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ANÁLISE DOS ASPECTOS FEMINISTAS NA OBRA BAD BLOOD, DE LORNA SAGE

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Academic year: 2021

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ANÁLISE DOS ASPECTOS FEMINISTAS NA OBRA BAD BLOOD, DE LORNA SAGE

Bruna Bastos dos REIS1 (Unesp – Univ Estadual Paulista/Assis)

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo detectar na obra Bad Blood (2000), da

escritora e crítica literária Lorna Sage, os aspectos feministas que nortearam a escrita desta autobiografia. Propomos, a partir do levantamento de tais aspectos, uma análise das nuances do feminismo na personalidade de Sage como forma de abdicar da vida imposta pela sociedade e pela família-núcleo dos anos 50. Lúcia Castello Branco, Mary Eagleton, Heloísa Buarque de Hollanda, Elaine Showalter, Lúcia Osana Zolin, Branca Alves, Judith Bardwick, Luíza Lobo, Virginia Woolf, Maria Mota Viana, Beauvoir e Clarice Lispector formaram o alicerce do estudo, entre outras.

Palavras-chave: Literatura Inglesa; FeminismoLiterário e Social; Autobiografia.

1. Introdução

Lorna Sage nasceu no país de Gales dos anos 40 e viveu toda a fase pós-guerra que abalou o mundo. Neste sentido, a autobiografia estudada é um relato minucioso do que era viver na Europa daqueles dias. Pior do que ser um sobrevivente da guerra ou tentar ser bem-sucedido em manter a família unida e, raramente completa, era ser mulher. Eram as pessoas que mais sofriam. Para auxiliarem no reestabelecimento econômico do país, foram instigadas ao trabalho e provaram a sensação de liberdade, já que não eram mais mantidas em casa pela rotina da criação dos filhos e manutenção da família. Após a economia estar quase estabilizada, a propaganda veiculava a imagem da mulher caseira e novamente reprodutora, mais uma vez fadada a ser simplesmente mãe e esposa; não que estes sejam papéis inferiores, mas era sabido que muitas mulheres podiam exercitar outras capacidades com grande êxito. Sage, porém, não estava disposta a ser mais uma eposa submissa ou uma mulher que enterra suas capacidades e vontades. Este ambiente foi o solo fértil para Bad Blood.

Desde criança, esteve intimamente ligada à escrita, tendo se tornado, mais tarde, professora de Língua Inglesa da University of East Anglia. O maior número de suas obras está certamente no campo crítico-literário, ao qual dedicou quase todos os anos de sua

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carreira. Entre essas obras encontram-se Women in the House of Fiction, The Cambridge Guide to Women’s Writing in English, Moments of Truth: Twelve 20th Century Women Writers e uma monografia sobre a escritora feminista Angela Carter intitulada Flesh and the Mirror: Essays on the Art of Angela Carter. Escrevendo essas obras, Lorna Sage teve reconhecimento na Europa, principalmente no país de Gales, berço da escritora.

Foi, porém, fugindo ao seu estilo que alcançou certa notoriedade mundial. Pouco depois de sua morte em janeiro de 2001, recebeu o prêmio Whitbread de Biografia (Whitbread Biography Award) pela obra em questão, em que relata detalhadamente desde sua infância no norte do país de Gales vivendo com sua família e avós, até seu casamento, a gravidez precoce e o nascimento de sua filha, passando por uma conturbada adolescência.

Como conseqüência de sua morte, aos 57 anos, muito foi divulgado nos sites da internet. Sage teve seu nome estampado em páginas virtuais como o BBC News, que a caracterizou como “brilhante”. Mesmo com tal prestígio, pouco foi divulgado no Brasil, sobre sua contribuição para o crescimento e fortalecimento do feminismo na escrita contemporânea.

Apesar de termos conhecimento do contingente já publicado e analisado sobre a escrita feminina e a crítica literária feminista, tendo como expoentes universais autoras como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Joyce Carol Oates, Ellen Moers, Florbela Espanca e Cecília Meirelles (entre muitas outras), poucos sabem que Lorna Sage faz parte desse rol de escritoras, tendo importância fundamental para a crítica literária feminista e, com a mesma intensidade, para a escrita de mulheres, não apenas por seus trabalhos, mas por ter incorporado o feminismo à sua própria vida e não especificamente ao seu campo de trabalho e pesquisa. Nossa pesquisa tentou descortinar um pouco do trabalho de Sage.

2. Metodologia

Foram utilizadas as obras citadas na bibliografia no final deste resumo, além de monografias na área de teoria literária, principalmente escrita feminina e feminismo, sites da

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internet já selecionados que contêm informações sobre a escritora em questão e quaisquer outros artigos relacionados ao assunto pesquisado.

Inicialmente, a leitura e o fichamento da bibliografia selecionada foram feitos. Em seguida, buscamos minuciosamente na obra Bad Blood, de Sage, as questões do feminismo citadas pelos autores. A obra de Sage certamente inclui várias dessas características, por ser uma autobiografia e um expoente da escrita feminina ao mesmo tempo, reveladoras do feminismo que perpassa sua obra como um todo.

