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ATUAÇÃO DO ACNUR JUNTO ÀS REDES LOCAIS EM APOIO À POPULAÇÃO INDÍGENA WARAO NO SUDESTE E SUL DO BRASIL: BOAS PRÁTICAS E LIÇÕES APRENDIDAS

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(1)

Novembro/2019 a Março/2021

ACNUR JUNTO

ÀS REDES LOCAIS

EM APOIO À

POPULAÇÃO

INDÍGENA WARAO

NO SUDESTE E SUL

DO BRASIL: BOAS

PRÁTICAS E LIÇÕES

APRENDIDAS

(2)
(3)

Agradecimento

Ficha Técnica

Coordenação Institucional José Egas Representante ACNUR Brasil

Maria Beatriz Bonna Nogueira

Chefe de Escritório ACNUR São Paulo

Sebastian Roa

Associado Sênior de Campo (Ponto focal indígena) ACNUR Brasil

Sílvia Corradi Sander

Associada de Proteção (Coordenação de Unidade) ACNUR São Paulo

Redação

Lyvia Rodrigues Barbosa

Assistente Sênior de Proteção ACNUR São Paulo

Revisão técnica

Maria Beatriz Bonna Nogueira

Chefe de Escritório ACNUR São Paulo

Sílvia Corradi Sander

Associada de Proteção ACNUR São Paulo

William Torres Laureano Da Rosa

Assistente Sênior de Elegibilidade ACNUR São Paulo

Esta publicação tem por objetivo fortalecer a proteção e integração de indígenas Warao nas regiões Sul e Sudeste do país por meio do registro de alguns dos muitos esforços empre-endidos, a várias mãos, por atores da socieda-de civil, do posocieda-der público, socieda-de universidasocieda-des, organizações internacionais e das comunidades de acolhida atuantes nas redes locais de algu-mas das cidades que, de forma temporária ou duradoura, têm recebido essa população. Este documento buscar dar visibilidade a algumas das estratégias, boas práticas, desafios e aprendi-zados decorrentes do trabalho diário de atores dos mais diversos setores e instituições com os quais

a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem tido o prazer de colaborar e dialogar.

Aos inúmeros parceiros mencionados neste docu-mento e às pessoas que têm se voluntariado no dia a dia do apoio às famílias Warao, o ACNUR manifesta o agradecimento pelo compartilhamento de esforços e, sobretudo, pelo empenho na escuta culturalmente sensível dessa população, o que sem dúvida tem representado a principal ferra-menta de acesso a direitos e oportunidades de integração por essas pessoas.

Às famílias e indivíduos Warao, nosso agradeci-mento pela oportunidade de aprendizado contínuo.

Equipe do Escritório do

ACNUR em São Paulo

(4)

NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021

A C N U R

A situação de emergência humanitária na Vene-zuela atingiu a todos os setores da sociedade, com especial impacto em populações historicamente vulnerabilizadas que, sem meios para sobreviver à crise, acabaram forçadas a se deslocar para o Brasil e demais países da região. Dentre esses grupos, destaca-se o deslocamento forçado de povos indígenas, que gerou um fluxo gradual para o Brasil sobretudo a partir de 2014. Com o agra-vamento da emergência, observa-se, em 2016, um considerável aumento do fluxo de indígenas da etnia Warao para os estados de Roraima e do Amazonas. A partir de 2018, referidos grupos passaram a se deslocar para os estados do Pará, Maranhão e outros da região Nordeste. Em 2019, as regiões Centro-Oeste e Sudeste são também alcançadas e, em 2020 e 2021, novos grupos são identificados na região Sul. Até março de 2021, o ACNUR estima que cerca de 5.799 refugiados e migrantes indígenas venezuelanos estejam no Brasil, em sua maioria, 69%, provenientes da etnia

Warao, em ao menos 23 estados brasileiros1.

Sumário

Contexto

07

Chegada de Grupos Warao ao Sudeste e ao Sul

08

Estratégia de Atuação

09

Grupos de Trabalho

10

Plano de Ação

12

Fortalecimento de Capacidades das Redes Locais

13

Boas Práticas, Desafios e Aprendizados

14

São Paulo 14

Rio de Janeiro / Japeri / Nova Iguaçu 15

Campinas / Hortolândia 17 Belo Horizonte 18 Uberlândia 21 Montes Claros 22 Porto Alegre 23

Apontamentos finais

24

Contexto

A situação indígena tem sido um dos maiores desafios na resposta emergencial brasileira ao fluxo venezuelano. Trata-se da chegada de uma etnia sem histórico de presença no território brasileiro, em situ-ação de deslocamento forçado, com vulnerabilida-des e aspectos culturais ainda pouco conhecidos e estudados no país. Essa conjuntura única, associada à imprevisibilidade na movimentação de tais grupos no território brasileiro, gera desafios adicionais aos órgãos e às redes que prestam assistência a essa população, que devem se atentar às necessidades e às dinâmicas específicas destes indígenas para responder a demandas de primeira necessidade relativas a alimentação, abrigamento, saúde e apoio ao desenvolvimento de meios de subsistência. Nessa linha, o ACNUR tem buscado garantir o acesso dessa população a seus direitos e serviços no Brasil, em articulação com atores governamen-tais, do sistema de justiça e organizações e grupos da sociedade civil, fomentando a proteção e a integração local de forma culturalmente sensível.

1 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS.

https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2021/04/WEB-Os-Warao-no-Brasil.pdf

(5)

GRUPO RIO / CAMPINAS / RIBEIRÃO PRETO Belém Pacaraima Boa Vista Manaus São Luís Fortaleza Belo Horizonte Rio de Janeiro Ribeirão Preto Campinas São Paulo Montes Claros Feira de Santana Recife Natal Teresina Goiânia Uberlândia Brasília Porto Velho Cuiabá Cascavel Porto Alegre

Chegada de Grupos Warao

ao Sudeste e ao Sul

A movimentação de grupos Warao dentro do terri-tório nacional tem se intensificado nos últimos dois anos, alcançando presença em grande parte dos estados do Norte e Nordeste, e chegando ao Sudes-te sobretudo a partir do segundo semestre de 2019. Desde a chegada do primeiro grupo ao Sudeste, o Escritório de Campo do ACNUR em São Paulo tem apoiado estados e municípios por meio do trabalho em rede com agentes governamentais, organizações parceiras da sociedade civil, redes socioassisten-ciais, coletivos e grupos comunitários. Uma série de atividades conjuntas têm sido desenvolvidas, com destaque para a capacitação das redes para o atendimento culturalmente sensível dessa popu-lação, coordenação de grupos de trabalho e imple-mentação de ações de proteção e integração dos indígenas refugiados e migrantes em resposta às necessidades específicas desta população.

