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Ao longo das épocas e de modo a permitir que as empresas se conseguissem adaptar e adequar às variações de mercado que se vêm a registar de

DA DESCENTRALIZAÇÃO DA CONTRATAÇÃO COLECTIVA EM TORNO DE UMA NOVA (E POSSÍVEL) LEGITIMIDADE

II. Ao longo das épocas e de modo a permitir que as empresas se conseguissem adaptar e adequar às variações de mercado que se vêm a registar de

modo sucessivo, o modelo centralizado da contratação colectiva tem vindo a ser alterado através da implementação coordenada de medidas legislativas, e também convencionais, tendo-se vindo a tornar cada vez mais descentralizado.

O início da transformação do sistema centralizado da contratação colectiva francês remonta a 1982, com as leis Auroux de 13 de Novembro de 1982, as quais procuraram, entre outros aspectos, fomentar a sindicalização de trabalhadores em

297 ROJOT, Jacques, Collective Agreements in France, in Collective bargaining in Europe, MTAS,

Madrid, 2005, p. 97; MOREAU, Maria-Ange, National Report – France, in The evolving structure of

Collective Bargaining in Europe 1990-2004, p. 10, 21-22

298 Sobre o tema, por exemplo, ANTONMATTEI, Paul-Henri, Les conventions et accords collectifs de travail, Dalloz, 1996, pp. 11 e s.

299 A eficácia erga omnes de um CCT, por exemplo, pode ser contrariada através do direito d’opposition majoritaire, pelo qual os sindicatos com maior representatividade num determinado

sector se poderão opor à extensão dos efeitos de um CCT convencionado por associação sindical que não cumpra os critérios de representatividade em vigor, podendo o mesmo direito ser exercido ao nível da empresa, devendo ser essa oposição comunicada por escrito, e de forma fundamentada (cfr. art. L. 2231-8, L. 2232-2, L. 2232-6 e L. 2232-7, todos do CTrav). A extensão de efeitos de CCT’s é também possível por actos governativos. Cfr. MOREAU, Maria-Ange, ob. Cit., pp. 6, 11-15; MORIN, Marie-Laure, Le dualisme de la negociation collective à l’épreuve des reformes: validité et loyauté de

la negociation, application et interprétation de l’accord, DS, n.º 1, 2008, pp. 24-33; ROJOT, Jacques, ob. Cit., pp. 111 e s., 133 e s.

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empresas onde não existia qualquer representação sindical e possibilitar que as empresas negociassem determinadas questões ao nível da empresa.

Assim, a par deste intento, foi estabelecido um conjunto de normas imperativas mínimas sobre certas matérias (e.g., salariais, duração e organização do tempo de trabalho), que admitiu que a negociação colectiva ao nível da empresa dispusesse em sentido mais favorável aos trabalhadores, associada à obrigação de negociação anual das mesmas300. Já a derrogação de condições laborais constantes de lei ou de CCT’s de nível superior só seria admissível quanto à matéria do trabalho suplementar301.

Posteriormente, e na senda da reforma de 1982, os parceiros sociais de maior dimensão representativa acordaram em 16 de Julho de 2001, no âmbito do debate à necessária refondation sociale da legislação laboral, em defender, entre outras medidas, o reforço da contratação colectiva, designadamente a necessidade de se incentivar a criação de comités d’entreprise, de forma a estimular o desenvolvimento da contratação colectiva nas empresas, pese embora contando com a sua supervisão.

Esta orientação foi desenvolvida com as leis Aubry de 13 de Junho 1998 e 19 de Janeiro de 2000, com as leis Fillon de 4 de Maio 2004 e as leis Bertrand de 20 de Agosto 2008, tendo-se reforçado a autonomia e o poder derrogatório dos acordos de empresa em face dos outros IRCT’s, no tornando-os a figura central da contratação colectiva, dado os fracos níveis de sindicalismo nas empresas302.

Com efeito, e no essencial, implementou-se o seguinte figurino:

300 YSÀS MOLINERO, Helena, Contenido de la negociación de empresa en Francia, in Temas Laborales,

n.º 113, 2012, pp. 75-103, pp. 83 e s.

