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CONVENÇÃO DA BIODIVERSIDADE: UM MARCO LEGAL E POLÍTICO

2. ESTADO, MEIO AMBIENTE E BIODIVERSIDADE

2.2. CONVENÇÃO DA BIODIVERSIDADE: UM MARCO LEGAL E POLÍTICO

Apesar do texto da Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB ter começado a ser elaborada em 1987, sua versão final só foi aprovada no ano de 1992.

A Convenção sobre Diversidade Biológica é um documento no qual os Estados reconhecem a responsabilidade pela conservação de sua diversidade biológica e pela utilização sustentável de seus recursos biológicos, foi firmada no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1992, durante a Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e entrou em vigor no âmbito internacional no dia 29 de dezembro de 1993.

É a primeira vez que uma convenção internacional abrange questões da biodiversidade, incluindo a biodiversidade em toda a sua totalidade e todas as categorias de seres vivos, em todos os tipos de ambientes: silvestres ou cultivados, ameaçados ou não.

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) (Rio 92), realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. É um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio-ambiente e funciona como um guarda-chuva legal/político para diversas convenções e acordos ambientais mais específicos. A CDB é o principal fórum mundial na definição do marco legal e político para temas e questões relacionados à biodiversidade (168 países assinaram a CDB e 188 países já a ratificaram, tendo estes últimos se tornado Parte da Convenção (ADORNO, 1992).

A partir da CDB, elementos foram introduzidos na negociação internacional com respeito à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade. A CDB conduziu a um debate internacional sobre o tema, fortalecendo o que se convencionou chamar de “biopolítica” e “biodiplomacia”, temas que atestam a biodiversidade hoje (ALBAGLI, 2006).

No Brasil, já podem ser observadas novidades em relação às tradicionais abordagens de conservação, tais como: preocupação com a proteção da diversidade em nível genético; ações de conservação no interior e fora dos sistemas das Unidades de Conservação; populações participando nas áreas de conservação; incorporação do uso sustentável no âmbito das estratégias de conservação, etc. (ALBAGLI, 2006).

A CDB estabeleceu importantes programas de trabalhos temáticos nas áreas de biodiversidade marinha e costeira, biodiversidade das águas continentais, biodiversidade florestal, biodiversidade das terras áridas e sub-úmidas, biodiversidade das montanhas e biodiversidade dos sistemas agrícolas (agrobiodiversidade). Adicionalmente a CDB criou iniciativas transversais e programas de trabalho sobre áreas protegidas, conservação de plantas, conservação e uso sustentável dos polinizadores, transferência de tecnologias, medidas de incentivo econômico, proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas e comunidades locais associados à biodiversidade, educação e sensibilização pública, entre outras. (BRASIL, 2009).

A CDB foi assinada por 181 países, dos quais 168 a ratificaram, incluindo o Brasil, que foi o primeiro país a assinar. O Congresso Nacional Brasileiro aprovou a referida convenção, por meio do Decreto Legislativo nº 2, de 03 de fevereiro de 1994, sendo promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998 (ANTUNES, 2006).

Uma das questões que a CDB leva em conta é a distribuição desigual da biodiversidade no mundo. Os países desenvolvidos, preocupados em crescer suas economias, nunca se preocuparam em preservar e conservar sua biodiversidade (vale lembrar que esses países nunca foram ricos em biodiversidade como o Brasil, pois não são países tropicais), apenas vislumbravam o crescimento econômico a qualquer custo (ANTUNES, 2006).

Essa Convenção foi o principal documento internacional para estabelecer quadros legais para o desenvolvimento de atividades econômicas que se relacionam com a diversidade biológica. Trata-se da formatação de um documento estratégico para assegurar a proteção dos ecossistemas e, concomitantemente, promover o tão almejado desenvolvimento sustentável (ANTUNES, 2006).

