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Aula 02. Aula 02. Direito Internacional Público p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof. Vanessa Arns. Autor: Vanessa Brito Arns

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Aula 02

Direito Internacional Público p/ Carreira

Jurídica 2021 (Curso Regular)-Prof.

Vanessa Arns

Autor:

Vanessa Brito Arns

(2)

Sumário

Considerações Iniciais ... 2

Personalidade Jurídica de Direito Internacional ... 2

1. Personalidade Jurídica ... 2

2. Estado: Personalidade e Imunidade à jurisdição Estatal ... 3

2.1 Classificação dos Estados ... 6

2.2 Sujeitos atípicos de Direito Internacional ... 8

2.3. Formação dos Estados ... 9

2.4 Reconhecimento do Estado ... 10

3. Imunidade de Jurisdição e Execução. ... 13

3.1 Imunidade Diplomática ... 15

4. Organizações Internacionais ... 17

4.1 Sanções ... 22

Legislação e Jurisprudência Destacadas ... 23

Resumo ... 24

Considerações Finais ... 42

Questões Comentadas ... 42 Vanessa Brito Arns

Aula 02

(3)

D

IREITO

I

NTERNACIONAL

P

ÚBLICO

C

ONSIDERAÇÕES

I

NICIAIS

Na aula de hoje vamos continuar os estudos da disciplina de Direito Internacional, com foco em Personalidade Jurídica de Direito Internacional, Estados, Organizações Internacionais e imunidades. Vejamos os tópicos específicos do edital que serão abordados em aula:

Atos internacionais. Convenção. Acordos. Ajuste. Protocolo. Personalidade internacional. Estado Imunidade à jurisdição estatal. Consulados e embaixadas

Estou à disposição se surgirem dúvidas! Boa aula!

P

ERSONALIDADE

J

URÍDICA DE

D

IREITO

I

NTERNACIONAL

1.

P

ERSONALIDADE

J

URÍDICA

A doutrina tradicional, representada por Francisco Rezek, atribui personalidade internacional apenas aos Estados e às organizações internacionais.

No entanto, com a evolução da sociedade internacional, a grande tendência é considerar que são sujeitos de direito internacional os Estados, as organizações internacionais e os

indivíduos.

O reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos decorre da evolução do direito internacional dos direitos humanos, que já reconhece que o indivíduo pode Vanessa Brito Arns

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peticionar perante cortes internacionais ou mesmo ser penalmente responsabilizado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional).

Embora apenas os Estados, as organizações internacionais e os indivíduos sejam considerados sujeitos de DIP, há outras entidades que participam da sociedade internacional. É o caso, por exemplo, das empresas transnacionais e das ONGs, que são, então, reconhecidas como atores

internacionais.

Os sujeitos de DIP (Estados, organizações internacionais e indivíduos) não possuem as mesmas prerrogativas. Os Estados podem celebrar tratados sobre quaisquer assuntos; já as organizações internacionais somente celebram tratados em áreas relacionadas às suas finalidades. Os indivíduos, por sua vez, não têm capacidade para celebrar tratados.

Segundo Rezek, o Estado constitui uma realidade física, já que possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento para sua existência fática.

Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento).

Por sua vez, as organizações internacionais possuem personalidade jurídica derivada, pois estas não existiriam caso não houvesse vontade dos Estados em criá-las.

Enquanto os Estados são uma realidade física, as organizações internacionais são uma

criação jurídica.

As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949.

Naquele ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer consultivo quanto à

possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte (representante da ONU no Oriente Médio)

2.

E

STADO

:

P

ERSONALIDADE E

I

MUNIDADE À JURISDIÇÃO

E

STATAL

O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o

único que possui plena capacidade jurídica no plano internacional.

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Segundo Accioly, pode-se definir o estado como agrupamento humano, estabelecido

permanentemente num território determinado e sob governo independente.

Da análise dessa definição, constata-se que, teoricamente, são quatro os elementos constitutivos do estado, conforme estabelece a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, firmada em Montevidéu, em 1933, que indica os seguintes requisitos:

a) População permanente; b) Território determinado; c) Governo;

d) Capacidade de entrar em relação com os demais estados

O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado por Estados para serem criadas. Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do Estado são o território, o povo e o

governo soberano.

O território é a dimensão física sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição geral e exclusiva,

ou seja, a dimensão material onde ele exerce seus poderes.

Geral porque, no âmbito do seu território, o Estado exerce todas as competências de ordem

legislativa, administrativa e jurisdicional. E

Exclusiva, porque tais competências são exercidas sem qualquer concorrência por parte de

outro poder.

A jurisdição do Estado sobre seu território não é, todavia, absoluta, uma vez que há pessoas e bens que não se submetem ao poder estatal, como, por exemplo, os diplomatas, as missões diplomáticas e organismos internacionais

A exigência de território determinado não deve ser entendida em sentido absoluto, ou seja, o

adjetivo determinado não significa que o território deva estar perfeitamente delimitado, conforme alguns poucos internacionalistas sustentam.

No caso da América Latina, por exemplo, os países foram reconhecidos internacionalmente, muito embora as suas fronteiras ainda não fossem definitivas.

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O mesmo fenômeno ocorre, mais recentemente, na África e na Ásia e na Europa nos anos 1990. É dado positivo para o direito internacional a utilização da Corte Internacional de Justiça como instância jurisdicional para solução de controvérsias, entre estados, em questões territoriais.

O povo é a dimensão pessoal do Estado, não se confundindo com a sua população.

Enquanto esta é formada pelo conjunto de pessoas que vivem com ânimo definitivo no seu território, incluindo nacionais e estrangeiros, a dimensão pessoal do Estado (povo) compreende a comunidade nacional, ou seja, o conjunto de seus nacionais. Na dimensão pessoal do Estado estão

incluídos, inclusive, os nacionais que tenham se estabelecido no exterior.

Segundo Rezek, o Estado exerce inúmeras competências inerentes à sua jurisdição

territorial sobre os estrangeiros residentes. Já em relação aos seus nacionais, o Estado

exerce jurisdição pessoal, em virtude do vínculo jurídico-político que une o indivíduo

ao Estado: a nacionalidade.

Para Accioly, por população entende-se a coletividade de indivíduos, nacionais e estrangeiros, que

habitam o território em determinado momento histórico; é a expressão demográfica ou conceito aritmético, quantitativo.