301 Entre outros, vide JAVILLIER, J. C., Le contenu des accords d’enterprise, DS, n.º 11, 1982, pp. 691-

704, ROJOT, Jacques, ob. Cit., pp. 105 e s., 110-111, 115 e s.; SUPIOT, Alain, Déréglementation des

relations de travail et autoréglementation de l’enterprise, DS, n.º 3, 1989, pp. 195-205; YSÀS

MOLINERO, Helena, ob. Cit., pp. 77 e s. Inter alia, estas alterações legislativas visavam mitigar a disseminação os acordos colectivos de empresa celebrados à margem da lei por inércia ou discórdia das CCT’s celebrados por representantes sindicais, cfr. DESPAX, Michel, Droit du Travail…cit., pp. 112 e s., 560 e s.

302 Na doutrina, por exemplo, BORENFREUND, Georges, La négociation collective dans les enterprises dépourvues de délégués syndicaux, DS, n.º 6, 2004, p. 613; BORENFREUND, Georges, La representation des salariés… cit., p. 693 ; CAMERLYNCK, G. H. / LYON-CAEN, Gérard / PÉLISSIER,

Jean, ob. Cit., pp. 666 e s., 733-739; LYON-CAEN, Gerard, La Constituition…cit., pp, 481; MESTRE, Bruno, ob. Cit., p. 130 ; MOREAU, Maria-Ange, ob. Cit., p. 43 e s.; PÉLISSIER, Jean / SUPIOT, Alain / JEAMMAUD, Antoine, Droit du Travail, 23.ª Ed., Dalloz, Paris, 2006, pp. 966 e 967; ROJOT, Jacques,

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a) As CCT’s de nível inferior passaram a poder derrogar certas disposições constantes de CCT’s de nível superior, embora essa operação estivesse sujeita a certas mecânicas legais de controlo;

b) Os acordos referidos em a), passaram a poder ser outorgados, preferencialmente, pelos delegados sindicais, pelo delegado do pessoal com mandato sindical para o efeito ou por delegado do pessoal sem mandato sindical, conforme a existência, ou não, de representação na empresa, estando o acordo sujeito a aprovação pela comissão paritária constituída no sector, como actualmente resulta dos art. L. 2232-17, 2231-21, 2231-23 e 2232-25 do CTrav303.

Reitere-se, novamente, que estas medidas não pretenderam eliminar o controlo das associações sindicais sobre este tipo de contratação, tal como dispõem os art. L. 2252-1, L. 2253-1 e L. 2232-12 a L. 2232-15, todos do CTrav.

Existem diversas regras de articulação entre CCT’s de diferentes níveis, conferindo aos de nível inferior a possibilidade de derrogarem os de nível superior, podendo ainda esses mecanismos ser disciplinados ou até excluídos pelas partes outorgantes de CCT’s de níveis superiores, e o mesmo se passaria em relação à lei.

Concomitantemente, a própria lei vedou, nos termos do art. L. 2253-3 do CTrav, a derrogação de determinadas matérias, e.g., a retribuição mensal mínima e a categoria profissional, ainda que na perspectiva de pretender a alargar o leque de matérias passíveis de derrogação por CCT’s celebradas ao nível da empresa.

As sucessivas reformas têm continuado a reforçar o estatuto dos acordos de empresa além das próprias entidades representativas dos trabalhadores a esse nível, o que tem possibilitado ao governo, não só que as empresas alcancem a flexibilização e modernização desejadas das condições de trabalho aí vigentes, mas também que viessem a ser prosseguidas determinadas políticas públicas (e.g., implementação e organização de períodos semanais de trabalho de 35 horas)304.

303 Nos termos dos art. L. 2232-24 e 2232-27, ambos do CTrav, os acordos consideram-se não

escritos se não forem aprovados nos termos da lei ou quando não forem referendados pelos trabalhadores.

304 BARTHÉLEMY, Jacques / CETTE, Gilbert, Réfondation du droit social: concilier protection des travailleurs et efficacité économique, Paris, 2010, pp. 11 e s.; MESTRE, Bruno, ob. Cit., pp. 143-145,

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III. A introdução destas medidas legislativas foi alvo de alguma polémica,

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