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Capitulo 3 – Os Serviços de Ecossistema na Rede Natura 2000 no município de Arouca

3.2 Pastorícia

3.2.3 Áreas de pastoreio

O efetivo animal é a variável que vai condicionar o perímetro da área de pastoreio, quanto mais animais, necessidade de uma área maior e vice-versa.

Referente à área de pastoreio esta, como explicado na metodologia, foi delimitada de acordo com o cruzamento de informações de diversas fontes primárias pela dificuldade de abertura ao diálogo por parte dos pastores e um não mencionar de áreas exatas.

Fotografia 16: Renovação de pastagens na Serra da Freita, por pastores (fevereiro de 2017)

Nem só os pastores e criadores de gado da área de estudo fazem usufruto da mesma. Na Serra da Freita, pastores de aldeias como Covo, e Gestoso, na fronteira com o município de Arouca utilizam o planalto pertencente à RN2000 para alimentar os seus animais, considerado na área de pastoreio. Contrariamente, criadores de gado de Cabreiros e Tebilhão libertem o seu gado que se dirige para áreas fora da área de estudo, assim não consideradas.

Dificuldade foi acrescida na área do Montemuro onde a informação era nula, mas a perceção que “toda área referente ao Sitio Montemuro é uma área de pastoreio para

mais de 400 vacas de raça arouquesa pertencentes ao do Banco BIC” pelo que relataram

habitantes da freguesia de Alvarenga.

Quando questionados os pastores, sobre para onde levavam ou libertavam os animais, disseram estes “são libertados para o monte, para os baldios ou maninhos”. São utilizadas propriedades comunitárias que eles próprios dividem e não cruzam “consideram quase como suas, não aceitam intrusos e vêm-nos com maus olhos” (entrevista a um técnico florestal local, fevereiro de 2017).

Após os incêndios de 2016 as áreas percorridas por estes animais acima mencionados foram fortemente afetadas levando à necessidade de ajuda externa, na disponibilização de fenos, por parte da Cooperativa Agrícola de Arouca, para a alimentação. A exigência em quantidade de alimentação revelou que, a ajuda disponibilizada fosse reduzida levando à

“necessidade de percorrer às vezes 30km por dia para procurar locais onde os animais se pudessem alimentar”.

(entrevista a pastora de Regoufe, março de 2017) (fotografia 17). Na serra da Freita também foram aproveitadas áreas que tinham sido tratadas por fogo

Fotografia 17: Ilha de alimento pós-incêndio na Serra da Freita (fotografia de Manuel Rainha)

controlado e que não arderam, para os devidos efeitos.

Casos inesperados aconteceram com os rebanhos. Passado um mês da passagem do incêndio ainda morriam cabras queimadas por se enterrarem na cinza ainda em brasa, devido a um fogo subterrâneo que prevalecia no tempo. Este sucedido levou à morte de 4 cabras do rebanho de Regoufe e outras que sobreviveram com queimaduras.

As formas de pastoreio difere de acordo com o tipo de animais, os de grande porte e de raça autóctone, autonomamente libertados pastam e regressam aos seus currais, o miúdo necessita de acompanhamento e de uma área de pastoreio por vezes maior, “ a ida

constante com as cabras para o mesmo local após 3 dias seguidos leva a uma habituação dos animais aquele sítio e por vezes começam a ficar no monte, daí após incêndios também termos de percorrer uma imensidão de quilómetros para alimentar o gado. A estranheza do local leva a que acompanhem sempre o pastor” (entrevista a pastora

Regoufe, março de 2017).

O resultado do somatório dá uma área de pastoreio de cerca de 3400 ha, o que corresponde 22% da área de estudo.

Cruzando os dados das áreas de pastoreio com os da COS 2007, nível 5 (figura 29) e mapa de recorrências verifica-se que, as áreas correspondem quase na sua totalidade, com mais de 90% a incultos, onde existem os matos densos e pouco densos, vegetação herbácea natural e vegetação esparsa. Eu pude comprovar que efetivamente ainda hoje são estas áreas de incultos as preferidas pelos animais. O cruzamento das mesmas áreas com a recorrência dos incêndios evidencia que é aí que prevalece o maior número de recorrências, ou seja, existe uma estreita ligação entre a atividade pastoril e o uso do fogo. Os beneficios desta atividade deveraim ser valorizados numa politica de gestão e valorização territorial. Uma correta gestão desta atividade fomenta a biodiversidade, intervém a nível do sequestro de carbono que resulta na instalação e melhoramento das pastagens e na redução da carga de biomassa que pode servir de combustível nos meses mais críticos para os incêndios (Rocheta, 2011).

Na área de RN2000 é o gado bovino de raça arouquesa e o gado miúdo que podemos ver pastar.

Capítulo 4 – Contributo dos Serviços de Ecossistema na minimização do

risco de incêndio rural

There is no reason to believe that bureaucrats and politicians, no matter how well meaning, are better at solving problems than the people on the spot, who have the strongest incentive to get the solution right.

Elinor Ostrom

Hoje em dia, está-se a gastar muito mais dinheiro no combate que na prevenção (Tabela 5) “Comparando os dois períodos pré-PNDFCI (2000-2006) e pós-PNDFCI (2007-2012) verifica-se que as médias dos custos de prevenção variaram muito pouco (de 24,8 a 23,2 milhões de euros por ano), enquanto os custos com o combate aumentaram entre os dois períodos de 62,0 para 69,3 milhões de euros por ano, com uma correlação não significativa com as áreas ardidas, e passando a razão Combate/Prevenção de 2,5 para 3,0” (ICNF, 2014a: p.46). A variação verificada na tabela evidencia um desajustamento entre a prevenção e o combate, com uma diminuição média anual de 1,6 milhões de euros de gastos na prevenção e um aumento de 7,3 milhões no combate.

Tabela 5: Custos e perdas médias anuais dos incêndios florestais nos períodos 2000 a 2006 e 2017 a 2012 (extraído de ICNF, 2014 p.47)

Além de não se cumprirem os regulamentos estipulados no que respeita a DFCI, o maior problema ocorre quando em termos políticos se pensa na prevenção momentaneamente e apenas numa estratégia de combate permanentemente pois, pensa- se que o reforço de meios de combate, extremamente caros é a forma mais eficaz de minimizar os efeitos dos incêndios. A prevenção é mais eficiente que a extinção para gerir

os incêndios rurais (FAO, 2011). Em Portugal a prevenção está fundamentalmente focalizada nos aspetos estruturais (p.ex. criação de pontos de água, caminhos) e na redução dos combustíveis.