Não deve ser confundida com a palavra povo, que tem sentido sobretudo social, ou seja, povo em oposição a governo, ou parte da coletividade determinada pelo aspecto social.

O governo é a dimensão política do Estado e é quem exerce o poder soberano estatal. A Paz de

Westfália (1648), conforme já afirmamos anteriormente, é considerada um importante marco do direito internacional.E o é justamente porque os tratados celebrados naquela ocasião reconheceram pela primeira vez o poder soberano dos Estados sobre seus territórios, excluindo qualquer ingerência externa

A soberania é, portanto, atributo essencial do Estado, garantindo que sua vontade não

se subordine a qualquer outro poder nos planos interno e internacional. Com efeito, na ordem jurídica internacional não existe um poder superior ao dos Estados, o que torna a sociedade internacional descentralizada.

A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade entre os Estados, o

qual está insculpido na Carta das Nações Unidas.

Nas palavras de Portela, o poder soberano representa uma “supremacia sobre pessoas, bens e

relações jurídicas dentro de um determinado território”.

O direito internacional humanitário é, atualmente, um campo em que se pode perceber uma destacada interferência internacional nas questões internas.

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A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país.

Para Accioly o terceiro e o quarto* elementos constitutivos do estado – governo e capacidade de

manter relações com os demais estados – completam-se.

“Em outras palavras, é necessária a existência de governo soberano, isto é, de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior, e cujos únicos compromissos sejam pautados pelo próprio direito internacional.”

A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país.

A Convenção de Viena sobre relações diplomáticas (1961) prevê no preâmbulo que a Convenção

“contribuirá para o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, independentemente da diversidade dos seus regimes constitucionais e sociais”.

Dispositivos semelhantes foram incluídos nas convenções multilaterais assinadas posteriormente em matéria consular (1963) e de tratados (1969 e 1986).

2.1 Classificação dos Estados

Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser subdivididos em compostos por coordenação e compostos

por subordinação.

Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões internas.

Para Accioly, “Os estados simples são para o direito internacional os plenamente soberanos, em relação aos negócios externos, e sem divisão de autonomias, no tocante aos internos. Representam todo homogêneo e indivisível. Trata-se da forma mais comum de estado, sendo o tipo existente na maioria dos estados latino-americanos. “

No verdadeiro estado simples, todas as frações se encontram em pé de igualdade, isto é, sem a existência de colônias e protetorados. Os estados simples que, em parte se achavam sujeitos a regime especial, deixaram de existir com as Nações Unidas e a outorga da independência aos territórios sem governo próprio.

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Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia. Nesse caso, trata-se de um Estado simples descentralizado.

Quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as funções de índole administrativa, tratar-seá de um Estado simples centralizado.

Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados compostos por coordenação

e Estados compostos por subordinação. Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano.

Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França.

Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida somente pelo órgão central, sendo que cada um

dos Estados conserva a autonomia em suas questões internas.

Um exemplo bem claro de Estado composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos da União.

Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente detentores de sua soberania.

A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política no plano internacional.

As unidades estatais autônomas em uma federação não possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não possuem soberania.

Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União Federal).

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No Brasil, compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações

internacionais.

Apesar disso, admite-se que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizem

operações externas de natureza financeira como, por exemplo, a aquisição de empréstimos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). Entretanto, tais operações possuem natureza contratual (e não convencional) e são condicionadas à atuação da União, pois faz-se necessária a participação do Brasil na entidade e, ainda, a conclusão de um acordo de garantia. A realização desse tipo de operação externa de natureza financeira está, ainda, sujeita à autorização do Senado Federal, conforme art. 52, inciso V, da CF/88.

Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje em dia. Trata-se dos Estados

vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão “composto por subordinação”.

Nesse tipo de Estado, existe de um lado um ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende.

Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são chamados de microestados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2).

Segundo Rezek, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados.

Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências desses microestados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado vizinho, como a França, no caso de Mônaco.

2.2 Sujeitos atípicos de Direito Internacional

Além das classificações de diferentes categorias de estados, simples ou compostos, por coordenação ou por subordinação, cabe ainda brevemente lembrar alguns dos assim chamados sujeitos atípicos do direito internacional,

tais como a Santa Sé , o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, bem como a Soberana Ordem de

Malta, todos amplamente reconhecidos pela comunidade internacional, em razão das funções

relevantes que desempenham.

Segundo Accioly, a Soberana Ordem de Malta, historicamente ligada ao cuidado dos doentes e à gestão de hospitais para o cuidado de peregrinos e mercadores, remonta ao século XI.

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A Ordem manteve a sua característica principal, o caráter supranacional em sua organização e estrutura, mesmo durante os séculos em que exerceu soberania territorial.

Seus integrantes são nacionais de diferentes estados, que professam a fé católica. Desde o final do século XVIII, a Ordem perdeu o seu perfil militar, mas conserva as suas principais características: humanitária e assistencial (obsequium pauperum), bem como espiritual e religiosa. E tanto pertencer à aristocracia, como proferir votos monásticos, deixaram de ser requisitos para integrá-la.

A Ordem não é uma organização internacional, cuja existência derive da vontade de estados, por meio de tratado, como comprovam o seu percurso histórico e a sua condição atual.

Também não é uma ordem religiosa, como outras, submetida à Congregação para as ordens

religiosas da Igreja católica , nem tampouco é um estado, pois há mais de duzentos anos não depende de base territorial.

Mais de cem estados mantêm relações diplomáticas com a Ordem, e reconhecem a ela, e à sua missão diplomática, os privilégios e as imunidades do direito internacional costumeiro.

Desde 1994, a Assembleia-geral da ONU admitiu a Ordem como observador permanente, que antes já mantinha relações institucionais com diversas dentre as agências especializadas da ONU.

2.3. Formação dos Estados

Segundo Accioly,

A formação do estado, em nossos dias, pode ocorrer de três maneiras:

1. separação de parte da população e do território do estado já existente, subsistindo a personalidade internacional da mãe-pátria;

2. dissolução total do estado, não subsistindo a personalidade do antigo estado; 3. fusão de dois ou mais estados em um estado novo.

