• Nenhum resultado encontrado

EM áREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA SUB-BACIA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE

No documento POLO DE BIOTECNOLOGIA DA MATA ATLÂNTICA (páginas 140-156)

Reginaldo Barboza da Silva1, Piero Iori 2, Moacir de Souza Dias Junior2, Pedro Antonio Martins4

Resumo: O solo, recurso natural básico, quando utilizado corretamente, é renová-vel. Porém, percebe-se sua degradação estrutural e, consequentemente, a acelera-ção no processo da erosão, quando utilizado de maneira inadequada por parte dos agricultores, pecuaristas, entre outros. Este problema é ainda pior quando estes solos são das áreas laterais aos rios, córregos e nascentes, pois estes são impor-tantes locais de preservação e, quando mantidas na sua vegetação natural ou até mesmo quando reflorestadas, ajudam a preservar e recuperar os corpos d’água.

Esta pesquisa teve por objetivos a partir da prospecção de atributos físicos, hídricos e mecânicos do solo, quantificar, avaliar e comparar o impacto de diferentes usos sobre um Cambissolo Háplico, localizado em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Rio Ribeira de Iguape-SP. Considerando as condições em que foi rea-lizado este estudo, pode-se concluir que o uso do solo, de forma indiscriminada, em áreas de preservação permanente (APPs), degradou o Cambissolo Háplico. O cultivo de banana em APPs da Sub-bacia do Rio Ribeira de Iguape mostrou-se como o uso que mais impactou negativamente os atributos físicos e mecânicos do solo, resultando em maior capacidade de suporte de carga no solo e comprometimento da estrutura do solo. A preservação da mata nestas APPs tem papel importante na conservação de Cambissolos Háplicos na Sub-Bacia do Rio Ribeira de Iguape.

Termos de indexação: atributos físicos, perda de solo, qualidade do solo, Vale do Ribeira.

1,4. Universidade Estadual Paulista, Câmpus Experimental de Registro, Rua Nelson Brihi Badur, 430, Vila Tupy, Registro-SP – rbsilva@registro.unesp.br; 2.Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciência do Solo, Caixa Postal 3037 - CEP 37200-000 - Lavras-MG.

INTRODUÇÃO

As áreas laterais aos rios, córregos e nascentes são importantes locais de preservação, pois, quando mantidas na sua vegetação natural ou até mesmo quan-do reflorestadas, ajudam a preservar e recuperar estes corpos d’água. Estas áreas, quando preservadas, diminuem a erosão e consequentemente o assoreamento, que se constitui em um dos principais problemas da degradação de cursos d’água, levando, em alguns casos, à sua destruição total.

Segundo o Código Florestal (Lei n.° 4.771/65), as áreas laterais aos cursos d’água são consideradas áreas de preservação permanente (APP), que devem man-ter-se intocadas e, caso estejam degradadas, deve-se prover a imediata recupera-ção. Entretanto, esta lei não é seguida e, na maioria dos casos, o que se percebe é que o uso indevido destes solos, a falta de tecnologias e os manejos inapropriados nestes pedoambientes naturais têm alterado os atributos físicos, hídricos e mecâni-cos do solo, induzindo sua intensa degradação estrutural.

É de conhecimento universal que o solo, um recurso natural básico, é re-novável somente se conservado ou utilizado corretamente. Entretanto, a falta de conhecimentos tecnológicos para a utilização adequada por parte dos agricultores e pecuaristas, entre outros, tem provocado sua degradação estrutural, acelerando o processo da erosão, uma das mais nefastas consequências que comprometem diretamente os recursos hídricos (PRIMAVESI, 2002).

Estes solos, estando descobertos ou até mesmo sendo utilizados de manei-ra errônea, como, por exemplo, pamanei-ra fins agrícolas e/ou pamanei-ra pecuária, levam na estação das chuvas a excessiva erosão, sendo a queda de barrancos muito mais frequente, tornando este quadro ainda mais crítico. Assim, a falta de boas práticas agrícolas tem induzido à compactação que, além de acelerar o processo erosivo (laminar, sulcos e voçorocas), induz ao depauperamento contínuo do solo e ao as-soreamento dos rios.

