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Área de estudo e caracterização Socioeconómica da ilha de São Vicente

3. Estudo Empírico

3.1. Área de estudo e caracterização Socioeconómica da ilha de São Vicente

O trabalho de campo realizado neste estudo teve lugar na Escola Secundária Escola Industrial e Comercial do Mindelo Guilherme Dias Chantre, cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, de concelho homónimo.

3.1.1. Enquadramento Situação geográfica

Cabo Verde é um país montanhoso de origem vulcânica, constituído por dez ilhas e treze ilhéus, com uma superfície de 4.033Km2, uma de linha de costa de 1.020 km e uma vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE) que se estende por cerca de 734 265 km2 (Livro Branco, 2004). Situa-se entre o Equador e o trópico de Câncer, entre os paralelos 17º 12,5’ e 14º 44’ e 25º 22’oeste, em pleno oceano Atlântico, aproximadamente a 455 km da costa ocidental africana e a 1400 km SSW das ilhas Canárias, no prolongamento duma vasta zona árida e semi árida que atravessa o continente Africano.

De acordo com a posição em relação aos ventos dominantes, os ventos alísios, as ilhas agrupam-se nos conjuntos de Barlavento e Sota-vento. A maior ilha, Santiago, ocupa uma superfície de 991 km2. Dos cerca de 400 mil hectares que constituem o território nacional, 219 mil hectares, ou seja, 54% constituem terras marginais ou incultas.

O clima é do tipo saheliano onde se destacam duas épocas climáticas distintas: a estação seca (novembro a junho) e a estação húmida (julho a outubro), sofrendo, há várias décadas, o efeito de secas cíclicas. A época das chuvas decorre de agosto a outubro, dependendo da frente intertropical, quente e húmida, que à sua passagem dá origem a fortes chuvadas de curta duração, que podem causar grandes inundações, oscilando a precipitação anual entre 250 e 500 mm.

Pela sua posição geográfica, as ilhas do Barlavento são mais beneficiadas pelas chuvas do que as do Sota-vento. A irregularidade da pluviosidade anual é também condicionada pela passagem do harmatão ou "lestada", vento quente e seco vindo do deserto do Sara, que aumenta a aridez da estação seca, sobretudo nas regiões mais expostas, a leste, e nas ilhas orientais, provocando secas prolongadas, de consequências nefastas para as culturas e para o equilíbrio ecológico.

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O oceano e os ventos alísios moderam a temperatura, que oscila anualmente entre os 20° e 25 ºC. A insolação é geralmente elevada dada a fraca nebulosidade e o longo período seco, sendo elevada nos meses de março a junho, sobretudo nas zonas áridas e semi áridas, onde pode ultrapassar 11 horas por dia.

A vegetação natural é rara, em especial nas regiões baixas e áridas, mas durante o período das chuvas, o ambiente altera-se completamente com o aparecimento de plantas herbáceas que cobrem as zonas de altitude, enquadrando-se no arquipélago da Macaronésia.

Ilha de São Vicente - Caracterização socioeconómica

A ilha de S. Vicente pertence ao grupo de Barlavento, localizada entre os paralelos 16º 46’ e 16º 55’ de latitude Norte e os meridianos 24º 51’ e 25º 05’ de longitude Oeste de Greenwich a noroeste do arquipélago de Cabo Verde, juntamente com as ilhas Santo Antão, Santa Luzia, S. Nicolau, Sal, Boa Vista e ilhéus Branco e Raso. Com uma superfície total de 227 km2 é a quarta menor ilha de Cabo Verde, considerada uma ilha semi plana, com vários maciços montanhosos, atingindo a maior altitude no monte verde com 750 m. A nordeste e leste predomina um litoral baixo.

Aspetos demográficos

São Vicente é a segunda ilha mais populosa do país. A cidade do Mindelo é o principal centro urbano da ilha e a segunda maior cidade do país, onde se concentra grande parte da população da ilha, que no seu todo conta com 76.107 habitantes. É a ilha mais urbana com uma taxa de urbanização de 95,7%, superior à média nacional com cerca de 54%.

A população da ilha de São Vicente é maioritariamente jovem, pois 49.2% da população tem menos de 25 anos e 16,9% entre os 25 e 34 anos, sendo que cerca de 66,1% da população tem menos de 35 anos (INE, 2010).

