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ABRAHAM KUYPER E A COSMOVISÃO BÍBLICA

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ABRAHAM KUYPER E A COSMOVISÃO BÍBLICA Por Abraham Kuyper.

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INTRODUÇÃO

Com o progressivo surgimento da teologia e filosofia moderna, oriunda, em seus maiores expoentes, de meados do século XVIII, grande parte dos eruditos passaram a construir uma nova maneira de compreender o mundo e o impacto de suas leis no desenvolvimento das sociedades. Tais mudanças influenciaram profundamente a academia (em primeiro lugar), a igreja e, por fim, a sociedade de um modo geral, levando-as a abraçar, sem muitos questionamentos, aquela nova cosmovisão, tida por científica e superior. Em meio a esta convulsão de pensamentos, e idéias como o Deísmo, Positivismo, Evolucionismo etc., gozando de alto prestígio acadêmico, Abraham Kuyper (1837 – 1920), em sua genialidade, percebeu no resgate do Calvinismo a resposta que traria à luz as bases para uma cosmovisão verdadeira e realmente superior, a saber: a biocosmovisão cristã calvinista, que tem por pressuposto último a Bíblia como Palavra de Deus infalível. Este breve estudo se utiliza principalmente das palestras proferidas pelo Dr. Abraham Kuyper no Seminário Teológico de Princeton, nos Estados Unidos (1898), conhecidas como Stones Lectures on Calvinism (disponíveis em português no livro “Calvinismo” – Cultura Cristã, 2003). “Nessa série de palestras, Kuyper apresenta o calvinismo como uma força cultural, um sistema de vida não restrito às esferas eclesiástica e teológica” (OLIVEIRA, 2006, p. 77).

O objetivo aqui é, a princípio, situar o leitor no ambiente histórico-cultural em que se encontrava o Dr. Kuyper, bem como apresentar as circunstâncias motivadoras que o

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impulsionaram a desenvolver o objeto principal deste estudo, a saber, sua “biocosmovisão”. Ao adentrarmos esta última parte, exporemos o pensamento “Kuyperiano” acerca da necessidade de uma percepção de mundo (“cosmovisão”) e um sistema de vida (“bio”) arraigados nas Escrituras, para que o cristão possa enxergar todas as coisas pela ótica da Palavra de Deus, visando ainda contribuir para uma maior reflexão sobre os perigos da “pós-modernidade” (na época de Kuyper: “modernidade”), em seu sistema de pensamento autônomo e, em grade medida, anticristão.

Assim como foi para Kuyper, o Calvinismo será para nós a bússola que nos norteará no decurso desta sucinta análise, e a medida em que nos aprofundarmos em sua consciência acerca do absoluto domínio de Deus sobre todas as coisas, perceberemos aquela maravilhosa verdade pronunciada por ele na ocasião de seu discurso inaugural na abertura das atividades da Universidade Livre de Amsterdã em 1880: “Não existe sequer um centímetro de nossa natureza humana do qual Cristo, que é soberano de tudo, não proclame Meu!” (FERREIRA, 2006, p. 285).

BREVE APRESENTAÇÃO BIOGRÁFICA

“A partir da segunda metade do século XVIII, tendo o seu grande expoente em Emanuel Kant, a pregação caiu sobre a influência do racionalismo” (CANUTO, 2000, p. 7), o que fez com que “os ensinos básicos da fé cristã como o pecado original, a expiação substitutiva de Cristo, a justificação pela fé, a trindade, as duas naturezas de Cristo” (Ibidem), simplesmente sumissem dos púlpitos. Sob influência desta postura filosófica e teológica, bem como dos avanços na esfera científica, paulatinamente começou a estruturar-se no campo acadêmico um movimento que ficou conhecido na história da igreja como modernismo ou liberalismo cristão. Em seu livreto O

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Modernismo e a Inerrância Bíblica, o pastor Brian Schwertley (2000, p. 13) traz a seguinte definição:

O liberalismo cristão é parte de um movimento religioso, político e cultural mais amplo na Europa (em primeiro lugar) e então na América, que tem sua base na visão humanista secular. A razão pela qual os historiadores e teólogos referem-se ao liberalismo cristão como modernismo é o fato de que os liberais cristãos têm comprado e adotado a visão de mundo secular moderna. Eles têm adaptado seus ensinamentos para refletirem o espírito desta era.

