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4. Resultados

4.2. Alimentação e suas práticas

4.2.1. Noção de produtos amigos do ambiente

Os níveis de conhecimento relativos a produtos amigos do ambiente foram analisados do ponto de vista do discurso, ou seja, o que o participante proferiu na entrevista. Procurou-se identificar os discursos de consumo ambientalmente responsáveis ou não. As entrevistas individuais revelaram através dos discursos que a maioria dos participantes consome produtos amigos do ambiente. Os depoimentos a seguir confirmam:

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“Sim, costumo consumir produtos amigos do ambiente, tendo em conta que eu na minha

casa consome-se muito fruta, legumes isso é ((riso))a base da alimentação na minha casa […]. “Porque eu acho que esses alimentos na hora da sua produção não, não causam danos a natureza, […] tipo nas fábricas que vão… o fumo vai prejudicar a camada de ozono […] a maioria dos legumes que eu consumo são vindos de Santo Antão e ali eu vou dizer que a agricultura é um pouco rudimentar ali não tem a capacidade nem fundos monetários para colocar produtos químicos […] não vai prejudicar nem a nossa saúde nem o solo que fica…como é que eu vou dizer... a entrar em carência”. (AE_N5)

“ […], normalmente sim. Normalmente consumo alimentos amigos do ambiente é fundamental ter essa consciência ambiental né? Para a questão da sustentabilidade e inclusivo eu trabalho isso nas minhas aulas de Markting na questão do consumo exacerbado que existe hoje e como e que as empresas também estão cada vez mais responsáveis em reciclar embalagens, cuidar-se, contributo também para o ambiente sustentável”; normalmente a nível de produtos alimentares directos prefiro alimentos sem agro tóxicos. De preferência de alimentos frescos, livres de qualquer espécie de… de agro tóxicos, e outros produtos que, que tenham também a marca de serem recicláveis em embalagens também dou preferência a estes. (PE_ N3)

Verifica-se que, nas falas o conhecimento e uso de produtos que não afetam o ambiente como “os nacionais”, “os frescos”, “produção tradicional”, “sustentabilidade”, “embalagens recicláveis”, assim como de fatores prejudiciais tais como o “uso de agrotóxicos”, de “químicos”, “fumos”, “produção em fábricas”. Percebe-se ainda na fala de alguns a preocupação em ajudar o mercado nacional (PE_N7), dificuldades externas relacionadas com incapacidade de produção do país, daí o recurso a produtos importados. Isto porque o setor agrário em Cabo Verde é caracterizado por uma grande vulnerabilidade, tendo em conta a escassez dos recursos naturais, o sistema de exploração e as condições climáticas. O recenseamento agrícola de 1988 aponta para uma superfície agrícola total cultivável é de 41.841 hectares, dos quais 38.854 em regime pluvial e 2.987 em regime de regadio (PANA II, 2004).

A produção de alimentos que se iniciou com a revolução agrícola permitiu que o homem passasse de caçador e coletor a produtor de seus alimentos, melhorando as condições de vida que por sua vez acarretou um aumento da população. Em consequência intensifica-se a produção de

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alimentos a nível global o que vem gerando grandes impactos ao meio ambiente, principalmente pelo uso de fertilizantes, agro tóxicos altamente poluentes, pela devastação de grandes áreas florestais para a agricultura e a criação de gado e pela extração desordenada de recursos limitados e que podem chegar à extinção, ações que não levam em conta a sustentabilidade do planeta.

Além disso, todos os produtos geram impactes no ambiente que podem ocorrer em uma ou em todas as fases do ciclo de vida do produto, a nível local, regional ou global (Oliveira, 2005 p:162). Contudo, existem alternativas como a rotulagem e a certificação de produtos, cujo objetivo é garantir a qualidade desses produtos para os fins a que se destinam, nomeadamente, consumo mínimo de energia, mínimo de impactes ambientais ao longo do seu ciclo de vida (idem). De acordo com o autor os consumidores deviam ter acesso a todas as informações relevantes disponíveis e que os produtores os devem por à sua disposição.

Todavia existem limitações pelo fato de nem todos os consumidores terem preparação para interpretar as informações ou de não disporem de todas as informações necessárias. Assim, entende-se que os consumidores devem procurar as informações necessárias que lhes faculte a capacidade de nas suas opções de compra tomar decisões corretas, ou efetuar escolhas corretas. Por outras palavras ser capaz de avaliar os riscos ou consciencializar-se das consequências das decisões.

Essa limitação é expressa nos depoimentos da maioria dos entrevistados quando questionados sobre a rotulagem e a certificação de produtos consideram o prazo de validade dos produtos e composição química e em termos de nutrientes cuja preocupação primeira é a saúde. Essa constatação é detetável na fala dos entrevistados.

“Levo… levo porque em minha casa a minha avó sempre deu-me esse conhecimento… que devemos ter sempre em conta os produtos comprados que são enlatados, plastificados nas lojas… […] … a rotulagem é ver o rótulo dos alimentos. Eu acho que é a verificação do…

quando vamos comprar devemos ter sempre em consideração o prazo, a composição dos alimentos… para mim a rotulagem é isso….” (AE_N1).

“Principalmente naquela parte do tempo do prazo de validade eu leio sempre nessa

parte. […] ao comprar um produto eu tenho que ver o rótulo para saber quais são os… como é que eu diria os constituintes, mas tem uma outra parte que eu queria dizer queria realçar em

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termos nutritivos termos nutritivos, os valores nutritivos desse alimento não é, porque mesmo hoje, hoje você tem enlatados produtos enlatados que não tem conservantes […]. Eu acredito porque hoje tem produtos que não têm conservantes”. (PE_N7).

É facilmente detetável que a maioria dos entrevistados consulta os rótulos dos alimentos no momento da compra, no entanto, não compreendem ou não exploram adequadamente o significado das informações. Deixam transparecer a ideia de preocupação com a saúde. Daí reside a necessidade dos consumidores serem informados sobre o significado económico e ecológico dos produtos e suas interconexões ambientais e desta forma efetuar escolhas corretas e terem consciência das suas decisões.