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NR 65 4,1 TABELA 3 – Como foi informado das reuniões do OP

3.4. As comunidades observadas:

As comunidades observadas por esse estudo pertencem às regiões centro e extremo- sul, conforme divisão proposta pela política de descentralização administrativa do município, diferenciadas, não somente geograficamente, mas também por sua configuração social e política. Outra diferença existente entre elas é o tempo de inserção nas discussões do OP e em outros fóruns alicerçados na esfera estatal, como o Congresso da Cidade. A escolha das comunidades foi feita especialmente pautada na abrangência das propostas advindas do setor público no campo do lazer.

Cada uma das regiões é composta por bairros e vilas, conforme estes dados fornecidos pela prefeitura de Porto Alegre, em 2000.

Região Centro

Bairros: Auxiliadora, Azenha, Bela Vista, Bonfim, Centro, Cidade Baixa, Farroupilha, Floresta, Independência, Jardim Botânico, Menino Deus, Moinhos de Vento, Mont`Serrat , Petrópolis, Praia de Belas, Rio Branco, Santa Cecília e Santana. Vilas:

Moreira, Florianópolis, Renascença 1, Central, Menino Deus, Jardim Planetário, Terminal Princesa Isabel/Terminal Azenha, Ipiranga, Zero Hora, Sossego, Colônia São Pedro, JulianoMoreira,LaPlata/Placas, Salvador França, Lupicíno Rodrigues, Ipiranga/Renascença, Luiz Guaragna, Renascença 2, Planetário e Visconde de Rio Grande.

Região Extremo-sul

Bairros: Chapéu do Sol, Belém Novo, Lageado, Lami e Ponta Grossa. Vilas: Jardim Veronesi, Amizade, Arado Velho-Balneário, Beco do Cego, Jardim Floresta, Sapolândia, Travessa do Cerro, Beco do Machado, Beco dos Farias, Beco dos Nunes, Beco Jacques da Rosa, Canta Galo, Beco da Vitória, Esperança, Ponta Grossa, Do Canto, Xavantes, Beco do Armando, Nossa Senhora de Belém, Praça Inácio Antônio da Silva, Copacabana, Júlia/Giulian, Leblon, Praia do Veludo, Chapéu do Sol (loteamento), Edgar Pires de Castro.

Conforme pesquisa realizada sobre o histórico dos bairros (HISTÒRICO DOS BAIIROS – Secretaria Municipal de Cultura,2000) os bairros pertencentes à região Centro foram regularizados na década de 1950, já os bairros da região Extremo-Sul, praticamente todos regularizados na década de 1990.6

As comunidades do centro têm à sua disposição em cerca de menos de 20 km², diversas atividades sistemáticas no campo do lazer, três dos maiores parques da cidade: Parque da Redenção, Marinha do Brasil e Moinhos de Vento, diversas praças, e a comunidade em torno do Parque Araribóia conta ainda com sua própria sede, onde funcionam hoje, em co-gestão com a Prefeitura, diversas atividades de lazer. Além disso, as principais praças, antigos Jardins de Recreio, estão localizadas nessa região.

As comunidades da região centro ainda são privilegiadas porque as reuniões temáticas do OP são realizadas no Auditório Araújo Viana e as reuniões do Terceiro Congresso da Cidade, na Usina do Gasômetro, locais que fazem parte dessa região.

Em relação à participação, são comunidades que estão bem organizadas, conseguindo levar um grande número de pessoas tanto para as assembléias temáticas quanto para as regionais. Um percentual grande dessa população consegue vislumbrar perspectivas para ver a cidade como um todo, porém, é dessas comunidades que advêm

6 Para saber mais informações sobre taxas de crescimento da cada bairro, população, área, densidade,

rendimento médio mensal, número de domicílios, número de homens e mulheres, consultar o Histórico de Bairros – SMC, Centro de Pesquisa Histórica, Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

grandes conflitos de classe, pois muitos moradores da região pertencem à classe média ou alta, e não entendem que as verbas públicas de uma municipalidade devam ser investidas nas regiões mais precárias. Concomitantemente a essas classes sociais, como podemos notar pela descrição dos bairros e vilas de cada região, também existe uma camada da população em condições precárias de vida. Como exemplo a Vila Planetário e a Vila Lupicínio Rodrigues, locais de muita pobreza que passaram por algumas reformulações e foram contemplados por projetos de moradia popular, promovidos pela PMPA, durante o governo da Frente Popular. Contudo, conforme depoimento de algumas lideranças comunitárias nessas vilas impera a “lei do silêncio”, imposta pelo tráfico de drogas, pelo roubo e pela prostituição de menores. Penso que, justamente pelo conflito ser latente, nas reuniões essa comunidade possui um espaço notório de engajamento fazendo-se participativos em todos os fóruns.

Ao conversar com o responsável pela região Centro, ele me relatou sobre as reuniões plenárias da região, as quais são sempre tensas e mesmo com os esclarecimentos dados pela administração municipal, as pessoas sentem-se confusas com o número de informações técnicas passadas pelas secretarias, num primeiro momento, e alguns até chegam a afirmar que isso denota uma “lavagem cerebral”.

As reuniões da região centro são compostas pela mesma estrutura que as reuniões temáticas, ou seja por uma primeira rodada, depois a rodada intermediária – definido o número, de acordo com a necessidade das comunidades em discutir – e a segunda rodada. A primeira rodada da região centro aconteceu no dia 11 de abril e foi seguida de várias reuniões intermediárias, sendo que até a segunda rodada foram planejadas reuniões praticamente todas as semanas.