Foi exatamente neste contexto social, histórico e cultural, edificado sobre os alicerces da razão e confiante numa eminente evolução humana que culminaria no surgimento de um novo mundo (o “paraíso na terra!” – onde o homem, abandonando seu estado primitivo, saltaria do metafísico para o científico (ou positivo), expurgando de si todo misticismo e superstição, de forma que Deus (compreendido como uma criação das necessidades humanas) se tornaria “apenas uma suposição irrelevante” que logo deixaria de existir), que em 29 de Outubro de 1837, em Maasluis, na Holanda, nasceu Abraham Kuyper (1837 – 1920). Filho do Rev. Jan Hendrik e Henriette Huber Kuyper, o jovem Kuyper frequentou a escola em “Maasluis, e em Middelburg, onde seu pai foi chamado em 1849”. (PORTELA NETO, 2003, p. 9).

Seus professores, nos é dito, tomaram-no a princípio como um menino lento no entendimento. Eles devem ter mudado sua opinião quando, com a precoce idade de doze anos, estava habilitado a entrar no Ginásio em Middelburg. No tempo oportuno foi matriculado na Universidade de Leyden, na qual foi graduado com a mais alta honra. Foi também aqui que obteve seu Doutorado em Teologia Sagrada em 1863, quando

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estava com cerca de vinte e seis anos de idade (PORTELA NETO, p. 9).

Durante seu período de estudos na Universidade, época em que a vida religiosa em seu país, como já mencionada a princípio, encontrava-se em profunda decadência – “A vida eclesiástica estava fria e formal. A religião estava quase morta. Não havia Bíblia nas escolas. Não havia vida na nação”. (PORTELA NETO, p. 11) – Abraham Kuyper acabou por acompanhar a corrente moderna. “Ele disse que não tinha simpatia por uma igreja que espezinhou sua própria honra; nem por uma religião que era apresentada por uma igreja como essa”. (PORTELA NETO, p. 12) Chegou mesmo a tomar parte “em aplaudir o professor Rauwenhoff, que abertamente negou a ressurreição corporal de Jesus”. (PORTELA NETO, p. 12). Contudo, algumas experiências o impressionaram profundamente, levando-o a repensar sua posição. Por meio de uma pesquisa acadêmica (onde encontrara-se, de maneira surpreendente, com a obra do reformador polonês João de Lasco); da leitura de uma famosa novela inglesa (“O Herdeiro de Redcliff”); e, principalmente, da convivência e trato com o povo simples e humilde da primeira paróquia onde atuou como pastor, Abraham Kuyper chegou a conversão, e no resgate de sua tradição reformada encontrou uma resposta satisfatória para as inquietações de sua alma.

Abraham Kuyper (1837 – 1920) foi sem dúvida uma das personalidades mais proeminentes de sua época. Um teólogo (com Doutorado pela Universidade de Leyden em 1863) e filósofo calvinista; líder do partido Anti-Revolucionário e membro do parlamento por mais de trinta anos; Editor Chefe do De Estandaard (O Estandarte – jornal diário e órgão oficial do partido Anti-revolucionário) e editor do De Heraut (O Arauto) por mais de quarenta e cinco anos; fundador da Universidade Livre de Amsterdã em 1880, onde exerceu ainda os papéis de administrador e

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professor; Primeiro Ministro da Holanda de 1901 a 1905 e autor de diversas obras, dentre as quais destacam-se: Enciclopédia de Teologia Sagrada, a Obra do Espírito Santo e o clássico de cunho devocional Estar Perto de Deus; de sorte que torna-se praticamente impossível falar sobre a Holanda do final do século XIX e início do século XX, sem mencionar o Dr. Kuyper. Com um legado tão significativo, não espantaria o fato de, na data de seu septuagésimo aniversário (1907), alguém escrevesse a seu respeito: “A história da Holanda nos últimos quarenta anos, em sua igreja, estado, sociedade, imprensa, escolas e nas ciências, não poderia ser escrita sem a menção do nome de Abraham Kuyper em praticamente todas as páginas” (PORTELA NETO, 2003, p. 5).

