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E) Súmula dos impactos nas propriedades químicas do solo

3.1.2. Índices de qualidade do solo

A qualidade do solo, quantificada através de índices de qualidade do solo (IQS), baseia-se na dinâmica de propriedades e de funções do mesmo (Karlen et al., 1994a; Mausbach & Seybold, 1998; Wang & Gong, 1998; Hussain et al., 1999; Andrews et al., 2003; Karlen et al., 2004; Sharma et al., 2005).

No Quadro 3.1.22 apresentam-se os índices de qualidade do solo, determinados a partir da selecção de seis características do solo (físicas e químicas), associadas a três funções do mesmo. Nos tratamentos de mobilização intermédia (SRVC, RLVC) e intensiva (RCVC, RCLC) verifica-se uma melhoria da qualidade do solo (Quadro 3.1.22 e Figura 3.1.8), em comparação com os tratamentos de mobilização ligeira (SMPC, RCAV)

(A) (B)

e o solo original (TSMO), resultando em índices de 0,32; 0,35; 0,33; 0,56; 0,53; 0,41 e 0,52, respectivamente para os tratamentos TSMO, SMPC, RCAV, SRVC, RLVC, RCVC e RCLC. A espessura efectiva e a massa volúmica mostraram ser características fundamentais na melhoria da qualidade dos solos. As técnicas de preparação do terreno produzem impacto no sentido e no grau de variação da qualidade do solo (Wang & Gong, 1998) e a manutenção ou melhoria dessa qualidade pode ser encarada como um critério de sustentabilidade dos solos florestais (Schoenholtz et al., 2000).

Quadro 3.1.22 – Índices de qualidade do solo para os tratamentos TSMO, SMPC, RCAV, SRVC, RLVC, RCVC e RCLC.

Função do solo Indicador do solo Índices de qualidade do solo

TSMO SMPC RCAV SRVC RLVC RCVC RCLC

Relações com água C total (g kg-1) 0,02 0,04 0,00 0,04 0,04 0,01 0,01 MVap (g cm-3) 0,14 0,14 0,16 0,18 0,18 0,18 0,18 Relações com nutrientes C total (g kg-1) 0,00 0,01 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 N total (g kg -1) 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 CTC (cmolc kg-1) 0,01 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01

pH 0,04 0,03 0,04 0,04 0,03 0,03 0,04 Relações com enraizamento C total (g kg-1) 0,00 0,01 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 pH 0,03 0,02 0,03 0,03 0,02 0,02 0,03 MVap (g cm-3) 0,08 0,08 0,10 0,11 0,11 0,11 0,11 Espessura efectiva (cm) 0,00 0,00 0,00 0,14 0,12 0,04 0,14 0,32 0,35 0,33 0,56 0,53 0,41 0,52 MVap – massa volúmica aparente do solo. Os valores das variáveis apresentadas correspondem à linha de

plantação. Ligeira Intermédia Intensiva TSMO 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 SMPC RCAV SRVC RLVC RCVC RCLC

Figura 3.1.8 – Índices de qualidade do solo na situação original (TSMO) e nos tratamentos de mobilização ligeira (SMPC, RCAV), intermédia (SRVC, RLVC) e intensiva (RCVC, RCLC) do solo.

Os tratamentos de mobilização ligeira não modificaram a qualidade do solo relativamente ao solo original (Figura 3.1.8). As técnicas de preparação do terreno de intensidade intermédia (SRVC e RLVC, respectivamente com IQS 0,56 e 0,53), bem como a de intensidade máxima (RCLC, com IQS 0,52) foram as que mais contribuíram para a melhoria da qualidade do solo. Nos tratamentos com armação do terreno em vala e cômoro, a ripagem localizada (RLVC) e principalmente a ripagem contínua (RCVC) parece ter produzido um efeito menos positivo nas propriedades físicas e químicas e consequentemente na qualidade do solo, comparativamente à situação sem ripagem (SRVC). Este efeito tende a variar directamente com a percentagem da parcela afectada pela ripagem. Também, Pinto (2000) e Martins & Pinto (2004) verificaram uma maior eficácia da ripagem localizada nas propriedades do solo face à ripagem contínua, tendo atribuído esse efeito a diferenças na potência da máquina devido à utilização de um só dente no caso da ripagem localizada (a máquina pode ter atingido maior profundidade) e de três dentes no caso da ripagem contínua. Porém, no presente estudo, a aplicação da ripagem localizada e contínua foi realizada nas mesmas condições (utilização de dois dentes). Assim, parece importante prosseguir com estes estudos de modo a esclarecer de forma definitiva a utilidade e/ou necessidade da aplicação da ripagem no solo, uma vez que para além de poder afectar negativamente a qualidade do solo, acresce consideravelmente os custos de instalação dos povoamentos.

