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Capítulo 3. Flickr: dinâmicas e recursos

3.2. Recursos e interações no Flickr

3.2.3. Álbuns e grupos

Os usuários podem inserir suas fotos em grupos e em álbuns, de modo que as páginas indiquem aquelas fotos inseridas. Com relação aos álbuns, o recurso é criado pelo usuário, no intuito de modo oferecer um sentido de leitura para suas páginas. Nesses álbuns, só o criador pode inserir as fotos, que aparecerão em uma página específica com todas aquelas presentes no mesmo. É possível, ainda, que uma mesma foto esteja presente em mais de um álbum60.

Já quanto aos grupos, a diferença reside no fato de que não estaria restrito a apenas um usuário. Tecnicamente, um grupo é composto por um conjunto de fotos postadas por usuários filiados e de um fórum de discussão onde as mensagens podem incluir versões reduzidas das fotos – presentes na galeria dos usuários. Entendemos que uma característica inerente a esses grupos é a sua flexibilidade: qualquer usuário pode criar um grupo, decidir as regras que

regem a postagem de fotos e as mensagens para o fórum, bem como os administradores responsáveis para a fiscalização dessas regras.

Aqueles interessados pelos grupos podem, ainda, auxiliar na promoção de interações nas páginas, tendo em vista a possibilidade de destaque às fotos que os grupos proporcionam, o que pode acarretar no direcionamento dos usuários às páginas nas quais as fotos foram postadas (ver figura 12).

Figura 12: Página de um grupo do Flickr - grupo “Paisagens do Brasil”. Fonte: <http://www.Flickr.com/groups/20372096@N00/>.

O exemplo acima demonstra uma página de um grupo, com as fotos dos usuários, selecionadas para o mesmo, em destaque na parte superior – funcionando como links para as páginas onde se situam as fotos –, enquanto que os “fóruns” aparecem logo abaixo, seguidos de outras informações: descrição do grupo, e informações acerca do ingresso neste.

Na pesquisa de Burgess (2006), podemos constatar que promover interações se apresentaria como um fator importante no processo de integração entre usuários do Flickr com suas vidas diárias – isto é, as pessoas se tornariam cada vez mais interessadas em aprimorar seu gosto pela fotografia na medida em que se envolveriam com as várias possibilidades de participação no referido site, destacando-se aí a participação nos grupos.

Já de acordo com as idéias desenvolvidas por Negoescu e Perez (2008), as páginas dos grupos no Flickr representariam conjuntos de usuários que escolheriam livremente para participar dessa comunidade; sendo o principal objetivo dos grupos facilitar o compartilhamento de fotos entre usuários, com base em um determinado interesse.

Ainda na pesquisa de Negoescu & Perez (2008), foram apresentados cinco tipos de grupos, de acordo com os objetivos de cada: (1) grupos limitados a uma região geográfica ou evento local ou global – cidades, festivais de música, passeatas; (2) grupos orientados ao conteúdo visual a ser compartilhado – de uma cor em específico, de animais, de fotos de uma faixa etária (crianças, por exemplo); (3) grupos que se concentram em uma técnica fotográfica em específico – fotos em preto-e-branco, fotos usando uma determinada objetiva (macro, teleobjetiva, por exemplo); (4) grupos orientados a selecionar as melhores fotos para os seus usuários – com membros que são convidados para postar uma determinada foto na página do grupo (“melhores fotos do Flickr”, por exemplo); e (5) grupos sem regras de orientação de conteúdos, que servem apenas para estimular o compartilhamento de fotografias – grupos genéricos (“10 Million Photos”61

, por exemplo) e baseados no número de visitas (“Views: 201 – 300”62

, por exemplo).

Como percebemos, os autores não levaram em consideração aqueles grupos ligados a algum espaço pré-concebido, nos quais usuários de outras localidades não poderiam fazer parte. Tais grupos, limitados a uma região, consistem em agregações nas quais os usuários postam fotos referentes ao local, quer fossem eles moradores ou não. Por exemplo: turistas que visitam o Rio de Janeiro, e inserem fotos no grupo “Rio de Janeiro”63

, não necessitando serem moradores da cidade. Os laços a serem formados nesses grupos, então, não possuiriam um sentimento de pertencimento a alguma localidade, instituição ou outros fatores externos – sendo então a própria temática da foto, a julgamento dos usuários, o mais importante para o ingresso nos grupos.

Nesse sentido, referenciando novamente a bibliografia discutida sobre redes sociais, os grupos podem ser entendidos como clusters, pois estes requerem do usuário que ele venha a fazer parte de uma rede de nós conectados em torno dos mesmos – e se apresentem principalmente de acordo com a temática da fotografia, e não com relação ao pertencimento a algum grupo pessoal.

61

Disponível em: <http://www.flickr.com/groups/10millionphotos/>. Acesso em dezembro de 2010.

62 Disponível em: <http://www.flickr.com/groups/201-300/>. Acesso em dezembro de 2010. 63 Disponível em: <http://www.flickr.com/groups/riodejaneiro/>. Acesso em dezembro de 2010.

O trabalho de Pissard e Prieur (2007) estudou os grupos do Flickr e propôs uma metodologia para classificá-los quanto aos seus aspectos sociais e temáticos. Os autores analisaram um pequeno conjunto de grupos do Flickr abrangendo 450 grupos com cerca de 500 usuários cada, e verificaram que estes são muito distintos quanto a esses aspectos, em muitos casos não possuindo traços capazes de revelá-los como agrupamentos em torno de uma discussão específica ou ligados a um tema norteador das postagens das fotos – ficando a cargo do usuário muitas vezes o upload das mesmas sem ao menos perceber a tônica das discussões envolvidas.

Podemos observar, nessas pesquisas, que grupos podem ser interessantes no sentido de pautar a audiência de fotos dos usuários e de atuar na interação nas páginas revelando o pertencimento da foto a determinados grupos, em detrimento de relações a serem estabelecidas no interior dos mesmos.