Por meio da atuação articulada com os Grupos de Trabalho nos municípios que receberam indígenas Warao, foi possível mapear, sobretudo ao longo de 2020 e primeiros meses de 2021, as trajetórias dos grupos Warao que chegaram às regiões Sudeste e Sul. Percebeu-se, nesse contexto, que os grupos têm utilizado duas rotas distintas que se bifurcam a partir de um caminho comum focado, majoritariamente, no trajeto via Pará, com passagem em diversas capitais da região Nordeste, até chegar ao Sudeste; e, em menor medida, no trajeto via Rondônia, passando pelo Centro-Oeste e chegando ao Sudeste e Sul. Da mes-ma formes-ma, foi possível traçar o perfil por sexo e idade destes grupos, identificando-se que, seguindo o perfil geral da população Warao no país, são compostos de núcleos familiares numerosos, em que mais 50% dos membros são crianças e adolescentes, com proporção de homens pouco acima da de mulheres.

TRAJETÓRIA DE INDÍGENAS WARAO PARA O SUDESTE E SUL

CAMINHO COMUM

Pacaraima Boa Vista Manaus

GRUPO SP

Belém São Luíz São Paulo

Porto Goiânia Brasília Rio de Campinas Ribeirão

GRUPO BELO HORIZONTE

Belém Teresina Fortaleza Belo Horizonte

GRUPO UBERLÂNDIA

Belém Teresina Fortaleza Uberlândia Belo Horizonte

GRUPO MONTES CLAROS

Belém São Luís Fortaleza Natal Recife Feira de Santana Montes Claros

© ACNUR / Lyvia Barbosa

PERFIL DA POPULAÇÃO INDÍGENA WARAO

ACOMPANHADA PELO ACNUR SÃO PAULO NO SUDESTE

E SUL ENTRE DEZEMBRO/2019 E MARÇO/2021

SEXO 0-4 5-11 12-17 18-35 36-59 60+

MASCULINO 32 39 19 37 19 3

FEMININO 26 30 11 47 12 6

*25 pessoas não possuíam informações sobre sexo e idade. © ACNUR / Lyvia Barbosa

SEXO X IDADE

COMPOSIÇÃO

FAMILIAR

306 Indivíduos 69 Total de Familias

Estratégia de Atuação

As características singulares da cultura e do deslocamento da população Warao, assim como as necessidades específicas de proteção em contextos urbanos, requerem um trabalho inter-setorial amparado por informações e alinhamento conceitual prévios que consolidem a atuação dos diversos atores a serem envolvidos em estratégias coordenadas de mitigação de riscos e integração local. Nesse sentido, a estratégia de atuação do ACNUR São Paulo voltada à proteção e à

integra-ção de indígenas Warao em trânsito urbano no Sudeste e Sul do país tem se baseado no tripé (i) mobilização e apoio à coordenação de redes locais por meio de grupos de trabalho; (ii) apoio à elaboração e à implementação de planos de ação

conjunta, voltados à proteção e à integração local das famílias e indivíduos Warao; e (iii)

fortalecimen-to de capacidades de afortalecimen-tores locais por meio de capacitações direcionadas às intervenções realiza-das em cada contexto específico.

GRUPO PORTO ALEGRE 1

Porto Alegre Cuiabá Cascavel

Porto Velho

GRUPO PORTO ALEGRE 2

(6)

NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021 A C N U R

Grupos de Trabalho

O ACNUR São Paulo tem trabalhado na articula-ção e estabelecimento de Grupos de Trabalhos envolvendo agentes do poder público, sistema de justiça, sociedade civil, organismos internacionais e academia para a construção de ambientes de discussão interdisciplinares e intersetoriais que, centrados na abordagem de proteção comunitária, possam garantir a escuta ativa e culturalmente sensível dos Warao, seu acesso a direitos e ser-viços, assim como a oportunidades de integração disponíveis na rede local.

Nessa perspectiva, o ACNUR São Paulo apoiou a criação e, em alguns casos, a coordenação conjunta de 7 (sete) Grupos de Trabalho (GTs), tendo um importante papel no compartilhamento de diretrizes para o acolhimento desta popula-ção e de experiências acumuladas pela Agência na proteção, no abrigamento e na integração de indígenas venezuelanos no país. Entre novembro de 2019 e março de 2021, 306 indígenas Warao têm sido acompanhados pelos GTs instituídos

nas cidades de Belo Horizonte, Campinas/Hor-tolândia, Montes Claros, Nova Iguaçu/Japeri, Rio de Janeiro, São Paulo, Uberlândia e, recente-mente, Porto Alegre. Por meio das reuniões peri-ódicas dos GTs, tem sido possível desenvolver estratégias e Planos de Ação Conjunta voltados à proteção e à assistência às famílias em cada contexto, com foco no encaminhamento para o atendimento de necessidades emergenciais e na promoção da integração local nos respectivos munícipios.

Com o estabelecimento de vínculos institucionais entre os membros dos GTs, bem como do enrai-zamento dos fluxos de encaminhamento para o atendimento dos grupos indígenas em cada cidade e da estabilização do cenário de integração local das famílias Warao, alguns dos GTs, por decisão de seus membros, optaram por suspender as reuniões periódicas, ressalvada a possibilidade de reativa-ção caso verifiquem novas situações emergenciais ou mesmo a chegada de novos grupos.

