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Capítulo 1 Enquadramento teórico

1.2. Os serviços de ecossistema

1.2.3 Importância da valoração sustentável dos serviços de ecossistema

A biodiversidade, os processos ecossistémicos, e os SE assim como o bem-estar humano para serem sustentáveis e proporcionarem paisagens sustentáveis têm de estar fortemente relacionados (J. Wu, 2013; J. Wu & Hobbs, 2002; J. J. Wu, 2006).

Na tentativa de minimizar erros do passado a economia mundial tem dado passos no sentido da preocupação e pressão ambiental; o crescimento económico leva um crescente nível de vida e a atitudes conscientes favoráveis ao meio ambiente (Pereira et al., 2009; Sala et al., 2015).

O uso frequente do termo sustentabilidade, sobretudo na esfera política, levou a uma perda do seu valor enquanto referência para a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Hoje, tudo é sustentável sem se saber o porquê de o ser ou, é sustentável sem o ser. O termo sustentável passou a ser frequentemente utilizado num sentido distinto da sua definição inicial presente no Relatório de Brundtland (1988) (Almeida, 1995; Barbosa, 2008; Brüseke, 1995).

Os serviços prestados pelos ecossistemas são essenciais para desenvolvimento sustentável. Auxiliam na compreensão generalizada da paisagem em harmonia com o bem-estar humano, para uma satisfação no presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades numa busca contínua da integridade ambiental, da vitalidade económica e da equidade social (J. Wu, 2013).

Wu (2013) refere um conjunto de autores alegando que o valor natural dos SE contribuem para a sustentabilidade das paisagens assentes numa sociedade da ciência. Por isso, “conhecer e valorizar os serviços de ecossistema é hoje uma necessidade sentida por um número crescente e diverso de agentes económicos, políticos e sociais. Os ecossistemas fornecem serviços essenciais para a nossa subsistência e qualidade de vida” (Madureira et al., 2013: p.2).

A gestão sustentável dos SE não pode ser feita a uma escala macro, pois parte das soluções partem da escala local onde costumes e tradições se mantêm ao longo de gerações “Exemplos de progressos significativos em direção a uma gestão sustentável dos recursos biológicos podem também ser encontrados na sociedade civil, nas comunidades indígenas, nas comunidades locais e no sector privado”(Pereira et al., 2009: p. 26).

Já reconhecido pela Convenção da Diversidade Biológica que entrou em vigor no dia 29 de Dezembro de 1993 (Cunha, 1999; ICNF, 1998) e hoje cada vez mais, a estratégia de valoração dos serviços de ecossistema tem apenas como pressuposto a decisão técnico- política para uma articulação equilibrada entre a gestão e conservação sustentável dos ecossistemas, dos seus serviços, e da biodiversidade. Com valoração económica dos SE se esperam resultados positivos para ambas as partes (Mangabeira, 2011).

A interação entre os diferentes SE é favorável ao desenvolvimento sustentável e integrado do território e “é neste contexto que se tem vindo a consolidar o paradigma da valorização económica destas atividades, designadamente através da captura de valor dos SE com carácter de bem público enquanto estratégia para assegurar a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade” (Madureira et al., 2013: p.27).

A sociedade começa a ter uma maior preocupação ambiental mas ainda está muito focalizada na extração das potencialidades económicas dos SE. Contudo, o seu estudo e valoração é uma mais-valia em termos técnicos e políticos pois, a análise auxilia os beneficiários e decisores a delinearem cuidadosamente quais os serviços que melhor satisfazem as suas necessidades e lhes transmitam um sentimento pleno de bem-estar.

O não reconhecimento do valor ambiental, económico, cultural e simbólico, dos SE e da biodiversidade contribui para o seu declínio. Na perspetiva da valorização económica da biodiversidade e dos SE pelas partes interessadas, para uma identificação e ponderação das iniciativas económicas que interferem no uso dos serviços de ecossistema, a iniciativa TEEB (The economics of ecosystems and Biodiversity) aplicada pelo projeto SAVE (Valorização de serviços ambientais de agroecossistemas em áreas protegidas) com objetivo de difundir o conhecimento dos serviços prestados pelos

ecossistemas enquanto bem público com poder económico (Madureira et al., 2013; Mangabeira, 2011).

A iniciativa referida desenvolveu-se em três patamares: reconhecer o valor social dos serviços de ecossistema, demostrar o seu valor económico e por fim capturar mecanismos de realização, manutenção e gestão (Madureira et al., 2013).

Há um interesse crescente no encontro de soluções para a valorização dos SE do ponto de vista económico dos valores culturais, sociais, ambientais e simbólicos que estes encerram. (Costanza et al., 1997) fez um estudo pioneiro e complexo sobre o valor dos serviços de ecossistema e do capital natural do planeta; o indicador a medir nesse estudo foi definido pelo ganho ou perda do bem-estar humano quando há alterações na provisão dos SE. Enquanto uns são transacionáveis e quantificáveis, o mesmo não acontece com os serviços culturais e de regulação, pela ausência de direitos e de propriedade não lhes é atribuído habitualmente um valor pelos mercados, consequentemente são considerados externalidades pelos agentes económicos em processos de tomadas de decisão; resultado deste processo, em alguns casos o poder económico dos mercados pode levar ao indesejado colapso da prestação de serviços pelos ecossistemas e consequente perda de bem-estar humano (Madureira et al., 2013; Pereira et al., 2009).

Importantes no bem-estar humano, as formas de avaliar os SE do ponto de vista económico é então pela qualidade do bem-estar das pessoas pela forma como tem acesso a determinados serviços, “O valor económico é, portanto, uma medida do bem-estar que o consumo de um bem ou serviço nos proporciona, e varia com a quantidade consumida, sendo que as primeiras unidades valem mais do que as últimas”(Madureira et al., 2013: p.43), sabendo que neste intervalo pode haver variações na capacidade de acesso aos SE.

A valoração económica, a mais considerada, funciona como uma ferramenta de suporte para dar a entender aos decisores as realidades e melhorar estratégias para cenários futuros. Madureira et al. (2013) considera que a valoração dos serviços de ecossistema operacionalmente serve para comparar um cenário base e um alternativo que cada individuo encontra na busca do bem-estar. Definição idêntica apresenta Pereira et al. (2009) para quem a valoração serve avaliar o contributo dos serviços de ecossistema no bem-estar humano, perceber como os decisores agem perante determinado estimulo e

se tem em consideração os serviços, e também avaliar resultados de ações alternativas e indiretas.

Fisher & Turner, 2008; Fisher, Turner, & Morling, 2009) não consideram a valoração económica, preferem o conceito de benefício, oferecido pela prestação de determinado serviço. Ambas as perspetivas contribuem para aumentar a importância dos SE na promoção do desenvolvimento sustentável.

1.3 Rede Natura 2000