivo espaço territorial, mormente

Administrações Municipais e Distritais,

não tendo qualquer utilidade nem

produz nenhum efeito junto de qualquer

outro organismo público ou privado

14

.

Assim, não teria qualquer valor jurídico a

declaração de morador emitida pela

Comissão de Morador do Bairro Vila Flor

no Município do Cazenga, junto da

Administração do Município do Talatona

para efeitos de emissão do atestado de

residência ou junto de um Banco

13 Informação avançada pelos responsáveis do Ministério da Administração e Reforma do Estado, no seminário de Revitalização das Comissões de Moradores, organizado em colaboração com PNUD.

14 Na prática, instituições privadas como bancos comerciais, solicitam a declaração de morador no acto de celebração do contrato de abertura de conta bancaria.

Comercial para efeitos de abertura de

conta bancária

15

.

9.

9.

9.

9.

A COMISSÃO DE MORADORES E O

A COMISSÃO DE MORADORES E O

A COMISSÃO DE MORADORES E O

A COMISSÃO DE MORADORES E O

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

O regulamento do orçamento participativo,

aprovado pelo Decreto Presidencial n.º

235/19 de 22 de Julho, foi publicado em

Diário da República e criou o Orçamento

dos Munícipes, que deverá ser usado como

ferramenta para o financiamento de

projectos sufragados pelos moradores das

circunscrições em que serão aplicados.

Nos termos do referido regulamento, os

Municípios passarão a ser contemplados

com uma verba anual de 25 milhões

Kwanzas e para efeitos de alocação e

gestão do referido montante, os munícipes

devidamente organizados em Comissão e

Conselho de Moradores terão um papel

relevante,

uma

vez

que

terão

a

oportunidade de participar do respectivo

processo decisório.

O diploma elucida sobre o modo de

aplicação

do

referido

montante,

relativamente aos fins e selecciona cinco

grupos de despesas em que pode ser

aplicado, designadamente:

a)

Investimentos e gastos no

funcionamento dos serviços de

iluminação

pública,

áreas

verdes e limpeza urbana

b)

Obras de saneamento básico

ou

de

manutenção

dos

serviços;

c)

Gastos

nos

centros

comunitários, dentro dos quais

15 Nº 2, do artigo 9.º do Regulamento da Lei da Comissão de Moradores.

(7)

se encontram políticas sociais

de

alimentação,

infância,

juventude,

terceira

idade,

desporto e mulher;

d)

Actividades

culturais

e

manutenção de bibliotecas;

e)

Outras

despesas

relevantes

com impacto directo para um

público-alvo específico.

As despesas a que se destinam a aplicação

dos 25 milhões, são as discriminadas nas

linhas supra, caso os cidadãos optarem por

despesas diversas das mencionadas, a

Administração decide o destino a ser dado

ao dinheiro.

Apesar do diploma admitir a possibilidade

dos

cidadãos

de

forma

individual

endereçarem à Administração Municipal

propostas para a aplicação deste dinheiro,

julgamos

que

terão

preferência

as

propostas a serem apresentadas pelas

Comissões e Conselhos de Moradores,

conjectura que fazemos tendo em conta o

interesse e o posicionamento do Poder

Executivo relactivamente à urgência no

processo de conformação das Comissões de

Moradores à Lei.

A gestão do referido orçamento ficará a

cargo de um Comité Técnico de Gestão,

constituído por membros das Comissões e

Conselhos de Moradores, e representantes

da Administração Local. Mais uma vez,

estamos em condições de afirmar que as

Comissões de Moradores e Administrações

Municipais estão fadados a manterem uma

relação inelutável.

Actualmente, o Ministério da Administração

do Território está a executar em todo o

país, o trabalho de preparação e criação das

condições de implementação do orçamento

do munícipe, mediante programa de

formação

dirigida

às

Comissões

de

Moradores e às Administrações Municipais,

bem como, a criação dos Comités Técnicos

de Gestão do referido Orçamento.

10.

10.

10.

