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NR 65 4,1 TABELA 3 – Como foi informado das reuniões do OP

3.3. O âmbito do lazer no OP, no ano de

Quando afirmo que há questões afetando o lazer direta e indiretamente, estou reforçando uma constatação feita pelo Chefe do GAPLAN, em entrevista já citada no texto, como também posicionamentos de autores como Chris Jojek(1985), Munné (1980), Marcellino(1987), Bramante (1992), entre outros, para os quais as políticas de lazer precisam ser pensadas como uma política de governo ou com ações para ensejar uma transversalidade ou inter-setorialidade com outros setores da administração municipal. Podemos tomar exemplos de questões que perpassam o campo do lazer, presentes em todas as plenárias observadas; dos quais citarei alguns. Na plenária sobre Saúde e Assistência Social houve manifestações em prol da inclusão social de crianças, adolescentes, terceira idade, camadas de poder aquisitivo mais baixo, sendo que para eles estes projetos devem passar “pela conscientização da população carente, das minorias que convivem com a exclusão em seu dia-a-dia, (pois ela, líder comunitária, da qual anotei esta fala, percebe que) que não têm consciência de adquirir saúde passa por adquirir qualidade de vida, ter escolas e ter atividades de lazer.” (Manifestação de uma liderança comunitária na reunião temática citada, em 14 de março de 2000). Outros elementos importantes, colocados nessa temática são de que a população e o governo precisam entender as políticas de assistência social ou qualquer outra, inclusa a de lazer, não como caridade mas como uma política pública que tenha um viés ideológico muito claro. Tal idéia foi contestada por alguns presentes e por representantes do governo, que afirmaram serem as políticas de assistência, bem como outras políticas públicas dessa gestão, ligadas a um projeto afeto aos eixos principais da administração municipal, ou seja, de descentralização de poder, de diversificação e ampliação da abrangência, além estarem claramente vinculadas à perspectiva de fortalecimento de instituições centrais da sociedade civil e da radicalização da democracia.

Na plenária de circulação e transporte, a maioria das manifestações realizadas para propor alternativas de mudança, tanto em horários dos transportes coletivos como no preço das tarifas, no número de veículos circulantes e na utilização inexistente, até aquele momento, de transporte via fluvial.A cidade é cercada pela orla do Guaíba, o qual em sendo utilizado, poderia ligar toda a zona sul da cidade ao centro e também algumas cidades da região metropolitana a Porto Alegre. Mas, como isto perpassa o âmbito do lazer? Com mais

transporte urbano, a preços mais acessíveis e horários alternativos, é possível atingir um número maior de pessoas com propostas de políticas públicas de lazer, além da possibilidade de se criarem alternativas de projetos de lazer noturno, o que ainda não existe em Porto Alegre. Nestes dois exemplos citados anteriormente, estamos lidando com duas categorias conceituais às quais entendo como primordiais no lazer: o tempo e o espaço físico.

No ano de 2000, como me referi anteriormente, o lazer passou a ser tratado em discussão conjunta com a educação e o esporte, ficando a cultura com uma temática específica para si. A análise desse desmembramento já foi feita; contudo, é importante salientar que apesar de o lazer estar sendo tratado dentro de uma temática de educação, ainda aí há uma relativização do mesmo em prol de políticas de educação escolar. Vejamos como aconteceu a discussão nessa temática em 2000.

A reunião temática de Educação, Esporte e Lazer, na primeira rodada, aconteceu no dia 17 de março de 2000. Os moldes dessa reunião seguiram a mesma linha da realizada sobre “desenvolvimento econômico e tributação”, a qual descrevi anteriormente. As pessoas foram chegando, organizando-se para o início dos trabalhos, grupos tentavam convencer outros grupos sobre a importância de suas reivindicações enquanto acontecia uma apresentação de teatro, suscitando graça e reflexão nos que a assistiam. Compareceram 478 pessoas que se registraram, totalizando um número de 48 delegados eleitos nessa plenária.A reunião começou, como sempre, pela prestação de contas do ano anterior; primou pelo esclarecimento das causas que levaram a decisão do desmembramento da temática em duas. Abriu-se a palavra para os presentes, que a puderam pronunciar-se mediante inscrição prévia. Pude perceber naquele que se manifesta, o faz pensando em, além de levar as reivindicações de sua comunidade ou de um grupo, demonstrar sua capacidade de liderança e, desta forma, capacitar-se para representar a sociedade civil, como delegado ou como conselheiro do OP.