“Não faz muito tempo, essa qualidade era própria dos Estados, e deles exclusiva. Hoje é certo que outras entidades, carentes de base territorial e de dimensão demográfica, ostentam também a personalidade jurídica de direito das gentes, porque habilitadas à titularidade de direitos e deveres internacionais, numa relação imediata e direta com aquele corpo de normas. “

A grande maioria dos estados, surgidos nos séculos XIX e XX, nasceu mediante a separação de parte da população e do território do estado.

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No final do século XVIII e início do XIX, os países americanos surgiram dessa maneira, o mais das vezes depois de guerra de libertação, a exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos, os países hispano-americanos e o Brasil, com as suas especificidades.

Quanto à dissolução total do estado, não subsistindo a personalidade do antigo estado, o exemplo é o desmembramento da Tchecoslováquia realizou-se pacificamente, com o surgimento da República Checa e da Eslováquia. Ambas integram-se à União Europeia em 2004.

O terceiro modo de formação do estado – a fusão – ocorre quando o estado-núcleo absorve outras entidades, passando todos a formar um novo estado, isto é, mediante o desaparecimento da personalidade de todos, inclusive a do estado-núcleo.

A fusão poderá ocorrer pacificamente ou por meio de conquistas.

O exemplo clássico de estado por fusão é o da Itália, onde, em 1860, os ducados de Modena, Parma e Toscana e o Reino de Nápoles foram incorporados ao Reino da Sardenha e Piemonte, para formar o novo país , após séculos de divisão interna.

Com a formação do estado, surge o problema de seu reconhecimento internacional.

Ao ocorrer mudança de governo, em violação das normas constitucionais do estado, sobrevém o problema do reconhecimento de governo de fato.

As duas situações têm muito em comum, e o direito internacional estabelece regras bastante semelhantes, aplicáveis quer a um caso, quer ao outro, mas é importante salientar situações bem distintas.

2.4 Reconhecimento do Estado

Reunidos os elementos que constituem o estado, o governo da nova entidade buscará o seu reconhecimento pelos demais membros da comunidade internacional, pois a esta implicará a aplicação das normas de direito internacional.

No passado, o problema do reconhecimento das antigas colônias europeias nas Américas representou ato político jurídico sumamente importante e foi, na maioria dos casos, objeto de prolongadas e difíceis negociações, que envolviam as antigas metrópoles e os novos estados.

O exemplo do Brasil é típico: proclamada a independência em 7 de setembro de 1822, só foi obtido o seu reconhecimento pelo Rei de Portugal, em 29 de agosto de 1825, por meio do Tratado de Paz e Aliança, em que as condições do reconhecimento, até mesmo as de natureza financeira, achavam-se enumeradas 78 . Com anterioridade, apenas os

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Estados Unidos e a Argentina haviam reconhecido o Brasil; a partir daquela data todos os demais países estavam livres para fazê-lo.

Reconhecimento significa a decisão do governo de um estado existente de aceitar outra entidade como tal. Trata-se de ato jurídico, e tem este consequências jurídicas, mas na prática

constatam-se considerações políticas, e pesam sobretudo no ato de reconhecimento.

Tem-se discutido sobre se existe dever dos antigos estados de outorgar o reconhecimento a uma entidade que reúna os citados elementos constitutivos do estado; se em tese tal obrigação deveria existir, verifica-se ser a prática dos estados no sentido contrário. A natureza do reconhecimento do estado é tema sobre o qual a doutrina não chega a uma conclusão determinada: Para a maioria, o ato tem efeito declarativo, mas existe importante corrente que defende a tese contrária, ou seja, que o efeito é atributivo. O Institut de Droit International adotou resolução em Bruxelas, em 1936, cuja tese pendeu pelo efeito declarativo, ao afirmar que “é o ato livre pelo qual um ou mais Estados reconhecem a existência, em território determinado, de sociedade humana politicamente organizada,

independente de qualquer outro estado existente, e capaz de observar as prescrições do direito internacional”.

Posteriormente, o Instituto retomaria o tema, com Resoluções adotadas nas sessões de Siena (1952) e Vancouver (2001).

Se se atribui ao reconhecimento o efeito declarativo, o organismo que reúna todos os elementos constitutivos do estado tem o direito de ser assim considerado, e não deixa de possuir a qualidade de estado pelo fato de não ser reconhecido.

Para os defensores da tese atributiva ou constitutiva o reconhecimento, do ponto de vista do direito internacional, seria este o ato bilateral cuja atribuição da personalidade internacional aos estados se dá por consenso mútuo. Em outras palavras, há distinção entre o nascimento histórico e o nascimento da pessoa internacional

O reconhecimento de novos estados pode ser expresso ou tácito, mas deve sempre indicar claramente a intenção do estado que o pratica.

No primeiro caso, faz-se objeto de alguma declaração explícita numa nota, num tratado, num

decreto. No segundo caso, o reconhecimento resulta implicitamente de algum ato que torne

aparente o tratamento de novo estado como membro da comunidade internacional: é o caso, por exemplo, do início de relações diplomáticas ou o da celebração de um tratado com esse estado.

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Segundo muitos internacionalistas e de acordo com resolução do IDI, o reconhecimento pode também ser de jure ou de facto, sendo definitivo e completo o primeiro, e provisório ou limitado a certas relações jurídicas o segundo.

O reconhecimento pode igualmente ser individual ou coletivo, conforme emane de um só estado ou, ao mesmo tempo, de vários estados. De ato essencialmente individual, mais e mais se coloca o reconhecimento de estado como ato coletivo, relacionado à entrada do novo estado na

Organização das Nações Unidas

O reconhecimento é feito, em geral, sem condições, mas, como se trata de ato unilateral, pode ser subordinado a condições.

A inexecução ou desrespeito, por parte do novo estado, da condição ou condições estabelecidas deve determinar a suspensão ou anulação do reconhecimento. Por outro lado, o reconhecimento, feito sem condições, pode ser considerado como irrevogável. Ao mesmo tempo, se um estado cessa de existir ou perde definitivamente qualquer dos elementos essenciais cuja reunião determina o ato de reconhecimento, este se torna caduco.

