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È necessária Sincronia da Federação com os clubes e Associações 1 Os Clubes

5. APRESENTAÇAO E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.4. È necessária Sincronia da Federação com os clubes e Associações 1 Os Clubes

Neste ponto o entrevistado salienta que os clubes são muito importantes, porque segundo o mesmo “estamos a falar da realidade que «dá»

o jogador [para a Selecção] ”, evidenciando que a realidade da Selecção

“decorre do aproveitamento das outras realidades [clubes e associações] ”.

A construção de um Modelo de Jogo não pode ser entendida de forma

redutora, pois as decisões não se resumem a um único factor, assim, o entrevistado afirma que na definição do Modelo de Jogo não se pode estar alheio às realidades de onde os jogadores resultam, isto é, ”os modelos a

seguir presumem de onde provém os jogadores. Não é muito coerente definir princípios de jogo gerais que não sejam coerente aos da maioria das equipas onde eles [jogadores] jogam”. Quanto a esses princípios, o entrevistado

elucida-nos que “quase todas as equipas nossas [clubes] passaram a jogar

mais próximas, ou se não com deambulações que não era muito longe destes modelos”, isto é, do modelo definido pela Federação.

Pensamos que se não se observasse aproximação entre a maneira de jogar dos clubes e Selecções, seria pertinente existirem alterações no Modelo de Jogo, pois como o próprio entrevistado referiu, o Modelo de Jogo tem em atenção a história, mas também são consideradas “as tendências do futebol

júnior nacional”. O modelo não se assume como algo fechado, e alheio ao

As declarações do nosso entrevistado salientam que também os princípios de jogo das equipas que fornecem os jogadores são considerados no momento de elaboração do Modelo de Jogo.

Consideramos que uma coisa é o Modelo de Jogo da Selecção ter em atenção os princípios das equipas de onde derivam os jogadores, outra medida mais radical é fazer o que sugere Teodorescu (1984) ao considerar que quando o seleccionador Nacional não tem tempo de reunir os jogadores e com eles desenvolver uma organização colectiva, se deve recrutar o maior número de jogadores do mesmo clube. O nosso entrevistado parece não discordar pois “a

realidade do nosso trabalho (na Selecção) não tinha consistência se nós não aproveitássemos o que era feito de bem nos clubes”, explicando que para

aproveitar o que se faz de bom no clube pode passar por “arrastar um bloco

directo desse clube implicaria necessariamente menor dificuldade em relação a via organizacional que devíamos ter, ou que não tínhamos tempo para poder fazer.”

Alves (2006), entrevistando treinadores nacionais, não obteve uma resposta unânime sobre o aproveitamento de uma espinha dorsal de um clube como meio facilitador da modelação dos jogadores.

A sugestão anteriormente apresentada, quer por Teodorescu (1984), quer pelo entrevistado parece ter como objectivo principal o resultado imediato, e não a formação dos jogadores. Já Alves (2006) apresenta resultados em que incluiu a opinião dos treinadores da formação, e que foi distinta.

Consideramos que na formação esta questão deva ser ponderada de forma particular, não envergando por este facilitismo. Se falamos da equipa sénior, não nos opomos a que essa estratégia aconteça, todavia na formação o objectivo é formar os jogadores e o facto de os jogadores pertencerem a clubes diferentes isso não os deve excluir. Devem ser eleitos os melhores deve-se evitar recorrer a este facilitismo, em prol de permitir aos jogadores uma evolução, ou melhor uma hetero evolução, pois acontecerá em co-existência com os restantes jogadores e em função das ideias de jogo desejadas.

Os clubes são a realidade onde o jogador está mais tempo inserido, logo é aquela que mais o «moldará». A referida semelhança entre os princípios

de jogo dos clubes e da Selecção vem contribuir para o sucesso da Selecção, pelo que existirá um melhor fluxo dos jogadores entre as diferentes realidades, não tendo de «obrigar» os jogadores a vivenciar situações distintas. A ligação entre clube e Selecção assume-se assim nos dois sentidos, sendo que o entrevistado considera que “os jogadores que trabalhavam connosco nas

Selecções eram capazes de levar alguma correspondência” para os clubes.

