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PARTE II – O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS COMPETÊNCIAS EM CONDIÇÕES ESPECIAIS

2.4.2.11 6ª SESSÃO DA 2ª FASE DE INTERVENÇÃO

Estavam presentes nesta sessão oito mães, todas participantes da segunda Oficina

Pedagógica, realizada na sessão anterior. O objetivo dessa sessão foi, mais uma vez,

propiciar às mães a avaliação da sua ação mediadora, observada nas atividades desenvolvidas junto aos filhos deficientes visuais, na referida Oficina, visando assim, à tomada de consciência da própria ação e do seu significado.

O procedimento adotado nessa sessão foi o mesmo adotado na 3ª sessão da segunda fase, isto é, apresentou-se às mães o vídeo da filmagem da segunda Oficina Pedagógica e após assistirem a ele, as mães foram incentivadas a expressarem suas percepções com relação às suas ações mediadoras.

Tabela 9: Transcrição e análise dos extratos da 6ª sessão da 2ª fase de intervenção.

ATOS DA FALA ESFERAS CATEGORIAS

P: “E então já vimos a filmagem, agora me digam o que vocês acharam de tudo o que aconteceu? Vocês acharam fácil, difícil...?”

J: “Foi ótimo, eu gostei! Quando a gente fica ali só olhando sem poder compartilhar fica mais difícil. Eu achei ótimo, podia fazer mais vezes e quando a gente não compartilha fica até difícil saber como é bom dançar, como é bom brincar, a gente até volta a ser criança, é muito bom.”

P: “E o que você sentiu quando estava lá ensinando os meninos a

dançarem?”

J: “Ah! Eu achei ótimo, não sou muito boa de dança, então a gente veio aqui e ensaiou pra poder ensinar pra eles. E eles gostaram pelo menos minha filha eu sei que ela adorou, até porque quando ela saiu ela disse: ah! Eu quero mais... e isso faz bem pra gente, porque eu tive que me soltar pra dançar com eles e isso é um relaxamento até mesmo pra gente.”

C: “Eu acho que poderia ter sido melhor... no meu grupo (brincadeira de roda), foi difícil na hora de fazer as crianças irem pro meio da roda, a gente tinha que colocar a criança lá e fazer os gestos com ela, e isso é difícil, mas no final a gente conseguiu, mas demorou...”

ED: “Eu acho que as crianças se soltaram mais, ficaram mais a vontade que da outra vez. Também por causa do espaço né? Da outra vez foi na sala de aula, agora foi no pátio, eles tiveram mais vontade de pular, de brincar... e a gente fez melhor porque estava mais preparada, eu acho, porque a gente já tinha feito aquela

Informação Acional Avaliação Acional Avaliação Informar Avaliação Informação Avaliação -Informar - Incitar. - Avalia - Justifica - Valida - Incitar - Avaliar - Justificar - Informar - Citar - Avaliar - Infirmar - Explicitar - Avaliar - Justificar

outra vez.”

P: “E vocês perceberam que não foram só as crianças que se soltaram e que participaram?”

S: “É outras professoras entraram né? A “A” e outras mães e professoras, foi muito animado.”

C: “É porque foi lá fora né? E isso eu acho que foi melhor que da outra vez que foi na sala de aula e se a gente fizer de novo é melhor lá fora mesmo.”

P: “Olha gente isso teve uma repercussão, as professoras comentaram como foi bom ver as mães fazendo as atividades, elas gostaram muito, elogiaram, por que é uma coisa diferente né?”

C: “É isso que a gente fez é uma coisa diferente que não acontece nas outras escolas. O meu filho, que não estuda aqui, cobra que eu só faço as coisas na escola da “J”, mas é aqui que tem mais essa oportunidade né? A gente percebe mais a presença, a

participação das mães aqui. Aqui tem mais essa unidade das mães com os profissionais que não acontece nas outras escolas.”

R: “Eu acho que eles gostaram muito de ver as mães ali brincando com eles por que raramente a gente faz isso em casa né?”

P: “E como vocês se viram nesta situação? Viram alguma diferença em vocês? Acham que pra vocês valeu a pena?”

C: “Ah! Eu acho que tudo que a gente fizer pelos filhos vale muito a pena.”

