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RESULTADOS E DISCUSSÃO

No documento POLO DE BIOTECNOLOGIA DA MATA ATLÂNTICA (páginas 99-112)

ATLÂNTICA DO VALE DO RIBEIRA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificadas 49 famílias e 157 espécies (CARDOSO-LEITE, 2009). Na maioria das parcelas estudadas, a vegetação apresentou-se bastante densa, com altura entre 20 e 30 m e com estratificação vertical bem definida (Figura 2).

As espécies consideradas comuns de Mata Atlântica e abundantes no Vale do Ribeira (Tabela 1) representaram apenas 13,4% do total de espécies e 32,5% dos indivíduos amostrados.

Do total de espécies comuns e abundantes (Tabela 1), apenas 6 espécies são pioneiras, sendo que as outras 15 espécies são tardias.

Figura 2 - Aspecto do interior da Floresta Ombrófila Densa Submontana, no Parque Estadual da Caverna do Diabo, Mosaico do Jacupiranga-SP. Foto: Cardoso-Leite, 2007.

As espécies raras (29) representaram 18,5% do total de espécies (Tabela 2) amostradas (CARDOSO-LEITE, 2009), e as espécies ameaçadas (12), 7 ,6% (Tabela 3).

Considerando o universo das espécies de maior abundância (Tabela 1), Salicaceae, Rubiaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae, Monnimiaceae, Arecaceae, Meliaceae e Sapotaceae foram as famílias que concentraram o maior número de indivíduos. Estas famílias normalmente apresentam grande riqueza de espécies e/

ou densidade de indivíduos (MELO; MANTOVANI, 1994) em áreas de Mata Atlântica.

Rubiaceae, Myrtaceae e Monnimiaceae geralmente apresentam espécies tardias de sub-bosque ou subdossel. Meliaceae e Sapotaceae apresentam espécies tardias, de dossel. Arecaceae é representada por Euterpe edulis, uma espécie tardia de dossel ou subdossel. As espécies de Salicaceae e Euphorbiaceae (Tabela 1) são todas pioneiras.

Quadro 1 - Espécies comuns de Mata Atlântica (CAIAFA, 2008), abundantes no Vale do Ribeira, amostradas no PECD/ APA QMR, Vale do Ribeira-SP, Brasil. N.

ind. = número de indivíduos. G.E.= grupo ecológico (P= pioneira, NP = não pioneira. 1- Espécies também presentes no PE de Intervales (GUILHERME et al., 2004), 2 - na Juréia (MELO et al., 2000), e 3- no PE Ilha do Cardoso (3=MELO; MANTOVANI, 1994).

Espécie FAMíLIA N. ind. G.E. 1 2 3

Casearia obliqua Spreng. Salicaceae 35 P X X X

Guapira opposita (Vell.) Reitz Nyctaginaceae 29 NP X X X

Euterpe edulis Mart. Arecaceae 22 NP X X X

Campomanesia guaviroba (DC) Kiaersk. Myrtaceae 22 NP X X

Bathysa australis (St.Hill.) Hook f. Rubiaceae 22 P X

Cabralea canjerana (Vell.)Mart. Meliaceae 21 NP X X X

Chrysophyllum aff flexuosum Mart.. Sapotaceae 20 NP X X

Alchornea triplinervea (Spreng.) Muell. Arg. Euphorbiaceae 15 P X X

Pera glabrata (Schott.) Baill. Euphorbiaceae 15 P X

Psychotria suterella Müll. Arg. Rubiaceae 15 NP X

Mollinedia schottiana (Spreng.) Perk Monnimiaceae 15 NP X X

Myrcia spectabilis DC. (sin. Gomidesia spectabilis) Myrtaceae 14 NP X X X

Rudgea jasminoides (Cham.) Müll. Arg. Rubiaceae 14 NP X

Mollinedia uleana (Spreng.) Perk. Monimiaceae 14 NP X X

Casearia sylvestris Sw. Salicaceae 12 P X X

Cupania oblongifolia Mart. Sapindaceae 11 NP X X X

Ficus enormis (Mart ex Miq.) Mart. Moraceae 10 NP X

Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) D. Zapp Clusiaceae 9 NP X X X

Sloanea monosperma Vell. Elaeocarpaceae 9 NP X

Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Lauraceae 9 NP X

Hyeronimia alchorneoides Fr. ‘ Phyllantaceae 9 P X X X

Dentre estas espécies comuns e abundantes no Vale do Ribeira (Tabela 1), algumas apresentam potencial de uso econômico. Dentre estas, as que fornecem produtos florestais não madeireiros (PFNM) são: guabiroba, bacupari e guaçatonga, e nas madeireiras tem-se canjerana, canelinha e iricurana. Alguns desses usos estão descritos a seguir.

