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PARTE II – O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS COMPETÊNCIAS EM CONDIÇÕES ESPECIAIS

2.4.2.3 2ª SESSÃO DA 2ª FASE DE INTERVENÇÃO

Esta sessão teve como objetivo a realização da Oficina Pedagógica, planejada na sessão anterior pelas mães. Participaram desta sessão dez mães, dezessete crianças e a pesquisadora.

Institucionalmente, algumas medidas foram adotadas, tais como: o agendamento prévio com a professora responsável pela sala de aula e a solicitação à professora para que os alunos permanecessem em sala de aula após o lanche.

Abaixo, descrevemos cada uma das duas atividades planejadas e desenvolvidas pelas mães, por meio da mediação da pesquisadora. Durante o desenvolvimento dessas atividades, a pesquisadora procedeu ao registro em vídeo.

Atividade I: “Estátua”

Desta atividade participaram cinco mães. Assim que elas entraram na sala de aula, cumprimentaram as crianças. Em seguida, a pesquisadora também cumprimentou as crianças e informou-as sobre a novidade do dia: que as mães de alguns deles estavam presentes na sala e que iriam brincar com eles. Então, a pesquisadora identificou cada mãe pelo seu nome e perguntou: “De quem é essa mãe?”, como resposta, alguns identificaram a própria mãe, e outros identificaram a mãe do outro, mas todos responderam corretamente à pergunta da pesquisadora.

Foi depois disso que o grupo de cinco mães iniciou a atividade, solicitando que todas as crianças se levantassem. Segurando cada criança pelo braço, o grupo de mães posicionou-as em lugares determinados, onde elas deveriam permanecer durante a atividade. A figura espacial resultou no esquema a seguir:

Figura 1 – Disposição Espacial da Atividade I: “Estátua”

Assim, uma mãe posicionou-se na frente do grupo, colocando-se em destaque para conduzir a atividade. As outras mães ficaram mais próximas das crianças e as tocavam sempre que elas achavam que um determinado gesto ou movimento deveria ser demonstrado no próprio corpo da criança. A mãe que estava em destaque anunciou que iria colocar um CD8 para tocar e que todos deveriam dançar, seguindo os movimentos

sugeridos pela música. No decorrer da música, em vários momentos, havia o comando

“estátua”, ocasião em que todos deveriam ficar imóveis, mantendo o seu último

8

CD – Xuxa só para baixinhos 5 – Estátua (faixa 10). Gravadora Som Livre, 2004.

Mâes

movimento. A criança que não obedecesse a esse comando deveria sair da brincadeira. A vencedora seria aquela criança que conseguisse permanecer imóvel.

Atividade II – “A história de Chapeuzinho Vermelho”

Participaram desta atividade cinco mães. Logo após o término da atividade I, a pesquisadora anunciou que teria mais uma atividade e que outras mães iriam ensinar a brincadeira. Desse modo, a pesquisadora foi anunciando os nomes das mães, e as crianças foram respondendo de qual criança era aquela mãe, assim como ocorreu na atividade I. Depois disso, as mães foram conduzindo as crianças, segurando-as pela mão, à parte central da sala de aula, para que lá se sentassem. Algumas crianças caminharam sozinhas e se sentaram, sem a ajuda das mães. Em seguida, uma das mães, que desempenhou o papel de narradora, iniciou a representação, anunciando a encenação da história de Chapeuzinho Vermelho.

As mães apresentaram-se assim caracterizadas: uma mãe se caracterizou de Chapeuzinho Vermelho, vestindo-se com uma capa vermelha e segurando uma cesta; uma outra mãe, que representou o papel de caçador, vestiu um casaco e utilizou um bastão como espingarda; uma outra mãe caracterizou-se de vovozinha, usando uma touca na cabeça e óculos; uma outra mãe, representando o Lobo Mau, utilizou uma máscara de lobo. Desse modo, as mães posicionaram-se no centro da sala, à frente das crianças, e representaram suas personagens, de acordo com o desenrolar da história.

É importante esclarecer que as mães encenaram a história, movimentando-se no centro da sala, a uma distância aproximada de três a quatro metros das crianças. As crianças, por sua vez, permaneciam sentadas. A maior parte delas limitou-se a ouvir a história de cabeça baixa. Inclusive, algumas crianças que possuíam baixa visão não a utilizaram para enxergar a encenação, pois a distância entre elas e as personagens não permitia a visão de detalhes.

Ao final da encenação, uma das mães, que representou o papel de Lobo Mau, aproximou-se mais das crianças, porém ainda permanecendo em pé, e passou a falar com as crianças sobre a moral da história, segundo a sua compreensão.

Apresentamos, na tabela 6, somente os extratos da atividade II, uma vez que o registro desta mostrou-se de melhor qualidade para transcrição.

Tabela 6: Transcrição e análise dos extratos da 2ª sessão da 2ª fase de intervenção.