SÃO PAULO

Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania

Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes

Defensoria Pública da União

Caritas Arquidiocesana de São Paulo

Conselho Indigenista Missionário

Pastoral Indígena

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

RIO DE JANEIRO

Secretaria Municipal de Assistência Social

Secretaria Municipal de Saúde

Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos

Secretaria Estadual de Saúde

Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados e Migrantes do Rio de Janeiro

Defensoria Pública da União

Ministério Público Federal

Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

NOVA IGUAÇU/JAPERI

Secretaria Municipal de Assistência Social de Nova Iguaçu

Secretaria Municipal de Assistência Social e Trabalho de Japeri

Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Turismo e Agricultura de Nova Iguaçu

Secretaria Estadual de Saúde

Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados e Migrantes do Rio de Janeiro

Fundação Nacional do Índio

Defensoria Pública da União

Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

CAMPINAS/HORTOLÂNDIA

Secretaria de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia

Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas

Defensoria Pública do Estado

Ministério Público Estadual

Agência da ONU para Refugiados

BELO HORIZONTE

Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania

Secretaria Municipal de Saúde

Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel)

Defensoria Pública da União

Defensoria Pública do Estado

Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados - Belo Horizonte

Cáritas Regional em Minas Gerais

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Universidade Federal de Minas Gerais

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

UBERLÂNDIA

Secretaria Municipal de Saúde

Comitê Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo de Minas Gerais

Conselhos Tutelares

Fundação Nacional do Índio

Defensoria Pública da União

Defensoria Pública do Estado

Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados Belo Horizonte

Trabalho de Apoio e Assistência aos Refugiados Estrangeiros

Universidade Federal de Uberlândia

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

MONTES CLAROS

Comitê Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo de Minas Gerais

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

Secretaria Municipal de Saúde

Centro de Referência em Direitos Humanos

Arquidiocese de Montes Claros

Membros voluntários da sociedade civil

Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas

Agência da ONU para Refugiados

Organização Internacional para as Migrações

PORTO ALEGRE

Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social (Unidade dos Povos Indígenas Imigrantes e Direitos Difusos, Centro de Referência ao Migrante e Centro de Referência de Assistência Social)

Secretaria Municipal de Saúde

Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados Porto Alegre

Fundação Fé e Alegria

Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais (NIT-UFRGS)

Cruz Vermelha Brasileira

Agência da ONU para Refugiados

(7)

CONTEÚDO DAS CAPACITAÇÕES EM APOIO A GTS LOCAIS

ELEMENTOS DA CULTURA

DA ETNIA WARAO

EXPERIÊNCIAS COMPARADAS ACUMULADAS POR REDES DAS REGIÕES NORTE, SUDESTE E SUL DESLOCAMENTO NA

VENEZUELA E PARA O BRASIL

DESAFIOS ENFRENTADOS NA PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO DE FAMÍLIAS WARAO

Plano de Ação

A chegada de indígenas venezuelanos da etnia Warao em situação de refúgio a estados do Sudes-te e Sul brasileiro Sudes-tem suscitado novos desafios às redes locais. Dificuldades de comunicação, diferenças culturais, especificidades jurídicas e documentais e da escassez de recursos das famí-lias somam-se a demandas diversas por acesso a alimentos, abrigamento e atenção em saúde, dentre outras2.

Esse cenário deixou clara a necessidade de se construir diretrizes que auxiliassem as redes locais no planejamento e no acompanhamento da assistência aos Warao. Nessa perspectiva, o ACNUR São Paulo elaborou um Modelo de Plano

de Ação Emergencial, pensado como um pas-so-a-passo das principais ações que, recomen-da-se, podem orientar os atores envolvidos na identificação das necessidades de proteção e no estabelecimento de prioridades na assistência. Referido Plano pretende amparar o planejamento e a adoção de medidas pelo poder público, com o apoio de organizações e grupos da sociedade

civil, e desde o momento de chegada de novos grupos Warao ao território.

Estruturado com base em uma perspectiva de proteção comunitária e em boas práticas de atu-ação junto à populatu-ação Warao em outras regiões do país, o Plano propõe três eixos principais. Após o estabelecimento do Grupo de Trabalho com atores estratégicos das redes locais, reco-menda-se: (i) realização da análise de proteção do grupo, incluindo identificação de necessida-des específicas relativas a documentação, saúde, prevenção e resposta à violência de gênero, dentre outras decorrentes do recorte de gênero, idade e diversidade; (ii) encaminhamentos

ime-diatos aos órgãos responsáveis para medidas socioassistenciais e de saúde, conforme neces-sidades identificadas na análise de proteção; e (iii) elaboração de estratégias de proteção e

integração local de médio e longo prazo ade-quadas ao interesse de permanência breve ou prolongada na cidade, conforme identificado em entrevistas junto aos indígenas.

ARTICULAÇÃO E ESTABELECIMENTO DE GT Planejamento e acompanhamento das atividades e intervenções junto aos indígenas

EIXOS DO PLANO DE AÇÃO

ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO LOCAL Culturalmente sensíveis e adequadas ao interesse de permanência manifesto pelos grupos ANÁLISE DE PROTEÇÃO Identificação de perfil e necessidades específicas dos Warao ENCAMINHAMENTO AOS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS Medidas assistenciais a serem tomadas com base na análise de proteção

Fortalecimento de Capacidades

das Redes Locais

Além do acompanhamento próximo às redes locais, o ACNUR São Paulo tem se empenhado em apoiar a capacitação continuada dos órgãos governamentais, das organizações da socieda-de civil e dos socieda-demais atores que atuam direta-mente no atendimento dos grupos Warao com o intuito de assessorá-los na promoção de assis-tência culturalmente sensível. Nesse sentido, o ACNUR São Paulo realizou, entre novembro de 2019 e março de 2020, 7 (sete) sessões de capacitação para mais de 370 atores públicos e da sociedade civil considerados como centrais na assistência, proteção, e integração desta população nos municípios de Belo Horizonte,

Campinas, Montes Claros, Nova Iguaçu, Japeri, Rio de Janeiro, São Paulo e Uberlândia.

As capacitações têm como objetivo apresentar à rede a cultura Warao, as causas do deslocamento interno desta população na Venezuela e do deslocamento forçado para o Brasil, bem como diretrizes basilares para o trabalho com esta população. Nas formações, destaca-se também as práticas exitosas e os apren-dizados acumulados nas redes das regiões Norte, Sudeste e Sul, e os principais desafios enfrentados na assistência e apoio à integração dessa população. As capacitações são orientadas ao assessoramento técnico dos GTs locais.

