PARTE II – O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS COMPETÊNCIAS EM CONDIÇÕES ESPECIAIS
2.4.2.1 1ª SESSÃO DA 2ª FASE DE INTERVENÇÃO
Participaram desta sessão quatorze mães. O objetivo foi promover uma situação onde as mães pudessem não apenas refletir sobre o seu papel mediador no processo de desenvolvimento da criança deficiente visual, mas, sobretudo, proporcionar-lhes a oportunidade de planejar uma atividade prática lúdica pedagógica, com a finalidade de vivenciarem o referido papel que lhes compete enquanto sujeitos adultos competentes e em desenvolvimento. Assim, nesta sessão, foi apresentada às mães uma proposta para o planejamento da Oficina Pedagógica.
O procedimento adotado para a efetivação dessa proposta foi a formação de pequenos grupos de trabalho para o planejamento da Oficina Pedagógica, com a mediação da pesquisadora. Assim, dois grupos foram formados por cinco mães, cada, e um grupo, formado por quatro mães. Cada grupo teve como tarefa a elaboração de uma atividade lúdica pedagógica para que fosse desenvolvida com as crianças na sessão seguinte. O papel de mediadora, desempenhado pela pesquisadora, abrangeu, pelo menos, três aspectos fundamentais: a escolha das atividades; o planejamento dessas atividades para o intervalo de tempo de 10 a 15 minutos e, sobretudo, a troca de idéias no grupo. Coube às mães a provisão e a solicitação à instituição do material necessário para as atividades.
Tabela 5: Transcrição e análise dos extratos da 1ª sessão da 2ª fase de intervenção.
ATOS DA FALA ESFERAS CATEGORIAS
P: “Gente, quero fazer uma proposta pra vocês, pra gente fazer aqui na escola... Olha já que nós estamos aprendendo sobre a importância da brincadeira para a educação e ensino dos filhos de vocês, que tal se agente formasse alguns grupos e cada grupo elabora uma atividade pra fazer com as crianças depois? Aí nós podemos filmar e depois assistir a fita e fazer uma porção de análises sobre o que foi feito, como foi feito, como vocês se sentiram, como as crianças participaram. Porque não podemos esquecer que nós estamos aprendendo, não é? O que vocês acham da proposta?”
R: “É boa...”
(Nesse momento todas as mães começam a falar ao mesmo tempo em consenso: que não queriam ser observadas.)
MI: “Todo mundo vai ficar vendo a gente?... isso não!”
P: “Não, ninguém vai observar vocês, nós podemos fazer as atividades na sala de aula, na hora do recreio, pedimos para a professora sair e fazemos as atividades. Pode ser assim?”
Em Coro: “Pode”. Acional Contratual. Avaliação Interação. Interação. Avaliação Interação. Contratual Acional. Interação Contratual - Propor - Incitar - Engajamento. - Validar - Conformar. - Contestar. - Tomar posição - Complementar.
- Regular comunicação conforme os objetivos
- Propor.
- Conformar
AN: “Se for lá pra outra semana eu não posso... não vou poder ir.”
S: “Isso é uma desculpa pra não fazer esse tipo de trabalho, porque a gente só tem essa chance, essa oportunidade pra ficar próximo do filho e a gente arruma uma desculpa... “eu tenho que ir ao médico, eu tenho...” Esse dia vai ser especial para os filhos de vocês e para vocês também. Procurem não ter compromisso para esse dia.”
P: “Então olha só, cada grupo vai falar pra todo mundo o quê vai fazer e que material vai precisar, ta?”
P: “Grupo I, meninas o grupo de vocês decidiu o quê?”
AN: “Música, muita música...”
P: “Vocês vão trabalhar com música e o que mais?”
AN: “Partes do corpo.”
P: “Partes do corpo. Aquela brincadeira de apontar as partes do corpo... ou não?”
AN: “Não, aquela da fruta!”
P: “AH! Aquela da fruta que vocês podem fazer estátua junto, né?”
Avaliar. Avaliar Acional Contratual. Interação Acional. Informação Acional. Informação Acional Avaliação Informação Avaliação - Justificar. - Criticar - Incitar - Exortar
- Regular a comunicação conforme os objetivos. - Desafiar - Incitar. - Explicitar - Incitar - Explicitar - Incitar - Avaliar - Explicitar - Validar
L: “Tem outra que é melhor, que é assim (cantando): cabeça, ombro, joelho e pé, joelho e pé...”