Motivos propulsores para a construção da cosmovisão (ou “biocosmovisão”) de Abraham Kuyper.

Antes de analisarmos a extensão da cosmovisão (ou “biocosmovisão”, por estender-se a própria esfera da vida) “Kuyperiana”, faz-se necessário compreender as motivações que o levaram a empreender tão grandes esforços no desenvolvimento e sistematização desta matéria. É próprio dizer que sua grande força influenciadora, se deve justamente “a tempestade do Modernismo”, que surgira com “intensidade violenta” em oposição ao próprio elemento cristão das glórias da cruz, bem como ao “(...) próprio nome cristão (... e...) sua influência salutar em cada esfera da vida.” (KUYPER, 2003, p. 18). Segundo Kuyper, o ponto crucial fora alcançado em 1789, onde:

O grito furioso de Voltaire, “Abaixo com o salafrário”, foi apontado para o próprio Cristo (...) O protesto fanático de um outro filósofo, “Não precisamos mais de Deus”, e o lema odioso, “Nenhum Deus, nenhum senhor”, da Convenção – foram os lemas sacrílegos

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que naquele tempo anunciaram a libertação do homem como emancipação de toda autoridade divina (Ibidem).

Na verdade, tudo isso não passou da “(...) expressão do pensamento mais oculto do qual nasceu a Revolução Francesa” (Ibid.), e embora Deus houvesse empregado a Revolução Francesa como:

(...) um meio para destruir a tirania (...) e trazer um julgamento sobre os príncipes que abusavam de suas nações como seus escabelos, (...) o princípio do qual a Revolução surgiu continua completamente anticristão, e desde então tem se espalhado como um câncer, dissolvendo e corroendo tudo quanto está firme e consistente diante de nossa fé cristã (Ibid.).

Preocupado com a situação social, moral, cultural, política e eclesiástica de seu próprio país (assim como a de toda a Europa), e consciente da luta mortal entre estes “Dois sistemas de vida”, Cristianismo e Modernismo, que expunha o primeiro a grandes e sérios perigos, o Dr. Kuyper (2003) percebeu que nesta batalha, princípio deveria ser colocado contra princípio e a partir daí, concebeu em seis pontos – (1) O Calvinismo como Sistema de Vida; (2) O Calvinismo e a Religião; (3) O Calvinismo e a Política; (4) O Calvinismo e a Ciência; (5) O Calvinismo e a Arte; e (6) O Calvinismo e o Futuro – um tão abrangente e extenso sistema de vida, quanto o do Modernismo que nos ataca; e este sistema não poderia ser outro, senão aquele que, longe de ser inventado ou formulado, fora simplesmente tomado como se apresenta na história, a saber, sobre os fundamentos do Calvinismo – “(...) a única, decisiva, lícita e consistente defesa das nações protestantes contra o usurpador e esmagador Modernismo” (KUYPER, p. 20). Como escrevera Oliveira (2006, p. 77): “(...) Kuyper estava convicto de que era através de um resgate do calvinismo original que o cristianismo poderia se

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opor vigorosamente aos princípios apóstatas resultantes do pensamento moderno”.

Paz e graça.

Capa: Marcos Frade. Revisão: Plínio Sousa. REFERÊNCIAS

CANUTO, Manoel Sales (Ed.), Prefácio. In: SCHWERTLEY, Brian. O modernismo e a inerrância bíblica. Recife: Os Puritanos, 2000.

FERREIRA, Franklin. Gigantes da fé: espiritualidade e teologia na história da igreja. São Paulo: Vida, 2006.

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.

KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Philosophando Coram Deo: uma apresentação panorâmica da vida, pensamento e antecedentes intelectuais de Herman Dooyeweerd. Fides Reformata, São Paulo, SP, v. 11, n. 1, p. 73 – 100, jan – jun. 2006.

PORTELA NETO, Francisco Solano (Ed.), Nota biográfica. In: KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

SCHWERTLEY, Brian. O modernismo e a inerrância bíblica. Recife: Os Puritanos, 2000.

Referências

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