Capacitação virtual realizada conjuntamente por ACNUR e SJMR BH à rede local em Belo Horizonte. ©ACNUR/ Sílvia Sander

2 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS.

https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2021/04/WEB-Os-Warao-no-Brasil.pdf

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NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021 A C N U R

Boas Práticas, Desafios

e Aprendizados

SÃO PAULO

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. Ao ser informado, no início de dezembro de 2019, sobre a previsão de chegada de 16 indígenas Warao na cidade de São Paulo, o ACNUR mobilizou a rede local para a formação de Grupo de Trabalho integrado por Defensoria Pública da União (DPU), Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) e Coordenação de Políticas para Imigrantes e Trabalho Decente (CPMigTd) da Prefeitura de São Paulo, bem como pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo, Pastoral Indígena e Conselho Missio-nário Indigenista (CIMI), Organização Internacio-nal para Migrações (OIM) e com o apoio técnico da antropóloga Marlise Rosa. Em diálogo com atores do GT, o grupo Warao apresentou sua situação e necessidades básicas, que incluíam demandas por abrigamento imediato e seguro, atenção em saúde, segurança alimentar e apoio à geração de renda. Mapeadas as demandas iniciais, os membros do GT se mobilizaram a

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Estratégia de abrigamento. Apesar dos esforços imediatos empreendidos pelo GT e da existência de abrigamento público e da sociedade civil especializados no atendimento ao público refugiado e migrante, assegurar às famílias indígenas abrigo ou moradia provisó-rios adequados às suas especificidades, no contexto de uma megalópole urbana como São Paulo, constituiu desafio central. No período de 20 dias, o grupo passou por estadia em hotel em área considerada insegura no contexto de

traçar e implementar estratégias preliminares e emergenciais de resposta.

Acompanhamento de equipamentos especia-lizados. Instituições especializadas no atendi-mento da população refugiada e migrante no município de São Paulo, como CRAI Móvel, CPMigTd, ACNUR e Caritas Arquidiocesana de São Paulo, acompanharam presencialmente o grupo durante o período de 20 dias em que estiveram no território. Priorizou-se respostas a necessidades imediatas de abrigamento seguro, atenção em saúde e segurança ali-mentar. Durante a permanência do grupo em São Paulo, foram realizadas visitas domicilia-res, ante a concordância dos indígenas, por agentes de saúde e da assistência social do município, garantindo o monitoramento neces-sário à identificação e resposta tempestiva a necessidades emergenciais.

violência urbana; por acolhimento, por poucos dias, em terra indígena Guarani, no bairro Jara-guá, mediado pelo CIMI; por acolhimento em centro público de acolhimento para imigrantes; e por imóvel de um cômodo alugado no centro de São Paulo. Nesse período, nenhuma das alternativas se mostrou sustentável às neces-sidades e dinâmicas do grupo, evidenciando o desafio na identificação, em meio urbano, de moradia segura e com estrutura adequada e sustentável a médio e longo prazo.

A percepção das famílias sobre a violência

urbana, bem como sobre a baixa rentabi-lidade da coleta de dinheiro nas ruas em comparação ao obtido em outras cidades do Norte e Nordeste do Brasil, resultou no

retor-RIO DE JANEIRO / JAPERI / NOVA IGUAÇU

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. O ACNUR foi informa-do pelo Comitê Estadual Intersetorial de Polí-ticas de Atenção aos Refugiados e Migrantes do Rio de Janeiro (CEIPARM), em janeiro de 2020, sobre a chegada de 35 indígenas Warao ao Rio de Janeiro. Em conjunto com a coordenação do CEIPARM, o ACNUR instituiu Grupo de Trabalho com a participação da Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, de atores dos Sistemas Públicos Estadual e Municipal de Assistência Social e Saúde, do Ministério Público Federal, da Defensoria Pública da União e da OIM. Com a mudança de 26 indígenas para a cidade de Japeri e, posteriormente, Nova Iguaçu, novo GT foi articulado com a participação do CEIPARM, da Caritas, das Secretarias de Assistência Social das duas cidades, da Defensoria Pública da União, da Secretaria Estadual de Saúde, Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da OIM. Ambos os GTs se tornaram cruciais para a resposta contínua às necessidades protetivas das famílias, bem ainda para a elaboração e implementação da estratégia de integração local.

Estratégia habitacional. Quando de sua chegada à região, as famílias inicialmente acamparam no entorno do Terminal Rodo-viário Novo Rio, onde permaneceram por algumas semanas. Foi realizada tentativa, pelo poder público, de encaminhamento das famílias para abrigo público, iniciativa que restou infrutífera dadas as diferenças de perfil entre os acolhidos e a percepção, pelas famílias Warao, sobre as dinâmicas

de segurança dentro e fora do abrigo. As famílias foram então acolhidas em sítio no município de Japeri, por livre iniciativa de grupo religioso. Após cerca de 6 meses, ante o risco de despejo do imóvel onde estavam e o trânsito diário das famílias, para coleta de dinheiro, em Nova Iguaçu, foi articulada, no âmbito do GT, a inclusão das famílias em programa de bolsa moradia da Secretaria de Assistência Social (SEMAS) de Nova Iguaçu. Contudo, dada a dificuldade de se conseguir imóveis com estrutura adequada e valor compatível com o bene-fício, e em vista do desejo das famílias de seguirem morando juntas, a SEMAS cedeu e adaptou à moradia dos indígenas um imóvel da prefeitura onde antes funcionava escola, atualmente desativada. O grupo se mudou para o local no começo de dezembro e estipulou, junto à Secretaria, regras de con-vivência adequadas à sua realidade cultural. As famílias seguem sob o acompanhamento semanal do CRAS da localidade e dos técni-cos e gestores da Secretaria.

Acesso à assistência social e à educação.

A SEMAS efetua um acompanhamento pró-ximo das famílias e após um mapeamento de suas necessidades realizou o registro de todos no CadÚnico para o recebimento do Bolsa Família, realizou a formação um grupo de trabalho no CRAS de referência do território que realiza visitas domiciliares semanais ao abrigo e efetuou inclusão de todas as crianças no programa de primeira infância da prefeitura. No que se refere no do grupo, em 20 de dezembro de 2019, a São Luís do Maranhão. Nessa ocasião, o ACNUR sinalizou a intenção das famílias à rede socioassistencial de São Luís para o seguimento do acompanhamento.

(9)

à educação, todas as crianças em idade escolar foram matriculadas e estão acompa-nhando as aulas online no abrigo por meio do computador doado pela prefeitura e da internet paga pelos próprios Warao.

Documentação. A renovação dos protocolos de solicitação de refúgio de todo o grupo junto à Polícia Federal foi apoiada por Caritas e prefeituras de Japeri e Nova Iguaçu. Até o presente, três membros do grupo foram já reconhecidos como refugiados pelo CONARE.

