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Áreas de contributo para a vivência com os outros

CAPÍTULO IV Análise e interpretação dos dados

1. Análise e interpretação dos dados relativos ao questionário

1.5. Áreas de contributo para a vivência com os outros

Esta secção do questionário teve por objectivo a obtenção de dados relativamente a outras áreas de contributo para o tema “vivência com os outros”, assim como o de confirmar e/ou cruzar os dados nela obtidos com outros obtidos noutras secções do questionário.

______________________________________________________________________ Tendo em conta este enquadramento, começámos por questionar sobre a materialização do “aprender a viver juntos” no desenho curricular do 1.º Ano do Ensino Básico. As opiniões dos respondentes acabaram por ser relativamente divididas, apesar de ninguém ter respondido “Nada materializado”. Assim, obtivemos 16 respostas (47,06%) referindo “Pouco materializado”, 16 respostas (47,06%) referindo “Bem materializado” e 2 respostas (5,88%) indicando “Muito bem materializado”.

É, agora, chegado o momento de fazer referência ao que ficou por explicar no início do tópico 1.2. “Competências gerais para a vivência com os outros”, deste capítulo, quando constatámos, pelas respostas à pergunta 19 do questionário, que a aprendizagem visada nesta investigação, o “aprender a viver juntos”, em termos objectivos, ficou posicionada em 3.º lugar, em termos da sua importância relativamente às restantes aprendizagens fundamentais.

A percepção por parte, de 47,06% dos professores da amostra estudada de que o “aprender a viver juntos” se encontra “pouco materializado” no desenho curricular do 1.º Ano do Ensino Básico, sugeria-nos que esta poderia ser a razão pela qual o “aprender a viver juntos” tinha surgido como a 3.ª aprendizagem fundamental mais importante.

No entanto, da análise de correlação obtivemos um valor relativamente fraco (0,11), ainda que positivo, o que sugere que aquele posicionamento não decorreu directamente da sua “pouca materialização” no desenho curricular do 1.º Ano, mas talvez da dificuldade em “isolar”, de modo específico, a sua operacionalização, ao contrário do “aprender a fazer” e do “aprender a conhecer”, aprendizagens fundamentais mais tradicionais.

Por outro lado, como temos verificado ao longo da análise e interpretação dos dados, o “aprender a viver juntos” é encarado, essencialmente, numa perspectiva transversal às várias áreas curriculares e extra-curriculares, perdendo, assim, alguma “força” como aprendizagem fundamental autónoma.

Este último aspecto, associado ao anterior, parece ser, então, o responsável pela importância relativa atribuída ao “aprender a viver juntos”. De qualquer modo, este aspecto exigiria um aprofundamento da exploração mas, tendo em conta, quer o tempo

______________________________________________________________________ disponível, quer o facto de que este não era o objectivo científico desta investigação, deixamos a explicação neste ponto.

Seguiram-se duas questões de confirmação relativamente às competências gerais e específicas no âmbito do “aprender a viver juntos”. Mais uma vez, existiu alguma divisão de opiniões por parte dos professores. Sobre a competência geral relativa ao “aprender a viver juntos”, 18 professores (52,94%) entenderam que “assim está bem”, mas um número ainda significativo de professores, 15 (44,12%), entendeu que o currículo do 1.º Ano deveria indicar mais competências gerais no âmbito desta aprendizagem fundamental. Acrescente-se, ainda, que 1 professor (2,94%) respondeu que “o currículo não deveria indicar qualquer competência geral” neste âmbito.

Sobre as 2 competências específicas relativas ao “aprender a viver juntos”, também no contexto do 1.º Ano, o sentido das respostas esteve, aproximadamente, em linha com a opinião manifestada pelos professores relativamente à competência geral. Assim, obtivemos 18 respostas (52,94%) indicando que este número de competências específicas é o adequado, 13 respostas (38,24%) indicando que o currículo deveria incluir mais competências específicas e 3 respostas (8,82%) indicando que o currículo deveria incluir menos competências específicas.

Considerando todas as actividades realizadas em cada turma, decorrentes da aplicação e operacionalização do programa curricular correspondente aos anos leccionados, questionámos os docentes sobre a percentagem, aproximada, de tempo dedicado ao “aprender a viver juntos”.

Considerando a turma completa (incluindo os alunos de todos os anos), o resultado médio para a resposta foi de 44,55%. Considerando apenas as actividades realizadas pelos alunos do 1.º Ano, o resultado médio para a resposta foi ligeiramente superior, ainda de dimensão semelhante (46,21%). Estes resultados sugeriam uma elevada correlação entre os valores apresentados, a qual confirmámos após efectuar o respectivo cálculo: 0,95.

Na questão 19 do questionário tinha-se perguntado sobre a importância relativa das aprendizagens fundamentais, aspecto que já analisámos até onde os dados permitiram. Mas querendo confirmar aquelas respostas, questionámos os docentes sobre

______________________________________________________________________ qual o espaço/tempo que cada uma destas aprendizagens deveria ocupar nas actividades lectivas dos alunos do 1.º Ano. As respostas encontram-se sintetizadas na figura 30.