Para Accioly, há regras precisas e absolutas sobre o momento oportuno para o reconhecimento. Parece, entretanto, que a esse respeito se podem admitir os três princípios seguintes:

1) se se trata de estado surgido de movimento de sublevação, o reconhecimento será prematuro enquanto não cessar a luta entre a coletividade sublevada e a mãe-pátria, a menos que esta, após luta prolongada, mostre-se impotente para dominar a revolta e aquela se apresente perfeitamente organizada como estado;

2) desde que a mãe-pátria tenha reconhecido o novo estado, este poderá ser logo reconhecido pelos demais membros da comunidade internacional;

3) se se trata de estado surgido por outra forma, este poderá ser reconhecido logo que apresente todas as características de estado organizado e demonstre, por atos, sua vontade e sua capacidade de observar os preceitos do direito internacional..

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3.

I

MUNIDADE DE

J

URISDIÇÃO E

E

XECUÇÃO

.

As imunidades dos estados em direito internacional são tradicionalmente apresentadas como a reunião de dois privilégios: a imunidade de jurisdição e a imunidade de execução.

A primeira permite ao estado não ser julgado pelos tribunais de outro estado, e a segunda de se opor à execução de seus bens em outro estado.

Desse enunciado e dessa divisão decorre tratar-se, em matéria de imunidades, não somente dos interesses dos estados, uns em relação aos outros, como de interesses de particulares que possam ser afetados pela extensão e pelo conteúdo atribuído às imunidades do estado

A extensão atribuída à imunidade do estado se reduz a alternativa simples: ou será afirmada como

absoluta, o que acarreta a exclusão de qualquer intervenção de juiz ou autoridade administrativa de

um estado, em qualquer controvérsia que diga respeito a estado estrangeiro, diretamente, bem como em relação às emanações deste, ou será relativa, de modo a comportar exclusões, com a necessidade de determinar o conteúdo e a extensão destas.

A escolha entre uma e outra acarreta consequências consideráveis: quanto mais extenso for o reconhecimento da imunidade, maior será a proteção do estado, e menos estará assegurada a proteção dos direitos do particular em face dos alegados direitos e prerrogativas do estado.

O exercício da jurisdição figura dentre os direitos básicos do estado, cujo pressuposto é o de que todas as pessoas e bens situados em seu território acham-se submetidos às suas leis e tribunais. O direito internacional admite, contudo, que certas pessoas possam continuar, em determinadas circunstâncias, sujeitas às leis civis e penais de seus próprios estados, ou seja, gozar do direito que se denomina extraterritorialidade, isto é, por ficção jurídica, seriam aqueles considerados como situados fora do território.

Trata-se evidentemente de restrição a direito fundamental do estado, mas, ao contrário do que ocorre nos outros casos, não há aqui imposição de estado mais forte sobre outro mais fraco.

Capítulo do direito internacional interpretado e aplicado de modo consistente é o das imunidades

jurisdicional e fiscal dos funcionários diplomáticos e consulares, reconhecido por todos os estados,

e codificado pela Convenção de Viena sobre relações diplomáticas (1961) e pela Convenção de Viena sobre relações consulares (1963)

Gozam de imunidade de jurisdição, ou extraterritorialidade: chefes de estado e governo; agentes

diplomáticos; determinadas categorias de cônsules; tropas estrangeiras, autorizadas a atravessar o território de estado ou de nele se instalarem temporariamente; oficiais e tripulantes de navios de

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guerra de um estado, aceitos em águas territoriais de outro; oficiais e tripulantes de aeronave militar autorizados a pousar em território estrangeiro.

A imunidade absoluta jamais constituiu princípio consuetudinário do direito internacional, visto que a condição de concordância dos precedentes, necessária para o nascimento de qualquer norma de costume internacional, não pôde ser satisfeita nessa matéria, enquanto a norma da imunidade

relativa torna-se princípio consuetudinário do direito internacional, em que a prática dos estados

tanto desenvolvidos como em vias de desenvolvimento é suficientemente constante e uniforme nesse sentido

A norma da imunidade relativa vale, sobretudo, em matéria de imunidade de jurisdição: “os estados

são os beneficiários diretos da imunidade de jurisdição, da qual gozam por princípio. Consequentemente, o ônus da prova da ausência de imunidade incumbirá à parte que a invoca” ,

e aos desmembramentos, ou emanações do estado pode ser admitida a extensão da imunidade de jurisdição, com a condição de que tenham atuado em nome e por conta do estado.

Em se tratando de desmembramentos ou emanações do estados, dotados de personalidade jurídica, somente deveriam beneficiar-se da imunidade de jurisdição, como exceção, em que incumbiria a estes o ônus da prova da natureza do ato, objeto do litígio. Inversamente, os órgãos destituídos de autonomia jurídica deveriam, como o próprio estado, beneficiar-se da imunidade, por questão de princípio, e ser dispensados do ônus de produzir prova acerca da natureza do ato praticado.

Os estados, bem como os seus desmembramentos ou as suas emanações, ficam privados do benefício da imunidade de jurisdição: quando a este benefício renunciaram; ou quando o litígio diga respeito a ato decorrente de direito privado, porquanto somente os atos soberanos são abrangidos pela imunidade. Aplicável em matéria de jurisdição, a norma da imunidade relativa vale, igualmente, em matéria de execução, observados os limites distintos para esta última.

O estado beneficia-se da imunidade de execução por questão de princípio. O ônus da prova da

ausência de imunidade incumbe, assim, à parte que a alega. Em relação, contudo, aos organismos dependentes do estado, mas titulares de personalidade jurídica distinta, somente podem eles se beneficiar da imunidade em caráter de exceção.

A imunidade de execução somente pode abarcar os bens destinados aos fins de exercício da soberania.

Consequentemente, outros bens podem ser objeto de execução por particulares que atuem, no Judiciário, em face do estado, de desmembramentos ou de emanações deste, uma vez produzida, em justiça, a prova da afetação de seus bens.

Algumas categorias de bens gozam de proteção reforçada em relação a qualquer medida de execução. Aí se enquadram os bens de propriedade dos bancos centrais, das autoridades militares e das missões diplomáticas.

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3.1 Imunidade Diplomática

A imunidade diplomática constitui derrogação da norma geral de subsunção de todos os nacionais

e estrangeiros, residentes ou de passagem pelo território do estado, e somente se justifica em decorrência da condição funcional do agente, a quem se reconhece o regime de exceção. O critério de interpretação deve nortear-se pelo necessário para a atuação profissional.

Não constitui privilégio atribuído ao agente, em caráter pessoal, mas decorre da função e da condição profissional, enquanto agente do serviço público de um estado, exercida no território de outro estado. Essa premissa deve bastar para situar o conjunto dos direitos e os desdobramentos destes.