Segundo o entrevistado “o sucesso depende da cumplicidade que

orienta as esferas de intervenção sobre as acções dos jogadores” pelo que a

Federação Portuguesa de Futebol procura ter intervenção sobre a realidade dos clubes, pois existe a intenção de «moldar» os jogadores quando estes estão na Selecção, mas urge também uma intervenção directa ou indirecta sobre a realidade onde eles passam mais tempo, os clubes.

Enquanto coordenador da formação, o nosso entrevistado propôs “quadros competitivos novos para o futebol jovem”. Pela falta de dinheiro sempre apresentada como “óbice”, Agostinho Oliveira considera que se deva ”mexer naquilo que já está constituído dando maior carga, maiores níveis

competitivos”. Reformulam-se as competições no sentido de aumentar a

competitividade do futebol jovem, mesmo que para isso seja necessário retirar as equipas do interior, pois, segundo o entrevistado, uma equipa do interior aparece apenas na segunda divisão, e “se estamos a falar de competitividade,

temos cada vez mais de alicerçar onde está a competitividade reforça-la e dar lhe cunho”, pois “é ali [a 50km da costa] que tens o jogador de alta competição”.

Esta intenção de melhorar o quadro competitivo dos clubes parece-nos pertinente, contudo ainda só foi alterada a competição do escalão júnior. Esta medida contribui para uma melhor formação do jovem jogador que vivencia situações de competição mais elevadas.

Apresentada uma solução para melhorar o cenário competitivo dos jogadores é salientado um novo problema que está a condicionar a eficiência desta medida. Como vimos, espera-se que os jogadores que vão à Selecção na realidade dos clubes vão desenvolvendo os comportamentos desejados, quer treinando, quer jogando de determinada forma com a qual estão

identificados, contudo, uma nova realidade é a inclusão de muitos jovens jogadores “estrangeiros aos trabalhos das equipas também jovens”. O entrevistado informa que tem “uma estatística que nos leva a considerar que

temos trinta por cento, já, de jogadores estrangeiros” a actuar nas equipas

jovens portuguesas. Este facto torna-se preocupante pois retiram a possibilidade dos jogadores nacionais jogarem. É uma decisão dos clubes sobre a qual, o entrevistado diz a Federação “não pode legitimamente actuar

naquilo que é o conceito estrito e jurídico e se quiseres particular da estrutura do clube”.

Quanto ao problema apresentado, já em 1988 Garganta, em ironia sugeria que a formação em Portugal assumisse como objectivo habituar os jogadores à condição de suplentes. O nosso entrevistado acrescenta que “o

Porto (Futebol Clube do Porto, equipa principal), neste momento, tem três jogadores portugueses na equipa principal, há cinco ou seis anos atrás tinha oito e jogava só com 3 estrangeiros”, demonstrando como as realidades se tem

vindo a alterar, de forma negativa para o jogador nacional em prol da introdução de estrangeiros no nosso futebol.

Em nosso entendimento, tal situação apresenta-se como factor negativo, pois a competição é um factor muito importante na formação do jovem, (Marques 2003). Pensamos que o facto de ser titular leva a que um jogador se relacione de forma mais positiva com a identidade da sua equipa, entre outras razões, pela motivação que sente. Os jogadores de nível acima da média encontram estímulos motivantes, quase apenas, nos jogos difíceis, jogos que normalmente são vivenciados quando representam a Selecção, aumentando o nível competitivo dos clubes, leva a que também no clube estes jogadores estejam sobre estímulos que os façam evoluir.

Uma intenção de aumentar o nível competitivo, contribui em muito para a evolução do jogador, porém não irá ter influência sobre quais os comportamentos vivenciados pelos jogadores no clube. Essa decisão continua a ser da exclusiva dos treinadores do clube.

