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Áreas protegidas, área de preservação permanente, unidade de conservação

2. ESTADO, MEIO AMBIENTE E BIODIVERSIDADE

2.3. ASPECTOS CONCEITUAIS E LEGAIS

2.3.1. Áreas protegidas, área de preservação permanente, unidade de conservação

Aqui são apresentados alguns aspectos conceituais referentes a Áreas Protegidas, Área de Preservação Permanente, Unidade de Conservação e a Categoria Área de Proteção Ambiental. Aspectos referentes à gestão são tratados no capítulo seguinte (Gestão de Unidades de Conservação, em especial a situação das UC no Estado da Bahia).

As Áreas Protegidas são espaços territorialmente demarcados cuja principal função é a conservação e/ou a preservação de recursos, naturais e/ou culturais, a elas associados (MEDEIROS, 2004).

Segundo a União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN), elas podem ser definidas como uma área terrestre e/ou marinha especialmente dedicada à proteção e manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados, manejados através de instrumentos legais ou outros instrumentos efetivos.

O estabelecimento de Áreas Protegidas exige análise e entendimento dos distintos aspectos ‒ legais, políticos, sociais, econômicos e culturais ‒ enraizados nas comunidades, que devem ser considerados quando se constroem os caminhos e estratégias de planejamento ambiental. Dentre os vários entendimentos a serem considerados estão seus dogmas, crenças, valores, cada um com os seus múltiplos significados, dinâmicas e importâncias para aqueles que os constroem e destroem nas suas vivências diárias (SACHS, 2007).

2.3.1.1 Área de Preservação Permanente (APP)

Áreas de Preservação Permanente são áreas cobertas ou não por vegetação nativa que têm como função preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Como exemplos de APP estão as áreas de mananciais, topo de morros, as encostas com mais de 45 graus de declividade, os manguezais, as matas ciliares, entre outras áreas.

Essas áreas são protegidas pelo Código Florestal Brasileiro - Lei Federal nº. 4.771/65, alterados pela Lei Federal nº. 7.803/89 (Lei Federal nº. 7.803, de 18 de julho de 1989, altera a redação da Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965, e revoga as Leis nº.s 6.535, de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 07 de julho de 1986). O Código Florestal de 1965 definiu as Áreas de Preservação Permanente e as Áreas de Reserva Legal, integrantes do conjunto nacional de áreas protegidas. Esta lei também estabelece que cabe ao Poder Público criar Parques Nacionais, Estaduais e Municipais e Reservas Biológicas, com a finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza e, ainda, Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, com fins econômicos, técnicos ou sociais.

Desde a criação do Código Florestal Brasileiro (Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965), ocorreram diversas mudanças na lei e na forma de interpretação

da lei que determina o que é Área de Preservação Permanente, entre as quais destacam-se:

(i) No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos

perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões

metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites (incluído pela Lei nº

7.803/89).

(ii) A Resolução CONAMA nº. 303, de 20 de março de 2002, dispõe sobre

parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, bem como o estabelecimento de parâmetros, definições e limites para as Áreas de Preservação Permanente de reservatório artificial e a instituição da elaboração obrigatória de plano ambiental de

conservação e uso do seu entorno.

(iii) A Resolução CONAMA nº. 369/2006dispõe sobre os casos

excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente ‒ APP.

2.3.1.2 Unidade de Conservação (UC)

Por Unidades de Conservação entende-se que são espaços territoriais que, por força de ato do Poder Público, estão destinados ao estudo e preservação de exemplares da flora e da fauna, podendo ser públicas ou privadas.

O Código Florestal Brasileiro (Decreto nº 23.793/34) é considerado o primeiro texto legal a prever a criação de Unidades de Conservação. Por meio deste Decreto, surgiu a figura da Unidade de Conservação subdividida em florestas protetoras e remanescentes (sob regime de preservação permanente), modelo e produtivas (passíveis de exploração comercial). O Código Florestal também previa a separação entre Unidades de Conservação de Uso Indireto (que não permitiam o uso dos recursos naturais) e as de Uso Direto (que permitiam a exploração direta dos recursos naturais) (NUSDEO, 2005).

