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Competências gerais para a vivência com os outros

CAPÍTULO IV Análise e interpretação dos dados

1. Análise e interpretação dos dados relativos ao questionário

1.2. Competências gerais para a vivência com os outros

Esta secção do questionário teve por objectivo a obtenção de dados relativamente às competências gerais constantes do Currículo Nacional do Ensino Básico (variável COMPGER), em particular aquelas que estão relacionadas com uma das aprendizagens fundamentais, o “aprender a viver juntos”.

Neste contexto, começámos por pedir a opinião dos professores do 1.º Ano relativamente à importância relativa das 4 aprendizagens fundamentais (“aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e “aprender a ser”), em termos do espaço/tempo que cada uma ocupava nas actividades lectivas da sua turma. Com esta questão, pretendia-se, também, apurar o posicionamento relativo do “aprender a viver juntos” (a aprendizagem visada nesta investigação), no conjunto das 4 aprendizagens fundamentais. As respostas obtidas estão sintetizadas na figura 13.

Figura 13

Espaço/tempo ocupado pelas aprendizagens fundamentais nas actividades lectivas

24,79% 31,03% 23,97% 20,21% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%

Aprender a conhecer Aprender a fazer Aprender a viver juntos Aprender a ser

Espaço/tempo ocupado pelas aprendizagens

fundamentais nas actividades lectivas

187

Esta opção pelas “turmas com 11 a 15 alunos” é significativa, quer pelo aspecto quantitativo, quer pelo aspecto qualitativo, tendo em conta que, na amostra obtida, a média de alunos por turma rondou os 17.

______________________________________________________________________ Apesar de se ter verificado algum equilíbrio entre as várias aprendizagens fundamentais, é evidente o lugar de destaque do “aprender a fazer”188, a ocupar quase um terço do espaço/tempo no conjunto das actividades lectivas, o que sugere, à partida, uma maior importância relativa da área disciplinar “Estudo do Meio”, quer pelos seus conteúdos programáticos, quer pelas competências essenciais a adquirir e a desenvolver visadas pela mesma.

A aprendizagem fundamental visada nesta investigação, o “aprender a viver juntos”, em termos concretos foi posicionada pelos respondentes no 3.º lugar, no que à sua importância relativa diz respeito. Interessará tentar perceber a razão deste posicionamento, surpreendente ou nem por isso, mas para tal haverá que recorrer ao cruzamento com outro tipo de informação que será analisada mais à frente, pelo que, nessa altura, voltaremos a este aspecto.

Ainda sobre os dados recolhidos relativamente ao “aprender a viver juntos”, decorrente da análise estatística da matriz (34x1) de respostas, para além da média de 23,97%, obtiveram-se os seguintes resultados: mediana = 0,25; moda = 0,25; desvio padrão = 0,11; curtose = 17,73; assimetria = 3,55; mínimo = 10%; máximo = 80%.

Explicando aquilo que sugerem estes dados, começaremos por dizer que os mesmos sugerem alguma dispersão nos valores das respostas, situados entre 10% e 80%. Contudo, apesar do afastamento entre os valores mínimo e máximo, as frequências a eles associadas são baixas, verificando-se que a distribuição acaba por ser bastante concentrada em torno do seu valor médio e mais alta (“afunilada” ou “menos achatada”) que uma distribuição normal.

O valor para a assimetria sugere uma distribuição com cauda à direita do valor médio, mas isso resulta apenas do facto de haver uma observação correspondente a 0,80189, correspondente a um “grande” afastamento de cerca de 0,56 à direita da média.

188 Relembre-se que esta aprendizagem fundamental “visa a aquisição e desenvolvimento de

competências relativas à actuação sobre o meio ambiente”.

189 Esta resposta de 80% por parte do respondente em causa, indiciando a elevada importância atribuída

ao “aprender a viver juntos”, não foi uma resposta “aleatória”, já que é confirmada, mais tarde, pela resposta deste mesmo professor às questões 21 (sobre o número de competências gerais) e 29 (sobre o número de competências específicas) do questionário, onde seleccionou, para ambas, a opção “Não, o número é insuficiente”.

______________________________________________________________________ É isto que se mostra na figura 14, que é bem explícita relativamente a esta análise estatística.

Figura 14

Espaço/tempo ocupado pelas aprendizagens fundamentais nas actividades lectivas do 1.º Ano

0 3 3 9 12 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2 4 6 8 10 12 14

Distribuição do espaço/tempo ocupado pelo

"aprender a viver juntos"

Sobre a adequação da competência geral “cooperar com outros em tarefas e projectos comuns”, a quase unanimidade dos professores questionados, 33 (97,06%), considerou-a adequada ou muito adequada ao 1.º Ano. Tendo em conta que, das 10 competências gerais que o aluno deve adquirir até completar o Ensino Básico, apenas 1 diz respeito ao “aprender a viver juntos”, questionou-se se este número está ajustado à importância desta aprendizagem no 1.º Ano. A grande maioria dos professores, 28 (82,35%), entendeu que o número é adequado. Dos restantes, 5 (14,71%) foram de opinião que o número é insuficiente e apenas 1 (2,94%) docente considerou que esta competência era excessiva para o 1.º Ano.

Tendo em conta a importância da operacionalização curricular em termos da aquisição e desenvolvimento de competências, questionámos os professores sobre o modo como conseguiam operacionalizar a aquisição e/ou desenvolvimento da competência geral antes mencionada. A maioria das respostas, 20 (58,82%) referiu “Sim, com alguma facilidade”, mas um número significativo de respondentes, 11 (32,35%), correspondente a quase um terço da amostra obtida, referiu ter dificuldade (em maior ou menor grau) nessa operacionalização, despertando a nossa “curiosidade” para as razões desta última alegação.