Há necessidade de os agentes diplomáticos serem e manterem-se independentes da jurisdição civil e criminal do estado onde se acham acreditados, a fim de poderem tratar, com plena liberdade e a máxima franqueza, dos negócios inerentes às respectivas missões, o que lhes exige não seja aplicada a referida jurisdição.

Assim, tal imunidade tem sido admitida pela prática internacional. Fora consagrada pela Convenção de Havana, de 1928, sobre funcionários diplomáticos e mantém-se nos termos estipulados pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, em seu artigo 31.

Na imunidade diplomática está compreendida a faculdade geralmente reconhecida aos agentes acolhidos perante o estado onde se acham acreditados – na condição de agentes diplomáticos – de não comparecer a tribunal algum daquele país, ainda que seja para prestar testemunho a respeito de fatos de seu conhecimento. Admite-se, contudo, que solicitados por via diplomática, deem o seu testemunho, na sede da missão, a magistrado do país, que atua em delegação do estado para esse fim.

A referida imunidade diplomática não exime nem pode ser invocada como excusa para o agente diplomático, em relação à obrigação deste, respeitar os regulamentos locais referentes à segurança dos cidadãos, à saúde pública, às normas de trânsito etc., contanto que sejam de ordem geral e não restrinjam, de modo algum, o exercício efetivo dos seus deveres.

A imunidade diplomática em relação à jurisdição criminal é mais acentuada do que em relação à jurisdição civil, pois esta última sofre algumas exceções, ao passo que, quanto à primeira, a única exceção admitida é a da renúncia à imunidade por parte do governo do agente em causa. A renúncia compete ao governo e, portanto, o agente não deve manifestá-la senão depois de devidamente autorizado. Mas parece que a declaração de renúncia, feita pelo agente, deve bastar para as autoridades locais

Para Accioly, os casos em que o princípio da imunidade de jurisdição civil comporta exceções podem resumir-se nos seguintes:

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1º) o agente renuncia expressamente à imunidade, submetendo-se à jurisdição local; 2º) o próprio agente diplomático recorre à jurisdição local, na qualidade de autor;

3º) em ações reais relativas a bens imóveis, possuídos no território do estado onde o agente exerce suas funções;

4º) em ações resultantes de compromissos por ele assumidos no exercício de outra profissão que porventura tenha desempenhado, simultaneamente, com as funções diplomáticas, no país onde se acha acreditado;

5º) quando o agente é nacional do estado junto a cujo governo está acreditado. Em todo caso, tem-se por assente que nenhuma execução deverá ser levada a efeito quando importe em medida contra a pessoa do agente ou contra os bens indispensáveis ao exercício de sua missão.

O artigo 31 da Convenção de Viena estipula que o agente diplomático não gozará de imunidade de jurisdição civil e administrativa se se tratar de:

a) ação real sobre imóvel privado situado no território do estado acreditado, salvo se o agente diplomático possuir por conta do estado acreditante para os fins da missão;

b) ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário;

c) ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no estado acreditado fora de suas funções oficiais. A imunidade de jurisdição civil não impede que os credores de funcionário diplomático se dirijam aos tribunais do país do devedor. O Código Penal brasileiro reconhece a competência da justiça brasileira no tocante a crimes cometidos por nacionais no exterior.

A imunidade de jurisdição civil não impede que os credores de funcionário diplomático se dirijam aos tribunais do país do devedor. O Código Penal brasileiro reconhece a competência da justiça brasileira no tocante a crimes cometidos por nacionais no exterior.

Isenção Fiscal

A Convenção de Viena trata em seu artigo 34 da isenção fiscal das missões e dos agentes diplomáticos. Esta era considerada privilégio, tendo por fundamento a cortesia (comitas gentium). Atualmente, diante de seu reconhecimento pela Convenção, trata-se de direito internacional positivo cuja justificação igualmente se dá em caráter funcional e baseada na reciprocidade de

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tratamento entre estados, para os respectivos agentes, em seus respectivos territórios e jurisdições fiscais.

Embora o artigo 34 só mencione o agente diplomático, convém salientar que algumas das isenções se aplicam à própria missão, como é o caso do material importado para fins da missão. A isenção dos impostos e taxas sobre o imóvel também lhe diz respeito. A Convenção enumera os impostos e taxas que o agente diplomático está obrigado a pagar: impostos indiretos

A Convenção enumera os impostos e taxas que o agente diplomático está obrigado a pagar: impostos indiretos que normalmente incidem sobre a mercadoria ou o serviço; impostos e taxas sobre os imóveis possuídos pelo diplomata a título privado, assim como os registros de hipoteca; custas judiciais e impostos de selo relativos a tais bens imóveis. A Convenção ainda se refere a impostos e taxas que incidam sobre remuneração relativa a serviços específicos prestados no estado acreditado.

Esse dispositivo é complementado, sob certo sentido, pelo artigo 42, cuja redação prevê que o agente diplomático não exercerá no país nenhuma atividade profissional ou comercial em proveito próprio.

4.

O

RGANIZAÇÕES

I

NTERNACIONAIS

A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-se originária, enquanto derivada a

das organizações. O Estado, com efeito, não tem apenas precedência histórica: ele é antes de tudo uma realidade física, um espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos.

A organização internacional carece dessa dupla dimensão material. Ela é produto exclusivo de uma

elaboração jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados. Por isso se pode afirmar que o tratado constitutivo de toda organização internacional tem, para ela, importância superior à da constituição para o Estado.

A existência deste último não parece condicionada à disponibilidade de um diploma básico. O Estado é contingente humano a conviver, sob alguma forma de regramento, dentro de certa área territorial, sendo certo que a constituição não passa do cânon jurídico dessa ordem. A organização internacional, de seu lado, é apenas uma realidade jurídica: sua existência não encontra apoio senão no tratado constitutivo, cuja principal virtude não consiste, assim, em disciplinarlhe o funcionamento, mas em haverlhe dado vida, sem que nenhum elemento mate rial preexistisse ao ato jurídico criador.

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Uma das grandes tendências evolutivas do Direito Internacional do pós-Segunda Guerra Mundial é a institucionalização, que se caracteriza pelo fato de que ele deixa de regular apenas as relações interestatais, tornando-se mais presente nas organizações internacionais.

