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3. QUALIDADE MEDIDA E QUALIDADE PERCEBIDA

3.1 Qualidade medida

3.1.2 Índice de qualidade da operação do transporte coletivo (IQT)

O Índice de Qualidade da Operação do Transporte Coletivo (IQT), correspondente ao desempenho operacional das empresas, envolve a confiabilidade aferida por meio do cumprimento dos quadros de horários e a lotação máxima permitida, de acordo com a especificação da capacidade do transporte. Mensurado em índices de confiabilidade e em índices de conforto, reflete a qualidade dos serviços quanto à frequência de viagens programadas e o modo como a programação é realizada. A FIG. 3.2 apresenta a estrutura de cálculo para determinação do IQT.

FIGURA 3.2 - Estrutura do sistema de indicadores para cálculo do IQT Fonte: elaborada pelo autor, baseada em Couto, 2011

Assim, o IQT é obtido pelo somatório dos índices de pontualidade (IP) e de conforto (ICf),

conforme a fórmula:

IQT = IP + δ ICf (3.10)

Em que: IQT é o índice de qualidade da operação do transporte coletivo; IP é o índice de pontualidade do transporte coletivo;

ICf é o índice de conforto (lotação) do transporte coletivo; e

55 Os pesos e δ utilizados neste estudo foram os mesmos utilizados por Couto (2011) em seu trabalho que, tomando como referência as reclamações dos usuários do transporte quanto aos quesitos pontualidade e conforto, observou cerca de quatro reclamações relacionadas à pontualidade para cada uma sobre o conforto das viagens. Assim, e δ foram definidos como 0,8 e 0,2, respectivamente,

3.1.2.1. Índice de pontualidade (IP)

Apesar da diversidade de conceitos sobre o nível dos serviços de transporte devido às diferentes expectativas dos usuários, a pontualidade sempre é considerada como um dos principais quesitos para avaliação da qualidade. Vuchic (2005) conceitua a pontualidade como sendo a relação entre o horário real e o horário programado de parada de veículo para embarque e desembarque de passageiros.

O Índice de Pontualidade (IP) é apurado por meio da verificação do cumprimento do serviço especificado, seguindo metodologia de cálculo que considera os horários programados para a realização dos serviços confrontados com os horários em que as viagens foram efetivamente iniciadas.

A metodologia empregada contempla três conceitos para verificação da pontualidade. O primeiro deles caracteriza as viagens normais como sendo aquelas realizadas dentro do limite de tolerância, sendo este o tempo compreendido entre um minuto antes do horário programado até metade do headway, intervalo entre o horário em que está sendo avaliado o cumprimento e o próximo horário estabelecido nos quadros de horários. Foi definido também que o tempo de tolerância é limitado ao máximo de 10 minutos de atraso.

A partir da caracterização do que é considerada uma viagem normal, os outros dois conceitos refletem o descumprimento da pontualidade, denominados atrasos e omissões de viagens. Segundo os critérios utilizados na metodologia de avaliação para mensuração da qualidade quanto à pontualidade, uma viagem é considerada atrasada quando o horário de realização da mesma se deu após o limite de tolerância para a viagem normal até um minuto antes do próximo horário programado nos quadros de horários e o conceito de viagem omitida remete ao significado de que a viagem não foi realizada ou foi realizada após o horário programado para a próxima viagem.

56 Havendo viagens realizadas que não sejam enquadradas como normais ou atrasadas, elas são classificadas como viagens suplementares, sendo computadas apenas para cálculo do índice de conforto.

O Índice de Pontualidade (IP) é calculado confrontando os horários das viagens programadas com os horários realizados dentro das três situações citadas, sendo determinado por meio da seguinte fórmula:

IPi =

(3.11)

Em que: IPi é o índice de pontualidade das linhas que atendem a área avaliada i;

NVRi corresponde à quantidade de viagens realizadas nas linhas da área i dentro dos limites

de tolerância; e

NVEi corresponde à quantidade total de viagens especificadas nas linhas da área i.

Calculado o IP, para determinação do nível de serviço, o valor encontrado é enquadrado na TAB. 3.8.

TABELA 3.8 - Níveis de serviço para o IP (índice de pontualidade)

Índice de Pontualidade (IP)

Índice

Parametrizado Faixa Parametrizada Nível de Serviço 0,99 < IP 1,00 [ 1,00 ; 0,80 ] Ótimo (A) 0,99 IP > 0,98 0,80 ] 0,80 ; 0,60 ] Bom (B) 0,98 IP > 0,97 0,60 ] 0,60 ; 0,40 ] Regular (C) 0,97 IP > 0,90 0,40 ] 0,40 ; 0,20 ] Ruim (D)

IP 0,90 0,20 ] 0,20 ; 0,00 ] Péssimo (E)

Fonte: elaborada por COUTO, 2011

Os níveis de serviço referentes ao índice de pontualidade foram definidos pelo autor da metodologia com base no plano de metas do órgão gestor, que busca um índice de cumprimento acima de 99% de viagens realizadas nos horários programados, apresentando critérios semelhantes aos propostos por Ferraz e Torres (2001) para os percentuais de cumprimento de viagens, considerando, no entanto critérios próprios de tolerância por atraso.