Estratégia de geração de renda. Seguindo os interesses manifestos pelo grupo em consultas sucessivas, a estratégia de geração de renda foi dividida em dois eixos comple-mentares. Em relação às mulheres, foi cen-tralizada na produção e venda de artesanato de acessórios em miçanga. A matéria-prima tem sido, até o presente, doada pela Caritas e pela Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu, e a produção das peças conta com o apoio de oficinas realizadas pela Fun-dação e pela OIM, com vistas à padronização e criação de cadeia de venda. Os homens adultos manifestaram interesse na inserção no mercado de trabalho formal e, por inter-médio da SEMAS e de empresas parceiras da Prefeitura, um dos homens está trabalhando, há 5 meses e com CTPS firmada, em empresa de limpeza urbana do município. Outros dois membros da família seguem em entrevistas de emprego em empresas parceiras da Pre-feitura mediante intermediação da SEMAS.

Atuação da Defensoria Pública da União.

Como membro do GT, a DPU tem desempe-nhado um importante papel no encaminha-mento jurídico das necessidades do grupo, incluindo apoio na sensibilização de atores--chave. Dentre outros, a DPU, por meio de ofícios expedidos às autoridades competen-tes, garantiu o pagamento do benefício do auxílio emergencial e a abertura de contas bancárias para o recebimento do auxílio moradia e bolsa família.

Intercâmbio de boas práticas na área da saúde. Visando aprimorar o atendimento dos indígenas Warao e sensibilizar a equipe de saúde para as diferenças culturais, o Comitê Estadual de Saúde da População Imigrante e Refugiada do Estado do Rio de Janeiro organizou, com o apoio do ACNUR, conversa de troca de experiências entre profissionais de saúde membros do GT de Belo Horizonte e atuantes nos municípios do Rio de Janeiro, Japeri e Nova Iguaçu. As famílias seguem sob o acompanhamento regular da rede de saúde de Nova Iguaçu e da Secretaria Estadual de Saúde e, como fruto da troca de experiências e da sensibilização contínua das equipes, as famílias têm tido garantido o acesso a acom-panhamento e tratamento médico regular, em especialidades médicas diversas e conforme as necessidades identificadas. Estratégias de abordagem com maior sensibilidade às dife-renças culturais têm, conforme relatado no GT, garantido maior adesão aos tratamentos por parte das famílias Warao.

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Apoio à autossuficiência do grupo. A despeito

dos avanços e boas práticas já obtidos por parte da SEMAS com o apoio dos demais atores do GT, a autossuficiência econômica do grupo Warao permanece um desafio. Esforços con-juntos associando geração de renda pelo arte-sanato a empregos formais seguem em curso.

Contudo, dinâmicas culturais próprias na gestão de recursos financeiros e na relação com o tra-balho formal, desafios na montagem de cadeia de produção e venda de artesanato, e limitações decorrentes da pandemia da COVID-19, seguem representando desafios à sustentabilidade eco-nômica das famílias.

Famílias Warao acolhidas em Japeri/Nova Iguaçu participam de diagnóstico participativo promovido por ACNUR São Paulo e Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro. ©PARES Cáritas/Luciana Queiroz

CAMPINAS / HORTOLÂNDIA

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. Em fevereiro de 2020, o ACNUR São Paulo foi informado da chegada de dois grupos de indígenas Warao em Campinas, totalizando 17 pessoas, ambos vindos do Rio de Janeiro. Visando apoiar as ações de assis-tência da prefeitura de Campinas, o ACNUR participou de reunião com os Secretários Municipais de Assistência Social e de Relações Institucionais, e com o Serviço de Referência aos Imigrantes e Refugiados, para apresentar

o trabalho e possibilidades de cooperação da agência na proteção e assistência aos indíge-nas venezuelanos. Em consequência, o municí-pio elaborou protocolo para organizar as ações das diferentes políticas públicas envolvidas no acompanhamento dos indígenas Warao. Com a mudança dos grupos para Hortolândia, cidade vizinha a Campinas, e por permanecerem em trânsito por Campinas para realizar a coleta de dinheiro, em maio foi criado Grupo de

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NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021

A C N U R NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021

Trabalho formado por membros do Ministério Público e Defensoria Pública Estadual, Secre-taria de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia, Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, e ACNUR São Paulo.

Sensibilização do Conselho Tutelar. O Conselho Tutelar de Campinas procurou o ACNUR para manifestar preocupação e pedir apoio quanto à participação de crianças Warao na coleta de dinheiro nas ruas. Com o objetivo de apoiar intervenções culturalmen-te sensíveis, o ACNUR compartilhou com os conselheiros boas práticas e orientações jurí-dicas expedidas por autoridades brasileiras em outros municípios, sensibilização apoiada também pela Secretaria de Assistência Social de Campinas. Em síntese, contextualizou--se que a coleta de dinheiro nas ruas por indígenas Warao tem significado diverso

em sua cultura por se tratar de estratégia adaptativa desenvolvida no contexto urbano que, em grande parte, constitui seu único meio de geração de renda. Destacou-se que tal prática não é, em geral, entendida como depreciativa, constrangedora ou indigna, mas sim como um trabalho. As intervenções do Conselho Tutelar passaram a enfocar a conscientização progressiva das famílias quanto à legislação brasileira protetiva a crianças e adolescentes.

Acesso à assistência social e à educação.

Antes das restrições de circulação provocadas pela pandemia, as crianças Waraos em Hor-tolândia frequentavam a escola regularmente. Com a paralisação das aulas, as famílias pas-saram a receber cestas básicas da prefeitura de Hortolândia para assegurar a segurança ali-mentar, e, por estarem inscritas nos Cad-Único, acessaram o auxílio emergencial.

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Coleta de dinheiro. Com a pandemia e a parali-zação das aulas, as crianças voltaram a participar da coleta com seus pais. Outras abordagens preventivas e culturalmente sensíveis passaram a ser planejadas, como a de produção de arte-sanato como estratégia de geração de renda e

preventiva da ida de mulheres e crianças para a atividade da coleta nas ruas. A CRAS estava iniciando as conversas com o grupo a este res-peito, mas, no fim de agosto de 2020, as famílias decidiram deixar Hortolândia com destino à Brasília, onde tinham familiares.

