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As massas insolventes e o apoio judiciário

CAPÍTULO III – ANÁLISE DO REGIME JURÍDICO: LEI 47/2007, DE 28 DE AGOSTO

1. Âmbito, configuração e destinatários da proteção jurídica

1.2. Destinatários

1.2.2. As massas insolventes e o apoio judiciário

Nesta temática surge, desde logo, a questão de definir qual o critério da competência para analisar os pedidos de apoio judiciário, se o Centro Distrital da sede da empresa ou se o Centro Distrital da morada do administrador de insolvência nomeado, caso não coincidam.

De acordo com o preceituado no art. 2.º do CIRE, podem ser objeto de insolvência as entidades aí elencadas. A sentença de insolvência, tem, entre outros efeitos, o de nomear o administrador de insolvência, com indicação do seu domicílio profissional, a menos que a

administração da massa insolvente fique entregue ao próprio devedor84.

Com a declaração de insolvência, o insolvente fica automaticamente privado dos poderes de administração e disposição dos bens integrantes da massa insolvente, os quais são cometidos ao administrador de insolvência, salvo se, em momento anterior e a título de medida cautelar, não tiver sido nomeado administrador judicial provisório, porque, nesse caso, o devedor ficou já privado desses poderes.

A massa insolvente destina-se à satisfação dos credores da insolvência, depois de pagas as suas próprias dívidas, e, salvo disposição em contrário, abrange todo o património do devedor à data da declaração da insolvência, bem como os bens e direitos que ele adquira na pendência do processo.

Uma vez notificado da sua nomeação, o administrador entre imediatamente em funções incumbindo-lhe exercer, entre outras, as funções elencadas no art. 55.º do CIRE com a colaboração da comissão de credores, se existir, e sob a fiscalização, não só do mesmo órgão, mas também do juiz, que a todo o tempo, pode convidá-lo a prestar informações, a apresentar relatório de atividades ou a prestar contas.

O administrador de insolvência assume, fora da esfera do processo de insolvência, a

representação do devedor insolvente “

para todos os efeitos de caráter patrimonial que

interessem à insolvência

”.

No tocante às sociedades comerciais, a declaração de insolvência tem como efeito a dissolução da sociedade, nos termos do art. 141.º, nº 1, al. e) do Código das Sociedades

Comerciais85, mas estas continuam a ter existência e personalidade jurídica, uma vez que a

sentença de insolvência não acarreta a sua extinção, que de acordo com o art. 160.º, nº 2 do CSC só virá a ocorrer com o registo do encerramento da liquidação.

De acordo com o previsto no art. 12.º, nº 3 do CSC e 159.º do Código Civil, a sede da empresa constitui o domicílio das pessoas coletivas.

84 Art. 36.º, als. d) e e) e art. 224.º do CIRE. 85 Doravante identificado pelas siglas CSC.

III – Análise do regime jurídico: Lei 47/2007, de 28 de agosto

Assim, atendendo a que a massa insolvente consubstancia um património autónomo distinto da pessoa coletiva à qual se refere, e com o qual não se confunde, detém personalidade e capacidade judiciárias e é representada, para todos os efeitos patrimoniais que lhe digam respeito pelo administrador de insolvência, tem entendido os Centros Distritais da Segurança Social, que deve ser tomado como critério da competência, a morada do administrador de insolvência e não a sede da pessoa coletiva.

Depois de perceber qual o Centro Distrital competente para analisar o pedido de proteção jurídica da massa insolvente, outra questão que se coloca é se as massas insolventes podem beneficiar de apoio judiciário.

Nos poderes do Administrador de Insolvência estão incluídos poderes gerais, já

mencionados, do art. 55.º, n.º 2 do CIRE86, sendo que o Administrador exerce pessoalmente as

competências do seu cargo. No que concerne ao mandatário judicial, o Administrador pode constituir mandatário depois de consultada a comissão de credores, e para não onerar a massa com despesas desnecessárias, por via de regra recorre ao apoio judiciário na modalidade de dispensa de pagamento de custas e demais encargos com o processo.

Apesar de a massa insolvente não se confundir com a pessoa coletiva que lhe deu origem, a nova redação da Lei do Apoio Judiciário permitiu aos Serviços da Segurança Social passar a conceder, de forma generalizada, às massas insolventes apoio judiciário, ultrapassando a confusão em que alguns incorriam, entre massa insolvente e pessoa coletiva, que resultava no indeferimento do pedido.