Interação Interação Informação Interação Avaliação Interação Informação Informação Avaliação Informação Acional Avaliação - Complementar - Complementar - Informar - Complementar - Avaliar - Complementar - Informar - Explicitar - Confirmar - Informar - Explicitar - Tomar Posição - Informar - Explicitar - Incitar - Avaliar

ED: “Valeu a pena a gente programar tudo e vencer a vergonha pra fazer as brincadeiras com eles, com o meu filho, por exemplo, eu sei que ele gostou muito e que vai levar isso quando crescer né? Eu aprendi que a gente tem sempre que melhorar pra a vida deles também mudar”

H: “É para as crianças valeu a pena.”

P: “E pra você valeu a pena?”

H: “Valeu, valeu a pena participar, foram muito criativas essas brincadeiras de fazer as mães participarem com as crianças aqui na escola.”.

P: “Vocês acham que vocês aprenderam alguma coisa fazendo essa atividade?”.

R: “Eu acho que agora tem mais união no grupo.” (refere-se ao grupo de mães).

J: “Eu acho que deveria ter mais dessas atividades com as mães que é pra ver se a gente até mesmo se toca, por exemplo, eu me toquei assim: pôxa vida, não brinco com minha filha e tal... então... dá aquele toque da gente precisar ser mais mãe, participar, eu não sou muito de brincadeira, e essa vez eu me envolvi, me coloquei de corpo e alma ali e esse é um ponto que muda a gente né? Porque a gente não tem tempo pra fazer essas brincadeiras e nem pra pensar que isso é importante assim.”

P: “E o que vocês sentiram depois que vocês fizeram a Oficina?”

Avaliação Interação Acional Contratual Avaliação Acional Avaliação Avaliação Acional - Validar - Justificar - Tomar posição - Complementar - Incitar - Avaliar - Justificar - Incitar - Avaliar - Avaliar - Tomar posição - Incitar

J: “Olha eu senti até medo antes de fazer, porque quando eu falei pra “S” o que a gente ia fazer ela começou a me cobrar todo dia quando ia ser, e eu até chamei as meninas (outras mães) pra gente ensaiar de tão preocupada que eu fiquei. E depois eu vi o tanto que eu tenho dificuldade de fazer isso em casa com ela, de brincar, dançar... eu acho que raramente a gente faz isso em casa, essas brincadeiras, então elas (crianças) viram a gente fazendo aquilo pra elas e ficaram muito contentes.”

P: “Olha parabéns a todas vocês! Porque fazer algo novo exige da gente muita coragem pra vencer o medo, como você disse e, força de vontade. Por isso, vocês fizeram um trabalho lindo e nós vamos continuar no segundo semestre ta?”

Informação Interação Contratual - Informar - Exemplificar - Explicitar - Cumprimentar

2.4.2.12 - Análise da 6ª sessão da 2ª fase

Nesta sessão, evidenciou-se, como um dado importante, a alta freqüência da esfera da avaliação nas interlocuções das mães. Essa avaliação não se limitou às atividades em si, mas também, aos seus resultados, não apenas do ponto de vista das crianças, mas também do ponto de vista delas mesmas, como podemos verificar nos seguintes pronunciamentos: “Eu quero mais... (em referência ao desenvolvimento de atividades pedagógicas)... isso faz bem pra gente, porque tive que me soltar pra dançar com eles, e isso é um relaxamento até pra gente.” (J. Tabela 9, 6ª sessão). Embora o objetivo fosse o desenvolvimento das crianças, as mães relataram pistas sobre o seu próprio desenvolvimento, indicando uma tomada de consciência de que a atividade mediada pode resultar em benefício para todos os participantes envolvidos: “A gente fez melhor porque estava mais preparadas, eu acho, porque a gente já tinha feito aquela outra vez.” (ED. Tabela 9, 6ª sessão). De um modo geral, as mães avaliaram, justificaram e validaram sua atuação junto aos filhos deficientes visuais, pontuando que as crianças participaram prazerosamente da Oficina. Ou seja, no início da sessão, as mães fizeram referência à participação das crianças, relacionado-as mais ao espaço físico do que às suas competências mediadoras.