Foi analisada a forma como Sage desenvolveu sua escrita ainda na infância, utilizando-se, involuntariamente, de ferramentes que o mundo à sua volta oferecia e de pessoas conhecidas, que, sem saber, teriam importância impactante na sua escolha pela profissão e na formação do aspecto feminista mostrado posteriormente em sua última obra.

Após estas etapas, uma conclusão, baseada ainda nos textos de autores como Lúcia Castello Branco e Mary Eagleton, foi redigia e enviada, com posterior aprovação, para a agência FAPESP, que financiou a pesquisa. Para chegarmos à conclusão, o relatório final foi dividido nos seguintes itens: Autobiografia e memória, Autobiografia e mulheres, Escrita feminina, Crítica literária feminista, Feminismo literário e feminismo como fenômeno da sociedade, A utilização da linguagem: instrumento de esclarecimento em Bad Blood, As mulheres da vida de Lorna Sage, e Bad Blood: fase feminina, feminista ou fêmea?. Desta maneira, pudemos ligar um assunto ao outro para alicerçar nossa proposta inicial e os resultados que obtivemos.

3. Resultados/discussão

Após o término da pesquisa, é possível afirmar, primeiramente, que o feminismo literário praticado por mulheres como Virginia Woolf (de forma mais agressiva) e Lorna Sage busca romper com os estereótipos da mulher na literatura. Zolin elenca esses estereótipos no capítulo Crítica feminista, escrito para compor o livro Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas (2005).

Sage conseguiu escrever uma autobiografia em que transitam alguns estereótipos femininos também, como a mãe (mulher-anjo) e a avó (mulher megera), mas a atenção

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volta-se totalmente para a as ações e opiniões da personagem (ela mesma) que vai romper com os valores patriarcais da época sem que para isso tenha que provar algo a alguém ou que precise anular totalmente todos os elementos pertencentes ao mundo masculino.

Além disso, a autora não afirma em sua autobiografia, em momento algum, que os homens devem ser desprezados ou odiados e, contrariando o feminismo radical inspirado por Simone de Beauvoir com a publicação de O segundo sexo (em que Beauvoir afirma ser contra a concepção de família e acredita na mulher auto-suficiente e livre de qualquer elo com os homens e com a maternidade), é feminista em suas atitudes e mãe aos 16 anos, o que a leva automaticamente ao casamento, sem provocar na autora qualquer sentimento de destituição de suas idéias.

Dentre os aspectos feministas levantados na pesquisa de iniciação científica, estão a grande paixão pelos livros e pelo Latim, características totalmente reprovadas para meninas nos anos da infância de Sage, além do apego à idéia da carreira acadêmica (primeiro como aluna e posteriormente como professora titular), e a ignorância aos olhares reprovadores da sociedade e até de algumas pessoas de sua família. Há muitos outros aspectos que autenticam nossa proposta de trabalho, mas que não caberiam na categoria resumo.

Apesar de não afirmar em momento algum ser uma feminista em Bad Blood, a autora tem uma postura idêntica à das mulheres que lutaram anos antes de sua infância e anos depois também. Ela, porém, não perdia seus dias mergulhada em questões; ao invés de aceitar a condição imposta, resolveu trilhar um caminho próprio, diferente e chocante para os padrões europeus da época.

Lúcia Castello Branco afirma que “as mulheres costumam preferir as escritas autobiográficas porque, historicamente confinadas ao universo do lar, ao interior da casa, elas teriam encontrado nesse tipo de escrita o veículo ideal para a expressão de sua vida íntima, seus desejos, suas fantasias” (p.30). Sim, Lorna estava confinada ao universo do lar e de sua vila nos anos 1940 e 1950, e sua autobiografia foi o melhor meio encontrado de contar a história naquele período de sua vida, mas a menina de outrora não fez de sua condição considerada inferior pela sociedade patriarcal dos anos de sua adolescência o alicerce de sua vida, e não aceitou as regras impostas pela sociedade da época no que dizia respeito ao papel da mulher nos “anos dourados”.

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A atitude da escritora em fugir aos moldes impostos pela mídia e aceito por grande parcela das mulheres (até mesmo a avó e a mãe “encaixaram-se” no molde, mesmo com alguma tristeza e rancor reprimidos ao longo dos anos) é inovadora em fazer valer sua vontade e opinião como mulher e, por isso, pode ser considerada feminista, mesmo que não à maneira de Simone de Beauvoir ou Virginia Woolf. Um feminismo mais íntimo, menos destruidor e mais suave, embora não mais fácil de ser levado a cabo nos anos 50 e nas seqüelas deixadas na sociedade nos anos posteriores.

4. Referências

ALVES, Branca. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

BARDWICK, Judith. Mulher, sociedade, transição: como o feminismo, a liberação sexual e a procura da auto-realização alteraram nossas vidas. São Paulo: DIFEL, 1981.

BRANCO, Lúcia Castello. O que é escrita feminina. São Paulo: Brasiliense, 1991.

BRANDÃO, Izabel. Virginia Woolf e o ensaio sob o olhar feminista. In: Literatura e feminismo: propostas teóricas e reflexões críticas. Rio de Janeiro: Elo, 1999. p.227-236 EAGLETON, Mary. Do women write differently? In: Feminist Literary Theory: a reader. Cambridge MA & Oxford UK: Blackwell, 1993. p.200-236.

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