Produtos florestais não madeireiros:

Campomanesia guaviroba – GUABIROBA- frutos com polpa doce com alto teor vitamínico, podendo ser consumidos in natura, em forma de doces, geleias, sucos e licores (LORENZI, 1992).

Garcinia gardneriana- BACUPARI- fruto com polpa comestível, a casca contém tani-no, utilizado para curtir couro, e a resina tem uso medicinal para doenças urinárias

(LORENZI, 1992; DAMACENO JR., 2009).

Casearia sylvestris - GUAÇATONGA- folhas têm ação medicinal (existem fitoterápi-cos preparados com a mesma), a madeira pode ser utilizada para construção civil em tábuas, tacos, assoalhos, marcenaria e carpintaria (LORENZI, 2002).

Madeireiras:

Cabralea canjerana – CANJERANA- a madeira é moderadamente pesada, resisten-te à umidade e a insetos. Indicada para construção de móveis, esculturas, constru-ção civil (LORENZI, 2002).

Nectandra megaptomica – CANELINHA - Apresenta madeira que pode ser utiliza-da em construção civil e naval (MARQUES, 2001).

Hyeronimia alchorneoides- IRICURANA- madeira dura, medianamente resistente, durável quando exposta à umidade, podendo ser empregada na construção civil, para vigas e caibros, e para construção de canoas, pranchas e moirões (LORENZI, 2002).

Os resultados mostraram a existência de 29 espécies raras (Tabela 2) . Pode-se obPode-servar que a grande maioria delas são espécies não pioneiras (tardias ou cli-mácias). Observa-se também que três espécies (Trichilia pallens, Marlieria suave-olens, Sessea brasiliensis) são raras e estão ameaçadas.

Caiafa (2008), em estudo sobre raridade de espécies em Mata Atlântica, pro-põe sete (7) categorias de raridade, baseadas na distribuição geográfica da espécie, na ocorrência em um ou vários ambientes, e na abundância ou escassez das popu-lações locais.

Neste estudo, foram encontrados os tipos de raridade 1, 4, 5, 6 e 7. O tipo 1 (Lonchocarpus muelbergianus e Senna multijuga) são espécies de ampla dis-tribuição geográfica, que ocorrem em ambientes variados, mas com populações localmente escassas.

O tipo 4 representa espécies de distrubuição geográfica restrita (estenotópi-cas), com ocorrência em ambientes variados e com populações localmente abun-dantes. Este tipo foi encontrado para a maioria (55%) das espécies raras (Tabela 2).

O tipo 5, com Dahlstedtia pentaphylla (Figura 3), Trichilia clausenii, Tibouchi-na mutabilis, Eugenia blastanta, Chomelia cathariTibouchi-nae, Cecropia hololeuca, Marlie-ria suaveolens, é representado por espécies de distribuição geográfica restrita, ambientes variados, com populações localmente escassas. Inclusive Marlieria su-aveolens é considerada vulnerável à extinção (Tabela 3) no Estado de São Paulo (ESTADO DE SÃO PAULO, 2004).

Quadro 2 - Espécies raras (sensu Caiafa, 2008) na Mata Atlântica, amostradas no PE - Caverna do Diabo e APA Quilombos do Médio Ribeira, Vale do Ribeira- -SP, Brasil. G.E. = grupo ecológico (P= pioneira, NP = não pioneira. Espé-cies com * são raras e ameaçadas.

