LITERATURA COMENTÁRIO DA PROVA DE LITERATURA

COMENTÁRIO DA PROVA DE LITERATURA

A prova de Literatura da Universidade Federal do Paraná, composta de seis questões, abordou temas e

técnicas de nove das dez obras indicadas como de leitura obrigatória para os vestibulares.

Apenas a obra Anjo negro não foi abordada nas questões, o que não é problema a nosso ver, pois não

existe necessariamente a obrigação de a UFPR cobrar em uma única edição do exame todas as obras exigidas

como de leitura obrigatória.

Melhora significativa em relação à prova do ano passado. Prova excelente. Exigiu-se, de fato, a leitura

integral das obras, devida e magistralmente costurada às noções de teoria literária e periodização da literatura

brasileira, conforme estabelece o programa proposto.

Enredos, personagens, estilos, escolas literárias, teoria literária e autores fizeram parte das questões. O

nível de profundidade e o grau de dificuldade variados, sem desestimular nem colocar ninguém em desespero,

deram oportunidade aos mais esforçados e mais bem preparados de se destacarem como os melhores entre os

bons candidatos. Isto porque algumas das proposições exigiam um preparo mais refinado e exaustivo.

A questão 17 merece nossos maiores elogios, pela qualidade e criatividade ao se perceber um elemento

recorrente em duas obras. Aliás, a prova no todo cobrou de forma muito pertinente as relações de semelhanças

/ diferenças entre obras e temáticas.

Isso foi bom, foi ótimo para os nossos alunos que, com duas aulas semanais de literatura, mais revisões,

mais aprofundamento, mais provões e simulados, sem dúvida se apresentaram como candidatos diferenciados

e mais aptos para o sucesso.

É isso: Fazer Positivo é a

diferença;

Ser Positivo faz

a diferença;

Nesta hora, como é bom ser diferente!

Comentário:

Esta foi uma questão fácil (principalmente para os alunos do Positivo), para dar segurança e autoconfiança aos

vestibulandos.

CONHECIMENTOS EXIGIDOS

• Compreensão e interpretação de textos literários

• Gêneros literários

• Poesia brasileira do século 20, em especial, o Modernismo

• Muitas vozes

a) Incorreta. Apesar de ter feito, em outros momentos, poesia de cunho político e panfletário, o autor, em Muitas

vozes, não aborda essa temática.

Comentário:

Uma questão envolvendo cinco das obras indicadas. O candidato com visão abrangente da literatura festejou o fato

de ter estudado no Positivo.

Questão muito boa, que cobrou aspectos cruciais das obras citadas, dando especial atenção à temática regionalista

na literatura brasileira.

CONHECIMENTOS EXIGIDOS

• A temática social

• A temática regionalista

• O pagador de promessas

• S. Bernardo

• Romantismo

a) Incorreta. O sucesso internacional obtido por O pagador de Promessas atesta a universalidade e atualidade de

seus temas, não obstante seu caráter regionalista. Por outro lado, a intolerância e o fundamentalismo religioso

provocam até hoje conflitos em toda parte.

b) Incorreta. Sim, o regionalismo da obra é típico da segunda fase do Modernismo brasileiro, e Paulo Honório

demonstra brutalidade em suas atitudes e em sua visão de mundo. O romance S. Bernardo além de ser uma

narrativa de “tensão crítica”, de cunho social é também de “tensão íntima”, de caráter psicológico.

c) Correta. Um aspecto que dá destaque à obra de Taunay é justamente o de transitar harmônica e

inteligentemente entre o romantismo do quadro e o realismo da moldura.

d) Incorreta. O regionalismo tem como caráter fundamental, a visão objetiva da realidade. Em Clarice Lispector, as

referências espaciais servem apenas como introdução à introspecção.

e) Incorreta. A imagem do Jeca Tatu, preguiçoso indolente, cachaceiro e doente se reproduz nos caboclos que

surgem em outras histórias de Urupês. Lobato nos apresenta seres que preferem destruir a cultivar, o que gera a

infertilidade das terras, levando o meio rural à decadência e ao atraso.

Comentário:

Esta é uma questão formulada inteligentemente para testar a capacidade de o candidato relacionar uma pequena

cena com o contexto da obra e com o jogo de intenções e reações dos personagens aos acontecimentos.

CONHECIMENTOS EXIGIDOS

• O pagador de promessas

• Estrutura da tragédia

1. Incorreta. Pelo contexto, deduz-se que os policiais se afastam por temerem a reação popular contra as atitudes

erradas das autoridades.

2. Correta. A inquietação existencial, a insatisfação sexual e a visão pragmática de Rosa levam-na inicialmente a

se opor às crenças do marido e a se lançar nos braços de um amante, entretanto sua inteligência e aguçada

percepção fazem-na perceber posteriormente o quanto se enganara e como a cidade era uma armadilha

insidiosa.

3. Incorreta. Revendo o contexto da cena, nota-se que Padre Olavo esboça uma tomada de consciência sobre o

quanto se enganara e como não soubera lidar nem cristãmente nem inteligentemente com a situação.