Este é um problema que afeta a maioria das regiões brasileiras e, no Vale do Ribeira – SP, isto não é diferente. O Vale do Ribeira detém a maior parcela rema-nescente contínua da Mata Atlântica e de ecossistemas associados do País, concen-trando 40% das unidades de conservação do Estado de São Paulo, e reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Além disso, a UNESCO, em 1999, conferiu a esta região o título de patrimônio natural, socioambiental e cultural da humanidade.

Treze sub-bacias formam a bacia hidrográfica do Rio Ribeira. Sendo a sub- -bacia Ribeira do Iguape a de interesse neste estudo. A geomorfologia é uma das características que mais se destacam na região, e encontra-se sobre o flanco sudes-te da Serra de Paranapiacaba, e é dividida em três parsudes-tes: alto, médio e baixo vale.

O Alto Ribeira caracteriza-se por ser uma região de planaltos e corredeiras, desenvolvendo grande capacidade erosiva e de transporte. São frequentes as que-bras verticais nos cursos d’água (cachoeiras) em zonas de contato entre litologias de diferentes resistências à erosão (CAMARGO et al., 1987). Segundo Ross e Moroz

(1997), o Alto Ribeira é considerado um dos relevos mais complexos do Brasil, em virtude de sua grande diversidade litoestrutural. Os ciclos erosivos mais recentes entalharam profundamente a região, formando vales encaixados, profundos e es-treitos, com vertentes íngremes.

O Médio Vale do Ribeira caracteriza-se pela presença de planaltos e vales.

Por ser uma unidade de relevo com formas muito dissecadas, os vales são bem entalhados, e a drenagem é de alta densidade. Apresenta alto nível de fragilidade, estando, portanto, sujeito aos processos erosivos lineares e com grande probabili-dade de ocorrência de movimentos de massas.

A Depressão do Baixo Ribeira pertence à Bacia Sedimentar do Baixo Ribeira (Formação Pariquera-Açu). Localiza-se entre o Planalto do Rio Ribeira, a Escarpa/

Serra do Mar e a Planície Litorânea de Iguape-Cananeia. Nesta unidade, predomi-nam formas de relevo denudacionais, cujo modelado se constitui, basicamente, por colinas e patamares aplainados, com entalhamento dos vales variando de 20 a 40 m, e dimensão interfluvial oscilando de menos de 250 até 3.750 m.

Após este breve comentário sobre a geomorfologia e a importância ambien-tal da região do Vale do Ribeira, verifica-se a necessidade especial de estudos que forneçam informações sobre o real estado de degradação dessas áreas de proteção no Vale do Ribeira, pois estes ainda são escassos. Deste modo, pesquisas que obje-tivem a avaliar a qualidade desses solos, podem detectar tendências de mudanças que são mensuráveis num período relativamente longo e elucidar alternativas de correção desta degradação dos solos das áreas de preservação permanente. Contu-do, ainda é incerto o impacto dos usos e manejos agrícolas utilizados nas áreas de preservação permanente, especialmente na região do Vale do Ribeira.

É ressaltado por Araújo et al. (2007) que o estabelecimento de índices de qualidade do solo é ainda útil na tarefa de avaliação de impactos ambientais, quan-do biomas são incorporaquan-dos ao processo produtivo, seja de forma extensiva, seja intensiva. Torna-se, assim, um instrumento importante nas funções de controle, fiscalização e monitoramento de áreas destinadas à proteção ambiental. As práticas de manejo e conservação do solo e da água devem ser planejadas e executadas, procurando manter-se ou melhorar seus atributos, de modo a aumentar a capaci-dade do solo em sustentar uma produtivicapaci-dade biológica competitiva, sem compro-meter a qualidade da água.

Este estudo fundamentou-se na hipótese de que a quantificação e a mode-lagem de atributos físicos, mecânicos e hídricos dos solos das áreas de preservação ambiental possam diagnosticar e auxiliar em planejamentos conservacionistas que objetivem a redução da degradação estrutural e, consequentemente, o processo erosivo em áreas de influência da sub-bacia Rio Ribeira de Iguape; e que os re-sultados obtidos possam, no futuro, auxiliar a tomada de decisões voltadas para investimentos e adoção de ações e políticas públicas que proponham alternativas agrossocioambientais sustentáveis que respeitem as peculiaridades edáficas e cli-máticas desta região.