Espécies Família G.E. Raridade

Actinostemum communis (Muell. Arg.) Pax Euphorbiaceae P R4

Cecropia hololeuca Miq. Urticaceae P R5

Chomelia catharinae (L.B.Sm. & Downs) Steyerm Rubiaceae NP R5

Citronela megaphylla (Miers) Howard Cardiopteridaceae P R4

Connarus regnellii Schel. Connaraceae NP R6

Dahlstedtia pentaphylla (Taub. )Burk. Fabaceae NP R5

Dalbergia frutescens (Vell.) Britton Fabaceae NP R4

Eugenia aff stictosepala Kiaersd. Myrtaceae NP R4

Eugenia blastanta (O. Berg.) Legr. Myrtaceae NP R5

Eugenia cuprea (Berg) Ndz Myrtaceae NP R4

Eugenia mosenii (Kausel) Sobral Myrtaceae NP R4

Eugenia stigmatosa DC. Myrtaceae NP R4

Guatteria nisgrescens Mart Annonaceae NP R4

Hedyosmum brasiliense Mart. Ex Miq. Cloranthaceae - R4

Lonchocarpus muelbergianus Hassl. Fabaceae P R1

Marlieria suaveolens Camb. * Myrtaceae NP R5

Maytenus evonymoides Reissek Celastraceae NP R4

Maytenus aquifolium Mart. Celastraceae NP R4

Myrcia hatschabachii D. Legrand. Myrtaceae NP R6

Myrcia sosias D. Legrand. Myrtaceae NP R7

Nectandra cf leucantha Mart. Lauraceae NP R4

Piptadenia gonoacantha (Mart.)Macbr. Fabaceae P R4

Senna multijuga (Rich.) Irwin et Barn. Fabaceae P R1

Sessea brasiliensis Miq.* Solanacee NP R6

Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn. Melastomataceae P R5

Trichilia catigua Adr. Juss. Meliaceae P R4

Trichilia clausenii C. DC. Meliaceae - R5

Trichilia pallens C.DC. * Meliaceae NP R4

Vochysia bifalcata Warm. Vochysiaceae NP R4

O tipo 6 (Connarus regnellii, Myrcia hatschabachii, Sessea brasiliensis) representa espécies de distribuição restrita, de ocorrência em ambiente único, mas com populações localmente abundantes. Sessea brasiliensis apresenta dados deficientes (poucos estudos) e portanto aparece na lista vermelha mundial (IUCN, 2009).

No tipo 7 (Myrcia sosias), o mais grave tipo de raridade, representa espécies de distribuição geográfica restrita, com ocorrência em ambiente único e com populações localmente escassas.

Figura 3 - Indivíduo Dahlstedtia pentaphylla (Taub )Burk., uma espécie rara, presente no Parque Estadual da Caverna do Diabo, Mosaico do Jacupiranga-SP.

Foto: Cardoso-Leite, 2006.

Pode-se observar que a grande maioria das espécies raras são tardias, e existem várias espécies raras nas famílias Myrtaceae e Fabaceae.

Os resultados mostraram também a existência (Tabela 3) de doze espécies com algum registro de ameaça à extinção.

Quadro 3 - Espécies ameaçadas amostradas no PE-Caverna do Diabo e APA Quilombos do Médio Ribeira, Vale do Ribeira-SP, Brasil. E.A. = espécies ameaçadas (SP- ESTADO DE SÃO PAULO, 2004; BR – BRASIL, 2008; IUCN – IUCN, 2009, onde EX = extinta, CR- criticamente ameaçada, EN- ameaçada, VU- vulnerável, NT- próxima à vulnerabilidade, DD – dados deficientes).

Espécies Família G.E. E.A.

Euterpe edulis Mart. Arecaceae NP BR-EN; SP-VU

Cedrela fissilis Vell. Meliaceae NP IUCN-EN

Campomanesia neriiflora (O.Berg.) Nied. M yrtaceae NP ICUN-VU

Myrocarpus frondosus Fr. Allemão Fabaceae NP IUCN- DD

Marlieria suaveolens Camb. Myrtaceae NP SP-VU

Sessea brasiliensis Miq. Solanaceae NP IUCN-DD

Trichilia pallens C.DC. Meliaceae NP ICUN- NT

Myrceugenia campestris D. Legrand. & Kausel Myrtaceae NP IUCN-VU

Myrceugenia myrcioides (Camb.) O. Berg. Myrtaceae NP IUCN-NT

Zanthoxylum petiolare Mart. A.St-Hil. & Jus. Rutaceae P SP-VU

Cariniana legalis (Mart.) O. Kuntze Lecythidaceae NP IUCN-VU

Trichilia silvatica C.DC. Meliaceae NP ICUN-VU

Figura 4 - Interior da floresta, com indivíduos jovens de juçara (Euterpe edulis), uma espécie de ocorrência comum em Mata Atlântica, e ameaçada de extinção. Parque Estadual da Caverna do Diabo, Mosaico do Jacupiranga--SP. Foto: Cardoso-Leite, 2006.

Dentre as espécies ameaçadas para Myrocarpus frondosus Fr. Allemão, Cedrela fissilis Vell. e Cariniana legalis (Mart.) O. Kuntze, a excessiva utilização das madeiras destas espécies na construção civil ou de móveis pode ter sido a causa do atual estado de ameaça. Ruschel et al. (2003) registram o alto valor comercial das madeiras de Myrocarpus frondosus Fr. Allemão e Cedrela fissilis Vell.

Euterpe edulis Mart. apesar de ser uma espécie amplamente distribuída por praticamente toda a costa brasileira, na Mata Atlântica, e mesmo sendo abundante no Vale do Ribeira, é uma espécie que sofre forte pressão antrópica, inclusive com extração ilegal.

