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Ação Civil Pública n 0026161-70.2010.4.01.3900 – MPF versus IBAMA,

2. Informação e Participação

2.2. Ação Civil Pública n 0026161-70.2010.4.01.3900 – MPF versus IBAMA,

O Ministério Público Federal, em conjunto com o Ministério Público do Estado do Pará, propôs ação civil pública contra a Norte Energia S/A. objetivando o reconhecimento da nulidade das audiências públicas realizadas para discutir o

30 “Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas: I - Definição

pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida; II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade; III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA , dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias; IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios; V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente; VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios; VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico; VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.”

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Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte, face ao cerceamento do direito de participação da sociedade civil e da violação do direito à informação.

De acordo com as alegações do Ministério Público, em 26 de agosto de 2009, o IBAMA publicou edital de convocação de Audiências Públicas, destinadas a atender os municípios que serão direta e indiretamente influenciados pelo empreendimento. As audiências foram concentradas, em quatro municípios: Altamira-PA, Vitória do Xingu-PA, Brasil Novo-PA e Belém-PA. Os estudos de impacto ambiental ficariam, a partir do dia 25 de agosto, disponíveis nas sedes das Prefeituras dos municípios onde ocorreriam as audiências e, ainda, nos escritórios do IBAMA no Estado do Pará31.

O próprio IBAMA, todavia, reconhece como afetados pelo empreendimento os municípios de Placas-PA, Uruará-PA, Medicilândia-PA, Pacajá-PA, Anapu-PA, Senador José Porfírio-PA, Porto de Moz-PA e Gurupá-PA, e as localidades de Belo Monte, Santo Antonio e travessões, além da margem direita do Xingu, e as localidades de Ressaca, Fazenda e Galo, no município de Senador José Porfírio-PA, Travessão Cenec, Travessão Km 45 Cobra-Choca (Volta Grande, Vitória do Xingu), Assurini (PA Assurini, PA Itapuama, PA Arara, PA Ressaca), na Agrovila Sol Nascente, Travessão do Km 27, TI Arara da Volta Grande do Xingu, TI Paquiçambá, MMCC-TA – Movimento de Mulheres, Vitória do Xingu, Arroz Cru, São Pedro, RESEX do Xingu – Comunidade Morro Grande, Agrovila Leonardo da Vinci, RESEX do Iriri e Riozinho do Anfrísio – Comunidade Morro (Riozinho do Anfrísio) e Terra Indígena Tukumã.

Em todos estes locais, entretanto, não ocorreu audiência pública, sendo os interessados dirigidos a comparecer aos municípios-pólos onde estas se realizariam, com a promessa de que a Eletrobrás arcaria exclusivamente com as despesas de locomoção32.

31 Localizados em Belém, Marabá, Santarém, Altamira, Breves, Cametá, Oriximiná, Paragominas,

Conceição do Araguaia, Tucuruí, Soure, Xinguara e Itaituba

32 As audiências ocorreram, então, com o seguinte cronograma: 10 de setembro de 2009 (quinta-

feira) – Brasil Novo – às 13h – englobando os municípios de Placas, Uruará e Medicilândia. 12 de

setembro de 2009 (sábado) – Vitória do Xingu – às 10h – englobando os municípios de Pacajás,

Anapu (sede), Senador José Porfírio (sede), Porto de Moz e Gurupá, e as localidades de Belo Monte,

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Após a divulgação das datas das audiências e sua concentração territorial, o MP identificou33 que o número de audiências era insuficiente, razão pela qual o MP enviou ao IBAMA recomendação para que um número maior de audiências fosse designado para debater o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, porém, findo o prazo para resposta, o IBAMA não se pronunciou sobre a recomendação.

Segundo o MP, a população afetada não teria condições de vencer as distâncias34 impostas para comparecer a uma audiência pública, uma vez que os

estudos iniciais indicam que a obra afetará direta e indiretamente 66 municípios e 11 terras indígenas, atingindo, apenas na cidade de Altamira 20 mil pessoas, que terão que sair de suas casas, e ao longo do curso, o rio Xingu terá 100 quilômetros de extensão drasticamente alterados.

Além disso, o MP aduziu que o IBAMA, sem aviso prévio, alterou o local designado para a audiência pública em Belém, transferindo-o de um auditório com capacidade de cerca de mil pessoas, para outro, que comportava cerca de 450 pessoas, com instalações improvisadas. Informou ainda, que, na entrada do local da audiência, policiais militares da Força Nacional impediam que os interessados tivessem acesso ao espaço, dentre estes, lideranças indígenas, ocasionando conflitos na frente do local.

Diante de tal contexto, para o MP, as audiências realizadas não obedeceram aos princípios da informação e da participação que regem e justificam o processo administrativo de licenciamento ambiental, resultando em atos administrativos nulos de pleno direito.

margem direita do Xingu, as localidades de Ressaca, Fazenda e Galo, no município de Senador José Porfírio. 15 de setembro de 2009 (terça-feira) – Belém – às 18h.

