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Âmbito Jurisdicional – abrangência da proteção jurídica

CAPÍTULO III – ANÁLISE DO REGIME JURÍDICO: LEI 47/2007, DE 28 DE AGOSTO

3. A decisão do apoio judiciário: do requerimento ao ato administrativo

3.1. Âmbito Jurisdicional – abrangência da proteção jurídica

O apoio judiciário aplica-se em todos os tribunais, qualquer que seja a forma do processo, nos julgados de paz, e noutras estruturas de resolução alternativa de litígios a definir por portaria do membro do Governo.

Em relação ao regime pretérito, apresenta apenas como inovação a aplicação da concessão de apoio em estruturas de resolução alternativa de litígios diversas dos julgados de paz. Por exemplo, sistemas de mediação laboral, familiar, penal e nos vários centros de arbitragem de resolução de conflitos.

Consagra-se uma maior amplitude jurisdicional, prevendo a Lei a concessão da proteção jurídica nos julgados de paz, Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal de Justiça, Tribunais de

1ª Instância, Tribunais da Relação, Supremo Tribunal Administrativo e Tribunal de Constas110.

O apoio judiciário aplica-se também aos processos de contraordenações. Resulta deste normativo que, perante autoridade administrativa e em recurso, em relação ao arguido, é aplicável o regime de proteção jurídica nas modalidades de patrocínio judiciário e assistência judiciária.

Tendo-se suscitado dúvidas sobre o sentido e alcance da norma constante do nº 2, do artigo 17º da Lei nº 34/2004, de 29 de julho, na redação que lhe foi dada pela Lei n.º 47/20007, de 28 de agosto, no que concerne à questão de saber se o regime de apoio judiciário, nos processos de contraordenação, se aplica à fase administrativa e judicial ou apenas a esta última.

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De notar que, o regime de proteção jurídica não se aplica a causas de competência do Tribunal de Justiça da União Europeia ou do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

III – Análise do regime jurídico: Lei 47/2007, de 28 de agosto

Determinando o normativo em causa que o regime de apoio judiciário seaplica, com as

devidas adaptações, aos processos de contraordenação, sem ter estabelecido qualquer distinção ou restrição, e presumindo-se, como impõe o artigo 9º do CC, que o legislador consagrou a solução mais acertada e que soube exprimir o seu pensamento em termos adequados, outra não pode ser a conclusão senão a de que tal regime deve ser aplicado quer nos processos que corram perante a autoridade administrativa, quer nos processos de impugnação judicial da respetiva decisão.

Na verdade, se assim não fosse, a norma em causa ficaria destituída de qualquer efeito prático, na medida em que a aplicação do regime do apoio judiciário aos processos de contraordenação na fase de impugnação judicial sempre estaria abrangida pelo disposto no nº 1 do artigo em apreciação, o que claramente demonstra a intenção de aplicação daquele regime também, e especificamente, à fase administrativa.

Refira-se, por último, que os encargos com o processo de contraordenações e os custos com o defensor oficioso devem ser suportados pelo Ministério da Justiça, quando o processo de contraordenações se encontre em fase de recurso. Na fase administrativa, esses encargos, quando o requerente tenha direito a apoio judiciário de acordo com os critérios estabelecidos na Lei de Apoio Judiciário, serão suportados pela autoridade administrativa com competência para instaurar, instruir e decidir esses processos.

Também aos processos que corram termos nas conservatórias111 é aplicável o apoio

judiciário na modalidade de nomeação e pagamento de honorários de patrono, nos termos do

art. 20.º do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de outubro112.

Não obstante a desatualizada redação do referido diploma entendemos continuar em vigor este regime de apoio judiciário nas conservatórias.

Todavia, graças à falta de legislação nesse sentido, ainda não é possível aplicar o regime do apoio judiciário aos procedimentos simplificados de sucessão hereditária, designadamente habilitação de herdeiros, partilha e registos.

111 Nomeadamente, alimentos a filhos maiores ou emancipados, atribuição da casa de morada de família, privação do direito de uso dos apelidos

do outro cônjuge, a conversão de separação judicial de pessoas e bens em divórcio, reconciliação dos cônjuges separados, separação e divórcio por mútuo consentimento e a declaração de dispensa de prazo nupcial.

112 O segmento relativo à alternativa de pagamento de honorários do patrono escolhido pelo requerente está tacitamente revogado pela Lei do

De notar que, nas Conservatórias de Registo Civil são devidos emolumentos e não custas

judiciais113.

Na nossa opinião, para abranger estas situações, talvez não fosse destituído de sentido ampliar as modalidades de assistência judiciária, incluindo outra como dispensa de pagamento de emolumentos e demais encargos.

Relativamente aos processos de contraordenação, parece-nos não se sentir tal necessidade de ampliação pois correm perante autoridade administrativa, só na fase de recurso dessa decisão é que correm termos no tribunal implicando a dispensa do pagamento de custas judiciais.

Cabe ainda responder à questão da abrangência do apoio judiciário aos tribunais arbitrais. Tribunal arbitral é um órgão singular ou colegial que, a requerimento de alguém, atuando com imparcialidade e independência, segundo fórmulas pré-estabelecidas, tem autoridade para fixar a versão autêntica dos factos incertos ou controversos de um caso concreto e determinar o direito aplicável ao caso com força obrigatória para os interessados.

A arbitragem voluntária é, nas palavras de Salvador da Costa114, contratual na sua origem,

privada na sua natureza, jurisdicional na sua função e pública no seu resultado.

Em suma, os tribunais arbitrais não são órgãos de soberania, são constituídos por vontade das partes, em regra não são permanentes e são integrados por pessoas que não são juízes de

carreira115.

A proteção jurídica é concedida para questões judiciais concretas ou suscetíveis de concretização, pode ser retirada a requerimento do Ministério Público e a revogação é comunicada ao tribunal competente.

Do que vem referido parece resultar uma inconciliável relação entre tribunais arbitrais e apoio judiciário.

Reforçando este entendimento sobrevém a suscetibilidade de anulação judicial e de recurso para tribunais judiciais superiores das decisões proferidas por tribunais arbitrais. Assim, nessas fases de anulação ou recurso entendemos ser aplicável o regime do apoio judiciário.

113 Conferir art. 299.º do Código do Registo Civil. 114 SALVADOR DA COSTA, cit., pag. 130. 115 Lei 31/86, de 29 de agosto.

III – Análise do regime jurídico: Lei 47/2007, de 28 de agosto

3.2.ÂMBITO PROCESSUAL – ESTABILIDADE DA CONCESSÃO E OPORTUNIDADE DO