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Na segunda década em estudo nota-se certo adensamento na região metropolitana, difundindo-se a tecnologia nas cidades mais equipadas e abastadas da época. O número de empresas e usinas também aumenta em relação à década passada.

Entre 1900 a 1910 o setor se consolida e a Light é responsável pelo grande avanço da eletricidade no estado.

Ainda há muitos relatos de falências, acidentes de trabalho e receio quanto ao uso da eletricidade.

As indústrias se desenvolviam junto aos trilhos das ferrovias, sobretudo a de bens de consumo. O resto continuava a ser importado.

Os bairros elegantes eram muito diferentes das zonas operárias que, em sua maioria não tinham ruas calçadas nem iluminação e “a falta de saneamento básico deixava-as [as ruas] mais vulneráveis às enchentes e à proliferação dos focos de moléstias transmissíveis” (HOMEM, 1996. p. 193). A classe média se expandia associada ao desenvolvimento do comércio e da indústria; era constituída também por funcionários públicos, militares, professores e profissionais liberais.

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“Os programas sanitários, as reformas do ensino e da polícia, o aumento do número de fóruns, câmaras e cadeias e a criação do hospício do Juqueri estavam por trás do culto ao trabalho, à segurança e à disciplina. Criaram-se novos grupos escolares e escolas técnicas, onde se ensinavam civilidade e deveres à criança e aos futuros operários. A Repartição de Águas e Esgotos ampliou o número de mananciais. Em 1905, o Serviço Sanitário, chefiado por Emílio Ribas, conseguiu as primeiras vitórias quanto às tentativas de erradicar moléstias como a febre amarela, o tifo, a tuberculose e a cólera, não só em São Paulo, como também em Santos e em Campinas. Trabalhou em conjunto com a Prefeitura no controle das plantas e fiscalização das construções. O Município procurou orientar a urbanização para superar o estágio rural dos antigos arredores da cidade e voltou-se, principalmente, ao embelezamento, mediante alargamentos, calçamentos e arborização das ruas e avenidas e a reforma e abertura dos parques” (HOMEM, 1996. p. 193).

Em 1905 foram reformados o Jardim da Luz, a Praça da República e o Largo Paissandu. Melhoraram o Viaduto do Chá e alguns largos centrais, plantando-se 25.692 árvores nas praças e nas ruas da cidade de São Paulo.

Logo após iniciaram-se os serviços de bondes elétricos na capital, com as linhas preferencialmente irradiam-se do centro em direção às antigas saídas da cidade. “De modo geral, a urbanização incidiria nos trajetos dos bondes elétricos (...)”(HOMEM, 1996. p. 197).

Em 1900, São Paulo já não era a pacata cidade, mas uma cidade moderna. .A iluminação pública elétrica da cidade inicia em 1900, com a Usina Provisória (térmica) da Light. Antes era feita pela São Paulo Gaz Company, desde 1872. O transporte público, o bonde, era o grande trunfo da Light.

As cidades do interior também estavam promovendo grandes transformações como ocorriam nas principais cidades do país. São Carlos, em 1900, também passava por grandes obras de modernização urbana: “Foram construídos novos edifícios públicos e a Santa Casa; ampliada a ferrovia para Araraquara, Ribeirão Bonito, Água Vermelha e Santa Eudóxia; melhorada a ligação ferroviária com Rio Claro; implantado o sistema de

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água e esgoto; consolidado o sistema de telefonia e fundados dois bancos locais” (NEVES, 1984). Em 1903 foi realizado um levantamento planialtimétrico para mapear toda a cidade e nortear as construções de edificações.

Surge, em 1901, a primeira hidrelétrica grande usina da época, projetada para abastecer várias cidades e a capital: a UHE Parnaíba, da Light.

Em Jundiaí a Câmara Municipal contratou 250 lâmpadas de 32 velas para a iluminação pública em 1905, da Empresa de Eloy Chaves. No mesmo ano precisou contratar mais 60 lâmpadas de arco para o Largo da Matriz, o Hospital São Vicente de Paula e o Jardim Público.