Portanto a pesquisa teve por objetivos quantificar e avaliar, a partir da

pros-pecção de atributos físicos, hídricos e mecânicos do solo, o impacto do uso sobre um Cambissolo Háplico, localizado em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Rio Ribeira de Iguape-SP

MATERIAL E MéTODOS

O trabalho foi realizado na sub-bacia do Rio Ribeira de Iguape, onde está localizado o Rio Ribeira de Iguape e afluentes, inclusos no município de Registro, latitude de 24°26’ sul, longitude 47°49’ oeste e altitude em torno de 25 m. O clima da região, de acordo Köeppen, é o Af, tropical úmido, com transição para o Cfa, sem estação seca definida, com temperatura média anual de 21°C e precipitação pluvial média anual de 1.700 mm. O solo sob a área de estudo, de acordo com a EMBRAPA (2006), foi classificado como Cambissolo Háplico.

Definiu-se como área experimental (Figura 1), áreas de proteção permanente (APPs) localizadas lateralmente ao Rio Ribeira de Iguape, utilizando-se de imagens de satélites e fotografias aéreas, mapa de solos e do índice de vegetação da diferen-ça normalizada– NDVI, proposto por Bendini e Silva (2009).

Figura 1 - Parte da sub-bacia do Ribeira de Iguape, com aproximação para a área de estudo, município de Registro-SP.

O impacto sobre a estrutura do solo foi avaliado em decorrência dos usos (Figura 2) que se seguem: a) cultivo de banana (CBAN); b) pastagem degradada (PDEG), c) uso silvipastoril (MPIS), e d) mata nativa (MNAT), proposta neste estudo como uma área de referencia. As avaliações e os ensaios foram realizados em 20 pontos geoposicionados em uma malha irregular, em cada uso, coletados na cama-da de 0 a 5 cm.

Figura 2 - Vista aérea da área experimental (a); área de cultivo de banana (b), e área de pastagem e uso silvipastoril (c).

Para a coleta das amostras indeformadas, isto é, não perturbadas, foi utili-zado o amostrador Uhland com anel volumétrico (69,7 mm de diâmetro e 25 mm de altura). As amostras deformadas foram coletadas com o auxílio de um trado holandês e acondicionadas em sacos plásticos. As análises foram realizadas no La-boratório de Física e Mecânica do Solo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus experimental de Registro, e no Laboratório de Física do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

A caracterização física e química do solo está apresentada na Tabela 1. A tex-tura e a argila dispersa em água (ADA) foram realizadas pelo método da pipeta (DAY, 1965), índice de floculação (IF) e teor de matéria orgânica (MO), segundo Embra-pa (1997) e densidade de Embra-partículas pelo método do picnômetro (BLAKE; HARTGE, 1986). A caracterização química (Tabela 1) foi realizada com base nos elementos no extrato do ataque sulfúrico, segundo Embrapa (1997).

Tabela 1 - Caracterização física e química do Cambissolo Háplico sob os diferentes usos avaliados.

Variáveis Tipos de uso do solo

MNAT MPIS PDEG CBAN

Dp (kg dm-3) 2,67 2,56 2,60 2,65

A (g kg-1) 155 237 216 294

S (g kg-1) 343 122 146 317

AF (g kg-1) 6 186 212 232

AG (g kg-1) 495 455 426 157

AT (g kg-1) 502 641 638 389

ADA (g kg-1) 51 22 27 121

IF (%) 67 91 88 59

SiO2 (%) 13,13 7,34 7,6 12,29

Al2O3 (%) 8,54 5,98 6,19 9,42

Fe2O3 (%) 6,09 3,06 3,03 6,16

TiO2 (%) 2,384 1,589 2,31 2,765

P2O5 (%) 0,101 0,044 0,057 0,304

Ki 2,61 2,09 2,09 2,22

Kr 1,8 1,57 1,59 1,56

Al2O3/Fe2O3 2,2 3,07 3,2 2,4

Dp: densidade de partículas; A: argila; S: silte; AT: areia total; AG: areia grossa; AF: areia fina; ADA: ar-gila dispersa em água; IF: índice de floculação; Ki: relação molecular SiO2/Al2O3, e Kr: relação molecular SiO2/Al2O3+Fe2O3. Média de 20 repetições.

A densidade do solo (Ds) foi determinada de acordo com a Embrapa (1997), pelo método do anel volumétrico. A macroporosidade e a microporosidade foram determinadas conforme os procedimentos da Embrapa (1997).

