• Nenhum resultado encontrado

Mapa 4 Distribuição geográfica dos modelos institucionais de programas públicos de microcrédito na

3. A INOVAÇÃO DO MICROCRÉDITO E SUA DISSEMINAÇÃO

3.4. Entrada de um novo ator: o poder público

3.4.2. Ação de estados e municípios

A primeira experiência de microcrédito como ação pública de microcrédito produtivo orientado foi o Prorenda - CE, criado a partir de um acordo bilateral entre o governo do Ceará e o governo alemão, com a cooperação técnica da GTZ, que foi operacionalizado no período de 1990 a 1997. O Prorenda - CE tinha como objetivo contribuir para a geração de ocupação e renda, por meio da prestação de apoio técnico e financiamento de capital de giro e investimentos fixos a empreendedores de baixa renda, formais e informais, e pessoas interessadas em montar seu próprio negócio. Eram utilizados como garantias dos empréstimos avalistas ou grupos solidários. Durante sua existência, o programa concedeu financiamentos a mais de 1.500 empreendedores. O Prorenda - CE realizava, além de serviços financeiros: capacitação gerencial, consultoria empresarial individual e grupal, consultoria técnica, qualificação profissional e apoio à auto- organização de empreendedores (DIAS, 2003; RIO DE JANEIRO, [200?]).

A segunda experiência de programa público de microcrédito em contexto subnacional foi uma iniciativa da prefeitura de Porto Alegre, governada na época pelo Partido dos Trabalhadores, que criou, em janeiro de 1996, em parceria com instituições da sociedade civil, uma associação sem fins lucrativos denominada Instituição Comunitária de Crédito Portosol (ICC Portosol), para realização de créditos para empreendedores de baixa renda. A prefeitura participa da instituição por meio de seu Conselho de Administração, no qual é minoritária, para evitar que, em caso de mudança de partido ou orientação política na prefeitura, haja descontinuidade do programa, ou ainda que haja influências políticas para a concessão de créditos. A instituição conta com funcionários contratados em regime de CLT e utiliza taxas de juros com o objetivo de cobrir os custos de operação, de maneira semelhante às iniciativas de ONGs mencionadas anteriormente. O programa foi premiado em 1997 pelo Programa Gestão Pública e Cidadania32 por seu aspecto inovador de articulação entre o poder público local e organizações da sociedade civil para implementação de programa de microcrédito.

32“Organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp) e a Fundação Ford, com apoio do BNDES, o Programa Gestão Pública e Cidadania consiste num conjunto articulado de atividades, orientado para identificar, premiar, disseminar e analisar experiências inovadoras de governos estaduais, municipais e de organizações indígenas no Brasil. Seu objetivo é contribuir para enriquecer o conhecimento e estimular o debate e a reflexão crítica sobre os processos de transformação em andamento na gestão pública subnacional no Brasil, a partir da experiência concreta de governos inovadores”. Disponível em <http://inovando.fgvsp.br/>. Acesso em 1º de janeiro de 2007.

A experiência da ICC Portosol serviu de referência para a criação de instituições em dezenas de municípios em todo o país, de acordo com levantamento realizado em julho de 2006 pela Abcred com 26 instituições de microcrédito associadas. Podem-se citar, dentre estas, o Banco do Povo de Santo André, criado em 1998; a Blusol, criada em 1998 com participação da prefeitura de Blumenau; a São Paulo Confia, criada em 2001, com participação da prefeitura de São Paulo; e o Banco do Povo - MS, com participação do estado do Mato Grosso do Sul. A maior parte das experiências teve origem em governos administrados pelo Partido dos Trabalhadores. Entre os programas criados por outros partidos, pode ser citado o Fundo de Apoio ao Empreendedor Joseense (Faej), ONG de microcrédito criada em 1998 pelo governo do PSDB, na prefeitura municipal de São José dos Campos, em São Paulo. A ONG obteve título de Oscip em 2003.