57 Para avaliação do IP, as viagens são analisadas e classificadas como normais, atrasadas e omitidas. O IPi é calculado inicialmente considerando-se os descumprimentos por omissões de viagens e, em seguida, verificando-se as viagens atrasadas. O índice de pontualidade utilizado para avaliação do nível de serviço é o resultado da média ponderada desconsiderando às omissões, utilizando peso 2 nessa situação, e desconsiderando os atrasos, com peso 1, uma vez que as omissões têm maior influência na aferição da qualidade do serviço que os atrasos.

Assim, exemplificando o cálculo do IP, para uma determinada área servida por linhas cujas programações previam a oferta de 10.000 viagens, no período de avaliação definido, caso tais linhas, segundo os critérios definidos na metodologia, não realizassem (omissões) 200 viagens e realizassem 450 com atrasos, o índice de omissões seria 0,02 (2%) e o de atrasos 0,045 (4,5%). Dessa forma, o índice parametrizado para a pontualidade avaliada seria 0,6

(nível de serviço “Regular”) uma vez que o IP seria igual a 0,9717 (97,17%), calculado a

partir da média ponderada entre 0,98 (98%), referente ao índice desconsiderando-se as omissões, e 0,955 (95,5%), índice desconsiderando-se os atrasos, com a aplicação de pesos 2 e 1 a eles, respectivamente.

3.1.2.2. Índice de conforto (ICf)

O conforto é um dos quesitos mais reclamados pelos usuários e, normalmente, a lotação é o principal aspecto considerado ao avaliá-lo no transporte coletivo, especialmente pelo fato de que uma parte dos usuários realiza suas viagens em pé.

Aguiar (1985), Lima (1996) e Ferraz e Torres (2001) citam a lotação, medida em passageiros em pé por metro quadrado, com um dos principais fatores que influenciam na qualidade de um serviço de transporte público urbano. Ferraz e Torres (2001) classificam como boa a qualidade do transporte quanto ao requisito conforto quando a situação dos passageiros em função da área ocupada for inferior a 2,5 passageiros em pé por metro quadrado.

Considerada como a quantidade máxima de passageiros admitidos ao mesmo tempo em um veículo, a lotação é calculada no trecho de maior carregamento por meio da relação entre o quantitativo de passageiros transportados (pagantes e gratuitos) em uma viagem, e o índice de

rotatividade, que mede o número de “sobe e desce” dos passageiros. A metodologia considera

58 e no noturno, respectivamente. Assim, as viagens nas quais forem detectadas ocupações superiores a estas, são consideradas como superlotadas, ou seja, não atenderam ao índice de conforto estabelecido.

A verificação das taxas de ocupação sem a utilização de tecnologias específicas para tal, exige o conhecimento da área útil de cada veículo do sistema de transporte e a utilização de índices de rotatividade, gratuidade (passageiros que não giram a roleta) e transbordo/baldeação (passageiros que passam de uma linha para outra sem registro na roleta), obtidos por meio de pesquisas de transporte específicas.

O Índice de Conforto (ICf) é calculado por meio da relação entre a quantidade de viagens em

condições de lotação normais (dentro dos limites das taxas de ocupação especificadas) e o total de viagens realizadas, conforme mostrado na fórmula a seguir.

ICfi =

(3.12)

Em que: ICfi é o índice de conforto das linhas que atendem a área avaliada i;

NVRn corresponde ao quantitativo de viagens realizadas nas linhas da área i, com lotação

dentro dos níveis de ocupação estabelecidos; e

NVR corresponde ao quantitativo de viagens realizadas nas linhas da área i.

As faixas de enquadramento dos níveis de serviço referentes ao conforto das viagens estão apresentadas na TAB. 3.9.

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TABELA 3.9 - Níveis de serviço para o ICf (índice de conforto)

Índice de Conforto (ICf)

Índice

Parametrizado Faixa Parametrizada Nível de Serviço 0,99 < ICf 1,00 [ 1,00 ; 0,80 ] Ótimo (A)

0,99 ICf > 0,95 0,80 ] 0,80 ; 0,60 ] Bom (B)

0,95 ICf > 0,85 0,60 ] 0,60 ; 0,40 ] Regular (C)

0,85 ICf > 0,75 0,40 ] 0,40 ; 0,20 ] Ruim (D)

ICf 0,75 0,20 ] 0,20 ; 0,00 ] Péssimo (E) Fonte: elaborada pelo autor, baseada em COUTO, 2011

Como exemplo, seria considerado “Ruim” (índice parametrizado correspondente a 0,40) o nível de serviço relacionado ao quesito conforto para uma determinada área onde fossem realizadas 5.000 viagens nas quais 1.100 dessas apresentassem superlotação. Tal consideração leva em conta o cálculo do IC como sendo igual a 0,78, correspondente a 78% de viagens apresentando lotação dentro dos níveis de ocupação estabelecidos na metodologia.