BELO HORIZONTE

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. Em fevereiro de 2020, um grupo de 17 indígenas Warao se esta-beleceu em Belo Horizonte e passou, desde então, a contar com o apoio de Grupo de Trabalho formado por ACNUR, Serviço Jesuíta para Mirantes e Refugiados (SJMR); Defenso-rias Públicas da União e do Estado; Comitê Indígena Mineiro; Ministério Público Federal; Rede Franciscana; Secretaria Municipal de

Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC); Secretaria Municipal de Saúde; Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel); Univer-sidade Federal de Minas Gerais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Cári-tas Regional em Minas Gerais e OIM, sob a coordenação conjunta do ACNUR, do SJMR e das Defensorias Públicas da União e do

Estado. Em vista da manifestação de interesse das três famílias Warao em permanecer, por período indeterminado, em Belo Horizonte, foi elaborado plano de ação de médio e longo prazo para a proteção e integração das famílias em meio urbano, incluindo uma série de medidas conjuntas pelos membros do GT.

Mediação comunitária. O trabalho desenvol-vido pelo GT conta com mediação cultural e linguística contínuas pela Analista Social do SJMR BH, indígena venezuelana da etnia Warao. Referido trabalho tem sido essencial para a garantia da escuta ativa e culturalmen-te sensível dos membros do grupo Warao em Belo Horizonte, e também em outras cidades que recepcionaram grupos Warao, apoiando a articulação do acesso a serviços e a oportuni-dades disponíveis na rede local.

Acesso à assistência social. Desde a che-gada do grupo à cidade, passaram a ser acompanhados pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMASAC), que, a partir do mapeamento das demandas pelo GT, garantiu o cadastro de todos os membros no CadÚ-nico para o recebimento do Bolsa Família e estabeleceu fluxos específicos para assegurar o acompanhamento regular no âmbito dos programas da assistência social, e em atenção às necessidades específicas do grupo.

Sensibilização de equipes de saúde. A condi-ção de saúde dos membros do grupo passou a ser acompanhada de forma exemplar pela equi-pe de saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, com o apoio da mediação cultural da Analista Social Warao do SJMR BH, e apoio técnico do ACNUR São Paulo. Intervenções na área da saúde (como atendimento psicológico e pré-na-tal) têm sido constantemente adaptadas pelas equipes da Prefeitura para dialogarem com as especificidades e crenças culturais próprias da etnia Warao nos cuidados com a saúde.

Estratégia habitacional. Depois de período em situação de rua e de terem passado por abrigamento público próprio para população

com trajetória de rua o grupo, foi provisoria-mente acolhido, em caráter emergencial, em imóvel do SJMR BH, cujas regras e espaços foram adaptados para se adequar à realidade cultural desta população. A título excepcional, foi pactuado o apoio pontual do ACNUR aos três primeiros três meses de aluguel como contrapartida ao compromisso da Prefeitura na inclusão das famílias no programa de auxílio moradia por período inicial de 2 anos.

Estratégia de geração de renda. Seguindo os interesses manifestos pelo grupo, a estra-tégia de geração de renda foi dividida em dois eixos. Junto às mulheres, se baseia na produção e venda de artesanato. Mediante a intermediação e apoio do SJMR, o Comitê Indígena Mineiro realizou oficinas de artesa-nato acompanhadas de sessões de empre-endedorismo com as artesãs, ministradas por indígena brasileira da etnia Ticuna. As maté-rias-primas têm sido articuladas por meio de doações de membros do GT e por recursos aportados pelo ACNUR. As peças de arte-sanato estão sendo vendidas em espaços disponibilizados por meio da parceria com o Comitê Indígena, e em feiras da cidade. Por sua vez, os homens adultos manifestaram interesse em cursos de mecânica e na inser-ção no mercado de trabalho formal. Contudo, no contexto da pandemia, o acesso a vagas de trabalho formal ainda não foi possível.

Atuação das Defensorias Públicas. As Defensorias Públicas Estadual e da União desempenharam um importante papel no atendimento das necessidades do grupo e na sensibilização de atores-chave quanto às especificidades culturais. Destaca-se a atuação da Defensoria Pública do Estado na área da proteção à infância, incluindo apoio na sensibilização do Conselho Tutelar quan-to às especificidades culturais e a garantia célere de matrícula das crianças na rede municipal de ensino. A Defensoria Pública da União, por meio de recomendações e expedição de ofícios, garantiu o abrigamen-to emergencial do grupo em equipamenabrigamen-to

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21 da Prefeitura, bem como o acesso ao auxílio

emergencial e a abertura de contas bancá-rias para o recebimento do auxílio moradia e bolsa família.

Acesso à segurança alimentar culturalmen-te sensível. O grupo está recebendo cestas básicas e produtos hortifrutigranjeiros dos programas da prefeitura de Belo Horizonte e com o apoio do Comitê Indígena Mineiro. Por razões culturais, os indígenas não con-somem alguns dos produtos da cesta bási-ca. Com vistas a fornecer uma alimentação mais próxima a que usualmente consomem, as servidoras da Secretaria de Saúde atuan-tes no GT os auxiliam a realizar a trocar dos

alimentos não consumidos por proteínas e outros produtos por eles preferidos.

Português como língua de acolhimento cultu-ralmente sensível. Atendendo a uma demanda das famílias, o SJMR buscou parceria com o projeto Pro-Imigrantes da Faculdade de Letras da UFMG, que desenvolveu curso de português como língua de acolhimento culturalmente sensí-vel, incluindo materiais especialmente desenvol-vidos para os indígenas Warao. Desde agosto, adultos e crianças têm acompanhado aulas online semanais. O curso tem sido fundamental na integração local do grupo, que agora passa a se locomover na cidade e a se comunicar sem a intermediação da Analista Social do SJMR.

Crianças Warao acolhidas temporariamente na Vila Alberto Hurtado (SJMR BH) realizam atividade recreativa mediada pela rede pública local. ©SJMR-BH

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Estratégia habitacional. Mesmo com apro-vação dos recursos do auxílio moradia, o SJMR encontrou dificuldade em encontrar imóvel para as famílias, seja por recusas sucessivas de proprietários em alugar imóveis para as famílias indígenas, seja pela dificuldade de encontrar local com tipologia adequada ao tamanho dos núcleos familiares. Apenas após cinco meses de buscas, conseguiu-se alugar 2 casas para as famílias.