O Jornal O Movimento (apud MARANHÃO, 2002. p. 11) narra a dramaticidade cenográfica do espetáculo de inauguração da energia elétrica pública em São Manuel:

“[...]. Os segundos parecem horas [...] sente-se um estalido, é a luz, e, como nos contos de fadas, do meio das trevas surge bela e iluminada, como obra de encantamento e magia, a nossa cidade” (O Movimento, 12 de janeiro de 1908 apud MARANHÃO, 2002)

A questão do prestígio político também é uma constante nos relatos sobre a energia. Como nas palavras um político de Salto, SP, no ato de inauguração da iluminação elétrica, a cidade se beneficiaria de um melhoramento a muito esperado e assim faria boa figura no confronto com as outras urbes do estado que já estavam usando esse sistema de iluminação.

Pereira Jr e Dias Jr (1994) contam que na inauguração da energia elétrica em Botucatu, em 1907, foi organizada uma enorme festa com a Banda da Força Pública de São Paulo, especialmente convidada para a ocasião, e a banda local, fogos de artifício e uma réplica da Torre Eiffel (uma estrutura de madeira de 10m de altura), e se autoproclamou, como Paris, a cidade luz.

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Municípios que possuiam UHE de 1900 a 1910 1 2 3 4 5 6 7/8/2419/33 9 21 11 35 37 32 38 1236 34 23 29 30 31 26 13 39 46 40 43 27 28 20/45 16 25 1718 14/15/22 10 41 44 42

12 1901 Jaú ? Empresa Força e Luz do Jaú

13 1901 Santana do Parnaíba Parnaíba (atual Edgard de Sousa) Light 14 1901 Itu/Lavras Fortuna Ytuana 15 1901 Itu/Lavras Júpiter Ytuana

16 1902 Amparo Bocaina Empresa Elétrica de Amparo 17 1905 Jundiaí Monte Serrat Empreza Força e Luz de Jundiahy. 18 1905 Bragança Paulista Flores Empresa Elétrica de Bragança Paulista 19 1906 Santa Rita do Passa Quatro São Valentim Municipalidade de Santa Rita do Passa Quatro 20 1906 Campinas Salto Grande Companhia Campineira, Tração, Força e Luz 21 1906 Sertãozinho Monjolo Empresa de Força e Luz Electrica de Sertãozinho

22 1907 Salto Lavras Ytuana

23 1907 Botucatu ? Empresa Força e Luz de Botucatu 24 1907 São José do Rio Pardo Santa Alice Companhia Força e Luz Santa Cruz 25 1907 São José dos Campos Turvo Light ou Cobertores Paraíba

26 1908 São Manuel São Manuel ou Lençóis Empresa Força e Luz de São Manuel 27 1909 Sorocaba Lichtenfells Lichtenfells- contrato

28 1909 Mogi Mirim Cachoeira de Cima Empresa Água, Luz e Força de Mogi Mirim

29 1909 Avaré Rio Novo

30 1909 Tietê Jurumirim Companhia Luz e Força de Tatuí

31 1909 Socorro Socorro Companhia Paulista de Energia Elétrica de Socorro e São José do Rio Pardo 32 1909 Araraquara Chibarro Empresa de Eletricidade de Araraquara

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33 1910 Santa Rita do Passa Quatro São Valentim II Companhia Força e Luz São Valentim 34 1910 Campos do Jordão Marmelos II

35 1910 Pirangí Pirangí (?) CPFL- não acho a original

36 1910 Dois Córregos Dois Córregos Companhia Elétrica do Oeste de São Paulo 37 1910 Região de Bauru Central de Senções CPFL

38 1910 Gavião Peixoto Gavião Peixoto Empresa Força e Luz de Jaú 39 1910 Bertioga Itatinga Cia Docas de Santos 40 1910 Fartura Fartura (?) Castor, Almeida e Cia 41 1910 Novo Horizonte ? Empresa Estefano e Maluf

42 1910 Americana Carioba Fábrica Carioba/Cia Força e Luz Carioba 43 1910 Campos Novos Paulista Simis Empresa Elétrica de Bragança Paulista 44 1910 ant São José do Rio Preto Empresa Elétrica de São José do Rio Preto 45 1910 ant Campinas Jaguari Companhia Campineira, Tração, Força e Luz

Figura 41. Centrais hidrelétricas no estado – 2º década

Surgem, nesta década, mais 34 usinas hidrelétricas.

A potência aumentou de 1580 HP para 13.150 HP, conforme De Lorenzo (1987); porém novamente deve se tratar do dados do censo de 1920 e estão subestimados.

