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2. A IMAGEM, A EDUCAÇÃO DO OLHAR E O GÊNERO FOTOGRÁFICO COMO

2.4. Sob a ótica do signo imagético

Tomemos inicialmente a caracterização que Joly (2012) elabora sobre os gêneros que pertencem à imagem, apesar de seu reconhecimento das inúmeras significações que se dá ao termo, considerando o que teriam em comum diversos tipos de expressão, tais como a fotografia, o filme, o desenho, a pintura, o grafite, os cartazes, o cartum, a charge, quadrinhos, dentre outros. De acordo com Joly, embora a imagem nem sempre compreenda algo que remete ao visível, ela “toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece” (JOLY, 2012, p.13).

Diferentes gêneros compõem o campo do que chamamos de signo e que podemos traduzir como sendo tudo que representa a realidade (MAUAD, 2004). Para Peirce8, apud Santaella (1998, p.159), “o objeto de uma representação pode

ser qualquer coisa existente, perceptível, apenas imaginável, ou mesmo não suscetível de ser imaginada”. Santaella afirma que a teoria dos signos de Peirce é uma das mais exaustivas teorias da representação. Nesse contexto, ela define o signo como algo que

(...) pode ser qualquer coisa existente conhecida, ou que se acredita ter existido, ou que se espera existir, ou uma coleção de tais coisas, ou também uma qualidade conhecida, ou relação, ou fato, ou ainda algo de uma natureza geral, desejado, requerido, ou invariavelmente encontrável dentro de uma certa circunstância geral (SANTAELLA, 1998, p.160).

Santaella (1998) lembra que, para Pierce, nada estaria fora da possibilidade de ser representado, pois a coisa referida em relação ao objeto não se restringe

apenas ao real, podendo o signo denotar, fazer referência, apresentar, representar alguma abstração científica, fenômeno, comportamento, situação existente ou de ordem da idealização.

De uma forma mais objetiva, Santaella (2005, p.90) esclarece que

o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade. Peirce (2005) divide o signo quanto aos seus elementos constitutivos, de uma forma triádica, sendo eles: o objeto, o representante e o interpretante. Quanto ao seu modo de existência, esse autor os denomina de: ícone, índice e símbolo. Ao considerar o signo enquanto ícone, portanto, referindo-se à sua função de representação, o faz a partir da semelhança que ele guarda em relação ao objeto representado, não sendo possível, assim, estabelecer uma distinção entre o representante e o objeto. De acordo com Peirce, “qualquer coisa, seja uma qualidade, um existente individual ou uma lei, é Ícone de qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa coisa e utilizado como um seu signo” (PEIRCE, 2005, p. 52).

Quanto ao índice, este está vinculado ao objeto que o afeta, através de uma ligação física e uma relação causal. Portanto, funciona como um indicador. “Na medida em que o índice é afetado pelo Objeto, tem ele necessariamente alguma Qualidade em comum com o objeto e é com respeito a estas qualidades que ele se refere ao Objeto” (PEIRCE, 2005, p.52).

Em referência ao símbolo, este se relaciona com o objeto que ele representa de forma convencional e arbitrária. “Um símbolo é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele objeto” (PEIRCE, 2005, p.52).

Em relação à função do signo, Ferreyra apud Carlos (2002, p.62) afirma que o “signo é tudo aquilo que possibilita e mediatiza uma mensagem entre o expressor e o receptor, ou, ainda, tudo aquilo conhecido que dá a conhecer outra coisa”. O signo tem caráter de construção social (CARLOS, 2002; COSTA, 2005; FISHMAN, 2004; GIROUX, MACLAREN, 1995; MAUAD, 2004; SANTAELLA, 1998, 2005), cuja

atribuição principal reside na comunicação entre os homens, a partir do princípio mediático. Para Carlos (2002, p.62), “a mediação sígnica estabelecida entre as coisas e os homens e entre os próprios homens são sempre produções e construções sociais, historicamente determinadas”.

Assim, considerando que “a imagem se tornou um signo de grande impacto no processo de produção, circulação e consumo de informação” (CARLOS, 2002, p.70), encontramos em autores como Carlos (2002, 2006b), Ciavatta (2004), Costa (2005) e Fishman (2004), a defesa da inclusão da imagem como elemento mediador da construção do conhecimento.