As falas dessa noite foram pautadas em pedidos de esclarecimento e para se iniciar o processo das comunidades em expor suas reivindicações temáticas referentes à educação, esporte e lazer. Nessa reunião estavam presentes vários funcionários do quadro de pessoal da SME e da SMED, bem como a assessoria comunitária das duas secretarias municipais que, nesse espaço, procuraram incumbir-se de aglutinar o maior número de pessoas em

torno de demandas abrangentes e importantes para o desenvolvimento da área em questão. As secretárias de Educação e de Esporte, Recreação e Lazer estavam também na plenária. Muitas manifestações da população relacionaram-se às políticas educativas para o espaço escolar ou pré-escolar, contudo algumas delas foram na direção de reivindicar políticas de lazer. Por exemplo, uma liderança comunitária do Partenon (bairro de classe média e baixa da região com o mesmo nome) expôs suas idéias, dizendo que se gasta o mínimo com políticas de educação e de lazer. Levou reivindicações pontuais para o seu bairro. Pediu reformas no campo de futebol de Várzea no Jardim Klauk e, uma reivindicação de aspecto mais abrangente quando solicitou que fossem pensadas praças públicas nas quais fossem adaptados equipamentos para pessoas de terceira idade.

O presidente do Parque Araribóia, associação comunitária com regime de co-gestão com a SME, tem buscado levar as pessoas a uma perspectiva de pensarem e agirem em prol de sua qualidade de vida. Por fim, levou, como demanda, a construção de espaços de musculação em parques, associações e praças em toda a cidade.

Anotei uma fala que demonstra a existência de um bom grau de maturidade nas reivindicações presentes nesta área e que há a consciência de que esta temática ainda é subvalorizada no OP. Essa pessoa disse: “solicitamos que as verbas sejam aumentadas para esta temática pois ficam aquém do necessário. Projetos como o Brincalhão, De Bem com a Vida, entre outros, precisam ser ampliados e levados a toda a cidade.”

A respeito do atendimento das reivindicações por políticas públicas de lazer no OP, existem vários aspectos envolvidos. O primeiro deles diz respeito à questão da dotação orçamentária que é bastante baixa para o lazer, perfaz um total de 0,18% do Orçamento Geral, destinado para investimento. Mesmo com um excelente grau de conscientização existente, os programas, projetos e atividades sistemáticas no campo do lazer, da PMPA são oferecidos prioritariamente pela SME e como essa secretaria possui alguns limites estruturais e financeiros, muitas vezes eles ficam limitados a algumas regiões da cidade. Outro aspecto fundamental são os vínculos conceituais deste campo, cujos limites já foram explicitados, tanto neste capítulo como no capítulo anterior, fazendo com que as ações aconteçam perpetuando uma visão alicerçada em políticas criticadas pela própria Frente Popular.

Após a primeira rodada do OP, a temática Educação, Esporte e Lazer, assim como todas as outras temáticas e regiões da cidade realizaram a rodada intermediária. Nesse período, as discussões se concentraram nas temáticas específicas ou entre as comunidades pertencentes a cada região. A PMPA, ao divulgar o calendário das reuniões temáticas, sugeriu que “o resgate da identidade da Temática com os seus objetivos iniciais é de extrema importância para a compreensão do caminho a ser trilhado pelo Fórum de Delegados que ora se constitui” (2000). Com base nessa orientação o esperado era que as reuniões temáticas da rodada intermediária iniciassem uma discussão acerca da identidade de cada temática, que passaria por uma discussão de base conceitual para referendar as ações, por uma perspectiva de mudanças, caracterizando-se como o momento para ouvir os conceitos da sociedade civil acerca do lazer, por exemplo, contudo, nas observações realizadas, em nenhum momento notei tal iniciativa.