Divisão Político-Adminsitrativa Estado de São Paulo

1910 1 2 3 4 5 6 7/8/2419/33 9 21 11 35 37 38 32 12 36 34 23 29 30 31 26 13 39 46 40 43 27 28 20/45 16 25 1718 14/15/22 10 41 44 42

Figura 42. Centrais hidrelétricas no estado sobre mapa de municípios para 1910 – 2º década. Fonte: mapa base Fundação SEADE

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Divisão Político-Adminsitrativa Estado de São Paulo

1910

Figura 43. Potência das centrais hidrelétricas com a qual começaram a operar no estado sobre mapa de municípios para 1910 – 2º década. Fonte: mapa base Fundação SEADE

Como os municípios ainda não haviam se fragmentado muito no centro-oeste do estado, a mancha formada pelas cidades acesas representa quase metade do território paulista. Eram somente 46 cidades iluminadas e não havia iluminação na zona rural. Então a mancha é exagerada e tende a parecer menor nas próximas décadas conforme o número de cidades vai aumentado.

143 SÃO JOSÉ DO RIO PRETO RIBEIRÃO PRETO ARAÇATUBA PRESIDENTE PRUDENTE MARÍLIA BAURU CAMPINAS SOROCABA LITORAL VALE DO PARAÍBA SÃO PAULO REGIÕES ADMINISTRATIVAS 1- SÃO PAULO 2- LITORAL 3- VALE DO PARAÍBA 4- SOROCABA 5- CAMPINAS 6- RIBEIRÃO PRETO 7- BAURU

8- SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 9- ARAÇATUBA

10- PRESIDENTE PRUDENTE 11- MARÍLIA

Figura 44. 2º década das centrais hidrelétricas no estado e regiões administrativas atuais

A iluminação avança para o oeste e se adensa em torno da capital.

Figura 45. 2º década das centrais hidrelétricas no estado sobreposto ao de ferrovias (de 1890 a 1940)

144 Rio Gr ande Rio Tu rvo Rio d o Peixe

Rio Paranapanema

Rio Tie

Rio Pa raíba do

Sul

Figura 46. 2º década das centrais hidrelétricas no estado e principais rios

Nessa segunda década do estudo o aumento da potência se dá em torno da capital devido ao aparecimento da Light, porém demonstra também a consolidação dos núcleos já existentes com novas usinas ou aumento da potência.

Havia 46 hidrelétricas no estado, responsáveis por 90% da produção de energia.

“Até 1879 a Província de São Paulo viu criarem-se 100 municípios e nos últimos vinte anos do século criaram-se mais 61, entrando São Paulo no século XX com 161 municípios. Na primeira década do século, marcada pela crise cafeeira, nenhum novo município foi criado, mas nos anos 10 a retomada da expansão cafeeira levou à criação de mais de 31 municípios e, na década seguinte, quando o Governo Provincial assumiu diretamente a política de sustentação do café, houve uma febre expansionista na frente pioneira, em que mais 53 municípios foram criados. Assim, São Paulo entrou na crise de 29 com uma rede urbana constituída por 245 municípios criados, quase a metade do número atual.” (NEGRI, GONÇALVES E CANO, 1988)

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Conforme CMEB (1988), no recenseamento de 1920 há informações que entre os anos de 1901 e 1910, setenta e sete novas unidades produtoras de energia elétrica entraram em funcionamento no Brasil todo.

A iluminação a querosene em Sorocaba data de 1873, porém a iluminação elétrica só chegou na cidade no final da primeira década, apesar possuir uma usina desde 1896, instalada para a fábrica têxtil Votorantim. Somente em 1902, quando fábrica precisou de mais energia que se criou a Empresa Elétrica de Sorocaba para ampliar a usina e fornecer energia elétrica ao município também.

Em 1906 a Light firmou seu primeiro contrato particular com negociantes da Rua Barão de Itapetininga.

“Em 1910, a potência chegou em 59.745 HP [deve estar se referindo a potência instalada no Brasil todo]. Parnaíba era responsável por 30% da potência instalada no estado neste ano”. (DE LORENZO, 1987)

Nesta década, Campinas (em vez de Sorocaba) passa a ser a principal região produtora de energia.