Apoio à autossuficiência do grupo. Após pouco mais de um ano de trabalho contínuo e próximo com as famílias Warao, é notória a maior inde-pendência no trânsito urbano e na comunicação com as equipes da rede de saúde e assistência. Contudo, apesar dos avanços e boas práticas adotadas, a rede verifica que o acompanha-mento próximo continua sendo essencial para a promoção da plena integração das famílias e da autossuficiência econômica por meio da geração de renda via produção de artesanato e inserção no mercado de trabalho formal.

UBERLÂNDIA

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. Em junho de 2020, a organização Trabalho de Apoio e Assistência aos Refugiados Estrangeiros (TAARE) entrou em contato com o ACNUR São Paulo para informar a presença de 17 indígenas Warao em Uberlân-dia. A partir de então, o ACNUR, com o suporte do COMITRATE (Comitê Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Traba-lho Escravo) e sob a coordenação da TAARE, iniciou a mobilização da rede local contatando atores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), das Secretaria Municipal de Saúde, FUNAI, das Defensorias da União e Estadual, Conselho Tutelar, OIM, outras organizações da sociedade civil e também do GT Warao de Belo Horizonte, como o SJMR.

Sensibilização do Conselho Tutelar. Desde a chegada do primeiro grupo de indígenas Warao, o Conselho Tutelar de Uberlândia demonstrou preocupação com a situação das crianças que acompanhavam os pais durante a coleta nas ruas. Após a sensibilização do Conselho Tutelar local por meio do GT, a instituição passou a ser uma grande aliada da rede no encaminhamento de medidas protetivas dos grupos de indígenas Warao em Uberlândia. Juntamente com a TAA-RE, encaminharam as famílias para atualização do registro no CadÚnico para viabilizar o rece-bimento de benefícios sociais, e requisitaram à Secretaria de Educação vagas para as crianças em idade escolar.

Parceria com a Cátedra Sergio Vieira de Melo (CSVM). Em razão da participação e do enga-jamento da UFU no GT Warao, a universidade

ingressou formalmente na CSVM, iniciativa do ACNUR que difunde temas relacionados ao refú-gio no ensino, pesquisa e extensão universitários. Por meio da Cátedra, diversos núcleos da UFU robusteceram seus programas de pesquisa e extensão acadêmica voltada à população Warao, e também a outras populações em situação de refúgio e migração. Atualmente, a UFU está acompanhando 7 famílias Warao e auxiliando-as com a regularização documental, a garantia de acesso a benefícios socioassistenciais e na elabo-ração de estratégias de geelabo-ração de renda.

Acesso à saúde. A Secretaria de Saúde de Uberlândia tem garantido o acompanhamento dos grupos Warao por meio de equipes da Saúde da Família, que realizam visitas domici-liares periodicamente.

Acesso à assistência social. Por intermédio da TAARE, o grupo foi encaminhado ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que efetuou o registro de todos no CadÚnico para o recebimento do Bolsa Família, e estabeleceu fluxos específicos para assegurar o acompa-nhamento regular no âmbito dos programas da assistência social e em atenção às necessida-des específicas do grupo.

Reforço escolar. A IKMR, organização parceira do ACNUR, tem realizado, desde novembro de 2020 e por meio do projeto Cidadãs do Mundo, o acompanhamento de crianças de três famílias Warao voltado à adaptação ao ambiente escolar. O acompanhamento ocorre no contraturno escolar, por meio de tutoria virtual, focada em necessidades complementares de aprendizagem.

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NOVEMBRO/2019 A MARÇO/2021 A C N U R

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Imprevisibilidade de movimentação. A movi-mentação de grupos de indígenas Warao em Uberlândia se mostrou muito intensa, com a recepção de diversos grupos que chegaram à cidade e permaneceram pouco tempo em imóveis alugados, ou que permaneceram em trânsito frequente entre Uberlândia e as

cida-des anteriores de residência. Nesse contexto, medidas contínuas de integração restam pre-judicadas. Contudo, com a rede sensibilizada e capacitada, foi possível perceber uma fluidez na priorização de necessidades específicas e nos encaminhamentos feitos aos grupos em trânsito frequente.

MONTES CLAROS

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. Em novembro de 2020, o SJMR contatou o ACNUR para reportar a chegada de grupo Warao em Montes Claros. A partir de então, o ACNUR, com o auxílio do COMITRATE (Comitê Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo) e do Centro de Referência em Direitos Humanos do Norte de Minas (CRDH), iniciou a mobilização da rede local contatando as Secre-tarias Municipais de Assistência Social e Saúde, a Arquidiocese de Montes Claros, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e a OIM. Em dezembro de 2020, sob a coordenação conjunta do ACNUR, CRDH, OIM, Secretaria de Desenvolvimento Social e sociedade civil, foram criados dois GTs, quais sejam de Assistência Social e Saúde, e de Formação da Rede, para acompanhar o acolhimento e a integração dos quase 100 indígenas presentes no município.

Apoio da sociedade civil. Em vista do risco de despejo e da falta de alternativas disponíveis, em caráter imediato, nas políticas públicas munici-pais, a Arquidiocese, como medida emergencial, acolheu os indígenas em imóvel onde antes funcionava escola desativada. Em razão dos altos custos de locação e despesas correntes, a Arquidiocese sinalizou a possibilidade de aco-lhimento do grupo até maio de 2021. Após este período, alternativas seguem em negociação junto ao poder público e rede local.

Segurança alimentar culturalmente sensí-vel. O grupo Warao está recebendo doações de cestas básicas e alimentos coletados pela Caritas Regional de Minas Gerais e Arquidiocese em Montes Claros. Contudo, tendo em vista que, por razões culturais, os indígenas não consomem alguns dos produtos da cesta básica, a rede tem bus-cado doações a partir de lista de alimentos mais comuns na dieta do grupo, de forma a respeitar sua tradição alimentar e a evitar o desperdício de alimentos.

Acesso à assistência social. O grupo está sendo acompanhado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, que efetuou o registro de todos no CadÚnico para o recebi-mento do Bolsa Família, e estabeleceu fluxos específicos para assegurar o acompanhamen-to regular no âmbiacompanhamen-to dos programas da assis-tência social e em atenção às necessidades específicas do grupo.

Atuação do Sistema de Justiça. As Defensorias Públicas Estadual e da União, juntamente com o Ministério Público Federal, expediram, no fim de março de 2021, Recomendação conjunta ao Município de Montes Claros requerendo a elaboração de Plano Municipal que garanta a inserção das famílias Warao nas políticas públi-cas de assistência social, moradia, alimentação, saúde e educação.

