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Área de estudo IV Cambuí.

No documento O envelope solar e o direito ao sol (páginas 161-166)

PEDREI MORUNGA

IV. ANÁLISE E RESULTADOS

4. Área de estudo IV Cambuí.

O bairro do Cambuí, contíguo ao Centro de Campinas, era constituído por chácaras e casarões, até a publicação da Lei 1.933/59, quando foi iniciada a verticalização, de início um pouco discreta, até a década de 80, quando foi acentuada por pressões do mercado imobiliário, valorizando o solo urbano. A nova lei 6.031/88, na tentativa de controlar esse desenvolvimento, reduziu o índice de aproveitamento de 4 para 3, assim mesmo, a lei mostrou imperfeições, já que, com esse índice, permite garagens só nos subsolos e térreos. Na nossa vivência profissional, observamos que a lei, traz outras dificuldades: quando é utilizado todo o coeficiente de aproveitamento, as áreas para as garagens tornam-se insuficientes, provocando dificuldades para projetar. E se, por acaso, fosse permitido construir as garagens nos pavimentos superiores ao térreo, teríamos mais impacto no tráfego, já caótico, no bairro. A impermeabilização dos lotes, com a construção das pavimentações para os estacionamentos, e a ocupação nos pavimentos térreos, de praticamente o lote todo, provoca enchentes e alagamentos nas ruas.

As análises dos quatro edifícios neste quarteirão do bairro Cambuí foram realizadas para o dia 21 de junho, os horários, porém, sofreram variação. Tendo em vista que no bairro é permitida a verticalização, e que os afastamentos laterais são de 3,00m, podendo balançar 1,20m, ou seja, afastamento de 1,80m (Pela Lei 1933/59), que se mostram, a priori, insuficientes para insolação de edifícios altos, optamos por reduzir o horário de insolação para uma hora de manhã e uma à tarde, isto é, das 11:00h (azimute de 18,7º e ângulo de altura solar de 41,3º) às 13:00h (azimute de - 17,4º e ângulo de altura solar de 41,9º). Os resultados obtidos inicialmente, indicam a gravidade do problema, pelas sombras projetadas como são apresentadas nas figuras 118 e 119. Cada edifício foi projetado de acordo com a legislação vigente, e para cada um foram resolvidas as questões de insolação de forma isolada, ou seja, resolvendo seu próprio problema, sem pensar na vizinhança.

Fig 118. Implantação. Envelopes e sombras. 21 junho, 11:00 h Fig. 119. Implantação. Envelopes e sombras. 21 junho 13:00 h

Em geral, as aberturas das salas e dormitórios foram colocadas para as frentes e para os fundos do terreno, deixando as laterais só para as aberturas de banheiros, cozinhas e áreas de serviço. No período da manhã, os edifícios Águas Marinhas e Huari, pela rua Coronel Francisco de Andrade Coutinho, não são atingidos por sombras de outros edifícios, visto que as suas fachadas principais estão localizados nas posições nordeste e norte do quarteirão, mas eles provocam sombras sobre seus confrontantes e vizinhança, havendo até sobreposição de sombras de um edifício com sombras do outro, sobre os vizinhos. O envelope solar construído sobre o lote, mostra que o a altura do edifício extrapolou os seus limites (fig. 120).

O edifício Huari, por estar localizado frente a uma pequena praça, teve o seu gabarito aumentado, portanto, pode-se aumentar, também, a altura. Neste edifício, todas as salas e dormitórios foram voltados para a frente, por isso, a concepção dos apartamentos foi feita em duplex, ficando para os fundos a caixa da escada e janelas de banheiros. O envelope solar foi construído sobre o lote, 1,80m sobre os vizinhos nas laterais, e avança sobre a rua e a praça em frente, adotando uma forma descentralizada com relação ao terreno e à edificação (fig. 121).

Fig. 121. Corte esquemático do Edifício Huari com seu envelope solar.

Igualmente no período da tarde, os edifícios Carla Cristina e Marco Polo, pela rua Coronel Quirino (posicionados ao oeste do quarteirão), não são atingidos pelas sombras dos edifícios do lado oposto da rua, pela própria distância entre eles (14,00m. da largura da rua e mais 12,00m. correspondentes aos recuos obrigatórios formam a distância de 26,00m.); estes edifícios, por outro lado, lançam sombras sobre o centro do quarteirão, atingindo também a vizinhança. Estas situações são ratificadas pelos envelopes solares (fig. 122 e 123).

Fig. 123. Corte esquemático do Edifício Marco Pólo e seu envelope solar

As aberturas das salas de estar e dos dormitórios estão voltadas para as frentes e para os fundos dos respectivos terrenos, ficando, as aberturas laterais, apenas para banheiros, cozinhas, áreas de serviço ou corredores. Os envelopes foram construídos para cada terreno e avançaram pela rua até alcançar os 6,00m de recuo frontal obrigatório dos terrenos ao outro lado da rua. Nos fundos também avançaram sobre os terrenos vizinhos em 6,00m, que são os afastamentos de fundo obrigatórios. E nas laterais, 1,80m sobre os terrenos vizinhos. Em todos os casos, os envelopes foram levantados 4,00m do chão (3,00m para a altura do térreo e 1,00m para o peitoril das janelas), em razão da insolação ser necessária para os apartamentos do primeiro andar, desconsiderando o pavimento térreo, onde a legislação não permite a construção de unidades residenciais, mas, apenas para acessos, áreas comuns e garagens.

As figuras 124 e 125 mostram os envelopes solares construídos sobre cada terreno e suas edificações, que se apresentam baixos; e os edifícios ultrapassam os limites de suas volumetrias. Fica claro que a altura dos edifícios permitida pela legislação (Lei 1.933/59 que adotava o coeficiente de aproveitamento 4 e a Lei 6.031/88 que adota o coeficiente 3, assim como a regra para adotar a altura dos edifícios (gabarito) não está em concordância com os envelopes solares. Torna-se evidente, portanto, que as legislações não têm sido as mais adequadas, pois não contemplam estas situações de insolação e sombreamento entre edifícios vizinhos.

Fig. 124. Vista 3d. 21 de junho às 11:00 hs.

No documento O envelope solar e o direito ao sol (páginas 161-166)