Portanto, a mediação no processo de elaboração do conhecimento seria uma das funções do signo. Carlos (2002, p. 62) a entende como sendo “a ação de pôr algo entre. Interposição que possibilita a produção de uma associação, de uma ligação não existente anteriormente entre as coisas”, cujo papel é exercido nos planos do conhecimento, no plano do desenvolvimento da subjetividade do indivíduo, e no plano da efetuação da sociabilidade. Outros aspectos abordados por Carlos (2002), além do caráter mediador do signo, são as suas funções do ponto de vista social, histórico e cultural.

Carlos (2002) e Costa (2005) apresentam, de uma forma progressiva, o processo de mudanças na expressividade humana, desde os tempos da caverna, passando pela revolução letrada e o advento da escola, estabelecendo-se ai o paradigma linguístico e por fim até os nossos tempos com a revolução das imagens.

Dessa forma, por tudo que já foi exposto, entendemos que o texto-escrito, como qualquer outra forma, apresenta limitações na representação das produções humanas, principalmente as carregadas de emoções e de expressividade, como as produções culturais. Concordamos com Carlos (2002, p. 69) quando esse autor discute a supremacia do texto-escrita, dissolvendo-a e, assim, libertando-nos

(...) do domínio exclusivo do campo da língua. Abrimos o horizonte epistemológico, gnosiológico e comunicante. Incluímos todas as produções culturais existentes em dado momento do desenvolvimento da sociabilidade humana. O texto deixa de ser visto como um fenômeno exclusivamente lingüístico; a imagem deixa de ser vista e posta somente na ótica mnemônica ou estética.

Fishman (2004, p.115) apresenta argumentos que reforçam essa defesa, expondo o que segue:

(...) as imagens visuais não devem ser vistas como simples ilustrações. Elas não são ocorrências sem importância, mostradas acidentalmente (ou até mesmo de forma maliciosa) e distribuídas para tranquilizar e agradar ao leitor-observador (apesar do possível valor de tais ações). Por motivos semelhantes, é importante reexaminar a suposição tradicional de que textos, palavras e imagens reforçam uns aos outros por meio de conexões fixas ou transparentes.

Nessa ótica, Fishman (2004) defende outra forma de conceber a relação entre textos, palavras e imagens. Ele advoga uma configuração dinâmica, a qual rejeita um modelo de significados, ou seja, a fixação da interpretação no papel que cada um desempenha no jogo da comunicação humana.

Evidentemente, para esse autor

(...) a escrita e a leitura de textos são e devem permanecer com aspectos-chaves da nossa profissão. No entanto, dar uma atenção especial aos conceitos e artefatos da cultura visual possibilita, aos pesquisadores, efetuar trocas imbuídas de uma comunicabilidade e de uma empatia necessárias á produção e à distribuição do conhecimento científico (FISHMAN, 2004, p.120).

Carlos (2002) referenda essa posição e, a nosso ver, tal atitude conclama os defensores das várias formas de expressão humana ao diálogo, cuja consequência principal seria uma noção de texto

fundamentada num campo de possibilidades mais amplo e includente. Campo cujo expectro seja formado por um raio de abrangência que inclua tanto as produções escritas como todas as outras modalidades de produções culturais, tecidas socialmente e postas em funcionamento no cenário cultural atual (CARLOS, 2002, p.69).

Assim, por esses motivos, autores como Mitchell (apud FLORES, 2010) afirmam que a separação do verbal e do visual é condenável.

Ainda nesse viés, Jay apud Flores (2010) argumenta que a realidade imposta pela contemporaneidade, de novas experiências vinculadas ao visual, traz como consequência, infiltrações mútuas entre as seguintes abordagens: a linguística e discursiva e a pictórica e figurativa, tornado-as mais complexas e interativas.

As pesquisadoras Lopes, Gusmão e Porto (2013), a partir de suas leituras em torno da imagem e de suas experiências utilizando a fotografia como recurso

pedagógico, defendem a interação da produção visual, oral e escrita, promovendo assim um diálogo entre a palavra e a imagem.

Vale salientar que na perspectiva da comunicação humana, interessa-nos especificamente, para a presente investigação, a relação entre professor e aluno, e entre os alunos, no contexto do processo de ensino e aprendizagem.

Feito esses aportes teóricos, no próximo item tratamos do gênero fotográfico do ponto de vista pedagógico, porém antes abordamos sobre a imagem de uma maneira geral, considerando o mesmo aspecto e discutimos sobre a sua evolução.

2.5. A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM FOTOGRÁFICA E O SEU USO COMO