10.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO

Para concluir o nosso breve exercício,

resta-nos asseverar com algum conforto, que

entre as Comissões de Moradores e os

Órgãos da Administração Local do Estado

existe uma relação de cooperação nos

termos da qual deve imperar a interacção

com vista à resolução dos assuntos públicos

comunitários.

No plano formal, a ideia de sobreposição da

Administração Municipal às Comissões de

Moradores é inexistente, todavia, na

prática esta sobreposição é gritante. Tal

deve-se em grande medida ao facto da

realidade

relativa

às

Comissões

de

Moradores ser anterior ao seu regime

jurídico, contudo, os esforços para a

conformação destes entes às leis e

regulamentos ora aprovados, deve ser

permanente por formas a dotá-las da

eficiência e eficácia necessárias para o

alcance dos objectivos que estiveram na

base da sua criação.

Em jeito de sugestão, para garantir a

independência

das

Comissões

de

Moradores

face

aos

órgãos

da

Administração

Local

do

Estado,

as

Administrações Municipais devem restringir

a sua intervenção sobre as Comissões de

Moradores,

intervindo

apenas

no

funcionamento

destas,

nas

situações

expressamente previstas na Lei.

De igual modo, devem as Comissões de

Moradores promover ao nível das suas

circunscrições, campanhas de sensibilização

para a importância da participação dos

(8)

condições de funcionamento das mesmas,

através do pagamento das quotas e outras

contribuições financeiras dos respectivos

membros

16

. Só assim as Comissões de

Moradores

deixarão

de

pleitear

constantemente por apoios junto das

Administrações

dos

respectivos

Municípios

17

, pondo em causa a sua

independência.

11.

11.

11.

11.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



Campos, António, Comissão de

Moradores no Concelho de sines: da

Tradição a Modernidade, Simpósio

realizado pela Camara Municipal de

Sines, no âmbito do programa

Tradições 2016 – 2018.



FEIJÓ, Maria Carlos e PACA

Cremildo, Direito Administrativo,

Mayamba Editora, ano de 2013.



MARQUES, Aurélio, O cidadão

e o Poder: A nova perspectiva da

Democracia, Saraiva Editora, ano

de 2013.



JOSÉ, Ferreira, A Gestão do

Dinheiro de Todos, Ventos Editora,

São Pulo Brasil, ano de 2010.

12.

12.

12.

12.

LEGISLAÇÃO CONSULTADA

LEGISLAÇÃO CONSULTADA

LEGISLAÇÃO CONSULTADA

LEGISLAÇÃO CONSULTADA



Constituição

da

República

de

Angola de 2010;



Código Civil Angolano;

16 Estas são algumas formas de financiamento das Comissões de Moradores, atendendo à capacidade financeira dos seus membros. Estas fontes podem ou não ser rentáveis para as próprias Comissões de Moradores.



Lei Orgânica Sobre a Organização e

Funcionamento das Comissões das

Moradores – Lei 7/16, de 1 de

Junho;



Regulamento da Lei Orgânica Sobre

a Organização e Funcionamento

das Comissões das Moradores –

Decreto Presidencial nº 158/19, de

17 de Maio.



Plano

Estratégico

para

a

Revitalização das Comissões de

Moradores - Decreto Executivo nº

170/20 de 5 de Junho;



Decreto Presidencial n.º 235/19 de

22 de Julho - Cria o Orçamento do

Munícipe.

Referências

Documentos relacionados

Na década de 1970, a utilização das técnicas de gerenciamento de projetos passou a difundir-se por diversos ramos e setores da economia, sendo modelo de gestão

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

Embora a solução seja bastante interessante como parte de uma política pública relacionada ao gerenciamento de dados de saúde dos usuários do sistema, esse

volver competências indispensáveis ao exercício profissional da Medicina, nomeadamente, colheita da história clínica e exame físico detalhado, identificação dos

O objetivo desse trabalho ´e a construc¸ ˜ao de um dispositivo embarcado que pode ser acoplado entre a fonte de alimentac¸ ˜ao e a carga de teste (monof ´asica) capaz de calcular

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

Na apropriação do PROEB em três anos consecutivos na Escola Estadual JF, foi possível notar que o trabalho ora realizado naquele local foi mais voltado à

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que