“A CDB tem definido importantes marcos legais e políticos mundiais que orientam a gestão da biodiversidade em todo o mundo: o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, que estabelece as regras para a movimentação transfronteiriça de organismos geneticamente modificados (OGMs) vivos; o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, que estabelece, no âmbito da FAO, as regras para o acesso aos recursos genéticos vegetais e para a repartição de benefícios; as Diretrizes de Bonn, que orientam o estabelecimento das legislações nacionais para regular o acesso aos recursos genéticos e a repartição dos benefícios resultantes da utilização desses recursos (combate à biopirataria); as Diretrizes para o Turismo Sustentável e a Biodiversidade; os Princípios de Addis Abeba para a Utilização Sustentável da Biodiversidade; as Diretrizes para a Prevenção, Controle e Erradicação das Espécies Exóticas Invasoras; e os Princípios e Diretrizes da Abordagem Ecossistêmica para a Gestão da Biodiversidade. Igualmente no âmbito da CDB, foi iniciada a negociação de um Regime Internacional sobre Acesso aos Recursos Genéticos e Repartição dos Benefícios resultantes desse acesso.” (BRASIL, 2009).

No plano internacional, a CDB respondeu aos interesses e posições dos países em desenvolvimento, sendo permeável à influência das organizações não governamentais e das representações das populações tradicionais. A estrutura

tripartite da CDB pode ser vista como tendo sido resultado do avanço das negociações Norte-Sul, ou entre provedores e consumidores de recursos biogenéticos (ALBAGLI, 2006).

Para Milaré (2001), a CDB preconiza a preservação e o uso sustentável da biodiversidade e reconhece o direito soberano dos países sobre seus recursos genéticos e a justa e equitativa partilha dos benefícios gerados pelo uso da biodiversidade.

Do ponto de vista institucional da CDB, progressos vêm ocorrendo. No plano interno dos países, o abandono do princípio da “herança comum” e a afirmação do princípio da soberania dos estados (recursos genéticos e biológicos), representam desafios para os países comprometidos com a implementação da CDB. Em países ricos em biodiversidade o suporte político-institucional é um arcabouço jurídico-normativo que vem sendo estabelecido para dar suporte às orientações da CDB, apesar de ocorrerem em meio a visões e interesses distintos, resultando em políticas, estratégias e regulações contraditórias entre si (ALBAGLI, 2006).

O artigo 1º. da Convenção sobre Diversidade Biológica estabelece três níveis de obrigações que devem ser cumpridas por cada país participante, quais sejam:

[...] a conservação da diversidade biológica; a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos; e define como meios para a realização desses objetivos: o acesso aos recursos genéticos, a transferência de tecnologias pertinentes e o financiamento adequado. (BRASIL, 1992).

A conservação da diversidade biológica é uma aspiração de todos. Porém, desde a elaboração da CDB a diversidade biológica vem diminuindo, pois a conservação não é meramente uma questão de desejo, trazendo em si conflitos sociais, ideológicos, culturais, políticos, econômicos e de justiça ambiental (BENSUSAN, 2006).

O Brasil possui uma das maiores riquezas da terra: florestas tropicais e estacionais que abrigam a maior biodiversidade do mundo e uma enorme diversidade de ambientes e diferentes tipos de solos, relevos e clima. Segundo Brito e Câmara (1998), é fundamental que o desenvolvimento e a globalização da economia a curto, médio e longo prazos sejam empreendidos em bases

sustentáveis, porque o meio ambiente ecologicamente sustentado é fundamental para a sobrevivência das espécies, inclusive a espécie humana (BENSUSAN, 2006).

Segundo Bensusan (2006), dentre os países que possuem

megadiversidade, o Brasil é o principal, contando com a mais diversa flora do mundo, número superior a 55 mil espécies descritas. Alguns dos ecossistemas mais ricos do planeta em número de espécies vegetais - a Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado - estão localizados no Brasil. A Floresta Amazônica brasileira, com mais de 30 mil espécies vegetais, compreende cerca de 30% das florestas tropicais

remanescentes no planeta.

Para implementar os compromissos assumidos pelo Brasil junto à CDB foi instituído, em 1994, por meio do Decreto 1.354, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Programa Nacional da Diversidade Biológica - PRONABIO. O Programa objetiva, em consonância com as diretrizes e estratégias da Convenção e da Agenda 21, promover parceria entre o Poder Público e a sociedade civil na conservação da diversidade biológica, na utilização sustentável de seus componentes e na repartição justa e equitativa dos benefícios dela decorrentes (BRASIL, 2009).