A complexidade das relações internacionais advinda da globalização gerou nos Estados a percepção de que há problemas comuns da humanidade, os quais não podem ser resolvidos por nenhum deles

isoladamente.

Segundo Accioly, as organizações internacionais multiplicam-se à medida que aumenta a conscientização a respeito dos problemas especificamente internacionais. Tais problemas, por não poderem ser enfrentados por um só Estado, exigem a cooperação internacional.

A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 estabelece um conceito bem simples, segundo o qual as organizações internacionais são organizações intergovernamentais. Apesar de não estar errado, a doutrina majoritária entende que esse conceito não é suficiente para descrever essas entidades.

Um conceito bem mais complexo nos é apresentado por Mazzuoli, segundo o qual organização internacional é uma “associação voluntária de Estados, criada por um convênio constitutivo e com finalidades pré-determinadas, regida pelas normas do direito internacional, dotada de personalidade jurídica distinta da dos seus membros, que se realiza em organismo próprio, dotada de autonomia e especificidade, possuindo ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares, por meio dos quais realiza os propósitos comuns dos seus membros, mediante os poderes próprios que lhes são atribuídos por estes.“

1) São associações voluntárias de Estados: As organizações internacionais surgem como

consequência da manifestação de vontade de sujeitos de direito internacional público, isto é, de Estados. Dessa forma, não podem ser constituídas de pessoas jurídicas de direito interno, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas.

2) São criadas por convênio constitutivo: As organizações internacionais surgem a partir da

celebração de tratados multilaterais, os quais são usualmente denominados tratados constitutivos. O tratado constitutivo é o que dá vida a uma organização internacional, podendo ser considerado uma verdadeira “Constituição” para esse organismo.

É no tratado constitutivo que se define, dentre outros, a estrutura da organização, o processo decisório, os objetivos e as competências dos seus órgãos. Para Rezek, a existência de uma organização internacional tem apoio no seu tratado constitutivo, cuja principal virtude consiste em haver-lhe dado vida

Por vezes, o tratado que institui uma organização internacional lhe atribui explicitamente personalidade jurídica de direito internacional. Entretanto, isso não é algo que seja obrigatório e a

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personalidade jurídica das organizações internacionais nasce, muitas vezes, de forma implícita, a partir da definição de seus órgãos e respectivas competências. Se uma organização internacional possui capacidade para celebrar tratados em seu próprio nome, existe aí forte indicativo de sua personalidade internacional.

3) Possuem personalidade jurídica distinta da dos seus membros: As organizações internacionais

possuem personalidade jurídica de direito internacional derivada, já que surgem a partir da vontade de alguns Estados, que as criam por meio de um tratado, o qual podemos chamar de tratado constitutivo.

Em virtude de terem personalidade jurídica própria, as organizações internacionais possuem autonomia em suas decisões, as quais são emanadas abstraindo-se da vontade individual de cada um de seus membros em prol de uma vontade coletiva. Assim, diz-se que as organizações internacionais possuem vontade própria, independente da vontade de seus membros.

Modernamente, as decisões das organizações internacionais são consideradas, por parte da doutrina, como fonte do direito internacional público, apesar de não terem sido relacionadas pelo art. 38 do Estatuto da CIJ.

Por possuírem personalidade jurídica de direito internacional, as organizações internacionais possuem capacidade para usufruir direitos e contrair obrigações no plano internacional. Nesse sentido, possuem capacidade para celebrar tratados, a qual está regulada pela Convenção de Viena de 1986.

A atuação no plano internacional dessas organizações não é tão ampla quanto a dos Estados soberanos. Enquanto os Estados podem celebrar tratados relativamente a qualquer objeto, contanto que este seja lícito (que não viole as normas jus cogens), as organizações internacionais detêm capacidade convencional restrita, limitada aos objetivos e propósitos para os quais foram criadas.

4) São instituições permanentes: As organizações internacionais são entidades criadas com

objetivos determinados em seu tratado constitutivo e, portanto, devem ser estruturadas para alcançá-los. Nesse sentido, seria incoerente que as organizações internacionais fossem entidades de natureza “ad hoc”. Inegavelmente, a estabilidade das relações internacionais reclama a existência de instituições permanentes, adequadamente estruturadas para alcançar determinados fins. , que as criam por meio de um tratado, o qual podemos chamar de tratado constitutivo.

Segundo Francisco Rezek, as organizações internacionais podem ser classificadas quanto

ao seu alcance e quanto ao seu domínio temático. Quanto ao alcance, elas podem ser

organizações internacionais de alcance universal ou organizações internacionais de alcance regional.

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As organizações internacionais são entidades com objetivos e áreas de atuação diferenciadas. Algumas delas exercem suas funções somente em âmbito regional; outras têm alcance universal, não ficando sua atuação limitada a uma região.

Organizações internacionais de alcance universal seriam aquelas que têm uma propensão para reunir em torno de si a totalidade dos Estados soberanos.

Como exemplos de organizações internacionais de alcance universal podemos citar a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMC (Organização Mundial de Comércio), a OMA (Organização Mundial de Aduanas) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Organizações internacionais de alcance regional, ao contrário, são aquelas que reúnem unicamente países de uma determinada região, como por exemplo, a OEA (Organização dos Estados Americanos), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o MERCOSUL.

Quanto ao domínio temático, podemos classificar as organizações internacionais em organizações de vocação política ou organizações de vocação específica.

As organizações internacionais de vocação política são aquelas que têm como objetivo principal a preservação da paz e segurança mundiais.

Como exemplos de organizações internacionais de vocação política podemos citar a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos).

As de vocação específica, por sua vez, seriam aquelas que se ocupam de temas mais especializados – finalidade econômica, financeira, cultural ou estritamente técnica. Exemplos de organizações internacionais de vocação específica seriam a OMC (Organização Mundial de Comércio), a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a OMA (Organização Mundial de Aduanas).

As organizações internacionais de alcance universal e domínio específico são as “agências especializadas” da ONU – UNESCO, UNICEF, FAO.

Normalmente, os mesmos membros que fazem parte da ONU integram também essas organizações internacionais de alcance universal e domínio específico, o que permite que decisões tomadas no âmbito da ONU estabeleçam diretrizes para essas organizações. Cabe destacar que as agências especializadas da ONU possuem personalidade jurídica de direito internacional própria.