As reuniões das plenárias temáticas iniciavam-se com a chegada dos participantes, que num primeiro momento conversavam entre si, criando vínculos, trocando opiniões. Logo a seguir a coordenadora da temática pelo CRC, conjuntamente com a assessoria comunitária da SME e SMED davam início à parte formal da reunião. O calendário das reuniões da rodada intermediária do OP, para esta temática ficou assim distribuído, em 2000:

Abril – 17 e 24, no auditório da SMED;

Maio – 03, discussão específica sobre as prioridades do Esporte e do Lazer 08, decisão sobre as prioridades para Educação, Esporte e Lazer 15,22 e 29, encaminhamento de demandas, hierarquização e votação

Todas as reuniões de maio foram realizadas na rua Siqueira Campos, 1330/6º andar. Nas duas primeiras reuniões da rodada intermediária ficou definido quem seriam os delegados da temática e, assim acontece com todas as outras temáticas e com as plenárias regionais. Como falei anteriormente, o número de delegados fica definido pelo número de presentes na primeira rodada e cada entidade inscrita, seguindo os critérios para eleição de delegados, pode apontá-los. O Fórum de entidades, as creches e escolas procuraram somar- se entre si para apontarem delegados.

Na reunião do dia 24/04 tirou-se indicativamente prioridades para a educação, em especial para o ensino fundamental e médio.

Na reunião do dia 08/05, houve a discussão sobre esporte e lazer, visando caminhos e diretrizes para a cidade e para a temática no próximo ano. Foi comunicado aos presentes que no ano de 2001 os Centros de Comunidade, pertencentes a FESC, passariam a ser responsabilidade da SME. Alguns questionamentos foram feitos no intuito de esclarecer como é possível apontar áreas da cidade para o esporte e lazer e assegurá-las, realmente, para esse fim. A representante da ASSCOM (SME) respondeu que as comunidades precisam trabalhar em conjunto com a secretaria para exigir e garantir a existência desses espaços públicos e neles, as políticas de animação. Para que reivindicações sejam ouvidas, elas podem ser levadas ao OP, ao Congresso da Cidade, aos Conselhos Setoriais, às Associações de Bairros, mas devem estar cada vez mais conscientizadas em toda a população como política fundamental e importante para uma boa qualidade de vida.

Houve reivindicações pontuais para o esporte e o lazer , dentre as quais destacou-se o pedido de que fossem montados equipamentos de musculação nos diversos parques e praças da cidade, destinados a atingir a terceira idade; que os campos de várzea fossem iluminados, levando benefícios para áreas sociais, culturais, de segurança, pois vários eventos poderiam ser realizados e com a movimentação haveria saldos de segurança para as regiões circunvizinhas; que houvesse qualificação para os espaços de lazer na cidade, permitindo, para a maioria deles, ser contemplado com políticas de animação. Por fim, algumas comunidades ainda usaram esse espaço para levar suas reivindicações pontuais, fugindo do objetivo a que se propõem as reuniões temáticas. As colocações dessa noite ensejaram discussões, avançando hora e meia, cuja tônica do diálogo foram opiniões divergentes, consensos e questionamentos, chegando-se ao teto máximo de duração da reunião. No final, com a coordenação da representante de área do CRC e da responsável pela ASSCOM/SME, somado à ajuda de algumas lideranças comunitárias, foram elencados alguns indicativos para as demandas temáticas nessa área. Na ordem, ficaram: equipamentos esportivos, equipamentos de lazer, campos de futebol, reforma e ampliação dos Centros Comunitários.

Outras reuniões da temática foram realizadas com finalidade de afinar as discussões até alcançar um possível consenso em torno das prioridades a serem apontadas na segunda rodada.

A segunda rodada da temática, ocorrida em 12 de junho de 2000, às 19 horas, no Auditório Araújo Viana, teve vários assuntos introduzindo a reunião, tocou-se no problema enfrentado com o governo federal, o qual tentou adiantar o processo de entrega do orçamento pelos municípios no ano de 2000. Houve disponibilidade para os presentes falarem e assim o fizeram. Cabe destacar que para o esporte e lazer foram eleitas duas prioridades: os equipamentos esportivos (nas áreas administradas pela SME) e a reforma dos Centros Comunitários, que concorreram com as prioridades advindas das outras temáticas.

No final da priorização por demandas temáticas, nenhuma dessas reivindicações foi eleita como uma das principais prioridades. Em primeiro lugar foi apontada pavimentação, em segundo, habitação e em terceiro, saneamento básico.

Na segunda rodada, momento em que se elegem os conselheiros, nessa temática foram apresentadas duas chapas. Cada uma delas defendeu suas propostas de atuação antecedendo a eleição. Encerravam-se assim as reuniões da temática Educação, Esporte e Lazer.