4. Incorreta. Zé do Burro é na verdade a vítima trágica da “fúria dos deuses”. O “sistema” e suas “engrenagens”

simplesmente o esmaga e destrói. Nas tragédias, em especial aquelas que demonstram vínculos com as

tragédias clássicas, como é o caso de O pagador de promessas, não se atribui necessariamente a “culpa” a

uma ou outra pessoa. Na realidade, o desenvolvimento do fato trágico se estabelece diante de um impasse, no

Comentário:

Mais uma questão que premiou os candidatos que seguindo nossas orientações, leram todos os textos integrais de

todas as obras indicadas. Cinco das dez obras estão contempladas, focando a presença da mulher nas obras em

destaque.

CONHECIMENTOS EXIGIDOS

• A mulher nas obras indicadas como leitura obrigatória

• S. Bernardo

• Romanceiro da Inconfidência

• Inocência

• Felicidade clandestina

a) Incorreta. Madalena se suicida justamente para não se submeter à obsessão de posse e poder do marido. Ela

escolhe a morte como forma de se libertar de uma espécie de escravidão opressiva e humilhante.

b) Incorreta. Em Romanceiro da Inconfidência constata-se a presença reiterada do ponto de vista feminino. Haja

vista a atuação de Chica da Silva, de Bárbara Eliodora, de Marília, das velhas, da mulata... e até da Rainha

Louca, D. Maria I.

c) Incorreta. Capitu era uma mulher diferente das heroínas românticas. Ela é ambiciosa, curiosa e se interessa por

assuntos “exclusivamente masculinos” à época, como histórias de conquistadores, invenções, aplicações

financeiras... Constituía-se, portanto numa ameaça à hegemonia do macho e precisava ser calada, nem que

fosse à custa de se colocar em dúvida sua integridade moral.

d) Correta. A visão machista e preconceituosa em relação às mulheres é recorrente na sociedade, não apenas no

meio rural (Inocência, S. Bernardo) mas também na cidade (D. Casmurro), até hoje. Pereira, julgando agir

corretamente, priva a filha do conhecimento e do convívio, a pretexto de ela ser frágil, volúvel e impulsiva. O

provérbio depreciativo citado também é utilizado por Paulo Honorário.

e) Incorreta. Clarice Lispector, tanto nos textos citados (menos em “Uma amizade sincera”) como em “Cem anos de

perdão”, “O primeiro beijo”, “A mensagem”, “Os desastres de Sofia”, insistentemente apresenta as personagens

infantis e adolescentes, masculinos e femininos como “flores” desabrochando (para atrair “insetos”),

amadurecendo e descobrindo a sensualidade e o amor.

Comentário:

Talvez esta tenha sido a questão mais difícil da prova. Sem a leitura atenta e completa de Inocência e Urupês, o

candidato dificilmente acertaria a resposta.

Bom para os candidatos, especialmente nossos alunos que certamente estavam mais bem preparados que a

maioria dos concorrentes.

1. Correta. [Cirino] estava folheando o Chernoviz, cujas páginas mostravam contínuo manusear, algumas até

enriquecidas de notas e observações à margem.

Assim no artigo “opilação ou hipoemia intertropical havia ele escrito ao lado: “é o que chamam no sertão moléstia

de empalamado”. E, no fim, abrira grande chave para encerrar esta peremptória sentença: “Todos estes remédios

de nada servem. Sei de um muito violento (...), ensinado por Matias Pedroso, curandeiro da Vila do Prata, no sertão

da Farinha Podre, velho de muita prática e que conhecia todas as raízes e ervas do campo.

Só quem leu a obra teria conhecimento destes importantes detalhes para determinar com propriedade o papel dos

“curandeiros” e “milagreiros” bem (como Cirino) e mal intencionados que pululavam pelos sertões brasileiros.

2. Incorreta. Cirino aceita e até se sente envaidecido ao ser chamado e venerado como doutor. Mas é um rapaz

correto, íntegro e de boa índole como todo herói romântico.

3. Correta. Realmente Lobato cita a medicina do caboclo como um Chernoviz não escrito baseada em mesinhas,

tendo sempre como elemento essencial no composto a cachaça.

Comentário:

Outra questão envolvendo diversas obras. Valeu a pena dedicarmo-nos a um estudo aprofundado de cada livro e

comparativo do conjunto das obras indicadas.

CONHECIMENTOS EXIGIDOS

• Teoria literária: focos narrativos e metalinguagem

• Dom Casmurro

• Felicidade clandestina

• Inocência

• Urupês

• Leão-de-chácara

1. Correta. A metalinguagem realmente é uma característica recorrente nas obras “D. Casmurro e “Felicidade

clandestina”. Aliás, os títulos dos dois textos já evidenciam o teor metalinguístico.

2. Incorreta. O narrador adota um “ponto de vista externo”. Comenta e avalia as ações e opiniões dos personagens

sem se identificar com Meyer, que é um entusiasta pela biodiversidade brasileira.

3. Incorreta. Nas diversas narrativas em primeira pessoa, presentes na obra Urupês, o narrador não é o caipira,

mas o viajante que percorre o interior representado pela cidadezinha chamada Itaoca.

4. Correta. Mesmo no conto “Três cunhadas”, único narrado em terceira pessoa, a intenção do autor é apresentar a

realidade social e psicológica dos “merdunchos” que lutam para sobreviver no ambiente hostil das periferias e da

vida noturna das metrópoles.