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Lideranças comunitárias das agrovilas e travessões da rodovia Transamazônica e de comunidades ribeirinhas do Xingu levaram ao Ministério Público Federal pedido de extensão das audiências públicas aos locais que serão afetados, em face da dimensão do projeto e a quantidade de comunidades que serão atingidas.

34 Na ação judicial ficou consignado, a titulo demonstrativo, distância (em km) entre tais municípios:

de Placas-PA para Brasil Novo-PA – 200 km; de Uruará-PA para Brasil Novo-PA – 140 km; de

Medicilândia-PA para Brasil Novo-PA – 37,6 km; de Pacajá-PA para Vitória do Xingu-PA – 255 km; de Anapu-PA para Vitória do Xingu-PA – 179 km; de Senador José Porfírio-PA para Vitória do Xingu-PA – 201 km; de Gurupá-PA, localizada na Ilha do Marajó, para Vitória do Xingu-PA – impossível o acesso por via terrestre. Ressaltando-se, todavia, que o critério é meramente simbólico, pois a realidade geográfica da região impõe deslocamentos custosos, seja rodoviário, seja fluvial.

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Para a Instituição, foram violadas normas internacionais, constitucionais e infraconstitucionais que tomam como núcleo o direito ao meio ambiente, facilitando sua aplicabilidade, eficácia jurídica e efetividade social, e buscando o alcance dos objetivos de ampliação do controle estatal sobre o agente degradador e social sobre a Administração Pública; de ampliação da participação política da sociedade; de construção pública de decisões; de prevenção de danos e riscos; de racionalização do planejamento público; e de realização da justiça ambiental.

Nesse contexto, o MP requereu ao Judiciário a interrupção do andamento do licenciamento ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte, enquanto não realizadas as audiências públicas em todas as localidades afetadas, que contemplem o devido processo legal com a participação dos interessados e respeito às funções institucionais do Ministério Público; e a anulação das audiências realizadas em Vitória do Xingu, Brasil Novo, Altamira e Belém, por não ter propiciado a efetiva participação dos interessados.

Em manifestações de defesa, o IBAMA e a ELETRONORTE arguiram a regularidade no procedimento de realização das audiência públicas, alegando que foi assegurado pelo empreendedor do projeto, o transporte e a alimentação aos participantes, de modo que as audiências atingiram seu objetivo de informar sobre o projeto e ouvir questionamentos e sugestões que foram levados à consideração da equipe técnica, garantindo-se a participação dos interessados.

O Juízo da Vara Federal da Subseção de Altamira-PA considerou que existiam indícios de restrição à participação das pessoas afetadas pelo empreendimento, uma vez que não foram disponibilizadas, segundo o magistrado, informações necessárias, em locais de fácil acesso, com antecedência mínima de trinta dias nos municípios e localidades que podem ser atingidos, restando frustrado o objetivo das audiências públicas.

Diante disso, o Juízo deferiu parcialmente o pedido de liminar para suspender o procedimento de licenciamento do AHE de Belo Monte até que sejam realizadas audiências públicas que comprovadamente contemplem as trinta e duas comunidades potencialmente afetadas pelo empreendimento.

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O Presidente do TRF 1ª. Região, em julgamento de pedido de suspensão de liminar35 formulado pelo IBAMA, considerou que as audiências então realizadas tiveram lugar nas comunidades mais atingidas, e a ampla divulgação e a disponibilização de transporte, alimentação e hospedagem propiciaram uma ampla participação popular.

Na decisão, reputou que, ao determinar a realização dessa grande quantidade de audiências públicas, a decisão de primeiro grau invade a esfera de competência da administração pública, pois cabe ao IBAMA, órgão responsável pela realização das políticas públicas nacionais ligadas ao meio ambiente, decidir, com base nos critérios de conveniência e oportunidade, a quantidade, o local e momento propício para a sua realização.

Argumentou que, sopesados os interesses em conflito, a decisão liminar poderá causar grave lesão à ordem econômica, gerando prejuízos para os municípios e os Estados nelas envolvidos, bem assim para o Governo Federal, que eventualmente precisará lançar mão, daqui a alguns anos, da utilização da energia termelétrica para suprir a carência de energia elétrica, a qual, além de ser mais poluente, tem um custo de produção muito superior ao da energia hidroelétrica.

Por fim, consignou a grave lesão à ordem pública em virtude da possibilidade de ocorrência do periculum in mora inverso, pois, com a paralisação das obras, o canteiro de obras ficaria exposto às intempéries, sujeito a processos erosivos, o que acarretará sérios danos ambientais.

O processo não alcançou fase de sentença até a conclusão do presente trabalho.

2.3. Ação Civil Pública n. 0025999-75.2010.4.01.3900 – MPF versus ANEEL,