______________________________________________________________________ A figura 15 ilustra este conjunto de respostas.

Figura 15

Grau de operacionalização da aquisição e/ou desenvolvimento da competência geral “cooperar com outros em tarefas e projectos comuns”

1 2 9 20 2 0 5 10 15 20 25 Não Sim, com muita dificuldade Sim, com alguma dificuldade Sim, com alguma facilidade Sim, com muita facilidade

Grau de operacionalização da aquisição e/ou

desenvolvimento da competência geral em

análise

Aos professores que referiram ser capazes de operacionalizar a aquisição e/ou desenvolvimento desta competência geral, independentemente do grau de facilidade ou dificuldade, questionou-se como o faziam. Dos 33 professores que poderiam responder, 4 optaram por não o fazer, deixando o espaço de resposta em branco. Dos 29 professores que acederam a explicitar como efectuavam essa operacionalização, transcrevemos, sem qualquer ordem de importância relativa, as respostas dadas:

“Actividades/Projectos/Trabalhos em grupo; Trabalho de pares; Trabalhos de cooperação; Entreajuda/Ajuda mútua; Colaboração na organização de tarefas; Actividades de carácter lúdico-pedagógico; Jogos colectivos; Incentivo à participação com base em exemplos práticos; Intercâmbio de actividades; Conversação/diálogo; Saber falar na sua vez; Saber ouvir; Respeito pela opinião dos outros/tolerância; Saber esperar; Participação na elaboração de regras/aceitação dessas regras”.

Ainda relativamente aos professores que responderam afirmativamente em termos da sua capacidade para operacionalizarem esta competência geral, pretendemos investigar em que contexto é que essa operacionalização era efectuada. Dos 33 professores que podiam responder, a maioria, 19 (57,58%), afirmou fazê-lo “de modo específico nalgumas situações e de modo transversal noutras”. Dos restantes, 13 (39,39%) afirmou operacionalizar “sempre de modo transversal às várias áreas

______________________________________________________________________ curriculares e extra-curriculares” e apenas 1 professor (3,03%) referiu levar a cabo essa operacionalização “sempre de modo específico”.

Tendo em conta que a maioria dos docentes efectuava esta operacionalização “de modo específico nalgumas situações e de modo transversal noutras”, questionámos em “profundidade” no sentido de apurar o peso relativo destas duas possibilidades, tendo obtido as seguintes ponderações: 46,05% de modo específico e 53,95% de modo transversal. Este resultado acaba por reforçar a importância relativa da “transversalidade” sobre as restantes opções, na operacionalização da aquisição e/ou desenvolvimento da competência geral “Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns”.

Mas, tal como pretendíamos aprofundar a investigação neste tópico relativamente aos professores que afirmaram ser capazes de efectuar esta operacionalização, também se pretendeu apurar as razões que levaram 1 professor (2,94%) a afirmar não ser capaz de levar a cabo esta operacionalização. De acordo com este professor, a competência geral em análise não é adequada ao 1.º Ano e, além disso, ao nível do 1.º Ano, é impossível proceder a esta operacionalização. Apesar de marginal relativamente às restantes respostas e pouco significativa do ponto de vista estatístico, não quisemos deixar de fazer esta referência.

Independentemente daquela que era a prática dos professores desta amostra, no que à operacionalização da aquisição e/ou desenvolvimento da competência geral que temos vindo a analisar, não quisemos deixar de questionar estes mesmos professores sobre a sua opinião relativamente ao modo como “idealmente” esta operacionalização deveria ser efectuada. Com isto, a nossa investigação pretendia averiguar da existência de alguma eventual discrepância entre aquilo que é “desejável” e aquilo que é “possível”.

As respostas concentraram-se em torno de duas das opções facultadas. Catorze docentes (41,18%) responderam que, idealmente, essa operacionalização deveria ser efectuada “sempre de modo transversal às várias áreas curriculares e extra-curriculares”, enquanto os restantes 20 (58,82%) responderam “de modo específico nalgumas situações e de modo transversal noutras”, admitindo, implicitamente, que, por vezes,

______________________________________________________________________ será mais adequada uma operacionalização específica do “cooperar com outros em tarefas e projectos comuns”, do que uma operacionalização transversal.

Tendo em conta estas respostas, fomos analisar a correlação entre as matrizes (34x1) de dados “operacionalização na prática versus operacionalização idealmente”, relativamente a cada uma das duas opções, “sempre de modo transversal às várias áreas curriculares e extra-curriculares” e “de modo específico nalgumas situações e de modo transversal noutras”. Relativamente à primeira opção, obteve-se uma correlação de 0,57, e para a segunda opção, obteve-se uma correlação de 0,70.

Estes resultados confirmam uma relação relativamente forte entre as respostas sobre aquela que é a prática da operacionalização e aquela que deveria, idealmente, ser essa prática, na opinião dos docentes da amostra, mas também mostram que essa correlação é superior no conjunto de respondentes que elegeu efectuar a operacionalização da competência geral em causa, “de modo específico nalgumas situações e de modo transversal noutras”. Para isto contribuiu também o facto de esta opção ter sido a que angariou mais respostas, quer em termos daquela que é a “prática” da operacionalização, quer daquela que deveria ser a “prática” dessa mesma operacionalização.