As organizações internacionais de alcance regional e domínio político são aquelas que buscam, em escala regional, manter a paz e a segurança entre seus membros – OEA (Organização dos Estados Americanos) e OUA (Organização da Unidade Africana), por exemplo.

As organizações internacionais de alcance regional e domínio específico seriam as organizações regionais de cooperação e integração econômica, como a União Europeia, a ALADI (Associação

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Latino-Americana de Integração), o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e o MERCOSUL.

Segundo a classificação de Accioly as organizações internacionais podem ter objetivos

generalizados ou específicos.

A ONU seria o melhor exemplo de organização de objetivos generalizados, possuindo esfera de atuação que se estende a várias áreas diferentes – cooperação econômica, social, política e científica.

As organizações internacionais podem classificar-se segundo o seu processo decisório em

supranacionais e intergovernamentais.

Exemplo de organização supranacional é a União Europeia, que possui órgãos que proferem decisões que são automaticamente vinculantes e obrigatórias para todos os Estados-membros, independentemente de ratificação.

O MERCOSUL, por sua vez, é uma organização intergovernamental, o que resulta no fato de que as decisões de seus órgãos deverão ser internalizadas no ordenamento jurídico de todos os seus membros para que possam entrar em vigor.

As organizações internacionais também podem ser classificadas, quanto à participação dos Estados, em abertas ilimitadamente (é possível o ingresso de qualquer Estado), abertas limitadas (é autorizado o ingresso de apenas alguns Estados) ou fechadas (não se permite o ingresso de nenhum Estado além dos membros originários).

Ao contrário dos Estados, que possuem um território, as organizações internacionais são, nas palavras de Rezek, carentes de uma base territorial.

Nesse sentido, para que possam desempenhar suas atividades, é necessário que os órgãos constitutivos das organizações internacionais sejam instalados fisicamente no território de algum Estado. Para que a organização internacional se instale, no entanto, no território desse Estado, é necessário a celebração de um tratado bilateral entre este e a organização, conhecido como acordo de sede. Cabe destacar que o acordo de sede pode ser celebrado entre a organização internacional e qualquer Estado, que não precisa, necessariamente, ser um Estado-membro.

Nada impede que uma organização internacional celebre vários acordos de sede e seus órgãos estejam localizados em países diferentes.

A ONU, por exemplo, celebrou acordos de sede não só com os Estados Unidos – onde está localizada sua sede principal -, mas também com a Suíça – o seu escritório na Europa está localizado em

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As organizações internacionais possuem privilégios tanto no seu lugar de sede quanto no território de outros Estados, sejam estes Estados-membros ou não.

Os representantes das organizações internacionais gozam de privilégios semelhantes àqueles

concedidos aos integrantes do corpo diplomático de um Estado. Da mesma forma, as instalações e

os bens móveis das organizações internacionais possuem a garantia de inviolabilidade.

Com relação à imunidade à jurisdição, há uma diferença essencial quanto à forma que esta se aplica aos Estados e às organizações internacionais.A doutrina mais moderna considera que o Estado

somente possui imunidade à jurisdição quanto pratica atos de império (e não quando pratica atos

de gestão).

Seguindo essa ideia (de imunidade relativa), o STF já decidiu que o Estado estrangeiro não goza de

imunidade à jurisdição brasileira em causas de natureza trabalhista. Para a doutrina, as

organizações internacionais também gozam de imunidade à jurisdição estatal. No entanto, trata-se

aqui de imunidade absoluta, que engloba assuntos de natureza trabalhista ou qualquer outro.

Dessa forma, no caso das organizações internacionais, as causas de natureza trabalhista não excepcionam a regra imunizante. Cabe destacar que, ao contrário do que ocorre em relação aos Estados – cuja imunidade deriva de regra costumeira -, a imunidade das organizações internacionais decorre de seu tratado constitutivo ou de tratados bilaterais específicos.

4.1 Sanções

No art. 5º da Carta da ONU, existe a previsão de que um Estado tenha os direitos e privilégios decorrentes de sua condição de membro suspensos, através de decisão da Assembleia Geral da ONU, mediante recomendação do Conselho de Segurança.

Outra forma de sanção prevista na Carta da ONU se refere à suspensão do direito de voto em Assembleia Geral do Estado em atraso no pagamento da parcela que deve à receita da organização. Por fim, como exemplo da possibilidade de sanção na forma de expulsão, destacamos o art. 6º da Carta da ONU, que estabelece que o Estado-membro das Nações Unidas que viole persistentemente os princípios contidos na referida Carta, poderá ser expulso da organização pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança.

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L

EGISLAÇÃO E

J

URISPRUDÊNCIA

D

ESTACADAS

No Brasil, a matéria das imunidades diplomáticas não se encontra amparada por textos legislativos e evolui segundo a construção jurisprudencial dos tribunais,

Temos, a julgar pelas decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, um predomínio da tese da imunidade jurisdicional absoluta, conforme decisões a seguir destacadas:

EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. DIREITO CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (ONU/PNUD). RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. CONVENÇÃO SOBRE PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇÕES UNIDAS (DECRETO 27.784/1950). APLICAÇÃO. 1. Segundo estabelece a “Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas”, promulgada no Brasil pelo Decreto 27.784, de 16 de fevereiro de 1950, “A Organização das Nações Unidas, seus bens e haveres, qualquer que seja seu detentor, gozarão de imunidade de jurisdição, salvo na medida em que a Organização a ela tiver renunciado em determinado caso. Fica, todavia, entendido que a renúncia não pode compreender medidas executivas”. 2. Esse preceito normativo, que no direito interno tem natureza equivalente a das leis ordinárias, aplica-se também às demandas de natureza

trabalhista. 3. Recurso extraordinário provido.

ESTADO ESTRANGEIRO. IMUNIDADE JUDICIÁRIA. CAUSA TRABALHISTA. NÃO HÁ IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO PARA O ESTADO ESTRANGEIRO, EM CAUSA DE NATUREZA TRABALHISTA. EM PRINCÍPIO, ESTA DEVE SER PROCESSADA E JULGADA PELA JUSTIÇA DO TRABALHO, SE AJUIZADA DEPOIS DO ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 (ART. 114). NA HIPÓTESE, POREM, PERMANECE A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL, EM FACE DO DISPOSTO NO PARAGRAFO 10 DO ART. 27 DO A.D.C.T. DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, C/C ART. 125, II, DA E.C. N. 1/69. RECURSO ORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA SE AFASTAR A IMUNIDADE JUDICIÁRIA RECONHECIDA PELO JUÍZO FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU, QUE DEVE PROSSEGUIR NO JULGAMENTO DA CAUSA, COMO DE DIREITO.