P: “Então vocês vão precisar do CD, né? Eu vou pegar com as meninas.”
P: “Esse grupo aqui, então, vamos lá?”
R: “É um teatro.”
P: “É um teatro, já escolheram a...”
R: “Do chapeuzinho vermelho.”
P: “E vocês do grupo III, o que vão fazer?”
MI: “É um fantoche.”
C: “Se a gente tivesse um pouco mais de tempo...”
P: “Ah! Vocês querem um tempo maior pra planejar ou pra fazer outra oficina?”
C: “É porque assim, nosso contato com eles é muito pouco, entendeu? Então seria bom duas vezes, essa vez e mais outra.” (refere-se a outra oficina).
P: “Podemos pensar nisso após avaliarmos como será esta, ok?”
Interação Avaliação Interação Acional Acional. Informação Informação Informação Acional. Informação Acional. Avaliação Acional Avaliação Acional. Avaliação Acional - Complementar - Tomar posição. - Complementar - Se engajar - Incitar. - Explicitar - Explicitar - Explicitar - Incitar. - Explicitar - Propor. - Validar - Incitar - Justificar - Propor. - Validar - Propor
P: “Então está tudo pronto, não é? Vamos fazer as atividades com as crianças no dia 05/11, na hora do recreio, vamos chegar um pouco mais cedo, certo?”
Contratual Acional
- Gestão das atividades - Se engajar.
2.4.2.2 - Análise da 1ª sessão da 2ª fase
Antes das interlocuções contidas na tabela 5 e após a proposta apresentada pela pesquisadora ao grupo de mães, o que se pôde observar pelo registro em vídeo foi uma grande dificuldade das mães em se agruparem conforme a proposta. O vídeo também mostra que as mães sugeriam as atividades de modo aleatório, sem argumentos para fundamentá-los, de maneira que, durante cerca de trinta minutos da sessão, as mães verbalizaram como se estivessem falando consigo mesmas e sem indícios de que estavam ouvindo as propostas umas das outras.
O papel de mediadora, desempenhado pela pesquisadora, foi fundamental na sistematização das propostas, bem como na própria dinâmica interativa do grupo, no sentindo de chegar a um consenso. Podemos afirmar que essa mediação foi fundamental para que, nos trinta minutos seguintes da sessão, houvesse um aumento da esfera da interação entre as mães, e não apenas entre a pesquisadora e uma ou outra participante, como evidenciado nas sessões anteriores.
As trocas verbais entre as mães evidenciaram o surgimento mais efetivo das esferas contratual e acional. As mães assumiram, assim, maior engajamento na atividade proposta. As categorias de contestação e justificativas também foram evidenciadas nas falas interativas, no que se refere à busca de argumentos que se contrapusessem à proposta de filmagem e à busca de justificativas para a ausência no dia estabelecido para o trabalho com as crianças. A contestação também foi um ato de fala importante, constatado no momento em que uma mãe criticava as “desculpas” das outras mães.
Foi significativo, também nesta sessão, o aumento da esfera acional nas interlocuções evidenciadas, tanto entre a pesquisadora e as mães, quanto entre as mães. Essas interlocuções demonstraram que se iniciou um processo de encadeamento das ações das mães, indicando que elas começaram não apenas a avaliar e a reconhecer suas competências já desenvolvidas, mas, sobretudo, a reconhecer e a se engajarem na construção das novas competências necessárias para a intervenção com as crianças. Com relação a esse aspecto — e como já dito antes —, podemos notar que a pesquisadora desempenhou um papel de mediadora, procurando estabelecer interlocuções que gerassem as categorias dos atos da fala de avaliação, de propostas, de incitação e de engajamento, por parte das mães, na realização da Oficina Pedagógica proposta.
Um outro aspecto muito importante a ser salientado na análise desta sessão foi o fato de uma das participantes ter apresentado, por meio da interação e do engajamento na atividade, uma proposta para a continuidade das Oficinas Pedagógicas: por meio de um ato da fala na esfera acional, uma das mães propôs que fosse disponibilizado mais tempo para a realização de mais uma Oficina Pedagógica além da proposta.
A sessão seguinte consistiu na realização da Oficina Pedagógica propriamente dita, dando continuidade à ação planejadora realizada nesta sessão.