No que respeita a situação da ocupação da população, São Vicente apresenta uma taxa de desemprego de 18,3% (ambos os sexos) considerada a mais alta do país com 12,2% (INE, IE 2011). O fenómeno do desemprego atinge principalmente os jovens. De acordo com o censo 2010, 29,9% dos jovens da ilha com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos encontram- se desempregados. O índice de dependência é de 40,7% (INE, 2010).

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Existem cerca de19, 923 agregados familiares residentes em São Vicente, com uma média de quatro pessoas por agregado, ligeiramente abaixo da média nacional que é de 5 pessoas. 60,3% das famílias vivem em casa própria e 30% em casas arrendadas. Cerca de 15,1% das famílias de São Vicente possuem automóvel, contra 7,4% a nível nacional. Ainda, segundo o censo de 2010, São Vicente é a segunda ilha com maior proporção de agregados familiares com nível de conforto médio, alto ou muito alto (58%). 7,7% têm um nível de conforto muito alto, praticamente o dobro da média nacional que é de 4%.

A situação de atendimento de saúde na ilha, comparada com a média nacional, é caracterizada pelos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), como satisfatória, dado maioria a população está a menos de uma hora de distância de uma estrutura de saúde. A esperança média de vida é de 62 anos para os homens e de 65 anos para as mulheres, podendo-se considerar relativamente elevada tendo em conta o contexto dos países da região africana que é de 56 anos em média.

No aspeto educacional, e de acordo com os dados do Censo (2010) a taxa de alfabetização da população com 15 ou mais anos de idade é de 86,1%, enquanto a nacional é de 82,8%. A taxa de alfabetização juvenil (15- 24 anos) é de 97,8%. A maioria (43,1%) da população da ilha tem como nível de instrução ensino básico integrado ou a alfabetização, 32,8 % dos indivíduos tem o secundário, curso médio 1,3% e Bacharelato ou Superior 7,5%.

Atividades económicas

A economia de São Vicente é essencialmente de serviços, e está fortemente ligada à atividade do porto de Porto Grande e da cidade do Mindelo, onde o comércio tem um papel importante. Atualmente as principais atividades económicas da ilha são o comércio, a pesca, os serviços prestados à navegação marítima, a indústria (conservas, salgas, construção e reparação naval), a hotelaria e a restauração. A pesca tem alguma relevância, mas apresenta condições para ser uma atividade de maior importância, não só pelas capturas, mas também pelas indústrias derivadas: conservas, seca e salga de peixe e construção naval. A pesca artesanal é uma atividade de grande tradição na ilha e na comunidade, representando uma fonte importante de emprego e uma das bases produtivas fundamentais e eixo de desenvolvimento praticado ainda numa base muito tradicional, isto é, ainda é realizada, segundo técnicas antigas transmitidas de geração para geração e assenta numa lógica de “ganhar pão” para o sustento da família.

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O Porto Grande é o principal porto de Cabo Verde, por onde passam grande parte das importações do país. Está dotado de um terminal de contentores e de instalações de frio e silos que possibilitam a atividade de transbordo de cargas. Existe também uma moderna central de dessalinização da água do mar para consumo público e estaleiros navais.

Devido à falta de chuva, a agricultura é de subsistência e concentra-se nos vales de Calhau e de Ribeira da Vinha, assim como no Monte Verde (agricultura, maioritariamente, de sequeiro). Há uma pequena atividade de criação de gado caprino, suíno, bovino e de aves, à qual se associa uma produção insuficiente de carne e laticínios.