As curvas de retenção de água do solo foram obtidas com base na metodo-logia de Freitas Júnior e Silva (1984), por meio de secagem, submetidas às tensões de 2; 4; 6; 10; 33; 100; 500 e 1.500 kPa. Os valores de umidade e potencial de água observados foram ajustados pela equação de Genuchten (1980), por meio do programa SWRC (Soil Water Retention Curves), versão 3.0, para ajuste da curva de retenção de água proposto por Dourado Neto et al. (2001).

A avaliação da sustentabilidade estrutural do solo foi feita com base na

pres-são de preconsolidação (sp). Para tanto, em laboratório, amostras não deformadas (corpos de prova) extraídas dos diferentes usos foram saturadas por capilaridade com água destilada e equilibradas para duas condições: a) solo considerado parcial-mente seco (teores em torno de 13%) e b) solo parcialparcial-mente saturado (amostras de solo submetidas a tensão de 4 kPa). Estas umidades foram escolhidas buscando simular o comportamento do solo nas épocas mais secas e nas épocas mais úmidas, comuns na região de estudo.

As amostras foram submetidas ao ensaio de compressão uniaxial em um consolidômetro automático com interação homem-máquina, modelo CNTA-IHM/

BR-001/07, desenvolvido por Silva et al. (2007). Os níveis de pressão aplicados ao corpo de prova foram: 25; 50; 100; 200; 400; 800 e 1.600 kPa, observando-se a pressuposição de Taylor (1948), que define a deformação máxima de até 90% do corpo de prova, para cada nível de pressão. Por meio do software CA LINKER, de-senvolvido por Silva e Masquetto (2009), obteve-se a curva de compressão do solo;

posteriormente, a pressão de preconsolidação (σp) foi estimada, observando-se a sugestão dos métodos M1 e M3 (DIAS JúNIOR; PIERCE, 1995).

A suscetibilidade à erosão (erodibilidade), ou fator K da Equação Universal de Perda de Solo, foi determinada utilizando-se de sete modelos:

Wischmeier et al. (1971)

K1 = {[2,1 (10-4) (12 – MO) M1,14 + 3,25 (E – 2) + 2,5 (P – 3)] / 100} 0,1317 (1) Denardin (1990)

K2 = 0,006084 P + 0,00834286 MO – 0,00116162 Al - 0,00037756 AT (2) K3 = 0,00000748 M + 0,00448059 P – 0,0631175 DMP + 0,010396 R (3) Roloff & Dernadin (1994)

K4 = 0,0049 P + 0,0331 Mm0,5 (4) K5 = 0,1038 Mm0,5 – 0,0454 Al (5) K6 = 0,0917 Mn0,5 – 0,0526 Fe + 0,0176 AF’ (6) K7 = 0,0437 Mn0,5 + 0,035 Fe – 0,0111 (Al/A) (7) Em que:

MO (%);

M = (S + A) x [(S + A) + AG], S (%); AF (%) e AG (%);

E = coeficiente de estrutura, Muito pequena = 1; Pequena granular = 2; Média a grande granular = 3;

P = coeficiente de permeabilidade, Muito rápida = 1; Rápida = 2; Moderada = 3;

Lenta = 4; Muito lenta = 5; Imperfeitamente drenado = 6;

Al = teor de Al2O3 da extraído pelo ataque sulfúrico (%);

AT (%);

DMP = [(0,65 x AG) + (0,15 x AF) + (0,0117 x S) + (0,00024 x A)]/100, AG (%); AF (%);

S (%) e A (%);

R = AG x MO/100, AG (%);

Mm = S x (S + AF), S (g g-1) e AF (g g-1);

Fe = teor de Fe2O3 extraído pelo ataque sulfúrico (g g-1);

AF’ (g g-1).

Para comparação estatística entre as médias utilizou-se o erro-padrão das médias, por ser mais adequado, segundo Paes (2008), quando se trata de fazer infe-rências sobre as médias. A construção de gráficos, de diagramas e da estimativa da correlação de Pearson entre as variáveis foi realizada por meio da versão demons-trativa do aplicativo Sigma Plot 11.0 (Systat Software Inc).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores para macroporosidade (Figura 3) encontrados foram baixos em todos os usos. Somente a MNAT ficou entre os valores considerados críticos por Cockroft e Olsson (1997), de 0,10 a 0,15 m3 m-3, sendo que os demais usos ficaram inferiores a estes valores, podendo, segundo os mesmos autores, este solo apresen-tar problemas de aeração do solo. Esses baixos valores de macroporosidade podem representar maior resistência mecânica interna do solo (acirramento das partícu-las), bem como menor infiltração de água no solo.