No Vale do Ribeira, esta espécie ainda é objeto de extração ilegal, tanto em Unidades de Conservação, quanto em propriedades particulares.

Algumas são raras (Sessea brasiliensis, Marlieria suaveolens., Trichilia pallens) e talvez por isso, qualquer pressão de uso tenha provocado esse estado de ameaça.

Para as demais, Campomanesia neriiflora (O.Berg.) Nied, Myrceugenia campestris D. Legrand. & Kause, Myrceugenia myrcioides (Camb.) O. Berg,, Trichilia silvatica C.DC e Zanthoxylum petiolare Mart. A.St-Hil. & Jus, não se conhece a causa do atual grau de ameaça.

Somando-se o número de espécies raras (29) ao número de espécies ameaçadas (12), tem-se 26,6% do total de espécies amostradas (CARDOSO-LEITE,

2009) com algum tipo de fragilidade. Estes dados reforçam a importância das Unidades de Conservação de Proteção Integral, como Parques e Estações Ecológicas, pois, sem a existência dos mesmos, estas espécies poderiam facilmente ser extintas da natureza.

Ao contrário, o número de espécies comuns de Mata Atlântica e abundantes no Vale, é relativamente pequeno (13,4%), o que restringe as possibilidades de manejo sustentável de espécies arbóreas na Mata Atlântica.

Conservação e uso sustentável da biodiversidade e áreas protegidas no Vale do Ribeira

Para se proteger efetivamente o grande número de espécies raras e ameaçadas de extinção, seria necessária uma concentração de esforços na gestão das áreas protegidas, com um sistema de monitoramento mais preciso e rápido, com maior fiscalização e punições mais rigorosas aos infratores (caçadores, palmiteiros e outros extratores ilegais), principalmente nas Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI).

Para as espécies abundantes em Mata Atlântica, comuns no Vale do Ribeira (Tabela 1), não ameaçadas, poder-se-ia pensar em manejo, ou uso sustentável.

Dependendo do tipo de manejo e das possibilidades de uso do solo e extração de recursos, este poderia ser feito dentro de Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS), ou em propriedades particulares. A seguir, serão comentadas algumas dessas possibilidades de manejo.

Manejo de espécies frutíferas - (guabiroba, bacupari) como são todas espécies tardias, recomenda-se o manejo em floresta conservada, em UCUS como APA, RDS e RESEX. Plantio de enriquecimento em áreas degradadas dentro ou fora de UCUS, e plantio em sistemas agroflorestais (SAF), principalmente no entorno de UC. Como estas espécies citadas, existem muitas outras frutíferas comuns de Mata Atlântica que poderiam ser manejadas, como jabuticaba (Myrciaria floribunda), uvaia (Eugenia pyriformis), araticum (Rollinia emarginata, Rollinia laurifolia, Rollinia sericea, Rollinia silvatica).

Manejo de espécies medicinais (guaçatonga) – como é uma espécie inicial, poderia ser manejada em florestas degradadas, dentro ou fora de UCUS, pois, como é uma espécie pioneira, muitas vezes está presente nestas áreas. Poderia também ser utilizada em reflorestamento com nativas, para futuro manejo, além de ser implantada em SAFs. Como guaçatonga, existem outras espécies pioneiras, com uso medicinal, comuns em Mata Atlântica, como caroba (Jacaranda caroba, Jacaranda micrantha).

Manejo de espécies iniciais madeireiras (iricurana) - estas espécies poderiam ser manejadas em florestas degradadas, preferencialmente em áreas particulares, fora de UCs. Poderiam também ser utilizadas em reflorestamento com nativas, que permitam manejo no futuro, além de poderem ser implantadas também em SAFs.

Manejo de espécies tardias madeireiras (canjerana, canelinha) - o manejo de espécies madeireiras em ambiente natural é bastante complicado, pois além

de ser necessário o abate integral da árvore, ainda existe o risco de se degradar a floresta com o transporte dos indivíduos. Sendo assim, não se recomenda o manejo para madeireiras tardias, em vegetação nativa do Vale do Ribeira. Mas seria possí-vel utilizar estas espécies em enriquecimento de áreas degradadas (capoeiras ou florestas em estágio inicial), preferencialmente em áreas particulares, ou em UCUS que permitem o plantio, como RDS. Este plantio deveria ser realizado com espaça-mento e local planejados, de modo a evitar a destruição da floresta no moespaça-mento do manejo dos indivíduos.

