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3 CONSTRUINDO A POLÍTICA INSTITUCIONAL DE INSERÇÃO DOS

3.2 Plano de Ação Educacional: detalhamento das proposições

3.2.3 Estágio Probatório: proposição de uma nova política institucional através

3.2.3.2 Ação 2: tutoria nos anos iniciais da carreira

Conforme apresentado no capítulo dois desta dissertação, autores como Martin Carnoy e Maurice Tardif sustentam que há saberes e habilidades na profissão docente que somente serão aprendidas na prática pedagógica diária. Além disso, Carnoy (2009) ressalta que a orientação e a supervisão pedagógica durante as primeiras experiências na docência podem ser um diferencial na maneira como o professor irá se desenvolver profissionalmente. Nesse sentido, observou-se, a partir da experiência cubana, que a supervisão do trabalho do professor em sala de aula, através da tutoria por professores mais experientes, é um dos componentes da política de formação do professor que justifica o bom desempenho de docentes e discentes.

Compreende-se que o contexto socioeconômico e político de Cuba se diferem significativamente do Brasil, o que, em parte, favorece a supervisão pedagógica através de tutoria naquele país. No entanto, a despeito do Brasil ter um sistema educacional descentralizado, que confere bastante autonomia pedagógica para os gestores escolares e professores, avalia-se que a RME/BH pode incorporar alguns aspectos dessa experiência, sobretudo disponibilizando tutores para orientar e monitorar o trabalho do professor nas salas de aula.

Nesse sentido, sugere-se que, além da participação mensal nos encontros de formação na SMED/BH, o professor em estágio probatório conte com a tutoria construtiva de profissionais do CAPE, em parceria com a equipe do Programa de Monitoramento do Ensino e Aprendizagem e a equipe gestora da escola (diretor, vice-diretor e coordenadores pedagógicos).

Justifica-se essa ação inicialmente pela ausência de tutoria e supervisão pedagógica de professores na RME/BH. Tal como constatado por Carnoy,

[...] quase não há supervisão do professor pelos gestores da escola (ou qualquer outra pessoa) no Chile e no Brasil (ou nos Estados Unidos, a propósito), e que os professores atuam em grande medida por sua própria conta, decidindo como ensinar o currículo aos seus alunos. Isso proporciona aos professores muito bons a autonomia para inovar e assumir a responsabilidade pela aprendizagem em suas salas de aula, mas também permite que a massa de

professores médios e de baixa qualidade continue ensinando de um modo que varia entre muito pouco adequado e o completamente ineficiente (CARNOY, 2009, p. 77).

A descrição e análise do caso de gestão realizada nesta dissertação mostram os conflitos, as dificuldades e as tensões dos professores ao iniciarem na carreira pública municipal. Por isso, torna-se necessário o desenvolvimento de ações de apoio e orientação evitando-se, assim, que eles fiquem fadados a aprender a ensinar nas escolas públicas municipais por sua própria conta. O que, de acordo com o autor, pode contribuir para a ineficiência do ensino.

Outro ponto a considerar se refere aos professores iniciantes não só na carreira pública municipal, mas na docência. Vários estudos apontam que a maioria dos cursos formação docente no Brasil apresentam um viés excessivamente teórico, ou seja, com pouca conexão entre a teoria e a prática (CARNOY, 2009), o que reafirma a necessidade de intervenção nessa fase inicial da profissão.

Considera-se que a ausência de tutoria por uma pessoa capacitada poderá levar professores novatos a buscar ajuda ou mesmo se espelharem em professores que apresentam práticas pedagógicas inadequadas e uma visão muito negativa da profissão e da carreira pública municipal.

Nesse sentido, o objetivo geral dessa tutoria é orientar e supervisionar periodicamente as atividades de ensino do professor novato. Pretende-se levar os docentes a refletirem sobre sua prática pedagógica e a solucionar os problemas práticos de ensino e aprendizagem em sala de aula.

Os objetivos específicos da tutoria proposta são: desenvolver habilidades didático-pedagógicas através da prática; mediar conflitos; estabelecer um canal de diálogo entre professores e gestores; identificar e intervir nas dificuldades apresentadas pelos docentes no exercício diário da docência; monitorar e avaliar as práticas de ensino e a aprendizagem dos estudantes; planejar ações futuras de formação mensal.

Para alcançar os objetivos propostos, as ações da tutoria deverão ocorrer de forma integrada e complementar com as ações de formação continuada. Elas fornecerão elementos que irão subsidiar o planejamento das próximas ações formativas.

Conforme citado anteriormente, a equipe de tutores será composta pelos profissionais do CAPE e pelos acompanhantes pedagógicos das gerências regionais

de educação (GERED), que contarão com a parceria da equipe gestora das escolas para a supervisão pedagógica do trabalho do professor. A direção do CAPE coordenará o trabalho de tutoria, realizando reuniões mensais para planejar e avaliar o trabalho.

Cada gerência regional de educação contará um tutor referência do CAPE, que irá às escolas, no mínimo, uma vez por mês, para dialogar com os professores em estágio probatório e com a equipe gestora. Ele irá observar as práticas de ensino dos professores em sala de aula e a organização pedagógica da escola, intervindo pontualmente nas dificuldades apresentadas pelos docentes em estágio probatório.

Além da tutoria através da equipe do CAPE, os professores recém-ingressos contarão com o apoio dos acompanhantes pedagógicos das gerências regionais de educação, semanalmente, nas escolas. Constará no plano de trabalho dessa equipe o monitoramento específico do trabalho dos docentes novatos com vistas a auxiliá- los no planejamento pedagógico e na prática de ensino mais adequada ao público atendido na escola onde estiver lecionando.

Os professores em estágio probatório contarão, diariamente, com a supervisão pedagógica da equipe gestora da escola. Propõe-se que a escola seja organizada para que durante os horários de atividades extraclasse, o professor tenha oportunidade de reunir-se com essa equipe para dialogar sobre suas dificuldades e dúvidas, a proposta pedagógica da escola, os processos educativos, o perfil dos estudantes e da comunidade, bem como os valores e a cultura que permeiam aquele local.

Vislumbra-se, pois, que essa ação possa criar condições favoráveis à adaptação e ao desenvolvimento profissional dos professores em estágio probatório na RME/BH, estabelecendo um clima escolar que propicie a aprendizagem significativa e a inclusão de todos os estudantes nas escolas públicas municipais.

O monitoramento dessa ação ocorrerá durante todo o processo através do CAPE e da Gerência de Coordenação da Política Pedagógica e de Formação. A avaliação da ação poderá ser feita ao final de três anos, considerando vários fatores, dentre eles o percentual das movimentações e exonerações de professores recém- ingressos, o desempenho dos estudantes nas avalições internas e externas, o índice de absenteísmo, a avaliação dos envolvidos no processo e a avaliação de desempenho funcional.

Embora apresente o diretor e o vice-diretor escolar para atuarem em parceria na tutoria, como sublinhado por Carnoy (2009), é notório a falta de capacidade gerencial de grande parte dos gestores escolares brasileiros no que se refere aos processos pedagógicos e às equipes de trabalho. Isso é observado nos diretores e vice-diretores da RME/BH, indicando a necessidade da SMED/BH promover ações formativas que possam contribuir para essa capacitação. Nesse sentido, proponho a formação dos gestores escolares que será apresentada a seguir.