Figura 30

Espaço/tempo que as aprendizagens fundamentais deveriam ocupar nas actividades lectivas do 1.º Ano

25,29% 28,68% 23,68% 22,35% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%

Aprender a conhecer Aprender a fazer Aprender a viver juntos Aprender a ser

Espaço/tempo que as aprendizagens fundamentais deveriam ocupar nas actividades lectivas

Os resultados agregados obtidos nesta questão são muito semelhantes àqueles que foram obtidos na questão 19, apresentando uma correlação positiva (directa) muito elevada (0,98) entre si, ao mesmo tempo que confirmam o 3.º lugar do “aprender a viver juntos” em termos de importância relativa, no conjunto das 4 aprendizagens fundamentais. Isto quer dizer que não é significativa a diferença, aprendizagem a aprendizagem, entre a realidade daquilo que é operacionalizado e que aquilo que deveria ser idealmente praticado, na opinião dos docentes inquiridos.

Também quisemos investigar, pela importância que pode ter no contexto do “aprender a viver juntos”, o papel da escola na formação do indivíduo, no que ao Ensino e Educação diz respeito, nomeadamente fazendo o levantamento daquela que é a prática actual e daquela que deveria ser idealmente essa prática. Aqui convirá relembrar os conceitos de “Ensino” e de “Educação” que apresentámos aos respondentes na “Introdução” do questionário e que foram os seguintes:

“Ensino - actividade docente formal ou não formal, de carácter pedagógico, que tem implícita a intenção de que determinados objectivos de aprendizagem sejam alcançados por indivíduos na situação de estudantes/alunos, estando subjacente o requisito de que aquilo que é

______________________________________________________________________ ensinado deverá ser passível de poder ser aprendido por esses mesmos estudantes/alunos. Esta actividade exige um ambiente de ensino- aprendizagem organizado, onde quem ensina e quem aprende interagem directa ou indirectamente, tendo em vista o alcançar de resultados previamente determinados;

Educação - conceito mais abrangente que o de Ensino e que diz respeito ao desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo ao longo da sua vida, desde que nasce até que morre e às várias formas de organização social (família, escola, sociedade, entre outras) que permitem que cada indivíduo se vá transformando nesse percurso, rumo a níveis mais elevados de realização pessoal e bem-estar social, de acordo com aqueles que são os valores inerentes a uma determinada cultura”.

Na opinião da maioria dos respondentes, 25 (73,53%), na prática, a escola ensina e educa, com ênfase no ensino. Cinco professores (14,71%) foram de opinião que a escola ensina e educa, em proporções idênticas, 3 professores (8,82%) entenderam que a escola ensina e educa, com ênfase na educação e apenas 1 professor (2,94%) indicou que a escola só ensina.

Estas respostas sofrem uma alteração relativamente significativa, quando, em vez daquela que é a prática, se perguntou qual deveria ser o papel da escola na formação do indivíduo, no que ao Ensino e Educação diz respeito. Aqui, a maioria dos professores, 18 (52,94%), foi de opinião que a escola deve ensinar e educar, em proporções idênticas. Um número também significativo de professores, 14 (41,18%), indicou que a escola deve ensinar e educar, com ênfase no ensino e apenas 2 professores (5,88%) indicaram a escola deve ensinar e educar, com ênfase na educação.

Por aqui é possível verificar que, na amostra estudada, existe uma clara percepção de que a prática da escola, em termos de Ensino e Educação, ainda coloca a ênfase no Ensino, mas que, tendencialmente, deveria haver um maior equilíbrio entre Ensino e Educação, apesar de um número significativo de docentes, continuar a valorizar mais o Ensino que a Educação na formação do indivíduo, no que ao papel da escola diz respeito.

Esta conclusão é confirmada pelos resultados das respostas às questões 80 e 81 do questionário, nas quais perguntámos, respectivamente sobre a turma em geral e sobre o 1.º Ano em particular, qual era, em termos percentuais relativos, o peso ocupado pelo Ensino e pela Educação na actividade escolar. Os universos “turma” e “1.º Ano” não

______________________________________________________________________ geraram resultados significativamente diferentes mas, tal como se mencionou antes, constatou-se que, efectivamente, o Ensino assume uma maior importância relativamente à Educação, no âmbito das actividades escolares.

Assim, para as actividades escolares na turma, obteve-se 58,82% para o Ensino contra 41,18% para a Educação. Considerando apenas as actividades escolares com os alunos do 1.º Ano, obteve-se 57,79% para o Ensino contra 42,21% para a Educação. Estas proximidades de valores percentuais para o Ensino na turma e no 1.º Ano, assim como para a Educação, igualmente na turma e no 1.º Ano, poderiam sugerir uma correlação directa quase perfeita mas, após a análise das matrizes (34x2) relativas ao Ensino e à Educação, respectivamente, verificámos que, apesar duma correlação positiva elevada (0,65) entre os contextos “Turma” e “1.º Ano”, para cada um dos atributos “Ensino” e “Educação”, existem algumas situações em que os docentes atribuíram valores diferentes.