Em função disso, em alguns momentos, a pesquisadora incitou as mães a avaliarem, de modo pontual, sua ação mediadora. Ao serem incitadas pela pesquisadora, as mães apresentaram interlocuções mais avaliativas com relação a algumas práticas adotadas por elas durante a realização da Oficina. Assim, embora as mães fizessem referência às dificuldades relacionadas ao desenvolvimento das atividades planejadas, por outro lado, verificou-se que as mães foram além do planejamento na 4ª sessão: elas relataram que se reuniram – por iniciativa própria, portanto – nas dependências da escola e desenvolveram as atividades planejadas umas com as outras. Podemos dizer, então, que elas procuraram pistas para o melhor desenvolvimento das atividades com as crianças, procurando contornar as possíveis dificuldades: “Eu não sou muito boa de dança. Então, a gente veio aqui e ensaiou para poder ensinar pra eles.” (J. Tabela 9, 6ª sessão). Vale ressaltar que J se mostrou como uma das mães que mais incitou o grupo à tomada de posição.

Além disso — e também por iniciativa própria —, as mães expandiram a atividade, propondo às pessoas que estavam assistindo à Oficina Pedagógica (profissionais da

instituição e outras mães) a participarem da “quadrilha” improvisada. Elas foram tão competentes nessa proposta que a adesão foi geral, e a repercussão foi positiva na escola.

Diante da insistência de E na questão: “Vocês acham que pra vocês valeu a pena?” fica clara, novamente, a tomada de consciência de que a atividade que se desenvolve com o outro resulta em benefício de todos: “Quando a gente não compartilha, fica até difícil saber como é bom dançar, como é bom brincar, a gente volta a ser criança, é muito bom.” (J. Tabela 9, 6ª sessão). E ainda, de modo mais evidente: “Eu acho que deveria ter mais dessas atividades com as mães, que é pra ver se a gente até mesmo se toca, por exemplo, eu me toque, assim, pôxa vida, não brinco com minha filha e tal... me coloquei de corpo e alma ali e esse é um ponto que muda a gente, né? Porque a gente não tem tempo pra fazer essas brincadeiras e nem pra pensar que isso é importante assim.” (J. Tabela 9, 6ª sessão).

Essa tomada de consciência vai além: ela abrange a importância do tipo de atividade que propusemos e desenvolvemos com as mães e sua repercussão, tanto, do ponto de vista institucional, quanto do ponto de vista da interação pessoal entre as mães. Assim, ressalta-se a importância da relação particular estabelecida entre os profissionais da instituição e as mães: “É, isso que a gente fez é uma coisa diferente, que não acontece nas outras escolas. O meu filho, que não estuda aqui, cobra que eu só faço as coisas na escola da “J”, mas é aqui que tem mais essa oportunidade, né? A gente percebe mais a presença, a participação das mães aqui. Aqui tem mais essa unidade das mães com os profissionais, o que não acontece nas outras escolas.” (C. Tabela 9, 6ª sessão).

Um dado que consideramos importantíssimo, na análise dessa sessão, é aquele que diz respeito ao relato que uma das mães faz sobre um diálogo com sua filha, com relação à Oficina Pedagógica que iria acontecer. Nesse relato, fica evidente que o diálogo focado na atividade gerou uma demanda por parte da filha, o que, por sua vez, gerou uma preocupação na mãe. Esta contagiou, assim, as outras mães e as motivou a se preparem por meio do desenvolvimento prévio das atividades planejadas entre elas, como já fizemos referência anteriormente. A seguinte fala é explícita: “Olha, eu senti até medo, antes de fazer, porque, quando eu falei pra “S” o que a gente ia fazer, ela começou a me cobrar todo dia quando ia ser. E eu até chamei as meninas (outras mães) pra gente ensaiar de tão preocupada que eu fiquei. E depois eu vi o tanto que eu tenho dificuldade de fazer isso em casa com ela, de brincar, dançar... eu acho que raramente a gente faz isso em

casa, essas brincadeiras. Então, elas (crianças) viram a gente fazendo aquilo pra elas e ficaram muito contentes.” (J. Tabela 9, 6ª sessão).

Todos esses dados nos conduziram à necessidade de propor a continuidade desse trabalho. Desse modo, a sessão seguinte objetivou, junto às mães, a avaliação do trabalho desenvolvido até aqui e o oferecimento de sugestões para a sua continuidade no semestre seguinte.