Atividade II – Teatro da História de Chapeuzinho Vermelho.

ATOS DA FALA ESFERAS CATEGORIAS

EL - (narradora): “Mas o Lobo mau era muito sabido, ele correu na frente e chegou na casa da

vovozinha antes que a Chapeuzinho vermelho e devorou a Chapeuzinho vermelho”. (a pesquisadora corrige baixinho: a vovó).

EL - (narradora - Sorri e continua sua fala): “... a vovozinha”

EU: (Chapeuzinho Vermelho): “Vovó pra que essa boca tão grande?”.

C: (Lobo mau): “É pra te comer minha netinha...” (fala com voz mais grossa e forte e sai correndo atrás de EU que dá a volta na sala).

(Crianças: Nesse momento todas as crianças gritam e sorriem muito.)

EL (narradora): “O Lobo mau morreu e tiraram a vovozinha de dentro da barriga do Lobo mau e foram felizes pra sempre.”

MR (mãe que estava assistindo): “Agora bota o Lobo mau deitado ali” (aponta para o canto da sala).

C: “Eu queria fazer uma pergunta

Informação Informação Informação Informação Informação Acional - Informar - Informar - Informar - Informar - Informar - Propor

pra vocês (se coloca de pé diante das crianças), nós vimos aqui que a Chapeuzinho Vermelho

desobedeceu a mãe dela e foi pro outro caminho, se ela tivesse ido pelo caminho que a mamãe falou pra ela, não teria acontecido isso... vocês acham que a Chapeuzinho Vermelho fez certo em desobedecer a mãe dela?

Crianças: “Nãããoooo...” (em coro em movimentando a cabeça negativamente.)

C: “A mamãe sempre quer o melhor pra gente, como a mamãe de Chapeuzinho Vermelho, quando ela disse: “não vá pelo caminho que tem o Lobo mau”, porque ela sabia que era perigoso, entenderam?. A Chapeuzinho Vermelho passou por um momento difícil porque ela foi desobediente, entenderam? Não foi? Então vocês não vão desobedecer às mamães, certo?”

Crianças: “Certooo” (em coro).

C: “Muito bem!”

P: “Palmas para todas as mães!!”

(Todos os presentes: Batem palmas muito animados.) Acional Avaliação. Informação Avaliação. Interação Avaliação Acional - Propor - Incitar - Tomar Posição. - Informar - Explicitar - Exemplificar - Avaliar - Dar aviso - Tomar Posição - Conformar - Validar - Incitar

2.4.2.4 – Análise da 2ª sessão da 2ª fase

Ficou evidente, nesta sessão, que as mães realizaram interlocuções com maior freqüência, na esfera da informação, uma vez que a maior parte do tempo foi preenchida com a narração de uma história. Dessa maneira, pudemos evidenciar quatro dados relevantes nesta sessão.

O primeiro deles diz respeito à forma como os dois grupos de mães conduziram as atividades planejadas. Na primeira atividade, como já descrito inclusive por meio de um esquema do arranjo espacial que as mães adotaram com as crianças, ficou claro que a mães assumiram uma postura dominadora, visto que delas partiam todas as regras para o desenvolvimento das atividades. Ou seja, as mães, em nenhum momento, deram voz às crianças para decidirem, pois elas determinaram até mesmo o local espacial onde cada uma deveria permanecer. Além disso, as mães se localizaram de modo estratégico, de forma que cada uma dominasse um grupinho de quatro ou cinco crianças, havendo, nessa organização espacial, crianças que ficavam de costas para as outras e crianças que ficavam de costas para as mães. Ainda reforçando a idéia de domínio, uma das cinco mães se posicionou no papel de maestro e efetivamente conduziu toda a atividade. Portanto, coube às crianças obedecer.

Na segunda atividade, da mesma forma, as mães conduziram as crianças para o meio da sala, onde, obedientemente, permaneceram sentadas. Dessa situação extrai-se o segundo dado relevante dessa sessão: as mães se colocaram, espacialmente, longe das crianças e não consideraram a disparidade de altura entre elas e as crianças sentadas, deixando, assim, de propiciar o contato visual àquelas crianças com baixa visão.

O terceiro dado relevante evidenciado nessa sessão é que, apesar de terem-se caracterizado devidamente, as personagens da história, as mães, não exploraram essas características do ponto de vista do tato, do olfato e dos conceitos envolvidos, tais como: grande, pequeno, alto, baixo, forte, fraco, velho, belo, feio, cores e tantos outros.

O quarto e último dado relevante diz respeito à natureza dos significados que as mães mediaram por meio da história (ver tabela 6). Um exemplo é o conceito da obediência incondicional que se evidenciou tanto na ação das mães, quanto na fala explícita de uma mãe ao final da atividade II.

Vale ressaltar a importância de as mães terem escolhido, planejado e desenvolvido uma atividade baseada na encenação, prática, diga-se de passagem, que não é mais comum em sala de aula.