A análise em profundidade das 34 turmas, mostrou-nos que em 23 (67,65%) houve uma manutenção das ponderações relativas atribuídas ao “Ensino” e à “Educação”, independentemente do contexto (“turma com todos os anos”” ou “só alunos do 1.º Ano) em que se verificam mas, em 11 delas (32,35%) houve variações, com oito dessas variações a assumir uma amplitude de 10 p.p., duas a assumir uma amplitude de 20 p.p. e uma a assumir uma amplitude de 50 p.p., explicando-se assim a correlação positiva elevada mas não perfeita.

Passando a outra área, pretendemos, também, obter alguns dados sobre a importância da frequência do Jardim de Infância, em termos do contributo que esta frequência pode ter para a aquisição e desenvolvimento de competências gerais e/ou específicas relacionadas com o “aprender a viver juntos”. Todas as respostas foram positivas, variando apenas no grau desse contributo.

A grande maioria dos professores, 24 (70,59%), foi de opinião que a frequência do Jardim de Infância “Contribuiu muito”. Por outro lado, 10 professores (29,41%) responderam que “Contribuiu razoavelmente/satisfatoriamente”. Estes resultados, associados ao facto de que 88,49% dos alunos do 1.º Ano da amostra estudada frequentaram o Jardim de Infância, são um bom indicativo da importância dessa frequência.

______________________________________________________________________ Tendo a noção prévia de que o “Ambiente familiar” era importante no desenvolvimento do relacionamento interpessoal, logo ao nível do 1.º Ano, tal como se comprovou pelas respostas à pergunta 45 do questionário, pretendemos investigar um pouco mais em profundidade.

Para isso, e com recurso apenas a alguns aspectos vistos como sendo o reflexo da Educação que os alunos recebem nas suas famílias, questionámos os docentes sobre a sua percepção relativamente àquela que seria, em média, a Educação que os seus alunos do 1.º Ano recebiam das respectivas famílias.

A maioria dos docentes, 20 (58,82%), entendeu que “a Educação que as famílias dão é razoável/satisfatória”. Para 8 docentes (23,53%) a Educação dada é boa e para 1 docente (2,94%) é mesmo muito boa. Mas houve, ainda, um conjunto de 5 docentes (14,71%) que consideraram que a “Educação que as famílias dão é deficiente”, um número, apesar de tudo, relativamente significativo.

Uma análise superficial dos resultados poderia induzir-nos a uma conclusão de que as respostas correspondentes a uma Educação boa ou muito boa por parte das famílias, em número total de 9 (26,47%), estariam fortemente relacionadas com o facto de serem relativas a alunos de turmas pertencentes a escolas situadas em ambiente urbano (9 turmas).

Para isso, analisámos a correlação entre as respectivas matrizes (34x1), tendo concluído que, apesar de existir uma correlação positiva entre estes atributos (“Educação boa ou muito boa, por parte das famílias” e “Turma de escola situada em ambiente urbano”), o seu valor não é significativamente elevado (0,24), não permitindo concluir quanto ao facto de o atributo “contexto em que a escola se insere” ser um factor diferenciador relativamente a este aspecto.

Na realidade, apenas em 4 das 9 turmas situadas em escolas urbanas, houve uma correspondência a “Educação boa ou muito boa, por parte das famílias”. Como curiosidade fica até a observação de que a única turma cujos alunos foram associados a uma Educação muito boa por parte das famílias, pertence a uma escola situada em ambiente rural.

______________________________________________________________________ Para terminar o questionário, quisemos saber a opinião dos respondentes relativamente ao peso relativo da “Escola”, “Família” e “Sociedade”, em termos do “aprender a viver juntos”. Os resultados encontram-se apresentados na figura 31.

Figura 31

Importância relativa da escola, família e sociedade no “aprender a viver juntos”

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%

Escola Família Sociedade

32,45%

46,42%

21,13%

Importância relativa da Escola, Família e

Sociedade, no “aprender a viver juntos”

Estes resultados, apesar de poderem parecer surpreendentes, podem ter duas leituras. A primeira leitura é a de que é inegável o papel da escola em termos desta aprendizagem fundamental. A razão pela qual, objectivamente com base nos dados das respostas, não lhe foi atribuída a importância principal, em detrimento de outro “vector”, a Família, poderá estar relacionada com a segunda leitura destes resultados.

E essa leitura é a de que, os docentes ao elegerem a Família como o “vector” mais importante, de entre os três apresentados, no que diz respeito ao “aprender a viver juntos”, poderão estar a traduzir a sua percepção, a sua experiência profissional e, porventura, o seu desejo, no sentido de que esta aprendizagem fundamental deva, efectivamente, começar bem cedo na vida dos indivíduos.

Para que este início, desde bem cedo, possa ser uma realidade em toda a sua dimensão, é necessária a criação de condições prévias, em termos da Educação197 providenciada pelas famílias, dotando as crianças com as “bases” necessárias para que a escola, logo no início do Ensino Básico, possa aplicar e operacionalizar a aquisição e

______________________________________________________________________ desenvolvimento de competências gerais e específicas relacionadas com o “aprender a viver juntos”, que, como vimos, são inerentes às várias áreas curriculares e extra- curriculares.