Alguns elementos da experiência da ICC Portosol utilizados por esses programas são:

1) A criação de uma associação sem fins lucrativos em parceria com organizações da sociedade civil, da qual a prefeitura é sócia minoritária.

2) A cobrança de taxas de juros compatíveis com os custos operacionais, com o objetivo de alcançar a auto-sustentabilidade, ou seja, de cobrir todos os custos relacionados à concessão de crédito com os juros pagos pelos clientes.

3) Uso das técnicas de microcrédito produtivo orientado, com uso de agentes de crédito, responsáveis pela análise, concessão de crédito e acompanhamento dos clientes.

Entretanto, a forma institucional criada pela ICC Portosol não foi sempre a utilizada para implementar programas de microcrédito em municípios. Alguns programas municipais foram implementados sem a constituição de uma associação sem fins lucrativos, ou seja, diretamente pelo município. Este foi o caso do município de Belém, que criou o programa de microcrédito Ver-o-Sol em 1998, sob uma administração também petista (FERNANDES, 2002). O Ver-o-Sol também foi premiado pelo Programa Gestão Pública e Cidadania, por seus aspectos inovadores no apoio ao desenvolvimento de pequenas atividades produtivas.

Outros dois arranjos institucionais de programas municipais de microcrédito foram implementados em parcerias com programas estaduais, e acham-se listados a seguir.

O estado de São Paulo, na gestão do governador Mário Covas, do PSDB, criou em 199933 o Banco do Povo Paulista, um programa de microcrédito cuja implementação se dá pela parceria com prefeituras municipais, que fornecem o espaço, funcionários para a operação e 1/10 dos recursos a serem financiados. O estado de São Paulo fornece 9/10 dos recursos a serem emprestados e a Nossa Caixa realiza a operação financeira da concessão do crédito. O programa foi implementado em 438 dos 645 municípios do estado, até dezembro de 2006.

Duas características principais diferenciam o Banco do Povo Paulista da ICC Portosol: 1) O programa não é operacionalizado por uma ONG, à qual o poder público se associa, mas diretamente pelas prefeituras municipais; e 2) as taxas de juros são subsidiadas e não cobrem os custos de concessão de crédito.

Outra forma institucional de atuação de um governo estadual teve origem no estado de Pernambuco. Nesse caso, o estado repassa recursos para uma instituição de microcrédito existente, uma Oscip chamada Agência do Crédito, mas sem participar de seu quadro de associados. A instituição passou a operar a política pública de microcrédito do estado de forma terceirizada. Também opera dessa forma o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

Entre as ações de estados e municípios distinguem-se, portanto, três tipos:

1) Estatal com operações em primeiro piso: iniciativas estatais nas quais o poder público estadual ou municipal realiza diretamente as operações de crédito;

2) Parceria público-privada com operações em primeiro piso: estados e municípios tornam-se sócios minoritários de ONGs e Oscips que operam microcrédito;

33 Embora a Lei que institui o programa seja de abril de 1997 (Lei nº 9.533) e o Decreto que à regulamenta de julho de 1998 (n° 43.283), o Banco do Povo Paulista tornou-se operativo em março de 1999.

3) Estatal com operações de segundo piso: estados e municípios repassam recursos e prestam assistência técnica para ONGs e Oscips de microcrédito, sem assumir participação societária nessas instituições.

Tipo Exemplos de programas

Banco do Povo Paulista Banco do Povo – ES Banco do Povo – Goiás Estatal com

operações em primeiro piso

Banco do Estado do Ceará

Banco do Povo – Crédito Solidário São Paulo Confia

ICC Portosol Banco do Povo – MS Parceria público- privada com operações em primeiro piso Blusol – SC

Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) Estatal com

operações de

segundo piso Estado de Pernambuco

Quadro 3.4.2. - Tipologia dos arranjos institucionais de programas públicos de microcrédito de estados e municípios

Fonte: Elaboração própria.