Figura 3 - Valores médios de macroporosidade (Ma), microporosidade (Mi) e poro-sidade total (PT) para todos os usos. A barra de erros representa o erro- -padrão da média.

Os usos MNAT e CBAN apresentaram os maiores valores para a microporosi-dade em comparação a MPIS e PDEG. Os valores altos de microporosimicroporosi-dade e baixos para macroporosidade indicam haver problema de compactação. Isso ocorre sem-pre que há aumento da microporosidade em detrimento da redução da macropo-rosidade.

Os resultados encontrados na Figura 3 podem ser corroborados pelos apre-sentados na Tabela 1, os quais evidenciam maiores valores de argila dispersa em água no CBAN em relação aos outros três usos avaliados, indicado que esse uso predispõe mais o solo à compactação, devido ao melhor arranjamento da massa do solo (SILVA, 1997). Os maiores valores de índice de floculação foram encontrados no uso PDEG e MPIS, sugerindo que estas áreas estão em processo mais avançado de manutenção da estrutura dos solos, já que a floculação é a primeira condição para a formação dos agregados.

Na Figura 4, são apresentados os valores médios da densidade do solo para os diversos usos. A região I da figura representa a densidade que indica contato insuficiente entre o sistema radicular e o solo, e baixa retenção de água. Os valores médios da densidade do solo na região III podem indicar impedimento radicular e reduzida aeração no solo (REYNOLDS et al., 2007) e a região II pode ser considerada como de valores ótimos de densidade do solo (REYNOLDS et al., 2007) para boa interação solo-água-planta.

Figura 4 - Valores médios de Densidade do solo inicial para os diversos usos do solo avaliados. A barra de erros representa o erro-padrão da média.

A porosidade total (Figura 3) e a densidade do solo (Figura 4) demonstram haver variação significativa entre os usos avaliados. Tendo como referência o solo sob MNAT, verifica-se que os valores mais altos para a densidade do solo e, conse-quentemente, mais baixos para a porosidade total foram registrados nas áreas sob PDEG e MPIS. Os valores mais elevados de densidade do solo registrados nessas áreas (PDEG e MPIS) são resultantes do intenso pisoteio dos animais. Estes resul-tados estão de acordo com Kondo e Dias Júnior (1999), que demonstraram que o efeito do pisoteio do gado em pastagens ocorre, principalmente, nos primeiros centímetros do solo, cerca de 0 a 3 cm. Os valores de densidade do solo para o uso

CBAN, apesar de serem inferiores estatisticamente aos valores encontrados para os usos PDEG e MPIS, também estão compreendidos na região III, indicando que estes valores da densidade do solo são elevados, podendo promover impedimentos físicos ao sistema radicular das plantas (REYNOLDS et al., 2007).

A matéria orgânica do solo é um dos atributos do solo que mais influenciam nos indicadores do solo, sejam eles mecânicos, físicos e/ou hídricos. O intervalo compreendido entre as linhas tracejadas de 30 a 50 g kg-1 (Figura 5) é citado, na lite-ratura, como sendo uma faixa ótima para a matéria orgânica no solo (CRAUL, 1999).

Somente o solo sob MNAT ficou abaixo desse intervalo, provavelmente devido ao equilíbrio em que este sistema se encontra.

Figura 5 - Teores médios de matéria orgânica para os diversos usos do solo avalia-dos. A barra de erros representa o erro-padrão da média.

Foram observados altos valores para diâmetro médio ponderado (Figura 6) para os usos CBAN, PDEG e MPIS, quando comparados aos valores obtidos para a MNAT. Essa maior estabilidade de agregados em água para os usos (CBAN, PDEG e MPIS) deve-se ao alto teor de matéria orgânica encontrado (Figura 5). Todos os usos ficaram compreendidos na faixa ótima para a matéria orgânica no solo (CRAUL, 1999) com exceção da MNAT. O índice de floculação (Tabela 1) encontrado de 91%

e 88%, para MPIS e PDEG, respectivamente, pode explicar os altos valores na es-tabilidade de agregados encontrados e também o baixo valor de diâmetro médio ponderado, para a MNAT (Índice de floculação de 67%), porém, para o CBAN, que apresentou elevado valor de diâmetro médio ponderado, o grau de floculação (Ín-dice de floculação de 59%) não explicaria o fenômeno.

