• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 Enquadramento teórico

1.2. Os serviços de ecossistema

1.2.2 Degradação dos serviços de ecossistema e do bem-estar humano

Nos últimos anos o impacto das atividades humanas nos ecossistemas tem causado inquietações pelo acelerar do ritmo das alterações nos serviços prestados pelos ecossistemas que, afetam negativamente o ser humano em diversas vertentes como a segurança, saúde, relações sociais, acesso a recursos básicos para uma vida com qualidade, entre outros. A consciencialização das problemáticas de que vivemos no Antropoceno, o futuro ainda se avizinha mais complicado, de maior pressão sobre os ecossistemas e seus serviços pela busca constante de valores dos serviços de produção em detrimento doutros. Estes desfasamentos levam à necessidade de uma política que busque uma interação sustentável entre o Homem e a Natureza e forma como dependentemente se relacionam (Andrade & Romeiro, 2009; Pereira et al., 2009).

O bem-estar humano depende dos SE. Os avanços tecnológicos, que nos conferem uma maior proteção, resultaram numa nova maneira de olhar o mundo e de usufruir dele como recurso, da qual somos totalmente dependentes. As alterações humanamente produzidas, às quais se associou a falta de conservação da biodiversidade é caracterizada por graves impactos ambientais locais e globais. Os serviços de ecossistema estão em decadência com enormes perdas de valores a si associadas que se refletem na redução da oferta e diminuição da sua qualidade, essenciais para a sua manutenção. O ser humano é afetado pelas alterações da capacidade de fornecimento dos SE, mas é o único racionalmente capaz de tomar medidas de decisão.

Os atores responsáveis pelo ordenamento e desenvolvimento a nível político, económico e ambiental, assim como a própria população têm de ser capazes de buscar um equilíbrio entre os setores económico, social, ambiental e político, na busca de elos de ligação para a atingir um desenvolvimento equitativo e sustentável para o pleno bem- estar humano (figura 8) (Pereira et al., 2009).

A evolução económica e tecnológica afetam o funcionamento dos ecossistemas. Os fluxos de entrada e saída de matéria pode-se apelidar de metabolismo ecossistémico, que se reflete em constantes mudanças na configuração da paisagem com necessidade de ser valorizada na sua integridade. As alterações causadas levaram a um novo metabolismo nos ecossistemas que busca seu equilíbrio, mas que não tem capacidade de resposta à

procura dos serviços de produção, disto resultaram consequências para o bem-estar humano, tornando-o mais vulnerável (Pereira et al., 2009; Ruoso et al., 2015; J. Wu, 2013; J. J. Wu, 2006).

Resultado desta situação há necessidade de uma gestão dos usos dos SE e sua conservação que, seja capaz de responder às alterações causadas, aos valores intrínsecos dos ecossistemas, às necessidades humanas e à construção de uma paisagem sustentável.

A biodiversidade é o elemento central de todos os ecossistemas. Considerada infraestrutura, função impulsionadora e serviço que, em conjunto com todas as outras funções dos ecossistemas, determinam o stock natural disponível para a sociedade; não surpreende que a ameaça aos serviços prestados pelos ecossistemas e seu valor, da qual o homem é dependente, se reflita, paralelamente, numa falta de conservação da biodiversidade e na presença de paisagens insustentáveis em que a integridade ecológica e as necessidades humanas não são mantidas ao longo das gerações (Madureira et al., 2013; J. Wu, 2013).

De acordo com Pereira et al. (2009), a contínua degradação da capacidade de fornecimento de serviços por parte dos ecossistemas é causada, por promotores de alteração. Segundo o MEA o promotor de alteração é qualquer fator que altera uma determinada característica do ecossistema. Estes podem ser diretos, quando influenciam inequivocamente os processos dos ecossistemas podendo ser identificados e medidos em vários graus de precisão (ex: indivíduos e pequenos grupos a nível local, decisores privados e públicos a nível municipal, regional, nacional e mesmo internacional) e indiretos, quando operam de uma forma mais difusa, alterando frequentemente um ou mais promotores diretos (ex: fatores demográficos, económicos, sociopolíticos, científicos e tecnológicos, culturais e religiosos). Ambos os fatores atuam com o estabelecimento de sinergias que variam na escala espácio-temporal dependente do fenómeno em causa (Pereira et al., 2009). De entre os promotores, o fogo é aquele que mais rapidamente tem capacidade de alterar os serviços prestados pelos ecossistemas (Pereira et al., 2009).

“Em muitos locais do mundo, esta degradação dos serviços dos ecossistemas é exacerbada pela perda do conhecimento associado as comunidades locais – conhecimento

que poderia ajudar ao uso sustentável dos ecossistemas. Esta pressão sobre os ecossistemas, e em especial sobre ecossistemas ameaçados, diminui seriamente as possibilidades de um desenvolvimento sustentável” (Pereira et al., 2009: p. 24) que por vezes é influenciada pelos interesses do poder político e económico.

As capacidades socioeconómicas, individualmente ou coletivamente produzidas, determinam a sua capacidade de acesso dos indivíduos ou comunidades aos SE. Em caso de escassez de algum serviço prestado as pessoas com mais rendimentos são capazes de abdicar dedos seus recursos financeiros para o conseguir obter, os mais pobres, que necessitam do mesmo serviço, não terão de forma alguma essa mesma capacidade acesso, ficam privados dos mesmos e sem opção de escolha ou então, se necessitarem ponderam abdicar de outros serviços para sua obtenção por exemplo obtenção de bens alimentares. Portanto, se se considerar o bem-estar a disposição ou capacidade de um determinado indivíduo ou comunidade aceder a um serviço que tenha um custo associado e se, nem todos têm o mesmo nível de acesso, o nível de bem-estar varia; este pode ser medido consoante as variações nos níveis de provisão de serviços de ecossistema (Madureira et al., 2013; Pereira et al., 2009).

Estes desfasamentos levam à necessidade de uma política que compreenda e busque a interação sustentável entre o Homem e a Natureza, a forma como dependentemente interagem para uma garantia dos SE e bem-estar humano a curto, médio e longo prazo (Andrade & Romeiro, 2009; Sala, Ciuffo, & Nijkamp, 2015; J. Wu, 2013; J. Wu & Hobbs, 2002).