Neste estudo, está-se tratando somente das espécies lenhosas com possibi-lidades de manejo, no entanto, na Mata Atlântica, muitos outros produtos flores-tais não madeireiros são passíveis de manejo, como plantas herbáceas terrestres, epífitas ou lianas, com uso ornamental (COFFANI-NUNES, 2002), medicinal, para confecção de artesanatos, dentre outros.

Dentre as palmeiras, que não são propriamente lenhosas, mas pode-se con-siderar que tenham hábito arbóreo, sem dúvida o palmito-juçara é o mais frequen-te e importanfrequen-te recurso na região. Sendo assim, o manejo do palmito representa uma das possibilidades para a região.

Manejo de juçara- (Euterpe edulis) – o palmito-juçara (Figura 4) é uma espécie comum de Mata Atlântica, ainda abundante no Vale do Ribeira, mas já considerada ameaçada no Brasil e vulnerável no Estado de São Paulo. Sendo assim, seu manejo para extração de palmito não é recomendável em áreas de vegetação nativa. Pelo contrário, em Unidades de Conservação de Proteção Integral, esta espécie deve ser alvo de intensa preservação, para se garantir a conservação da espécie e da sua variabilidade genética.

No entanto, esta espécie pode perfeitamente ser plantada em áreas degradadas, para enriquecimento e posterior manejo, dentro e fora de UCUS, em reflorestamento de áreas degradadas, que permitam futuro manejo, e em plantios mistos, como em sistemas agroflorestais (SAFs), tanto no entorno de áreas protegidas, como em propriedades particulares de modo geral.

Outra possibilidade é o manejo de frutos de juçara (Euterpe edulis) que apresentam usos semelhantes ao do açaí-da-Amazônia. Este poderia ser feito dentro de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, como RDS e RESEX, porém como esta espécie está ameaçada, é necessário garantir sua reprodução adequadamente, sendo que qualquer extração de frutos alteraria a dinâmica reprodutiva da espécie.

Logo, seria recomendável a extração dos frutos, para uso da polpa, com devolução das sementes para o local de origem. Mesmo assim, podem-se prever prejuízos à fauna. Desta forma, mesmo para manejo de frutos, o ideal seria utilizar os plantios, como discutido anteriormente para o palmito.

CONSIDERAÇõES FINAIS

Os dados apresentados evidenciam a grande importância das Unidades de Conservação, no Vale do Ribeira, tanto aquelas de proteção integral, como Parques

Estaduais, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas, quanto das unidades de uso sustentável, como APAs, RESEX e RDS.

No Vale do Ribeira, vêm ocorrendo algumas experiências de implantação de mosaicos de unidades de conservação, principalmente na tentativa de conciliar a existência dessas unidades com a presença de comunidades humanas.

O Mosaico do Jacupiranga foi implantado com esta filosofia. A partir do Parque Estadual de Jacupiranga, foram criados três novos parques (PE Caverna do Diabo, PE Barra do Turvo e PE Lagamar de Cananeia) e várias UCUS, como APA, RESEX e RDS. Nestas áreas, entende-se que a utilização dos recursos naturais é permitida (BRASIL, 2000), sendo que, para tal, deve ser feito um plano de manejo para a unidade, que contenha todas as espécies a serem manejadas, e um plano de manejo para cada espécie, baseado em critérios científicos de estudos da ecologia e estrutura populacional, e com monitoramento dos estoques.

Ou seja, as áreas de proteção integral têm o papel especial de conservar amostras significativas do ecossistema Mata Atlântica, assim como de preservar es-pécies ameaçadas e eses-pécies raras.

A unidade de conservação de uso sustentável tem o papel de demonstrar que é possível conservar-se a biodiversidade, fazendo uso sustentável da mesma.

As áreas particulares também podem colaborar na conservação e manejo sustentável da biodiversidade, seja pela simples diversificação de culturas, no caso de pequenos produtores e agricultores familiares, seja mantendo ou recuperando as áreas de preservação permanente e reservas legais, ou utilizando sistemas alter-nativos como SAFs. Proprietários que não apresentem restrições socioeconômicas podem também custear a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Nacional.

Somente este esforço conjunto poderá garantir a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, o que possibilitará, com muito estudo e muito critério, o uso sustentável da mesma.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fapesp, pelo Auxílio à Pesquisa (Proc. 2007/52373), ao Instituto Florestal e Fundação Florestal, escritório regional do Vale do Ribeira, aos gestores do PE da Caverna do Diabo. Agradecimentos também à Dra. Ingrid Koch e à Dr. Fiorella Fernanda Mazine Capelo, pelo auxílio na identificação de algumas famílias botânicas, e aos editores desta obra, pela possibilidade de contribuir com este capítulo.

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