Numa reunião observada, pude perceber a tensão a que se referia o coordenador da região, pela sua fala. Faziam-se presentes cidadãos de diferentes camadas da população, congregando funcionários públicos, trabalhadores do comércio, comerciantes, empresários, papeleiros, desempregados,moradores de rua, entre os que consegui identificar. As falas são tensas, pois se reivindicam necessidades diversas; os bairros que já possuem uma boa infra- estrutura, demandam outras políticas, que não foram contempladas anteriormente como principais, uma vez que a população das vilas está muitas vezes em busca das prioridades

colocadas pelo poder público como de primeira necessidade como pavimentação, saneamento e saúde.

Nas observações realizadas em plenárias regionais do Centro foi possível perceber falas de crítica e cobrança da destinação das verbas. Dois exemplos neste sentido estão representados pelos depoimentos abaixo. O primeiro relaciona-se com a cobrança feita por um líder comunitário a respeito do montante de verba aplicado em determinada obra. O segundo, discorre sobre os objetivos do OP.

Olha! Nós conseguimos fazer a obra por sessenta e dois mil, o restante do dinheiro ele foi investido em tal coisa!, não sei onde é que ele foi investido?! Mas tinha uma destinação de cento e quarenta e poucos mil reais, e fez com sessenta e poucos mil[...] E o resto?! Onde está, né? (Depoimento oral, 2000)

A proposta do governo é o OP como publicidade, uma bela máquina realmente! É, é um luxo, é fantástico fazer uma propaganda lá, com um vileiro falando tudo errado. E olha! só o povo ta participando, inclusive nem fala direito mas ‘tá ali, bem articulado, né. E[...] eles nunca me procuraram pra fazer uma propaganda (Depoimento oral, 2000).

Em relação às reivindicações do lazer, é essa região e são essas comunidades as que têm maior número de demandas. Esse fato ocorre, segundo C., porque,

quando a população tem que escolher entre colocar uma rua que leva água tratada, a drenagem, o fim do pó ou uma nova praça, ou uma nova cancha esportiva, ou a construção de um teatro, ela opta, tem optado pela água, pelo esgoto, pelo fim do pó ou pelo posto de saúde. Essa para mim é uma lógica bem clara e bem determinada; a gente tem compensado isso com propostas nossas, via temática; tem procurado compensar com a criação do programa de descentralização da cultura. A gente procurou compensar o fato de que isto não era priorizado antes lá, a gente tem colocado verbas para praças e para reformar outras que se deterioraram ao longo do tempo, mas é sempre assim (depoimento oral, 2000).

Como a região centro possui uma boa infra-estrutura urbana, se seguirmos a lógica de C., aí já existe ambiente propício para começar a pensar em outros campos. Contrariamente a essa opinião, T. e E. pensam que se trata de uma questão de qualificação da demanda e de abrangência do entendimento do que seja reivindicar no campo do lazer. Dizem eles:

o que a gente tem percebido e conseguido fazer é com que a temática, que é a plenária que aponta para as diretrizes políticas, procure estar afinada com as regiões. Por exemplo, a diretrizes, as nossas três diretrizes que estamos apontando nas temáticas são: preservação de espaços públicos, de

áreas que contemplem a recreação, o esporte e o lazer; a qualificação dos espaços já existentes; e a ampliação dos programas e projetos. São as nossas três diretrizes básicas para 2001. Então, o que se pede, que as demandas das regiões, porque a gente trabalha com eles, que eles sempre pensem que a demanda regional esteja contemplada na temática, pela proposta da diretriz política. (depoimento oral, 2000).

As pessoas vinculam o lazer como ir num baile, como jogar futebol no fim de semana, mas não de uma coisa organizada, da gente conquistar isso para nossa região através de uma demanda institucional. Mas tu percebes a região como potencial?! (depoimento oral, 2000).

As observações nas comunidades da região Extremo–sul mostraram uma outra forma de organização das plenárias intermediárias, se comparadas com a região centro. A região se organiza por micro-regiões para pensar suas reivindicações, assim a rodada intermediária ficou composta das seguintes reuniões:

3/5 – Belém Novo 5/5 – Extrema 6/5 – Ponta Grossa 8/5- Lageado 10/5 – Chapéu do Sol 11/5- Belém Novo 12/5-Lami 13/5- São Caetano

As reuniões transcorrem também numa harmonia diferenciada das do centro. Há tensões, mas o ritmo com que as mesmas se manifestam é mais lento que as do centro. No centro, as pessoas têm pressa de voltar para suas casas; já as reuniões do extremo-sul são um acontecimento social, uma oportunidade de convívio com a vizinhança. Como é uma região que foi incluída nas discussões do OP mais recentemente e na qual as carências ainda são bem grandes, as preocupações denotam-se pontuais e buscam solucionar problemas urgentes e imediatos de cada comunidade. Pude notar que estas comunidades caracterizam-se por serem bastante combativas e conscientes de seus direitos, pois houve muitas cobranças dos conselheiros eleitos no ano anterior, houve inclusive pedidos de esclarecimentos e apresentação de relatórios das obras demandas em anos anteriores.

Ao comparar as duas regiões é possível dizer que as mesmas representam duas populações bastante distintas da cidade.

T. descreve as potencialidades da região extremo sul, onde se localizam as outras