Consideramos que a aquisição de comportamentos é, de uma forma geral, melhor atingida na realidade dos clubes, contudo é utópico que a

Federação Portuguesa de Futebol, para conseguir a “cumplicidade entre as

esferas de intervenção”, pense em intervir nos clubes, de forma a alterar os

princípios que estes praticam. A ligação pode, então acontecer no outro sentido. O nosso entrevistado parece salientar que, no intuito de tornar próximas as diferentes “esferas de intervenção”, na definição da ideia de jogo que melhor serve os jogadores portugueses, também devem ser considerados os princípios de jogo dos clubes de onde derivam os jogadores. Deste modo a Selecção faria um melhor proveito do trabalho que é realizado na realidade clube, aproveitando alguns dos seus princípios mais gerais.

5.4.2. Com as Associações

Não só do clube se serve a Selecção para preparação dos jogadores. Antes de participar dos trabalhos da Selecção o jogador, por norma é chamado a representar uma das Selecções da Associação de Futebol a que a sua equipa pertence pelo que o entrevistado informa “o primeiro trabalho é das

Associações”. Assim sendo, achamos que se existe mais um espaço onde se

trabalha com o jogador, esse trabalho deve contribuir também para o objectivo da Federação, isto é, contribuir para se obter uma equipa.

O entrevistado explica “as Selecções Regionais de sub-15 vão a Lisboa

fazer o campeonato inter-Associações. Nesse campeonato inter-Associações tu vais escolher 44 jogadores, 4 por cada posição, dessas todas Selecções que estiveram a trabalhar em Lisboa. A jogar umas contra as outras para haver um campeão, mas para nós, interessa-nos é o jogador. A análise do jogador… Vai- te acontecer que tu vais ter 44 jogadores de onde fazes a primeira Selecção Nacional, a Selecção Nacional sub-15” Os jogadores aos 15 anos começam a

ser convocados para a Selecção Nacional, contudo é possível, dos 13 aos 15 anos o jogador já vivenciar as nuances desejadas. Se não for nos seus clubes, nas suas participações na Selecção de Associação.

Esta situação assemelha-se ao realizado por Menotti (1978) no comando da Selecção Argentina, cirando 4 Selecções Regionais, onde podia

observar um maior número de jogadores para posteriormente criar a Selecção Nacional Argentina.

As associações apresentam-se como espaço de prospecção onde são identificados pela primeira vez os talentos portugueses que posteriormente serão incluídos nos trabalhos da Selecção.

O nosso entrevistado, na condição de coordenador da formação informa que pretendia-se com a “apresentação do documento orientador

estarmos a começar a perspectivar que o trabalho teria de ser uno e unívoco, ou seja com um sentido só para que pudéssemos estar a trabalhar no sentido sempre de que trabalha a Selecção Nacional”.

Concluindo, o entrevistado salienta que o jogador “antes de chegar à

Associação, antes de chagar à Federação, está no clube”, existindo por isso a

“necessidade da articulação simbiótica entre clubes, Associação, Federação. O

sucesso depende da cumplicidade que orienta as esferas de intervenção sobre as acções dos jogadores”, isto é, quanto mais coerente for esse trabalho,

obedecendo ao mesmo «farol orientador», obedecendo ao Modelo de Jogo que se pretende criar. Pretende-se com esta unificação das intervenções sobre o jogador que este se venha a apresentar já nas Selecções das Associações identificado com o Modelo de Jogo da Federação.

Agostinho Oliveira deseja «controlar» todas a intervenção sobre o jogador pois “rejeitamos a ideia de perdermos a nossa identidade”.

O referido pelo entrevistado vai de encontro com o que nós tínhamos concluído, isto é, todo o processo (de treino e formação) deve ser ter um Modelo de Jogo como orientação (Leal & Quinta, 2001; Carvalhal, 2001).

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