Como seria de esperar, a qualidade do solo está dependente da dinâmica natural do solo, pelo que os solos do bloco I apresentam qualidade superior (Quadro 3.1.23). A espessura efectiva e a massa volúmica relacionadas com o tipo de solo e com a técnica de preparação do terreno foram determinantes na melhoria da qualidade do solo.

Quadro 3.1.23 – Índices de qualidade do solo para os blocos I e III.

Função do solo Indicador do solo Índices de qualidade do solo

Bloco I Bloco III

Relações com água C total (g kg-1) 0,06 0,00

MVap (g cm-3) 0,16 0,18

Relações com nutrientes C total (g kg-1) 0,02 0,00 N total (g kg -1) 0,01 0,00 CTC (cmolc kg-1) 0,01 0,01

pH 0,03 0,04

Relações com enraizamento C total (g kg-1) 0,01 0,00

pH 0,02 0,03

MVap (g cm-3) 0,10 0,11

Espessura efectiva (cm) 0,08 0,04

0,49 0,40

MVap – massa volúmica aparente do solo. Os valores das variáveis apresentadas correspondem à linha de

Foram estabelecidas relações entre os índices de qualidade do solo (IQS), as taxas de sobrevivência e os crescimentos das espécies PM e CS num período de 42 meses (Quadro 3.1.24). A qualidade do solo mostrou maior relevância na sobrevivência da espécie PM e nos crescimentos da espécie CS, nomeadamente em diâmetro.

As amplitudes das variações dos crescimentos em altura e diâmetro, geralmente, acompanham as amplitudes das variações da qualidade do solo, apresentando o tratamento RCLC alteração a este padrão (Figura 3.1.9). Assim, nos tratamentos com armação do terreno em vala e cômoro (SRVC, RLVC, RCVC), os crescimentos em altura e diâmetro das espécies PM (r2 = 0,991 e r2 = 0,839, respectivamente para o crescimento em altura e diâmetro) e CS (r2 = 0,800 e r2 = 0,990, respectivamente para o crescimento em altura e diâmetro) mostram boa correlação com os índices de qualidade do solo.

Quadro 3.1.24 – Coeficientes de correlação dos índices de qualidade dos solos (IQS) com os parâmetros sobrevivência (sob), altura (h) e diâmetro (d) num período de 42 meses, para as espécies PM e CS.

Coeficiente de correlação

IQS vs sobPM IQS vs sobCS IQS vs hPM IQS vs dPM IQS vs hCS IQS vs dCS

0,911** 0,724 0,527 0,421 0,627 0,754 0 20 40 60 80 100 120 140 160 TSMO SMPC RCAV SRVC RLVC RCVC RCLC IQS (×100) Sobrevivência PM (%) Sobrevivência CS (%) Altura PM (cm) Diâmetro PM (mm) Altura CS (cm) Diâmetro CS (mm)

Figura 3.1.9 – Comparação da taxa de sobrevivência e dos crescimentos em altura e diâmetro para as espécies PM e CS com o índice de qualidade dos solos, segundo os tratamentos.

Os solos do bloco I favoreceram os vários parâmetros medidos para a espécie CS, sobrevivência e crescimentos em altura e diâmetro. Ao contrário, os solos do bloco III favoreceram os crescimentos da espécie PM (Figura 3.1.10).

0 20 40 60 80 100 120 140 160 PM CS PM CS PM CS

IQS (×100) Sobrevivência (%) Altura (cm) Diâmetro (mm)

Bloco I Bloco III

Figura 3.1.10 – Comparação da taxa de sobrevivência e dos crescimentos em altura e diâmetro para as espécies PM e CS com o índice de qualidade do solo, nos blocos I e III.