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CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DO ACESSO AO DIREITO

4. Enquadramento legal

Em Portugal, a assistência jurídica a quem dela carecia foi, durante séculos, deixada sem contrapartida remuneratória, apesar de algumas normas de direito antigo, de que são exemplos algumas disposições das Ordenações Afonsinas e Filipinas dos séculos XVII e XVIII, já disporem sobre o acesso de indigentes a tribunal.

No ordenamento jurídico português, a primeira Lei a estatuir sobre a matéria da assistência judiciária foi publicada em 31 de julho de 1889.

Com a publicação do estatuto judiciário, aprovado pelo Decreto n.º 13809, de 22 de junho de 1927, o regime da assistência judiciária ficou integrado no referido diploma. Para a assistência judiciária ser concedida, o pretendente teria de requerer à Junta de Freguesia um atestado de residência e à Câmara Municipal que comprovasse a sua situação económica, através de um atestado emitido pela Junta de Freguesia e de um certificado da Secção de Finanças que referisse que o requerente estava isento de qualquer contribuição ou encargo. Em alguns concelhos, era ainda exigível informação do pároco da freguesia.

Em 23 de fevereiro de 1944 foi, pela primeira vez em Portugal, publicado um Diploma Legal, que versou exclusivamente a matéria relativa à Assistência Judiciária – Decreto -Lei n.º 33548, de 23 de fevereiro de 1944.

Tendo sido alvo de diversas e profundas alterações, o diploma datado de 1944, foi, em 29 de dezembro de 1987, revogado pelo Decreto-Lei n.º 387-B/87, de 29 de dezembro. A partir deste Decreto-Lei ganham relevância as vertentes da informação e da consulta jurídica, que passam a constituir outra vertente da proteção jurídica.

As previsões do Decreto-Lei n.º 387-B/87 sobre informação jurídica eram inovadoras, nomeadamente a ideia não concretizada de criar serviços de acolhimento junto dos tribunais e dos serviços judiciários.

A ideia era alcançar a informação jurídica recorrendo a ações, através de diversas formas de comunicação, com o fim de tornar o direito e o ordenamento jurídico mais conhecidos e permitir um melhor exercício dos direitos e deveres.

O benefício de apoio judiciário e da consulta jurídica passou a ser dispensado também a estrangeiros e a apátridas que residissem habitualmente em Portugal. Por outro lado, a extensão da proteção jurídica a pessoas coletivas sofreu algumas restrições.

Outra inovação prendia-se com a consulta jurídica, no sentido de a concretizar o Ministério da Justiça, em colaboração com a Ordem dos Advogados, pretendia instalar e assegurar o funcionamento de Gabinetes de Consulta Jurídica, de forma gradual em todo o território nacional.

Com a publicação do Decreto-Lei nº 391/88 o regime financeiro do apoio judiciário sofreu profundas alterações, desde logo o Estado surgiu como garante da adequada remuneração dos advogados e solicitadores pelos serviços prestados em sede de apoio judiciário, sendo o pagamento de honorários e despesas realizadas no quadro da defesa oficiosa pagos pelo Cofre

Geral do Tribunais29.

A Lei nº 46/96, de 3 de setembro alterou o Decreto-Lei nº387-B/87 e o 391/88, estendendo a proteção jurídica a estrangeiros e apátridas que tivessem requerido asilo ao Estado Português e relativamente às pessoas coletivas, o apoio judiciário passou a poder ser dispensado

àquelas com fins não lucrativos30.

Porém, a grande alteração ao sistema do apoio judiciário surge com a publicação da Lei n.º 30-E/2000, de 20 de dezembro, na medida em que a apreciação dos pedidos de concessão de apoio judiciário foi entregue aos serviços de Segurança Social. Com esta medida pretendia-se a qualificação do apoio judiciário como reforço da igualdade e oportunidades do acesso ao direito e à justiça. Este processo de atribuição permitiu libertar os tribunais da excessiva carga

29O Decreto-Lei nº 391/88 continha uma tabela anexa, na qual figuravam os valores máximos e mínimos atribuir a título de honorários. Viria a

ser revisto pelo Decreto-Lei nº 102/92.