Albuquerque et al. (2005) explicam que os processos envolvidos na flocu-lação de partículas e na estabilização de macroagregados podem ser diferentes, ou seja, o que beneficia o grau de floculação pode não beneficiar a estabilidade de agregados. Além do mais, este menor valor do diâmetro médio ponderado da

MNAT, em comparação aos outros usos, se dá pelo maior teor de argila nos ou-tros usos que propiciam maior interação com a matéria orgânica. O solo sob MNAT apresentou elevados teores de silte que interagem pouco com a matéria orgânica, explicando essa menor estabilidade.

Figura 6 - Diâmetro médio ponderado (DMP) para os diversos usos do solo avalia-dos. A barra de erros representa o erro-padrão da média.

As maiores retenções de água no solo foram observadas na MNAT até 60 kPa (Figura 7). A partir desta tensão, as informações se invertem, tendo CBAN as maio-res retenções de água. Essa maior retenção de água é corroborada pelos maio-resultados de porosidade (Figura 3), em que os usos MNAT e CBAN apresentaram os maiores valores de microporosidade (0,46 e 0,45 m3 m-3), respectivamente.

Figura 7 - Curvas de retenção de água para todos os usos avaliados no Cambissolo Háplico. CC indica a capacidade de campo (10 kPa) e PMP indica o ponto de murcha permanente (1.500 kPa).

Os valores de AD e CC variam em função do tipo de uso, sendo permitido verificar a seguinte sequência, no que se refere à capacidade de retenção de água::

MNAT>CBAN>PDEG = MPIS. De forma idêntica, a densidade do solo (Figura 4) tam-bém apresentou a mesma sequência. Isto se deve ao fato de que o fenômeno de retenção para baixas tensões está relacionado à estrutura do solo, ou seja, a de-pendência maior da curva de retenção de água ocorre em relação à capilaridade e à distribuição dos tamanhos dos poros, portanto depende fortemente da estrutura do solo (OR; WRAITH, 1997).

O uso CBAN apresentou a maior retenção de água a 1.500 kPa (PMP), de-vido, principalmente, à sua textura, pois foi o uso em que solo apresentou maior quantidade de argila (Tabela 1), em comparação aos demais usos. Isso é explicado pelo fato de que, para valores maiores nas tensões, a dependência maior ocorre em relação à retenção, ou seja, depende mais da textura e da superfície específica do que da estrutura (JURY et al., 1991).

A maior capacidade de suporte de carga (CSCS), mediada pela sp em amos-tras não deformadas de solos parcialmente saturados (amosamos-tras de solos submeti-das à tensão de 4 kPa), foi verificada para os três usos (CBAN, PDEG e MPIS), espe-cialmente quando comparada CSCS sob o uso de MNAT (Figura 8). Estes resultados (maior CSCS) evidenciam o histórico de tensão (manejo) impressa ao Cambissolo Háplico nos respectivos usos e, também, evidenciam o que pode ocorrer em épocas de altíssimas precipitações (comum na região de estudo). Nessas épocas do ano, o teor de água está acima da capacidade de campo, possibilitando a redução da

A maior capacidade de suporte de carga (CSCS), mediada pela sp em amos-tras não deformadas de solos parcialmente saturados (amosamos-tras de solos submeti-das à tensão de 4 kPa), foi verificada para os três usos (CBAN, PDEG e MPIS), espe-cialmente quando comparada CSCS sob o uso de MNAT (Figura 8). Estes resultados (maior CSCS) evidenciam o histórico de tensão (manejo) impressa ao Cambissolo Háplico nos respectivos usos e, também, evidenciam o que pode ocorrer em épocas de altíssimas precipitações (comum na região de estudo). Nessas épocas do ano, o teor de água está acima da capacidade de campo, possibilitando a redução da

No documento POLO DE BIOTECNOLOGIA DA MATA ATLÂNTICA (páginas 140-156)