DESAFIOS E APRENDIZADOS

Segurança alimentar. A chegada de novas famílias ao imóvel alugado pela Arquidio-cese, compostas sobretudo por membros da família estendida dos grupos anteriores, representou aumento na demanda por alimentos, insumos e equipamentos neces-sários ao preparo e armazenamento dos alimentos (como gás, energia, água, geladei-ra e fogão). Tendo em vista que as doações até então obtidas pela sociedade civil não são suficientes e sustentáveis, a rede tem

demandado a inserção das famílias em pro-gramas públicos de segurança alimentar.

Estratégia de Acolhimento e Habitacional. Devi-do ao caráter provisório Devi-do abrigamento atual das famílias Warao pela Arquidiocese, o GT segue em negociações junto ao poder público demandando a construção de estratégia de abrigamento e moradia de médio e longo prazo que garanta a proteção das famílias hoje em Montes Claros e apoie eventuais novas chegadas à cidade.

PORTO ALEGRE

BOAS PRÁTICAS

Articulação em rede. O primeiro grupo de 14 indígenas Warao chegou a Porto Alegre em abril de 2020 e passou a ser acompa-nhado pelo Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais (NIT) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O NIT auxiliou as famílias a requisitar o auxílio emergencial, bem como na busca de moradia e na criação de canal de venda de artesanato. Com a chegada de novos grupos na cidade em 2021, a Unidade dos Povos Indígenas e Direitos Específicos (UPIDE), o Centro de Referência ao Migrante e o Centro de Referência de Assistência Social da Secretaria Municipal de Desen-volvimento Social passou a acompanhar os grupos por meio de visitas para verificar as necessidades e possibilidades de inclusão em programas sociais. Em março deste ano, o Centro de Referência do SJMR articulou, com o apoio do ACNUR, a criação de Grupo de Trabalho específico no âmbito de outras fóruns já existentes, incluindo a participação de atores-chave locais, para centralizar a coordenação das ações de proteção e integração local das famílias Warao. Na pri-meira reunião estiveram presentes o SJMR

Porto Alegre, equipamentos da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social para população indígena e migrante, e da pro-teção social; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fundação Fé e Alegria e a Cruz Vermelha Brasileira. O Acnur seguirá acompanhando o GT para apoio contínuo às equipes locais na elaboração de estratégias de atendimento.

Vacinação contra a COVID-19. Tendo em vista se tratar de grupo prioritário sob o Plano Nacional de Imunização contra a COVID-19, a UPIDE apoiou o encaminha-mento dos indígenas Warao para a vacina-ção, realizada em janeiro de 2021.

Acesso a programas sociais. Por intermédio da UPIDE, duas das famílias foram incluídas na Estratégia de Segurança Alimentar da rede municipal de Porto Alegre. As famílias estão também em processo de inclusão em programa de aluguel social e contam, atualmente, com espaço na feira da Reden-ção - que ocorre aos fins de semana em uma das principais praças da cidade - para a comercialização de peças de artesanato.

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Apontamentos finais

Trabalhar na garantia de direitos e no acolhimen-to culturalmente sensível dos indígenas Warao é, sabidamente, um exercício desafiador para os agentes de todas as áreas devido às espe-cificidades culturais que incidem no processo de atendimento e acolhimento. Entre novembro de 2019 e março de 2021, o ACNUR São Paulo concentrou esforços na articulação das redes locais nos estados e munícipios da sua área de cobertura que receberam grupos indígenas Warao em trânsito. A referida mobilização tem por objetivo apoiar as redes com informações sobre a cultura e o histórico de deslocamento forçado do povo Warao, bem como oferecer ferramentas que ajudem a orientar e estruturar ações de proteção com base na escuta ativa e culturalmente sensível dessa população.

Os Grupos de Trabalho criados e coordenados com o apoio do ACNUR, sempre de forma con-junta com atores e organizações de referência, se constituíram, portanto, como uma boa prática de construção de espaço de mobilização para a arti-culação de políticas públicas de assistência social, saúde, educação, inserção laboral e geração de renda, dentre outras, voltadas à garantia de direi-tos aos Warao. Leva-se em consideração, em todas as intervenções, as normativas existentes e as rea-lidades e especificidades de cada rede local. Por meio desses fóruns, tem sido possível fomentar o atendimento culturalmente sensível e desenvolver

boas práticas de abordagem e atendimento às necessidades específicas dessas famílias indígenas venezuelanas.

Adicionalmente, o trabalho com as redes locais contribui para o público refugiado e migrante como um todo, uma vez que, a partir das capacitações e discussões nos GTs, atores diversos têm sido sen-sibilizados sobre a necessidade de se fortalecer o atendimento às necessidades específicas dessas populações como forma de garantia de acesso a direitos. Exemplo disto foi a parceria e a articula-ção entre o ACNUR e a Prefeitura de Nova Iguaçu, desenvolvida no âmbito do GT Warao, que culmi-nou na abertura de abrigo para receber a inédita interiorização de 23 idosos venezuelanos, desde Roraima, em novembro de 2020. Outra iniciativa de destaque articulada no âmbito de um dos GTs Warao - neste caso, de Belo Horizonte - foi a criação de fluxo de abertura de contas na Caixa Econômica Federal para refugiados e migrantes de diversas nacionalidades, bem como a capacitação de funcionários do banco para o atendimento às especificidades documentais dessas populações. Ao longo de 2021, o ACNUR em São Paulo segue acompanhando e apoiando as redes locais nas regiões Sudeste, Sul e no estado da Bahia para o apoio contínuo e culturalmente sensível a outros grupos Warao já estabelecidos ou que seguem em trânsito nas diversas cidades.

ACNUR realiza diagnóstico participativo com grupo Warao em Japeri, Rio de Janeiro. © PARES Cáritas/Luciana Queiroz.

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Contatos

Maria Beatriz Nogueira

Chefe do Escritório do ACNUR em São Paulo, nogueira@unhcr.org

Sílvia Sander

Associada de Proteção do Escritório do ACNUR em São Paulo, sandersi@unhcr.org

Lyvia Barbosa

Assistente Sênior de Proteção do Escritório do ACNUR em São Paulo, rodrigul@unhcr.org

acnur.org.br

@ACNURBrasil /ACNURPortugues @acnurbrasil

Referências

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