Objeto de estudo

O trabalho de campo deste estudo foi realizado na escola secundária “Escola Industrial e Comercial do Mindelo Guilherme Dias Chantre, localizada na Avenida Professor Alberto Leite, cidade do Mindelo, na freguesia de nossa Senhora da Luz, concelho de São Vicente, uma das mais antigas da ilha e do país. No que concerne à área de estudo importa referir que segundo a legislação publicada na então metrópole (Portugal) em 1955, pela Direção Geral do Ensino do Ministério do Ultramar, o Decreto-lei 40198 de 22 de junho de 1955 foi criado, na cidade do Mindelo, a “Escola Técnica Elementar do Mindelo” com o objetivo de introduzir atividades escolares de caráter profissional, paralelas ao ensino liceal. Em 1956, iniciam-se as atividades letivas, com quatro turmas e cento e cinquenta e seis alunos no espaço anexo ao Liceu Gil Eanes, no espaço da Fazenda, sob a égide de Baltazar Lopes da Silva, uma vez o atual edifício, antigo quartel militar encontrava-se em obras remodelação/adaptação em estabelecimento de ensino. Para o efeito foram anexados três dependências e espaços oficinais. Após transformação entra em funcionamento em 1957 com 128 alunos a frequentarem os cursos do ensino técnico e profissional com o objetivo de formar jovens para o mercado do trabalho.

Em 1958 passou a chamar-se “Escola Industrial e Comercial do Mindelo” com os cursos de “Montador Electricista”, “Serralharia Mecânica”, “Marcenaria e Carpintaria”, “Formação Feminina”, sendo o horário para trabalhos práticos oficinais de 20 (vinte) horas letivas semanais. Mais tarde são introduzidos os cursos de “Eletricidade Predial”, “Construção Civil” e “Serviços e Comércio” granjeando desde logo um número significativo de alunos e futuros profissionais nos ramos respetivos.

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Cinquenta anos depois a escola/edifício comporta vários blocos resultantes de obras de ampliação em resposta às novas exigências quer em termos de procura pelos alunos, quer em termos dos currículos escolares como das exigências de um mercado de trabalho cada vez mais exigente. Atualmente a escola ministra o I e o II ciclo da via geral (respetivamente, 7° e 8°; 9° e 10° anos), assim como o III ciclo, via técnica (11° e 12° anos) distribuídos pelos seguintes cursos: “Eletricidade/Eletrónica”, “Mecanotecnia”, “Construção Civil”, “Artes Gráficas”, “Informática de Gestão” e “Contabilidade e Administração”. Os alunos da via técnica (III ciclo) contam com uma carga horária semanal que varia de 32 horas a 37 horas por ano de escolaridade. Em consequência a escola conta com um corpo docente qualificado 107 professores, incluindo 13 monitores qualificados para as áreas técnicas, sobretudo nas práticas oficinais e nas disciplinas tecnológicas e com os seguintes espaços físicos: espaços oficinais para os cursos de Artes gráficas, de Construção Civil, Eletrotecnia/Eletrónica e Mecanotecnia. Possui três salas de informática devidamente equipadas com Internet “adsl” em rede, 45 salas de aula, 3 salas de desenho, um ginásio coberto, duas placas em cimento para Educação Física, uma cantina, um refeitório, quatro casas de banho para alunos, quatro casas de banho para professores, uma biblioteca, um anfiteatro, um espaço de convívio e recreio, dois laboratórios não equipados, uma sala de professores, espaços administrativos para o Conselho Diretivo e para a Secretaria, incluindo dois espaços para arquivos diversos, espaço reprografia e pátios espaçosos.

No que tange à evolução do número de alunos de forma geral, no ano lectivo 2012/2013 a Escola Industrial e Comercial do Mindelo Guilherme Dias Chantre contava com cerca de 775 alunos, sendo 435 da via técnica e no presente ano letivo com cerca de 705 dos quais 347 frequentam a via técnica.

De salientar a existência do 13º ano denominado de ACP, Ano Complementar Profissionalizante. Também são ministrados Cursos de formação profissional visando aproveitar os recursos humanos e materiais que disponíveis no período pós-laboral, com níveis I, a IV, comportando vias que estão diretamente ligados às das áreas da via técnica.

Segundo o Diretor da escola parte população estudantil é oriunda dos bairros mais carenciados da ilha pelo que a Escola tem procurado responder aos problemas sociais inerentes,

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tais como o pagamento de propinas, a aquisição de material didático e uniforme e outras solicitações.

Por despacho n° 1147 de 12 de agosto de 2013, de S. Exa. a Ministra da Educação e Desporto e sob proposta apresentada por um grupo de antigos alunos e ouvida a entidade escolar foi atribuída à Escola Industrial e Comercial do Mindelo o nome “Escola Industrial e Comercial do Mindelo Guilherme Dias Chantre”, que foi professor e o primeiro diretor da referida escola.