(ACi 9696, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/1989, DJ 12-10-1990 PP-11045 EMENT VOL-01598-01 PP-00016 RTJ VOL-00133-01 PP-00159)

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R

ESUMO

PERSONALIDADE JURÍDICA DE DIREITO INTERNACIONAL 1. PERSONALIDADE JURÍDICA

A doutrina tradicional, representada por Francisco Rezek, atribui personalidade internacional apenas aos Estados e às organizações internacionais.

No entanto, com a evolução da sociedade internacional, a grande tendência é considerar que são sujeitos de direito internacional os Estados, as organizações

internacionais e os indivíduos.

O reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos decorre da evolução do direito internacional dos direitos humanos, que já reconhece que o indivíduo pode peticionar perante cortes internacionais ou mesmo ser penalmente responsabilizado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional).

Embora apenas os Estados, as organizações internacionais e os indivíduos sejam considerados sujeitos de DIP, há outras entidades que participam da sociedade internacional. É o caso, por exemplo, das empresas transnacionais e das ONGs, que são, então, reconhecidas como atores internacionais.

Os sujeitos de DIP (Estados, organizações internacionais e indivíduos) não possuem as mesmas prerrogativas. Os Estados podem celebrar tratados sobre quaisquer assuntos; já as organizações internacionais somente celebram tratados em áreas relacionadas às suas finalidades. Os indivíduos, por sua vez, não têm capacidade para celebrar tratados.

Segundo Rezek, o Estado constitui uma realidade física, já que possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento para sua existência fática. Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento).

Por sua vez, as organizações internacionais possuem personalidade jurídica derivada, pois estas não existiriam caso não houvesse vontade dos Estados em criá-las.

Enquanto os Estados são uma realidade física, as organizações internacionais são uma criação jurídica.

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As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949.

Naquele ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer consultivo quanto à possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte (representante da ONU no Oriente Médio)

2. ESTADO: PERSONALIDADE E IMUNIDADE À JURISDIÇÃO ESTATAL

O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o único que possui plena capacidade jurídica no plano internacional.

Segundo Accioly, pode-se definir o estado como agrupamento humano, estabelecido permanentemente num território determinado e sob governo independente.

Da análise dessa definição, constata-se que, teoricamente, são quatro os elementos constitutivos do estado, conforme estabelece a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, firmada em Montevidéu, em 1933, que indica os seguintes requisitos:

a) População permanente; b) Território determinado; c) Governo;

d) Capacidade de entrar em relação com os demais estados

O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado por Estados para serem criadas.

Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do Estado são o território, o povo e o governo soberano.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTADOS Vanessa Brito Arns

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Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser subdivididos em compostos por coordenação e compostos por subordinação.

Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões internas.

No verdadeiro estado simples, todas as frações se encontram em pé de igualdade, isto é, sem a existência de colônias e protetorados. Os estados simples que, em parte se achavam sujeitos a regime especial, deixaram de existir com as Nações Unidas e a outorga da independência aos territórios sem governo próprio.

Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia.

Nesse caso, trata-se de um Estado simples descentralizado.

Quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as funções de índole administrativa, tratar-seá de um Estado simples centralizado.

Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados compostos por coordenação e Estados compostos por subordinação. Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano.

Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França.

Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida somente pelo órgão central, sendo que cada um dos Estados conserva a autonomia em suas questões internas. Um exemplo bem claro de Estado composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos da União.

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Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente detentores de sua soberania.

A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política no plano internacional.

As unidades estatais autônomas em uma federação não possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não possuem soberania.

Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União Federal).

Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje em dia. Trata-se dos Estados vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão “composto por subordinação”. Nesse tipo de Estado, existe de um lado um ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende.

Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são chamados de microestados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2).

Segundo Rezek, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados.

Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências desses microestados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado vizinho, como a França, no caso de Mônaco.

2.2 SUJEITOS ATÍPICOS DE DIREITO INTERNACIONAL

Além das classificações de diferentes categorias de estados, simples ou compostos, por coordenação ou por subordinação, cabe ainda brevemente lembrar alguns dos assim chamados sujeitos atípicos do direito internacional,

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tais como a Santa Sé , o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, bem como a Soberana Ordem de Malta, todos amplamente reconhecidos pela comunidade internacional, em razão das funções relevantes que desempenham.

Segundo Accioly, a Soberana Ordem de Malta, historicamente ligada ao cuidado dos doentes e à gestão de hospitais para o cuidado de peregrinos e mercadores, remonta ao século XI.

A Ordem manteve a sua característica principal, o caráter supranacional em sua organização e estrutura, mesmo durante os séculos em que exerceu soberania territorial. Seus integrantes são nacionais de diferentes estados, que professam a fé católica. Desde o final do século XVIII, a Ordem perdeu o seu perfil militar, mas conserva as suas principais características: humanitária e assistencial (obsequium pauperum), bem como espiritual e religiosa. E tanto pertencer à aristocracia, como proferir votos monásticos, deixaram de ser requisitos para integrá-la.

A Ordem não é uma organização internacional, cuja existência derive da vontade de estados, por meio de tratado, como comprovam o seu percurso histórico e a sua condição atual.

Também não é uma ordem religiosa, como outras, submetida à Congregação para as ordens religiosas da Igreja católica , nem tampouco é um estado, pois há mais de duzentos anos não depende de base territorial.

Mais de cem estados mantêm relações diplomáticas com a Ordem, e reconhecem a ela, e à sua missão diplomática, os privilégios e as imunidades do direito internacional costumeiro.

Desde 1994, a Assembleia-geral da ONU admitiu a Ordem como observador permanente, que antes já mantinha relações institucionais com diversas dentre as agências especializadas da ONU.

2.3. FORMAÇÃO DOS ESTADOS

A formação do estado, em nossos dias, pode ocorrer de três maneiras:

1. separação de parte da população e do território do estado já existente, subsistindo a personalidade internacional da mãe-pátria;

2. dissolução total do estado, não subsistindo a personalidade do antigo estado; 3. fusão de dois ou mais estados em um estado novo.

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