As massas insolventes não são pessoas coletivas, mas sim entidades que, prosseguindo objetivos próprios e atividades diferenciadas das dos seus associados, embora não tenham

personalidade jurídica, têm personalidade judiciária (artigo 6.º do CPCeal. d) do n.º 1 do artigo

4.º do Decreto-Lei 129/98, de 13 de maio, que institui o Regime do Registo Nacional de Pessoas Coletivas).

Sobre este assunto, decidiu o Tribunal Constitucional87 que a possibilidade de atribuir

apoio judiciário não poderá depender da existência ou não de personalidade jurídica, bastando

para tala personalidade judiciária como suscetibilidade de, em nome próprio, exercitar os meios

de tutela jurisdicional.

86 PEDRO PIDWELL, Alguns aspetos práticos do processo de insolvência, pag. 2, in http://www.estig.ipbeja.pt. 87 Vide Ac. TC nº 89/2003, disponível em www.dgsi.pt.

O referido Acórdão decidiu julgar inconstitucional, por violação do artigo 20.º n.º 1 da CRP, o artigo 7.º n.º 4, do Decreto- Lei 386-B/87, de 29 de dezembro (na redação dada pela Lei n.º 46/96, de 3 de setembro) de conteúdo idêntico à redação dada ao n.º 4 do artigo 7.º da Lei 34/2004 de 29 de julho, na redação dada pela Lei 47/2007 de 28 de agosto, na interpretação segundo a qual são de excluir do âmbito pessoal do apoio judiciário as entidades que, não possuindo fins lucrativos e não tendo personalidade jurídica, tenham sido dotadas de personalidade judiciária de modo a poderem exercitar os direitos de tutela jurisdicional. Direitos esses que derivam do exercício das atividades desenvolvidas para a efetivação dos seus objetivos próprios.

Assim, embora a questão não seja líquida, tendo em conta que estas entidades são

suscetíveis de demandar e ser demandadas em tribunal, e que a restrição do acesso ao apoio

judiciário poderia ser impeditiva ou condicionante do exercício dos seusdireitos, na medida em

que muitas vezes estas entidades não terão liquidez suficiente que lhes permita fazer face às

despesas do pleito, considera-se que, embora não se possam qualificar como verdadeiras e

próprias pessoas coletivas deverão, todavia, ser consideradas como entidades que,podendo ser

caracterizadas como não lucrativas, estão abrangidas pelo âmbito pessoal de aplicação do nº4 do artigo 7.º da Lei 34/2004, de 29 de julho, na redação que lhe foi dada pela Lei nº 47/2007, de 28 de agosto.

Aliás, a jurisprudência tem considerado os condomínios, heranças jacentes, associações

sem fins lucrativos e patrimónios autónomos, suscetíveis de serem reconhecidos como

entidades que não são economicamente suficientes88.

Por isso, e tendo em conta que, apesar das alterações legislativas ordinárias, o artigo 20.º da CRP mantém-se em vigor, assim como os princípios jurídicos que o inspiraram, não deve ser vedada a possibilidade de os mesmos se candidatarem à atribuição deste benefício.

Resta-nos refletir sobre a bondade da posição.

88

No sentido de que os condomínios não podem beneficiar de proteção jurídica, Ac. TRP, datado de 18.10.2001, disponível em www.dgsi.pt, com sumário: I - A entidade "condomínio", destituída de personalidade jurídica, não é uma pessoa coletiva. II - O artigo 9 do Decreto-Lei n.387- B/87, de 29 de dezembro, onde se prevê a tutela dos interesses difusos, não é diretamente aplicável nem no âmbito da sua previsão se pode incluir o condomínio, nem induz aplicação extensiva ou analógica do artigo 7.III - Considera-se conforme à Constituição a interpretação do artigo 7 da Lei do Apoio Judiciário segundo a qual os condomínios, enquanto entidades sem personalidade jurídica, não são sujeitos dos benefícios nele previstos; Ac. TRP, datado de 13.12.1999, disponível em www.dgsi.pt, com sumário:Os condomínios resultantes da propriedade horizontal, apesar de terem personalidade judiciária mas por não terem personalidade jurídica, não gozam de direito a apoio judiciário.

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