30 Relativamente às sociedades e aos comerciantes em nome individual passou também a poder ser concedido apoio judiciário mas só em

I – Considerações sobre a evolução do acesso ao direito

administrativa e colocar a tramitação do processo junto de um serviço que dispõe de melhores e

mais completas informações a respeito do requerente31.

Em 27 de maio de 2004, foi aprovada na Assembleia da República uma nova Lei do Apoio Judiciário que introduz na Ordem Jurídica uma profunda modificação do regime de Acesso ao Direito e os Tribunais e do modelo de gestão do Apoio Judiciário.

Conforme resulta do disposto no artigo 53º da Lei n. º 34/2004, de 29 de julho, a nova Lei do Apoio Judiciário entrou em vigor no dia 1 de setembro de 2004.

A Portaria n.º 1085-A/2004, de 31 de agosto, procede à concretização dos critérios de prova e de apreciação da insuficiência económica, com vista à sua boa execução e explicita a fórmula de cálculo do valor do rendimento relevante para efeitos de proteção jurídica a que se refere o critério de avaliação da insuficiência económica do requerente previsto na Lei. A mencionada fórmula tem em conta os elementos relativos ao rendimento, ao património e à despesa do agregado familiar do requerente.

Seguiu-se a Portaria n.º 1386/2004, de 10 de novembro, fixando o modelo de remuneração dos profissionais forenses que prestem serviços no âmbito do patrocínio oficioso.

Em 17 de março de 2005, foi publicado o Decreto-Lei n.º 71/2005, de 17 de março que transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2003/8/CE, do Conselho, de 27 de

janeiro32, relativa à melhoria do acesso à justiça nos litígios transfronteiriços através do

estabelecimento de regras mínimas comuns relativas ao apoio judiciário no âmbito desses litígios, desenvolvendo o regime previsto na Lei n.º 34/2004, de 29 de julho.

No sentido de fixar os critérios de prova e de apreciação da insuficiência económica para a concessão da proteção jurídica foi publicada a Portaria nº 288/2005, de 21 de março.

Com entrada em vigor no dia 28 de agosto de 2007, da Lei n. ° 47/2007, que alterou significativamente a Lei n. ° 34/2004, de 29 de julho, o que implicou a revogação da Portaria n.º 1386/2004, de 10 de novembro, e a sua substituição pela Portaria n.º 10/2008, de 3 de

janeiro33. Este novo regime o acesso ao direito e aos tribunais, decorrente da Lei n. ° 47/2007,

31 Esta alteração entrou em vigor em janeiro de 2001, mas teria sido desejável um período de vacatio legis que permitisse o seu estudo e

implementação, evitando incómodos para os operadores judiciários e serviços da Segurança Social decorrentes do desempenho de funções para as quais não dispunham de qualquer experiência anterior.

32 Anteriormente, ao nível de legislação comunitária existia já a Diretiva nº 2002/8/CE do Conselho, de 27 de janeiro de 2003 - relativa à

melhoria do Acesso à Justiça nos litígios transfronteiriços, através do estabelecimento de regras mínimas comuns referentes ao Apoio Judiciário no âmbito desses litígios.

33 Esta portaria foi alterada pela Portaria nº 210/2008, de 29 de fevereiro e 654/2010, de 11 de agosto procedendo à regulamentação da Lei n.

de 28 de agosto, e a mais relevante portaria que a regulamenta, entraram em vigor no dia 1 de janeiro de 2008.

Por último, a Portaria 11/2008, de 3 de janeiro adequa o modelo de requerimento de

proteção jurídica34 para as pessoas singulares e para as pessoas coletivas sem fins lucrativos às

alterações introduzidas pela Lei n. ° 47/2007, de 28 de agosto à Lei n. ° 34/2004, de 29 de julho, alterando a Portaria n.º 1085-B/2004, de 31 de agosto.

ela prestação da consulta jurídica, à definição das estruturas de resolução alternativa de litígios às quais se aplica o regime de apoio judiciário, à definição do valor dos encargos para efeitos do nº 2 do art. 36 da referida Lei, à regulamentação da admissão dos profissionais forenses no sistema de acesso ao direito, à nomeação de patrono e de defensor e ao pagamento da respetiva compensação.