A criação de Unidades de Conservação pelo Poder Público, enquanto espaço especialmente protegido, tem respaldo na Constituição Federal (artigo 225, parágrafo 1º, inciso III), na lei 6.938, de 31/08/1981 - Política Nacional de Meio Ambiente (inciso VI) e ainda é objeto de uma lei específica: a Lei 9.985, de 18/07/2000 - Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, regulamentada pelo Decreto 4.340, de 22/08/2002 (Site do MMA, 2008 - http://www.mma.gov.br).

Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção (BRASIL, 2001).

Resultado de quase uma década de debates, o Projeto de Lei nº. 2.892/92 foi aprovado pelo Congresso Nacional e se transformou na Lei nº. 9.985/00, que regulamenta o art. 225, parágrafo 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal/88, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC e dá outras providências (NUSDEO, 2005).

A edição da Lei 9.985/00 buscou harmonizar as diferentes Unidades de Conservação existentes no ordenamento jurídico nacional, oriundas em sua maioria de tipologias previstas em instrumentos anteriores, criados há mais de 70 anos no Brasil.

No Estado da Bahia, as Unidades de Conservação, como parte do rol dos instrumentos da Política Estadual de Meio Ambiente (Decreto nº. 11.235, de 10 de outubro de 2008, que aprova o Regulamento da Lei Estadual nº. 10.431, de 20 de

dezembro de 2006, que institui a Política de Meio Ambiente e de Proteção à

Biodiversidade do Estado da Bahia), são instrumentos pelos quais se pode colaborar para o ordenamento territorial, a eficiência, eficácia e efetividade da gestão ambiental do seu território, através dos seus respectivos instrumentos de planejamento, motivando e garantindo políticas ambientais, exercício de controle social, em áreas de sua competência (BAHIA, 2008).

O marco conceitual das Unidades de Conservação, segundo Milano (2001), está fundamentado nas seguintes definições:

a. Unidades de Conservação – espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam as garantias adequadas de proteção;

b. Sistema Nacional de Unidades de Conservação – é o sistema

constituído pelo conjunto das Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais;

c. Categorias de manejo é o nome genérico que se dá ao conjunto de

áreas silvestres protegidas, cuja gestão ou administração se realiza de acordo com uma determinada forma preestabelecida.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação reclassifica as diversas categorias de UC anteriormente existentes, como também aborda outras questões como a participação social na criação e gestão das unidades, bem como o tratamento de populações tradicionais que habitam nas áreas, além da alocação de recursos financeiros.

Com relação à forma de manejo, existem dois grandes grupos de Unidades de Conservação integrantes do SNUC: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

2.3.1.3 Área de Proteção Ambiental (APA)

Integrando o grupo de Unidades de Uso Sustentável encontra-se a categoria Área de Proteção Ambiental, com fins de conservação de ambientes naturais e de melhoria das condições de vida das populações humanas. Exige controle sobre o uso dos recursos naturais disponíveis e na compatibilização dos interesses da ocupação humana com a conservação do ambiente, assegurando-lhe a sustentabilidade.

O SNUC define que a APA é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade

biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais, permitindo a experimentação de técnicas e atitudes que conciliem o uso da terra e o desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos essenciais.

Uma APA é constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas também as exigências e restrições legais.

O SNUC prevê que Unidades de Conservação deverá dispor de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração, constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente.

As discussões sobre Unidades de Conservação trazem, além da perspectiva da sua concepção e de marcos legais, uma reflexão sobre a responsabilidade compartilhada de gestão dessas áreas, que implica na participação conjunta da sociedade civil organizada, dos organismos não governamentais e do governo, componentes essenciais para gestão favorável, governança e governabilidade de áreas ambientalmente protegidas.